Alberto Aggio: Na grande crise que vivemos é preciso resistir e derrotar Bolsonaro

Este vídeo faz parte de uma excelente iniciativa da Unesp que se propõe discutir as implicações da epidemia do Covid-19 para o país e o mundo. A ênfase da intervenção está centrada no diagnóstico da “grande crise” que vivemos (sanitária, econômica e política) e na dinâmica perversa que se instalou gerando milhares de mortos e centenas de infectados. O problema não envolve apenas a dimensão sanitária, a despeito da sua forte especificidade.

O problema tornou-se fundamentalmente político pelo comportamento aberrante do presidente Jair Bolsonaro, desdenhando as orientações médicas, manifestando comportamentos impróprios e exemplarmente negativos e, por fim, desorientando a população na medida em que confronta abertamente as orientações e medidas dos governadores e prefeitos que seguem as indicações da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Em meio à “grande crise”, Bolsonaro se tornou um agente provocador e negativo para o país. O Brasil precisa resistir a Bolsonaro em seu movimento sinistro contra os brasileiros. Em defesa da vida, contra a morte!

https://youtu.be/lchTBxbCqps

Compre na Amazon: Política Democrática critica marcha autoritária de Bolsonaro

Produzida e editada pela FAP, publicação está à venda na internet e conta com 29 análises sobre contextos político-econômico e social

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

“Vivemos um período preocupante”, diz um trecho do editorial da Revista Política Democrática edição 54 (199 páginas, versão impressa), referindo-se ao que chama de autoritarismo do governo de Jair Bolsonaro e dos filhos do presidente. Segundo a publicação, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e que está à venda no site da Amazon, é a defesa do retorno do Ato Institucional nº 5, com o qual a ditadura militar, nos anos 1960, fechou o Congresso Nacional, perseguiu, torturou e assassinou grandes figuras da resistência democrática, como o jornalista Vladimir Herzog.

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A revista também critica os constantes ataques de Bolsonaro à imprensa, um dos pilares da democracia. “As forças políticas, as entidades representativas e os cidadãos precisam ter o máximo de equilíbrio no enfrentamento à política governamental que busca resgatar e nos impor velhas concepções e práticas inaceitáveis para o país e o planeta que sonhamos construir”, diz um trecho. “Nossa postura oposicionista precisa ser pé-no-chão, sem oferecer pretexto e justificativa para que os bolsonaristas deem continuidade às suas ideias e ações de tentar implantar um modelo autoritário, de estilo fascistoide”, continua.

Nas diferentes seções da edição nº 54, cujo tema de capa é “Sermão aos peixes”, os editores comemoram 19 anos de atividades ininterruptas em montar, imprimir e distribuir, em papel e em e-book, a Revista Política Democrática. Nela, o leitor vai encontrar textos de autores e temas variados a respeito dos complexos e delicados tempos, no Brasil e no mundo inteiro, abrindo-lhe novos horizontes para continuar enfrentando-os com a cabeça erguida e tranquilidade

Análises

No total, são 29 análises, cada qual de um autor diferente, divididas em 11 capítulos: tema de capa, observatório, questões da cidadania e do Estado, economia e desenvolvimento, meio ambiente e sustentabilidade, desafios, questões da cultura, batalha de ideias, mundo, ensaio e resenha.

Diretor-geral da FAP, o jornalista e colunista Luiz Carlos Azedo é autor da primeira análise da revista. Segundo ele, o governo Bolsonaro é assumidamente de direita num contexto institucional de Estado de Direito democrático, o que, conforme destaca, é “a grande fortuna”. “Bolsonaro faz um governo contingenciado pela Constituição de 1988; por isso mesmo, não pode ser caracterizado como protofascista, como afirmam certos setores da oposição”, diz, para emendar: “Entretanto, quando não respeita o direito ao dissenso e à identidade das minorias, afronta a democracia e legitima essa narrativa”.

Em outra análise, o diretor-executivo da FAP e sociólogo Caetano Araújo aborda duas táticas da social-democracia e observa que, no plano nacional, a democracia representativa divide espaço cada vez mais com a participação direta dos cidadãos, por meio do conjunto de associações que integram a sociedade civil organizada. “No plano internacional, contudo, nos processos de integração regional e nos organismos internacionais de cooperação e deliberação, um déficit de representação democrática começa a ser percebido pelos cidadãos dos Estados nacionais, com consequências eleitorais cada vez mais evidentes”, afirma.

O presidente do Conselho Curador da FAP, Cristovam Buarque, propõe uma reflexão sobre a desprivatização do socialismo. De acordo com ele, o socialismo foi aprisionado pelo capitalismo e caiu na armadilha de propor que todos sejam ricos, consumam tudo, em grande quantidade. “Por isto que os socialistas dos partidos que se consideram de esquerda têm caído no ‘neoliberalismo social’: suas bandeiras se limitam a escolher alguns trabalhadores para receberem benefícios que não chegam a todos”, escreve.

