Revista online | Evitaremos outra década perdida?

Vício de modelo gera falsa sensação de que problemas podem ser solucionados por expansões do gasto público
Sinalizações iniciais da equipe de transição do governo eleito são desanimadoras | foto: Adriano Machado/Reuters
Sinalizações iniciais da equipe de transição do governo eleito são desanimadoras | foto: Adriano Machado/Reuters

Benito Salomão, economista*, especial para a revista Política Democrática online (50ª edição: dezembro/2022)

No próximo dia 1º de janeiro de 2023, um novo governo tomará posse permeado por inúmeros problemas de curto prazo, o mais evidente deles é o fiscal. Este artigo, no entanto, se propõe a sair um pouco da análise de conjuntura e pensar a economia sob uma perspectiva de mais longo prazo. Este ano sela a nova década perdida brasileira, quando o crescimento do PIB per capita variou negativamente de US$8965, em 2011, para US$8551, em 2021. O governo que irá assumir tem como missão, portanto, reverter esse contexto desolador de estagnação do crescimento.

Os primeiros sinais vindos da transição não são animadores. A preocupação social cristalizada na retórica petista pode se converter em captura político-eleitoral dos programas sociais pelo governo, com consequências não desprezíveis para o equilíbrio macroeconômico do país. Se isso acontecer, novamente a agenda de estabilização de curto prazo da economia brasileira irá se sobrepor às questões de longo prazo, e, dificilmente, o país conseguirá escapar de uma nova década perdida.

Os modelos que se debruçam a compreender o crescimento de longo prazo das economias sugerem uma combinação de fatores que podem desencadear um longo horizonte de prosperidade para as nações. Robert Solow, em clássico artigo de 1956, atestou que a dinâmica de longo prazo das economias está relacionada com a sua capacidade de acumular capital, que, por sua vez, depende da evolução da taxa de poupança doméstica. Olhando para o modelo de Solow, cujos avanços tecnológicos ou da produtividade são considerados exógenos e estimados via resíduos, as perspectivas não são boas, de forma que o Brasil não será capaz de crescer a taxas elevadas mantendo uma taxa de poupança em torno de 15% do PIB.

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Há, no entanto, outras abordagens. A família dos chamados modelos de crescimento endógeno se difere do modelo de Solow pela forma como é tratada a dinâmica da tecnologia e, consequentemente, da produtividade. Neste caso, a evolução tecnológica e do capital humano necessário para elevarem o crescimento de longo prazo das economias se dá diante da dinâmica do próprio modelo. Neste caso, políticas de desenvolvimento tecnológico e de ampliação do capital humano têm papel central na definição da trajetória de longo prazo das economias. São expoentes dessa literatura autores como Robert Lucas Jr (1988); Paul Romer (1990) e Adam Posem (1992).

Uma terceira corrente de pensadores não pode ser negligenciada. Os institucionalistas vão argumentar que a dinâmica de longo prazo das economias é resultado da qualidade das instituições desenvolvidas pelos mais variados pactos políticos. Em livro bastante intuitivo e acessível a não economistas, chamado “Why The Nations Fail” (Por que as Nações Fracassam), Daron Acemoglu e James Robinson discorrem a partir de exemplos históricos e ilustrativos, como instituições importam para o desempenho dos países.

Os autores apelam ao velho conceito de destruição criativa cunhado por Joseph Schumpeter para argumentar que o tipo de instituições determina a dinâmica de inovações em uma economia e, consequentemente, o seu desempenho em termos de crescimento do PIB. Para eles, instituições inclusivas são aquelas que permitem e garantem à sociedade usufruir dos bônus de novas descobertas. Esse incentivo criaria uma dinâmica de busca pelo conhecimento e pelas inovações que são a base do crescimento sustentável. Analogamente a isso tem-se as instituições extrativas, oriundas de pactos políticos que permitem às elites asfixiar ou capturar os bônus destas inovações. Neste caso, não há incentivos para acúmulo de capital humano e novas descobertas.

Ao se projetar no governo as preocupações da equipe de transição, toda essa discussão é negligenciada. O vício do modelo keynesiano simples dá a falsa sensação de que os problemas podem ser solucionados por expansões do gasto público, desconsiderando os efeitos disso sobre a produtividade total dos fatores (PTF); sobre a taxa de poupança e sobre os incentivos que tais políticas produzem. Há um risco real que estejamos entrando noutra década perdida.

Sobre o autor

*Benito Salomão é doutor em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia pela Universidade Federal de Uberlândia (PPGE/UFU).

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de dezembro/2022 (50ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

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