Cora Rónai: Twitter e eleições, o caso das arrobas vendidas

Piauí entra nos trending topics com posts pagos.
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Piauí entra nos trending topics com posts pagos

Foi um fim de semana animado no Twitter: de um momento para o outro, o Piauí entrou nos trending topics e a casa caiu. “A casa” é exagero; na verdade, um puxadinho do PT, localizado em duas agências publicitárias de Belo Horizonte, a BeConnected e a LaJoy. Gente maldosa desconfiaria de uma empresa chamada LaJoy que não estivesse no mercado de serviços eróticos, mas uma turma enorme de “influenciadores digitais” achou tudo lindo, e tampouco viu problema em fazer posts a favor de candidatos do PT ganhando um dinheirinho por fora.

Um total de zero pessoas surpreendeu-se com isso. Posts pagos não são raros na internet, o PT trabalha há tempos com MAVs (de militância em ambientes virtuais) e com blogueiros bem remunerados, mas acontece que estamos em período eleitoral, e fazer propaganda eleitoral sem deixar claro que é propaganda é ilegal — até porque os resultados de uma eleição podem ser definidos pelo boca a boca, pelas pessoas comuns que declaram, em tese espontaneamente, os seus votos.

A arroba contratada @pppholanda provavelmente não sabia disso quando denunciou o esquema no sábado à noite. Achou, acertadamente, que era uma imoralidade influenciar as eleições de um estado que não conhece, e jogou o trombone no ventilador. Agora, como os demais implicados, está sujeita às penas da lei. Também está apanhando de todos os lados, foi ameaçada por um influencerfamoso e fechou a conta do Twitter.

No seu rastro, uma quantidade de outras contas fechadas, teorias conspiratórias e uma longa discussão ética: o que é pior, aceitar um esquema de posts fraudulentos e seguir com a farsa (e com os cachês) ou denunciá-lo? A lei da omertà é dura com delatores. A ala “progressista” do Twitter, sem críticas para o ato ilegal, pôs-se em brios, contudo, com a delação. O futuro é claro: as arrobas que aceitaram dinheiro serão perdoadas por seus pares, mas a arroba delatora jamais o será. Para essa turma, denunciar um crime é pior do que cometê-lo.

As teorias conspiratórias demonstram a mesma falha moral. A culpa não seria dos pobres tuiteiros ingênuos, mas de quem os contratou; ver-se-ia aí, claramente, uma arapuca criada com o único e exclusivo intuito de desmoralizar “a esquerda”. O fato de “a esquerda” ter aceitado tuitar por dinheiro não desmereceria as arrobas.

“Queria que metade das pessoas que estão me xingando e me acusando soubesse da minha vida e de quantas contas tenho para pagar”, queixou-se uma arroba paga.

“Tirou as palavras da minha boca!”, exclamou outra. “Agora esse pessoal direitista vai fazer a festa às custas de todo mundo que entrou na ação.”

As arrobas desmioladas estão diante de um grave dilema: o que é pior, passar por idiota ingênuo ou por canalha safado?

A zoeira continua, e não deve se acalmar tão cedo, até porque é muito divertido ver pessoas que proclamam ter o monopólio da virtude mostrando-se tão pouco virtuosas. A direita usa táticas semelhantes, mas pelo menos nunca se vendeu como o sal da terra.

O furdunço foi resumido com perfeição — no próprio Twitter, aliás — pelo meu colega e amigo Márvio dos Anjos:

“O Twitter comprovou em larga escala que não é preciso ser anônimo ou robô para ser fake.”

No mais, continua valendo o conselho de sempre para quem frequenta redes sociais: desconfie de tudo e de todos, sempre.

 

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