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Ana Carla Abrão: Amanhã vai ser outro dia

Projeto que foi aprovado no Senado corrige arroubo de generosidade dos deputado

A maioria dos brasileiros – infelizmente não todos – entende que é a proteção da vida e da saúde das pessoas a maior de todas as prioridades neste momento. Estamos debruçados em números e projeções assustadores, que mostram a escalada da pandemia que já ultrapassou os 3,5 milhões de infectados e já matou ao menos 250 mil pessoas no mundo. No Brasil, já ultrapassamos a marca dos 100 mil infectados e dos 7 mil mortos nos números oficiais que, sabemos, estão subestimados em função da baixa taxa de testagem da população. Mesmo com toda essa tragédia humana, a pandemia ainda está longe de estar controlada e nós no Brasil estamos longe de entender toda a extensão do seu impacto sobre a população e sobre a economia do País.

Medidas emergenciais foram adotas nas áreas da saúde e da economia. Discussões políticas acaloradas fizeram parte do noticiário dos últimos meses. A ignorância e o descaso dominaram a pauta em alguns momentos. Esses passarão para a nossa história de forma vergonhosa. Mas a verdade é que, na medida em que outros países do mundo começam a adotar medidas de flexibilização do isolamento social e se preparam para um novo normal, levantam-se as dúvidas quanto ao futuro e à capacidade de recuperação das economias após essa brusca interrupção. Percebe-se que as incertezas em relação à recuperação não estão vinculadas apenas à intensidade da crise, mas também à natureza das medidas adotadas durante os momentos mais agudos e à efetividade das ações de retomada. No Brasil não será diferente.

Um exemplo é o plano de ajuda aos Estados e municípios. Colocado em contexto, responde à necessidade urgente de aumento de gastos com saúde que os entes subnacionais enfrentam como linha de frente no combate à pandemia. A situação se agrava com a queda de arrecadação vinculada à interrupção da atividade econômica. Entes subnacionais não emitem dívida e estão, portanto, limitados às suas receitas e às transferências da União. Se alguma dessas despenca, tudo desaba. Ainda mais no desequilíbrio que já viviam. Priorizar vidas neste momento significa ajudar esses entes a ultrapassarem esse momento. O projeto aprovado na Câmara ia muito além, prometendo o céu e contratando uma conta não necessariamente vinculada às necessidades impostas pela pandemia.

Felizmente, o projeto que foi aprovado no último sábado pelo Senado corrige boa parte desse arroubo de generosidade. A proposta define um limite de R$ 60 bilhões para o auxílio financeiro direto, contribuindo para que o socorro não gere leniência na gestão da arrecadação local. Além disso, inclui-se como contrapartida o congelamento dos salários dos servidores públicos – exceção feita a profissionais de saúde, de segurança e das Forças Armadas – até o final de 2021. Ao também restringir reestruturações de carreira, contratação de pessoal (exceto para repor vagas abertas) e interromper por um ano e meio a contagem de tempo para concessão de anuênios, quinquênios, etc, o Senado conseguiu bloquear a canalização desses recursos para o financiamento de aumentos das despesas de pessoal no setor público. Ao excluir a segurança desse dispositivo, boa parte da economia ficou de fora, mas ainda é melhor do que só o congelamento. Outra grande conquista é que essas limitações atingem os três poderes e não somente o Executivo. A não ser que haja as conhecidas e históricas reações corporativistas no Judiciário, teremos um pouco mais de controle desses gastos pela primeira vez em décadas.

Mas a verdade é que, ao mesmo tempo em que mantemos a proteção da vida e da saúde dos brasileiros no topo das prioridades e intensificamos o combate à pandemia, temos de pensar no dia de amanhã e já começar a construí-lo. É chegada a hora de começarmos a pensar em um plano nacional de retomada que parta dos conceitos corretos e faça a transição entre o enfrentamento da crise e a gestão do futuro. Não me refiro aqui a obras públicas mirabolantes, listadas a partir de um delírio nacionalista e nostálgico. Falo de um plano de retomada que leve em conta as diversas dimensões desta crise: o monitoramento da curva de contaminação e as necessárias ações de saúde; os motores de crescimento da economia (crédito, confiança, ambiente de negócios); a aceleração do processo de digitalização dos serviços públicos e a retomada da agenda de reformas, única garantia possível de manutenção de nossa solvência e dos patamares baixos de juros e, portanto, da recuperação de nossa capacidade de crescimento. Um plano assim se constrói com liderança e coesão e passa necessariamente pela recuperação dos laços federativos esgarçados por embates políticos. Passa também por uma grande coalizão entre Executivo, Legislativo e Judiciário e por capacidade de formulação de medidas de retomada que combinem responsabilidade, competência e consistência. Afinal, apesar de você, amanhã há de ser outro dia.

*ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN. O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DA COLUNISTA


Roberto Godoy: Forças Armadas rejeitam tese do golpe político

No domingo, presidente Jair Bolsonaro declarou que as Forças Armadas estão ao lado do seu governo

Na segunda-feira, 4, 24 horas depois da manifestação antidemocrática em Brasília, do apelo por uma intervenção militar no País e das declarações ameaçadoras do presidente Jair Bolsonaro, a tropa estava na rua: logo cedo, cerca de 30 mil homens e mulheres das Forças Armadas deixaram suas bases para montar hospitais de campanha, transportar suprimentos médicos, distribuir refeições de emergência, organizar serviços de atendimento, instruir equipes hospitalares e desinfetar instalações de uso público – estações de transporte coletivo do Rio, por exemplo. Para o efetivo de ação, a guerra real é contra o novo coronavírus.

A tese do golpe político, fortemente rejeitada pelo generalato do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, também não está na pauta da oficialidade média, de capitães a coronéis. São eles os que mantêm o controle direto dos quadros de combate; responsáveis pelo treinamento, preparo, equipamento, administração e prontidão das forças. Para esse pessoal, raramente ouvido na tomada de opinião do setor, a nota oficial de 11 linhas emitida no início da tarde pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, “podia ter uma linha só, a primeira”, disse ao Estado o comandante de um batalhão de infantaria do Sul do País. O texto citado limita-se a declarar que “as Forças Armadas cumprem sua missão constitucional”.

Outro oficial, da mesma patente, lembrou que, em uma organização regida pela disciplina e pela hierarquia, “não pode haver dúvida a respeito dos objetivos a serem alcançados e da meta a ser atingida – no momento, as etapas da campanha e a derrota da pandemia”. Para o coronel, as mais de 7 mil mortes registradas oficialmente “caracterizam baixas de zona de conflito”.

Militares não gostam da exceção. Trabalham com grande previsão e preferem estar adiante dos fatos. Um oficial da Força Aérea, crítico de certas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que considera “intromissões do Judiciário na competência exclusiva do Poder Executivo”, como a suspensão da expulsão de diplomatas venezuelanos, sustenta, entretanto, que “esse é um jogo que deve ser decidido na quadra da democracia”. Ele lembra que, no momento em que os manifestantes ocupavam a avenida diante do Palácio do Planalto, no domingo, a aviação militar completava uma série de voos para Manaus e Macapá levando toneladas de aventais, luvas, máscaras, gorros, medicamentos, ventiladores e respiradores mecânicos para aliviar o colapso no atendimento aos infectados pela covid-19 no Amazonas e no Amapá. “Agora, isso é o que conta”, afirmou. Para um capitão da força naval, “há um fator na teoria do golpe que é insuperável: quem paga a conta?”, analisou.


Merval Pereira: Supremo poder

Bolsonaro está esticando a corda a tal ponto que parece querer o confronto para constranger o STF e o Congresso

Pela segunda vez em poucos dias, o ministro da Defesa, General Fernando Azevedo e Silva é obrigado pelas circunstâncias políticas provocadas pelo presidente Jair Bolsonaro a soltar uma nota oficial tentando retirar as Forças Armadas do protagonismo em que o presidente as coloca em manifestações antidemocráticas.

A frase dúbia dita por Bolsonaro durante manifestação de domingo sobre as Forças Armadas tem o propósito de colocá-las ao lado das atitudes ilegais e inconstitucionais que está cometendo.

As Forças Armadas teriam que se pronunciar, natural que não pudessem dizer claramente que o presidente está mentindo, ou usando-os como biombo para ações ilegais, mas coube uma nota oficial a respeito do entendimento sobre democracia, respeito às leis, ao Congresso e ao STF, para que não paire no ar nenhuma dúvida de que não estariam realmente ao lado de Bolsonaro quando ele quebra as regras da democracia.

Sublinhando que as Forças Armadas são “organismos de Estado”, já eximiram-se de uma atuação de Governo, como a de domingo em frente ao Palácio do Planalto, com um teor político explosivo. Bolsonaro, no entanto, ainda tem uma compreensão por parte de seus pares militares, que não entenderam ainda, ou não querem entender, que essas manifestações são claramente ilegais.

Ao dizer na nota oficial que a “liberdade de expressão é requisito fundamental de um país democrático”, os chefes militares trataram como normal manifestações que pregam ações ilegais por parte das Forças Armadas, o que não tem nada de normal.

Bolsonaro está diariamente transgredindo a lei, cometendo crimes de responsabilidade e crimes comuns, e vai chegar o momento em que retóricas dele e a dos que o combatem não serão mais suficientes. Nem notas oficiais do ministério da Defesa.

