ano legislativo

Míriam Leitão: Pink e Cérebro do Congresso

POR ALVARO GABRIEL

O ano legislativo começa amanhã, com a posse do novo Congresso, e terá início de fato a corrida pela aprovação das reformas. Ainda não se sabe qual proposta da Previdência passará pelo crivo do presidente Jair Bolsonaro, que se recupera de cirurgia em São Paulo. Um ponto determinante será a estratégia de usar ou não a PEC 287 do governo Temer, que já passou pelas principais comissões da Câmara e estaria pronta para ir a plenário. Na visão do cientista político Sérgio Praça, da FGV/CPDOC, o DEM terá papel crucial nas negociações e ocupará um espaço que inicialmente caberia ao PSL. Enquanto o partido do presidente dará musculatura ao número de votos, o DEM funcionará como uma espécie de cérebro do governo nos bastidores. “O PSL deve ser o maior partido da Câmara, mas não tem gente qualificada para estar à frente das principais comissões, como a CCJ e a de Orçamento. Isso abre muito espaço para o DEM, que é o partido do Rodrigo Maia e do chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni”, afirmou. Para Sérgio Praça, o PSL precisa mais não atrapalhar do que ajudar na tramitação.

CUSTO DO ATRASO

Quanto maior o atraso na Previdência, maior o custo para as contas públicas. Se o texto do governo Temer tivesse sido aprovado em junho de 2017, o país já teria economizado R$ 6 bilhões, até ontem. O cálculo é do “Previdenciômetro”, medidor criado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A redução dos gastos ganha força ao longo dos anos, mas mesmo no curto prazo os efeitos da reforma já seriam sentidos. Com R$ 6 bilhões, seria possível construir 1.142 escolas ou 240 hospitais. Ou, ainda, 95.205 moradias populares, pelas contas da entidade. O país troca investimentos por gastos com aposentadorias sem idade mínima.

BRASIL FIGURANTE

Para o ex-embaixador Rubens Ricupero, o Itamaraty sai menor da crise envolvendo a Venezuela. Uma semana após reconhecer Juan Guaidó como presidente do país, Maduro continua no cargo, e os embaixadores brasileiros estão a reboque das decisões americanas neste assunto. “O Brasil se apagou muito, um país da nossa envergadura foi apenas um entre mais de 10 que reconheceu Guaidó após os EUA. Estamos como figurante no coro da ópera, em papel secundário. Nas descrições que se fazem no Conselho de Segurança, quase não se cita o Brasil. Poderíamos hoje ajudar como mediadores, mas desaparecemos do cenário”, disse.

CORRIDA DE OBSTÁCULOS I

Veja como a economia se parece com uma corrida de obstáculos. Caso o governo aprove uma reforma consistente da Previdência, o economista Nathan Blanche, especialista em câmbio, prevê uma forte entrada de dólares no país. O problema, diz, é que a valorização do real poderá ser fatal para muitas empresas. “Se o Brasil der certo, estará encrencado”, brinca. Ele explica que a inflação já está baixa e tenderia a furar novamente o piso da meta, e o Banco Central já tem reservas cambiais elevadas. “Há poucos instrumentos para conter uma valorização forte do câmbio. O governo precisa fazer o ajuste fiscal e aprovar uma agenda de competitividade para as empresas.” Nem bem o país resolverá um problema e já terá que enfrentar outro.

CORRIDA DE OBSTÁCULOS II

Pelas contas de Nathan, a agenda mundial é de redução de impostos de cerca de 20% em vários países competidores do Brasil, como os EUA. Se o real tiver valorização entre 10% e 15%, as empresas brasileiras teriam aumento de custo de até 35%. “Se não baixar impostos, o prejuízo na produtividade e competitividade será elevadíssimo. E o único jeito de reduzir carga tributária é cortando gasto. A Previdência terá que ser apenas a primeira das reformas”, afirmou.

NÃO PAREM AS MÁQUINAS

A indústria de máquinas já está agendando reunião com o ministro da economia, Paulo Guedes, para tratar do assunto. O setor fechou 2018 com crescimento de 7%, mas puxado pelas exportações. Este ano, a projeção é de alta de 5%, mas com foco maior no mercado interno, diz o presidente da Abimaq, João Carlos Marchesan. Uma valorização forte do real tornaria as máquinas importadas mais baratas em relação às produzidas no país e encareceria as brasileiras no exterior. Esse cenário preocupa.

(Com Marcelo Loureiro)