RPD || Martin Cezar Feijó: Camarada Jorge, o vencedor do BBB22

Vida de Francisco Inácio Almeida – o Camarada Jorge – se confunde com a história, tal como o poeta Ferreira Gullar definiu o PCB, por ocasião de seus 60 anos em 1982, destaca Martin Cezar Feijó em seu artigo
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Se em 2022, o Big Brother Brasil – famoso reality show da Rede Globo de Televisão – fosse realizado por ocasião do centenário do PCB, com a participação somente de militantes vivos nos sucedâneos da histórica agremiação, criada no mesmo ano que a Semana de Arte Moderna e eclosão da revolta tenentista, seguramente o Camarada Jorge teria o mesmo desempenho da nordestina de Campina Grande, PB, Juliette Freire (algum parentesco com Roberto?) teve no BBB21, com merecida vitória por sua graça, resiliência e empatia.  

Sobre o arquétipo do Camarada Jorge já escreveu o poeta Bertolt Brecht: “Há homens que lutam um dia e são bons, há muitos que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida, e estes são imprescindíveis”. 

 Mas de quem se fala aqui? Do Camarada Jorge, que nem existe mais, mas também não deixou de existir. Está vivo. Bem vivo. E responde por seu próprio nome, não precisando mais se esconder através de um codinome.  

“Almeida é ainda hoje um aprendiz de radicalidade democrática, como todos nós que viemos da formação mais tradicional e clássica da esquerda brasileira, aquela que, para se declarar pertinência ou relação bastava dizer: ‘ele ou ela é do Partido, eu sou do Partido’ “

Mas quem é, ou foi, Camarada Jorge? 

Foi um militante que aderiu ao partido em plena juventude de estudante em Fortaleza, CE, no início dos anos 1960. Seu nome verdadeiro é Francisco Inácio Almeida. Mas, quem é Almeida? Quem é Chico? Quem é Inácio? Quem é Zéthithi? Quem foi Camarada Jorge? 

Foi para responder a esta pergunta que o carioca Ivan Alves Filho e o baiano George Gurgel de Oliveira resolveram mobilizar vários intelectuais do Brasil todo para homenagear Almeida, para um livro por ocasião de seus 80 anos (Abaré Editorial, Brasília, 2020) com o título Almeida – Um Combatente da Democracia. Com a cumplicidade decisiva de Tereza Vitale, companheira de uma vida de Almeida.   

A vida de Almeida se confunde com a história no sentido que o poeta Ferreira Gullar definiu o PCB, por ocasião de seus 60 anos em 1982, a pedido do dirigente Giocondo Dias:  

Eles eram poucos.  

E nem puderam cantar muito alto a Internacional.  

Naquela casa de Niterói em 1922.  

Mas cantaram e fundaram o partido.  

Eles eram apenas nove, o jornalista Astrogildo, o contador Cordeiro, o gráfico Pimenta, o sapateiro José Elias, o vassoureiro Luís Peres, os alfaiates Cendon e Barboza, os ferroviário Hermogênio.  

E ainda o barbeiro Nequete, que citava Lênin a três por dois.  

Em todo o país eles eram mais de setenta.  

Sabiam pouco de marxismo, mas tinham sede de justiça e estavam dispostos a lutar por ela.  

Faz sessenta anos que isto aconteceu, o PCB não se tornou o maior partido do ocidente, nem mesmo do Brasil.  

Mas quem contar a história de nosso povo e seus heróis tem que falar dele.  

Ou estará mentindo. 

Quem é Almeida? 

Francisco Inácio Almeida nasceu em um dia 16 de novembro de 1939, em Batiruté, interior do Ceará. Ingressou no PCB por ocasião da revolução cubana de 1958. Foi para São Paulo, por estar sendo visado pela polícia política, tendo participado do Congresso promovido pela União Nacional de Estudantes (1968), onde foi preso juntamente com todos os participantes. Após a prisão, não teve jeito, saiu do país com destino a Moscou, onde se tornou secretário político de Luís Carlos Prestes. 

“Almeidinha”, como é conhecido cordialmente por muitos que conviveram com ele, como Arlindo Fernandes de Oliveira, que assim o definiu: (pág.27). “Almeida é ainda hoje um aprendiz de radicalidade democrática, como todos nós que viemos da formação mais tradicional e clássica da esquerda brasileira, aquela que, para se declarar pertinência ou relação bastava dizer: “ele ou ela é do Partido, “eu sou do Partido” (pág. 27). 

Principal mentor da Fundação Astrojildo Pereira, e do lançamento da Revista Política Democrática, antes impressa, hoje também digital, espaço de reflexões e ensaios. É de Sérgio Augusto de Moraes a definição de um verdadeiro democrata: “A sua paciência diante de opiniões divergentes (inclusive as mais estapafúrdias) é, por si só, uma mostra de seu espírito público e democrático.” (pág.128)  

Quer mais? Leia o livro! Almeida não só merece esta singela homenagem promovida por intelectuais que admiram sua capacidade e tranquilidade em lidar com tantas vaidades, sempre a favor de uma causa que se tornou cada vez mais radical, uma democracia profunda na qual o povo seja não apenas voz e voto, mas realmente protagonista de uma história.  

*Martin Cezar Feijó é doutor em comunicação pela USP e professor de comunicação comparada na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). É autor, entre outros, de O que é política cultural (1983), Formação política de Astrojildo Pereira (1985) e 1932: a guerra civil paulista (1998, este em parceria com Noé Gertel).Historiador e professor titular-doutor na Facom da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de maio (31ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

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