Bolsonaro está esticando a corda a tal ponto que parece querer o confronto para constranger o Supremo e o Congresso. É assim que acontecem os golpes modernos, que não necessitam que as Forças Armadas coloquem seus tanques nas ruas, apenas que sejam lenientes aos avanços antidemocráticos do chefe de governo da ocasião.

Ele cria situações constrangedoras, como a nomeação de um subordinado do delegado de Alexandre Ramagem para a Polícia Federal, numa tentativa de ludibriar o STF. É uma prova de que quer ter acesso a informações da Polícia Federal, o que confirma as acusações do ex-ministro Sergio Moro.

Ao acusar o Supremo e o Congresso de armarem um complô contra ele, Bolsonaro, além de instigar seus seguidores contra esses poderes da República, tenta rotular qualquer medida que o contrarie como parte desse complô imaginário.

Ontem, o ministro do Supremo Gilmar Mendes deu uma declaração esclarecedora, que tenta evitar que essa ação conspiratória atribuída ao STF não se torne verdade. Disse que as medidas liminares dos ministros Alexandre Moraes, impedindo a nomeação do diretor-geral da PF por desvio de finalidade, e Luis Roberto Barroso impedindo que os diplomatas venezuelanos sejam expulsos do país neste momento, por razões humanitárias, que irritaram especialmente Bolsonaro, são decisões pontuais que não podem ser entendidas como parte de uma ação conjunta contra o Executivo.

Também a proposta do ministro Marco Aurélio Mello de que atos do Poder Legislativo ou Executivo sejam tratados diretamente pelo plenário do Supremo, para evitar insinuações de que decisões monocráticas dos ministros tenham intenções políticas é “uma tentativa de resgatar a atuação do colegiado”, na definição de Marco Aurelio Mello, mas pode não ser factível, pois no mais das vezes as decisões liminares são tomadas devido à urgência do pedido, e não haveria tempo hábil para reunir o plenário.

O ministro Alexandre de Moraes, por exemplo, recebeu o pedido para sustar a posse de Ramagem na PF na véspera à noite, e teve que tomar a decisão na manhã da solenidade.

O Supremo Tribunal Federal (STF) é a única instituição que tem capacidade de anular atos do Legislativo e do Executivo, pela Constituição. Portanto, falar em independência e separação harmônica de poderes não pode significar retirar a função específica do Supremo que, como disse Rui Barbosa, “tem o poder de errar por último”.

O ex-presidente do STF Ayres Britto tem uma definição clara para essa situação: “Por que o Tribunal tem o nome de Supremo? Porque está acima de tudo, acima de todos, por ser o mais alto e extremo guardião da Constituição”


José Casado: Bolsonaro perde, de novo

Ele quer envolver as Forças Armadas na sua campanha

Foi um longo fim de semana para Jair Bolsonaro. Imerso na realidade paralela, à distância do país devastado por um vírus que já abateu mais de sete mil vidas, entreteve-se no seu jogo predileto: envolver as Forças Armadas na sua campanha para reeleição em 2022. É raro caso de governante empenhado num pandemônio político em plena pandemia.

No sábado, no Palácio da Alvorada, extravasou sua ira com a suposta conspiração para impedi-lo de governar. Citou Sergio Moro, João Doria, Congresso, STF e governadores. Lula e PT estão fora da sua agenda. Bolsonaro, agora, racha a centro direita. Briga com o governador paulista, a quem vê como adversário eleitoral.

No domingo ensolarado comandou nova manifestação, financiada por empresários amigos, em produção esmerada com faixas de apelo à “intervenção militar com Bolsonaro”. A claque, outra vez, pedia aos generais um golpe em favor do ex-capitão, afastado do Exército por indisciplina, há quase quatro décadas.

O cenário verde-amarelo ficou relevante porque pesquisas mostram supremacia da imprensa sobre as redes sociais em credibilidade — efeito da pandemia. “Acabou a paciência”, disse. “As Forças Armadas também estão ao nosso lado… Chegamos no limite.”

Varou a madrugada de ontem com o plano de declarar desobediência ao Supremo. Renomearia Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. A indicação havia sido suspensa pelo STF, por conflito de interesses — é amigo de Bolsonaro, cujos filhos estão sob investigação federal. Aceitou deixar Ramagem indicar seu vice na Abin, Rolando de Souza.

Resignou-se, ainda, a manter o general Edson Pujol no comando do Exército. Queria trocá-lo por Luiz Eduardo Ramos, um general da ativa no Planalto. Provocaria uma cisão, alertaram, acelerando a erosão já perceptível no respaldo militar ao seu governo. Também se conformou com a nota da Defesa lembrando o papel constitucional das Forças Armadas. Foi a segunda em 15 dias.

Bolsonaro perdeu, de novo. Mas quem o viu nas últimas 72 horas acha que o presidente-candidato vai continuar apostando no arriscado jogo de atração dos quartéis à política.


