Cora Rónai: Abre o olho, Facebook

Empresa atravessa uma crise séria de imagem. É pouco transparente e a impressão é de que se preocupa mais com lucros do que com os usuários.
Foto: Reprodução/Google
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Empresa atravessa uma crise séria de imagem. É pouco transparente e a impressão é de que se preocupa mais com lucros do que com os usuários

E o Facebook foi para as manchetes mais uma vez, na semana passada. Causou polêmica, revolta e alguma comemoração no Brasil ao tirar do ar uma rede de quase 200 páginas ligadas de uma ou outra forma ao MBL e, logo depois, deixou arrasados os seus acionistas, e perplexo o distinto público, ao perder U$ 120 bilhões na Bolsa de NY, o equivalente a uma Nike ou a todo o mercado de ações da Argentina. Uma coisa não teve nada a ver com a outra — mas uma coisa tem tudo a ver com a outra.

O Facebook está atravessando uma crise séria de imagem, e não é de hoje. É uma empresa pouco transparente e pouco simpática, que passa a impressão de se preocupar mais com os lucros do que com os usuários. Mark Zuckerberg é um gênio, mas não tem o carisma de Steve Jobs, nem a sua capacidade de convencer a humanidade de que é o rei da cocada preta; sua juventude e sua autoconfiança trabalham contra ele quando contrapostas à sua fortuna e ao seu poder.

Para o pessoal de esquerda, o Facebook é a imagem do capitalismo, e esse pessoal não está de todo errado; para o pessoal da direita, o Facebook é uma empresa com um forte viés de esquerda, e esse pessoal também não está de todo errado.

Parar piorar, o escândalo da Cambridge Analytica ainda não foi esquecido.

Os usuários estão cansados do Facebook, que frequentam apenas por falta de opção. Os que têm maior número de seguidores sentem-se, além de tudo, explorados — eles produzem conteúdo, e só o Facebook lucra com isso. No Google, o sistema de anúncios pinga alguma coisa nas contas dos usuários mais bem sucedidos, e youtubers de sucesso ganham um dinheiro sério. Ser facebooker de sucesso, porém, é só massagem no ego — e há um momento em que até massagem no ego cansa se não se transforma em algo concreto.

O MP de Goiás cobra explicações sobre a derrubada das páginas. É uma bobagem, mas uma bobagem compreensível. O Facebook é uma empresa privada, que pode tirar do ar o que bem entender; mas o Facebook é também a maior rede social do mundo, a grande praça pública dos nossos dias, e como tal é bom que preste esclarecimentos à comunidade.

Derrubar páginas que não estão de acordo com o regulamento não é censura, mas fazer isso apenas com as que estão numa ponta do espectro político pode passar essa impressão. À mulher de Cesar não basta ser honesta; é preciso parecer honesta.

O Facebook se pouparia muita chateação se derrubasse ao mesmo tempo páginas à esquerda e à direita. Material não falta: os dois lados desinformam, manipulam, produzem fake news e têm fake personas em proporções semelhantes. Melhor empatar o jogo antes de promover a ação.

Não é possível que não haja uma única pessoa dentro da empresa para antever o prejuízo moral que uma atitude tão pouco transparente e tão aparentemente tendenciosa pode causar. Não dá para contrariar tanta gente, o tempo todo, sem sofrer as consequências.

O ciberespaço está cheio de redes mortas que, um dia, foram imprescindíveis para os seus usuários.

 

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