Caso Marina Silva: Misoginia, sexismo e machismo atrasam e corroem política brasileira

Ministra Marina Silva | Foto: Agência Brasil
Ministra Marina Silva | Foto: Agência Brasil

Elza Pereira Correia*

Absolutamente constrangedora, vergonhosa e inaceitável é a violência de gênero na política sofrida pela ministra Marina Silva. O episódio atinge não apenas a ministra, mas todas as mulheres brasileiras. Nenhuma de nós deve aceitar essa situação com normalidade.

A investida machista é cruel, desumana, perversa, abjeta e absolutamente desrespeitosa. Ao ofender a ministra — detentora de uma história irretocável de militância e ética —, os senadores Marcos Rogério e Plínio Valério assumem o papel de porta-vozes dos machistas de plantão que dominam o Congresso Nacional e a política brasileira.

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O corte do som dos microfones durante pronunciamentos, bem como o uso de adjetivos torpes e ofensivos, é uma prática sistemática contra as mulheres no poder político ou nos espaços de decisão. Esse é o cotidiano das mulheres na política — fruto de um desrespeito contínuo e permanente, oriundo da misoginia, do sexismo e do modelo estrutural machista arraigado na sociedade brasileira.

Vivi, como tantas outras mulheres, a violência de gênero na política durante meus mandatos como vereadora em Londrina e como deputada pelo Paraná. E compreendi que, além de compromisso, informação e conhecimento, é necessário também ter coragem — muita coragem — para não desistir não apenas desses espaços, mas também de tantos outros lugares que nos são historicamente difíceis de conquistar.

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Somos mais da metade da população brasileira — e mães da outra metade. Nossa luta cotidiana é para que mais mulheres não se intimidem e ocupem os espaços que desejarem. Que tenham, cada vez mais, lugar de fala, de representação e de decisão.

Toda a minha solidariedade e respeito à ministra Marina Silva.

*Diretora-executiva da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), é professora, feminista ativista, ex-vereadora em Londrina (PR) por três legislaturas e ex-deputada estadual. Formou-se em História na Universidade Estadual de Londrina, onde foi docente por alguns anos. No Paraná, presidiu o Conselho Estadual da Mulher, oportunidade em que criou, em Curitiba, o Centro de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. Integra a Executiva Nacional do Cidadania.

**Artigos publicados no site da FAP expressam a opinião de seus autores e não, necessariamente, da fundação, que defende a livre manifestação de pensamento, um dos pilares da democracia, conforme a Constituição.

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