Bernardo Mello Franco: Bolsonaro conspira à luz do dia

Bolsonaro conspira à luz do dia. No domingo, ele usou a rampa do Planalto como palanque para o golpismo. Ontem nomeou outro delegado para controlar a PF

Jair Bolsonaro conspira à luz do dia. No domingo, o presidente usou mais um símbolo nacional como palanque para o golpismo. Na rampa do Planalto, confraternizou com extremistas que atacavam a democracia e agrediam jornalistas no exercício da profissão.

Irritado com decisões do Supremo, o capitão vociferou: “Não vamos admitir mais interferência. Deixar bem claro isso aí. Acabou a paciência”. No mesmo tom, ele prosseguiu: “Chegamos no limite, não tem mais conversa”. Só faltou mandar o cabo e o soldado cercarem o tribunal do outro lado da praça.

A ameaça do uso da força é cada vez mais explícita nas falas presidenciais. Diante de sua minoria barulhenta, Bolsonaro disse que as Forças Armadas “estão do nosso lado”. Os militares sabiam quem ele era quando embarcaram sorridentes no novo governo. Agora são arrastados para o centro de uma turbulência política prestes a virar crise institucional.

Em nota, o ministro da Defesa afirmou que as Forças “estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”. O esclarecimento seria desnecessário se o país vivesse tempos normais. A tensão tende a se agravar nos próximos dias, à medida que avançam as investigações sobre o clã presidencial.

Bolsonaro tem pressa. Ontem ele nomeou o novo diretor da Polícia Federal, que assume com a missão de proteger pai e filhos. A operação incluiu edição extra do Diário Oficial e posse relâmpago a portas fechadas. Cenas de um governo acuado, que vê na radicalização a única saída para se segurar no poder.


Grandes artistas têm o dom de resumir o espírito do tempo. Em artigo no GLOBO, Aldir Blanc narrou uma conversa com seu velho parceiro:

“Recebi um telefonema do João Bosco. Triste, João falou sobre o ódio alucinado que grassa no país: ‘Clamam por sangue, querem enforcar, pedem a volta da ditadura, só um lado é preso. E há um ódio em tudo’. Sinto a mesma coisa”.

Poderia ter sido ontem, mas foi em 2015.


Carlos Andreazza: O Bolsa Família do Jair

Não me surpreenderá que, tendo surgido em caráter provisório, essa ajuda torne-se permanente

Se não fosse natimorto, o liberalismo bolsonarista — este oximoro perfeito — estaria morrendo em praça pública. Natimorto porque, afora a propaganda influente, nunca foram conciliáveis o fenômeno reacionário bolsonarista, com seu ímpeto permanente para o choque, para a imprevisibilidade e, pois, para a instabilidade, e um programa de reformas liberais do Estado, como aquele vendido por Paulo Guedes, que pressupõe que o solo sobre o qual se obrará seja firme e que haja algum horizonte de constância para a empreitada.

Nada disso jamais houve — jamais haverá — sob um governo de Jair Bolsonaro, a fábrica de crises ele próprio. A usina de conflitos eleita para governar um país em depressão política profunda, onde grassa a insegurança jurídica — e onde só um gringo louco e desinformado, com muito dinheiro para queimar, investiria. Esse tipo exótico que simplesmente… inexiste. Mas que, garante-se, logo estará despejando bilhões aqui.

Houve, no entanto, quem se enganasse. (Ou se deixasse enganar.) Houve também quem enganasse.Para esses foi preciso que a peste sobre nós se abatesse; a chaga inclemente que precipita a imposição da verdade, que estabelece nova convenção social sobre o papel do Estado e que oferece a Bolsonaro, que é Dilma em matéria econômica, a chance de ser Bolsonaro antes de o imaginado — o que se livra do natimorto como se o ofertasse, tal qual vivo fosse, ao sacrifício da morte em praça pública.

Morre em praça pública o juízo daquele que, ante o baixar da praga, supôs que o presidente pudesse se aprumar para liderar algo que não a aplicação radical de seus propósitos. A pandemia é janela de oportunidades. E o homem é Brasil Grande. Ustra nos costumes; Tarcísio na economia.

Recomponho a imagem a que tenho recorrido: Bolsonaro como um girassol publicitário cujo norte se orienta pelo calor — pelo pulso — das redes. Retomo, assim, a reflexão iniciada na coluna da semana passada. Sobre o presidente estar trocando de pele, deixando pelo caminho — ainda antes da metade do mandato — a carcaça narrativa, de matriz eleitoral e existência precária, que o trouxe até aqui; o lavajatismo encarnado em Sergio Moro, por exemplo, já foi. Mais irá.

