FAP Entrevista: Miguel Arcangelo Ribeiro

Na política, o resultado só se revela após a abertura das urnas, avalia Ribeiro.
Foto: Reprodução/Facebook
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Na política, o resultado só se revela após a abertura das urnas, avalia Ribeiro

Por Germano Martiniano

O cenário político brasileiro se afunila a cada dia a caminho da polarização. Na última pesquisa realizada pelo Ibope, Bolsonaro subiu dois pontos, chegando aos 28%, enquanto Haddad foi para os 22%. Ciro se manteve com 11% e Alckmin subiu de 7% para 8%, um crescimento fraco para o candidato do PSDB, que agora tenta sua última “cartada” na rejeição de Bolsonaro, que perderia para o PT no segundo turno. A avaliação da equipe do tucano é: quem quiser evitar o PT deve ir de Alckmin, pois Bolsonaro não tem condições de vencer Haddad.

Mediante este quadro polarizado, quem perde é o centro político que não conseguiu emplacar ainda nenhuma candidatura. Há tempo hábil para mudar essa configuração? Quem nos responde é o advogado e atual presidente da Fundação de Arte e Cultura da cidade de Nova Iguaçu (RJ), Miguel Arcangelo Ribeiro, entrevistado da FAP Entrevista, série que está sendo publicada aos domingos e, agora, às quartas-feiras (excepcionalmente será publicada hoje, quinta-feira ), com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano, que são as eleições.

“A pesquisa citada revela que o candidato da extrema direita pode estar em uma encruzilhada. No Sul está em tendência de queda. Sua rejeição aumentou. No segundo turno perde para o candidato da extrema esquerda”, avalia Miguel Ribeiro. “Alckmin ainda pode crescer se valendo da forte rejeição que Bolsonaro possui”, acredita.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

FAP Entrevista – Como o senhor avalia essa última pesquisa Ibope, que traz Bolsonaro com 28% das intenções de voto e Haddad com 22%?
Miguel Arcangelo Ribeiro – Avalio com muita preocupação. As duas candidaturas representam lados extremos da política, lados avessos ao diálogo. Os índices de rejeição das duas candidaturas apontam que, no caso de vitória de qualquer um dos extremos, o país permanecerá dividido.

O senhor crê que ainda existe alguma chance do chamado centro político reverter este quadro?
Em política, o resultado só se revela após a abertura das urnas. A pesquisa citada revela que o candidato da extrema direita pode estar em uma encruzilhada. No Sul está em tendência de queda. Sua rejeição aumentou. No segundo turno perde para o candidato da extrema esquerda. Vejo que há possibilidade de revertermos esse quadro levando um nome do centro democrático para o segundo turno. Não há facilidades para isso. Mas é possível!

Analistas políticos dizem que a candidatura de Alckmin não decolou devido a fatores como ter subestimado Bolsonaro, nunca ter sido unanimidade no PSDB; a fragilidade do PSDB frente às acusações de corrupção a vários de seus dirigentes, entre eles, Aécio Neves e por fim, por acreditar demasiadamente no “latifúndio” de televisão em tempos de redes sociais. O senhor concorda?
São argumentos válidos para uma análise depois dos fatos ocorridos. Essa eleição, até o momento, está marcada por situações bem peculiares. Quem imaginaria que um candidato sofreria um ataque de arma branca numa caminhada? Entendo que, diante fatos como este, a discussão política sobre o país que desejamos construir foi deixada de lado. Essa era a estratégia da candidatura Alckmin. Ele não conseguiu que sua pauta sobressaísse, o que os dois extremistas, através do marketing eleitoral, conseguiram.

Uma das apostas remanescentes para Alckmin é alertar o eleitorado anti-petista que, se quer evitar o retorno do PT ao poder, não devem votar em Bolsonaro, pois o candidato do PSL perde para todos em um possível segundo turno. Essa aposta pode dar certo?
Espero que essa aposta tenha êxito. Entendo que a candidatura de Geraldo Alckmin é o melhor caminho para o país.

Lideranças como Fernando Henrique Cardoso, Marcus Pestana, Cristovam Buarque, entre outros, criaram o Ato do Polo Democrático e Reformista com intuito de se evitar a polarização política no país. Esse Ato, no entanto, não teve aderência social. O que faltou?
Em camadas da população há uma descrença na política. De um lado, os mais abastados, que querem do Estado a segurança. Do outro lado, grande contingente da população que necessita de apoio do Estado para as questões mais básicas. A construção política pelo centro é mais complexa. Exige responsabilidade com a coisa pública. Nossa opção não permite bravatas como os dois candidatos extremistas jogam nas suas campanhas. De qualquer maneira, se os extremistas forem para o segundo turno, haverá necessidade de que façam uma guinada ao centro. A rejeição aos extremos é proporcional aos seus percentuais. É por isso que ainda vejo a possibilidade de Alckmin alcançar a votação necessária para levar o centro democrático ao segundo turno.

Muitas críticas foram feitas ao Alckmin por se aliar ao Centrão. Em sua visão, este foi um erro ou qualquer que seja o candidato no segundo turno – e até o vencedor das eleições – terão de buscar ess apoio para ter governabilidade?
Acho que respondi na pergunta anterior uma boa parte dessa questão. Na maioria dos Estados as coligações pragmáticas estão na frente. A conjuntura nacional é mais complexa. Qual seria a opção do Alckmin se não optasse pelo pragmatismo político?

Muitas pessoas esperavam renovação nessas eleições. Entretanto, temos o PT novamente e um candidato conservador de extrema direita. O que aconteceu no Brasil para chegarmos à esta situação?
Vou tentar responder, inicialmente, com uma pergunta. Será que o quadro atual não demonstra as insatisfações difusas das manifestações de 2013? A negativa dos governos de Dilma e de Temer em responder às questões de 2013 nos levou ao precipício atual.

O que seria uma renovação política atualmente no Brasil e como ela se daria?
A mudança em algumas das regras eleitorais é fundamental. O modelo francês muito me atrai. Seriam eleições próximas, mas descasadas. Inicialmente os cargos do executivo, presidente e governador. Depois, 45 dias após o resultado final, a eleição para os legislativos, Senado, Câmara Federal e Assembleias Estaduais. Seria uma luz nas discussões sobre o país e sobre as responsabilidades dos Executivos e Legislativos, algo ainda muito de difícil compreensão na nossa democracia.

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