José Luis Oreiro: O mito de que a estrutura produtiva não importa

Os economistas liberais brasileiros tem divulgado na grande imprensa a tese de que a estrutura produtiva do país não importa para o desenvolvimento econômico, ou seja, segundo esses economistas o que um país produz (bananas ou reatores nucleares) não tem guarda nenhuma relação com o seu nível de renda per-capita, a proxi mais aceita para o nível de desenvolvimento econômico de um determinado país.
Foto: Divulgação
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Os economistas liberais brasileiros tem divulgado na grande imprensa a tese de que a estrutura produtiva do país não importa para o desenvolvimento econômico, ou seja, segundo esses economistas o que um país produz (bananas ou reatores nucleares) não tem guarda nenhuma relação com o seu nível de renda per-capita, a proxi mais aceita para o nível de desenvolvimento econômico de um determinado país. Curiosamente os economistas liberais não apresentam evidências empíricas robustas para suportar sua tese, mas valem-se de contra-exemplos para suportar a mesma.
Via de regra a Austrália (e em menor medida o Canadá) são citados como exemplos de países cuja estrutura produtiva é pouco diversificada ou complexa (na qual o peso da indústria de transformação no PIB é relativamente baixo e onde as exportações são constituídas fundamentalmente por commodities) mas que possuem um nível de renda per-capita elevado, o que os coloca no grupo de países desenvolvidos.

Mas será que a estrutura produtiva não importa mesmo para o desenvolvimento econômico? Uma forma de avaliar a estrutura produtiva de um país é por intermédio do índice de complexidade econômica calculado pelo Observatório de Complexidade Econômica (http://atlas.media.mit.edu/en/rankings/country/eci/).

A partir dessa base de dados é possível classificar os países com base na sua complexidade econômica e correlacionar essa variável com o seu nível de renda per-capita, como pode ser observado na figura abaixo

A figura acima, elabora por García Diaz e extraída do blog de meu colega Paulo Gala, mostra a existência de uma clara correlação positiva entre o nível de renda per-capita e a complexidade econômica dos países.

Mais especificamente, a figura mostra que países com níveis mais elevados de renda per-capita encontram-se no percentil mais elevado do nível de complexidade econômica.

A Australia é, de fato, um outlier, no sentido de que ela possui um nível de renda per-capita muito superior ao que seria de se esperar unicamente com base no seu nível de complexidade econômica.

O Brasil, por outro lado, está situado praticamente sobre a linha de correlação, ou seja, possui um nível de renda per-capita compatível com o seu nível de complexidade econômica.

A análise da figura acima, contudo, deixa bem claro que a maior parte dos países que possuem um elevado nível de renda per-capita são também países cuja estrutura produtiva possui um elevado nível de complexidade.

Sendo assim, não me parece correto fazer afirmações peremptórias como “a estrutura produtiva não importa” com base na análise de outliers como a Austrália. A evidência empírica parece apontar que, como caso geral, o desenvolvimento econômico está associado a um aumento da complexidade e da sofisticação da estrutura produtiva. Sendo assim, o Brasil dificilmente se tornará um país rico exportando commodities como minério de ferro, soja ou …. bananas.

 

 

 

 

 

 

 

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