Um movimento, consciente, que resulta em perda de apoio e que não seria jogado sem a perspectiva bolsonarista de controlar o prejuízo e reequilibrar o tabuleiro por meio de conquista territorial em outro chão. É o que parece estar em curso. Um movimento que, tomando risco, identifica e mede ensejo, e que só ocorre porque fiado na troca de base social. Vai-se parte do esteio na classe média; talvez algo do alicerce na elite. Vem — para balancear — o arrimo nas classes populares.

As últimas pesquisas todas — que, de resto, apontam que a demanda da sociedade se moveu para a quase unanimidade de que o Estado deva sustentar artificialmente a economia — indicam que a aposta do presidente pode estar correta. Mesmo perdendo suporte a partir das crises que desaguariam nas quedas de Mandetta e Moro, mantém-se com popularidade estável e em patamar competitivo. Troca de pele — e o faz enquanto muda também de solo onde funda futuro. É essa a projeção que torna o guedismo descartável.

Quando a peste se lastreou entre nós, Bolsonaro fez seu jogo — um jogo de ganha-ganha. Covarde, lance de sociopata, mas eficaz. Aquele, esculpido na forja populista, que opunha saúde pública e saúde econômica — estando ele ao lado da economia popular. Eis o fundamento falacioso da narrativa bolsonarista— expresso pelo próprio presidente — quando diante do impacto assassino da Covid-19: o de que, independentemente das medidas restritivas decretadas pelos governadores, as mortes viriam, que as ações seriam, portanto, inócuas para a preservação de vidas, mas decisivas para agravar o flagelo da economia, o desemprego, a pobreza.

Aquele discurso de Bolsonaro — o do governante aflito sobretudo com a situação das famílias mais pobres — foi percebido como de genuína preocupação com a subsistência dos que não tinham gordura para permanecer em casa sem passar fome. Isso foi captado como compondo anova popularidade do presidente. E então, para fortalecer essa posição, vieram as medidas de auxílio econômico emergencial; com o que o Bolsonaro viu nascer — alicerçado na licença para abrir o cofre — o Bolsa Família do Jair.

Gostou. Tomará gosto por gastar. De modo que não me surpreenderá que, tendo surgido em caráter provisório, essa ajuda excepcional — recebida pelos beneficiados como uma ajuda de Bolsonaro — torne-se permanente, engolfando a antiga base do Bolsa Família e ampliando o corpo de assistência do Estado aos pobres.

É espantosa — um país à parte — a quantidade das milhões de pessoas que inexistiam formalmente e que de repente vão mapeadas pelo governo de turno. Desses milhões, quantos milhões poderão sernovos milhões de títulos de eleitor? Já pensou?

Nova base social é isso.


Hélio Schwartsman: Centrão é virtuoso e Moro é petista

O centrão, vale lembrar, é sinônimo da "velha política"

Eu tento ser uma pessoa boa, mas nem sempre consigo. Confesso que experimento um certo prazer —uma "Schadenfreude", diriam os sempre precisos alemães— ao ver bolsonaristas contorcendo seus neurônios para processar a nova aliança do mito com o centrão ou ao se verem obrigados a reclassificar o ex-herói Sergio Moro como um traidor.

O centrão, vale lembrar, é sinônimo da "velha política", que Bolsonaro jurou que não teria vez em sua administração. Circula na internet um vídeo impagável em que o general Heleno, o fiador verde-oliva do governo, arrisca acordes em que sugere que todos os parlamentares do centrão são ladrões. Agora, Bolsonaro ameaça demitir os ministros que resistirem em ceder cargos para esses políticos.

Já Moro, que até alguns dias atrás emprestava à administração sua imagem de campeão da luta contra a corrupção, deixou o governo acusando Bolsonaro de crimes graves. É Moro que mudou ou Bolsonaro que mentiu?

O meu prazer é, de um ponto de vista cristão ou kantiano, condenável, porque se baseia no sofrimento mental por que essas pessoas passam ao lidar com contradições óbvias demais para serem ignoradas --dissonâncias cognitivas no vocabulário da psicologia. E cristãos e kantianos não deveriam extrair prazer da dor alheia. Mas não sou tão kantiano assim e nada cristão. Já que os eleitores de Bolsonaro nos impingiram esse estrupício, é justo que sofram pelo menos um pouquinho também.

Nossa janela para regozijo, porém, é curta. Uma série de trabalhos inaugurados por Leon Festinger nos anos 50 mostra que, quando confrontados com dissonâncias cognitivas, nossos cérebros fazem de tudo para dissolver as contradições e eliminar o sofrimento mental, mesmo que isso signifique criar fabulações e acreditar em mentiras. Em mais alguns dias, os bolsonaristas de raiz jurarão que o centrão sempre esteve do lado do bem e que Moro sempre foi petista.


Ricardo Noblat: Bolsonaro e seus delírios de Napoleão de hospício

À espera que o tempo se esgote

Durou menos tempo do que uma rosa cortada a nova tentativa do presidente Jair Bolsonaro de fazer os militares cerrarem fileira em torno do seu governo. Pela segunda vez em menos de um mês, o ministro Fernando Azevedo e Silva, da Defesa, divulgou uma nota onde diz que as “Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”.

