Merval Pereira: Corrida maluca

A provável barração na Justiça eleitoral da candidatura presidencial do ex-presidente Lula devido à Lei da Ficha Limpa, caso venha a ser confirmada sua condenação no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, está alterando a corrida presidencial na quantidade de potenciais candidatos e no alinhamento ideológico.
Foto: Ricardo Stuckert.
Foto: Ricardo Stuckert.

A provável barração na Justiça eleitoral da candidatura presidencial do ex-presidente Lula devido à Lei da Ficha Limpa, caso venha a ser confirmada sua condenação no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, está alterando a corrida presidencial na quantidade de potenciais candidatos e no alinhamento ideológico.

Ciro Gomes, o candidato escolhido pelo PDT, já abriu mão de um acordo com o PT e, sobretudo, do apoio de Lula, a quem vem criticando cada vez com mais desembaraço. As acusações de Antonio Palocci a Lula, que deverão se transformar em uma delação premiada com mais detalhes e, sobretudo, provas, acabaram com as esperanças da esquerda de ter Lula como candidato.

Já não é mais segredo que o PT, confirmada a inviabilidade de Lula, deve lançar o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad ou o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, como maneira de não virar um partido do segunda linha, apoiando candidato alheio do grupo da esquerda, cujo preferido já foi Ciro Gomes.

Mas o PT já não é uma aliança bem vista em parte da esquerda, e Lula, a cada revelação, perde a força de seu apoio, o que está levando Ciro Gomes a esconjurá-lo publicamente. Sem Lula na disputa, a corrida ficará aberta a todo tipo de candidato, enfraquecendo apenas um, o prefeito de São Paulo, João Doria, que se organizou desde o início de seu projeto para ser conhecido pelo eleitorado como o antiLula, embora ainda lhe reste uma identificação de gestor não político, que tem boa acolhida em parte do público que busca o novo pelo novo.

O DEM já lhe ofereceu legenda, mas, como diria Johnny Alf, o inesperado pode fazer uma surpresa. Mesmo às voltas com uma segunda denúncia contra si, que deve ser derrubada novamente pela Câmara, o presidente Michel Temer voltou a aspirar uma improvável reeleição pelo PMDB caso a economia confirme a recuperação. Nada mais antigo, mas a força da economia não pode ser desconsiderada.

Lula, aliás, quando se elegeu presidente pela primeira vez, em 2002, ganhou muitos eleitores centristas, ou mesmo de direita, por ter assumido publicamente, na Carta aos Brasileiros, um compromisso de não radicalizar à esquerda na economia.

Mas boa parte desse eleitorado também o escolheu por ser um candidato diferente de todos os que já haviam estado na Presidência da República. Não era um candidato novo, depois de disputar e perder três vezes a Presidência, sendo duas para Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. Mas era o representante de uma novidade política, sobretudo no que se referia ao combate à corrupção. Deu no que deu.

Ao contrário, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um político de antiga estirpe, pode ter a seu favor justamente sua experiência e, sobretudo, o equilíbrio com que conduz sua atividade política. Com tanta radicalização, talvez o eleitorado encontre nesse equilíbrio a segurança de que o país reencontrará seu caminho sem grandes choques.

Não ter sido denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pelas acusações da Odebrecht foi um passo importante para firmar sua candidatura.

Assim como em 1989, na primeira eleição direta para presidente depois da ditadura militar, muitos candidatos, de várias tendências políticas, se apresentarão ao eleitor. Uns pela primeira vez na política, outros antigos políticos querendo representar a parte boa da política, como Marina Silva pela Rede, Álvaro Dias pelo Podemos, os ex-ministros do Supremo Joaquim Barbosa e Ayres Brito.

Também podem aparecer no páreo o atual presidente do BNDES, o economista Paulo Rabello de Castro, que nunca teve cargo eletivo, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deputado federal eleito que nunca exerceu o mandato, pois renunciou para assumir a presidência do Banco Central no governo Lula.

Há ainda o deputado federal Jair Bolsonaro, que, para alguns, representa essa parte boa da política, mas, para muitos, é justamente o representante de uma atitude política regressiva, mesmo não havendo até agora nada que o comprometa em termos de corrupção.

O combate à corrupção, como se vê, por si só não pode ser a base de uma candidatura. Inclusive porque já tivemos exemplos de caçadores que acabaram cassados. O eleitorado estará confrontado em 2018 com uma diversidade de candidaturas que precisam apresentar muito mais do que uma vida pregressa sem deslizes éticos. Essa é uma condição essencial, mas não suficiente.

 

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