Sob o título “As Forças Armadas cumprem a sua missão Constitucional”, a nota acrescenta que “Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do país”. Se Bolsonaro, pois, imagina usá-las para atropelar a Constituição, vá logo tirando seu cavalinho da chuva.

O aviso vale não só para Bolsonaro e demais interessados em romper com as regras do jogo democrático. Vale também para acalmar os ânimos dos que temem, e com razão, que um presidente da República cada vez mais enfraquecido, apoiado por não mais do que um terço da população, possa em um ato de desespero atrair para seu lado antigos companheiros de farda.

A ratatuia que sai às ruas a pedir a volta da ditadura militar é uma fração da metade ou de menos da metade desse um terço. Por barulhenta e disposta à violência, dá impressão de ser maior e mais perigosa do que é. Bolsonaro a cultiva porque pensa como ela, deseja o que ela quer, e dela precisa para causar medo aos seus desafetos – que são todos os que se opõem às suas vontades.

Uma coisa são os generais de pijama, empregados ou não no governo, adeptos dos jogos de cartas, de damas e de dominó e que apoiam a pretensão de Bolsonaro de aplicar um golpe de Estado. Bolsonaro é um Napoleão que foi tirado do hospício com o propósito de varrer a esquerda do poder, e varreu. Antes de retornar à sua insignificância, ainda dará trabalho. Fazer o quê?

Aturá-lo até onde for possível. Ou abreviar seu mandato por meio de um processo de impeachment. É o que prevê a Constituição. Mas, enquanto isso, limites lhe estão sendo impostos. Ontem, ele sentiu-se obrigado a telefonar para o comandante do Exército para negar a veracidade de notícias que deram conta do seu desejo em substitui-lo. Por conveniente, a mentira de Bolsonaro foi aceita.

À falta de maior apoio popular e partidário para aprovar no Congresso tudo o que quer, a Bolsonaro só resta viver de espasmos autoritários até que seu tempo se esgote. Que assim seja.

O primeiro ato do novo diretor da Polícia Federal dá razão a Moro

Aperta-se o cerco a Bolsonaro

O que disse Sérgio Moro ao despedir-se do cargo de ministro da Justiça e disparar graves acusações contra o presidente Jair Bolsonaro? Disse que ele lhe cobrara diversas vezes o afastamento do diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Marcelo Aleixo, e dos superintendentes no Rio e em Pernambuco. As vagas seriam preenchidas com gente da confiança dele.

O que fez o novo diretor-geral, o delegado Rolando Souza, mal foi nomeado e empossado por Bolsonaro em cerimônia assistida só por meia dúzia de convidados no Palácio do Planalto? Convocou o superintendente da Polícia Federal no Rio para trabalhar com ele em Brasília. Souza foi o braço direito do delegado Alexandre Ramagem na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN)

Ramagem você lembra quem é. Foi o delegado que cuidou da segurança de Bolsonaro depois da facada em Juiz de Fora. Caiu nas graças da família Bolsonaro. Foi promovido a diretor-geral da ABIN. E, na semana passada, quando o presidente o nomeou para comandar a Polícia Federal, foi proibido de tomar posse pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O primeiro ato do substituto de Ramagem na direção-geral da Polícia Federal serviu para confirmar o que disse Moro à saída do governo. E o que repetiu em depoimento de oito horas prestado em Curitiba a agentes federais. Souza pretende trocar outros superintendentes nos Estados. Um deles certamente será o de Pernambuco que teve sua cabeça pedida a Moro por Bolsonaro.

Tão logo conheceu em linhas gerais o depoimento de Moro, Bolsonaro teve mais um ataque de nervos, desses que o leva a dizer palavrões em voz alta dentro do seu gabinete. O presidente está vendo o cerco se apertar ao seu redor. Moro citou vários dos seus ministros como testemunhas das pressões que recebeu para que tornasse a Polícia Federal permeável às vontades de Bolsonaro.

Augusto Aras, Procurador-Geral da República, requisitou a gravação da reunião ministerial onde Moro foi ameaçado de demissão caso não cumprisse a ordem de Bolsonaro de dar um novo rumo à Polícia Federal. Bolsonaro queria ser posto a par das investigações que ela fizesse. E receber relatórios a respeito. A Polícia Federal não é um órgão de governo, mas de Estado.

O inquérito aberto por Aras para apurar as denúncias de Moro é presidido pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal. E Celso tem pressa. Ele se aposentará em novembro próximo. E seu substituto será indicado por Bolsonaro. Celso é o maior crítico do presidente entre seus colegas.


Pablo Ortellado: Escalada acelerada

Enquanto Bolsonaro aspira ruptura institucional, establishment e oposição tentam criar condições para o impeachment

O jogo parece travado. Bolsonaro gostaria de atropelar as instituições, mas não tem força para fazê-lo; o establishment e a oposição gostariam de impedir o presidente, mas não têm apoio popular nem voto no Congresso.

Enquanto nenhuma ação definitiva é tomada, as tensões vão escalando.

Bolsonaro parece cercado. As investigações sobre as rachadinhas no Ministério Público do Rio, as investigações sobre a máquina de propaganda do gabinete do ódio no Supremo e o depoimento de Moro a pedido da PGR podem vir à tona a qualquer momento. Em todas essas frentes podem emergir evidências que façam Bolsonaro perder apoio e subsidiem um pedido de impeachment mais robusto.

Para reagir ao cerco, Bolsonaro está fazendo três movimentos simultâneos. O primeiro é tentar controlar a Polícia Federal, primeiro com a indicação de Alexandre Ramagem e, agora, com a indicação de Rolando de Souza. Com tanto escrutínio e com tanta oposição na PF, pode ser que o presidente não consiga exercer bem esse controle.

O segundo movimento de Bolsonaro é comprar apoio no Congresso para impedir um processo de impeachment. Para reduzir a insatisfação na sua base de apoio, Bolsonaro está oferecendo apenas cargos do segundo escalão, que são menos visíveis.

A aliança com o centrão tem tudo para durar pouco. Esse é o mesmo centrão que dava sustentação ao governo Dilma e que, ao primeiro sinal de fraqueza, saltou para o barco do impeachment.

Além de aliado naturalmente instável, o partido do fisiologismo tem motivos para não confiar em Bolsonaro. O presidente não apenas descartou Sergio Moro, que parecia pilar do governo, como descartou sem pudor aliados outrora fundamentais, como Magno Malta, Gustavo Bebianno, Joice Hasselmann e o general Santos Cruz. Regina Duarte e mesmo Paulo Guedes podem estar a um passo de sair.

O terceiro e último movimento é preparar uma ruptura institucional tentando fazer crescer as carreatas antigovernadores e aliciando lunáticos para o acampamento paramilitar, "dos 300", que se estabeleceu em frente ao Congresso.

Um dos motivos que fazem a situação ainda mais confusa é o apagão de informações. Com o isolamento social, os institutos de pesquisa que faziam entrevistas presenciais, consideradas mais sólidas, migraram para as entrevistas telefônicas, utilizadas pelos institutos menores. Os dados dos diferentes institutos divergem um bocado entre si, e não sabemos dizer com certeza se com a crise do coronavírus Bolsonaro perdeu, manteve ou ampliou o apoio ao seu governo.

Pablo Ortellado é professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.


Ranier Bragon: Bolsonaro exercita seu eterno sonho de dar uma quartelada

Tanques não podem mais escrever a história política deste país

A paciência de Jair Bolsonaro acabou, ele está em seu limite, tem ao seu lado as Forças Armadas e fará cumprir, a qualquer preço, a sua interpretação da Constituição.

As palavras proferidas na mais recente algazarra golpista, no domingo (3), têm como objetivo intimidar não só Alexandre de Moraes, que dificultou sua intenção de interferir em investigações da PF, mas qualquer ministro do STF que possa lhe causar embaraços. Como Celso de Mello, que comanda a apuração das acusações do ex-ministro Sergio Moro.

Como suporte às bravatas, o presidente ameaça mover o sonho de toda uma vida de delinquência sem punição: uma quartelada a seu favor.

A ameaça de ruptura institucional foi coroada no domingo pela violência de covardes que se escoram na proteção dos bandos para atacar alvos pelas costas. Os presidentes do próprio Supremo, Dias Toffoli, e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), acoelharam-se, mudos.

Como informou a colunista Mônica Bergamo, Toffoli até se irritou, mas com a decisão dos colegas. Davi foi ao Planalto nesta segunda, mas apenas para exercitar a sua alma de eterno baixo-clero e lengalengar a necessidade de harmonia.

E de pusilanimidade em pusilanimidade a vergonha vai sendo escrita.

Qualquer ministro que se acovarde neste momento não merece a toga que veste. Ministros do STF não são deuses. Para conter eventuais erros e abusos, estão lá o colegiado, a reação abalizada da sociedade civil e, até, o impeachment. Jamais a intimidação ou a desobediência.

Qualquer militar também não merece a farda que veste se der suporte a ameaças de ruptura feitas por um descapacitado que demonstra não ter condições nem de ser síndico do Vivendas da Barra. Militares são agentes do Estado brasileiro, não atores políticos ou capachos de tiranetes. Honrem a história de gente como o marechal Henrique Teixeira Lott. Tanques não podem mais escrever a história política deste país, por mais que celerados assim o desejem.

*Ranier Bragon é repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.