Alberto Aggio: Uma líder que deve ser honrada pela esquerda democrática

Após a comoção que gerou o bárbaro assassinato de Marielle Franco, uma brava brasileira, uma democrata eleita na cidade do Rio de Janeiro, com mais de 40 mil votos e que exercia com dignidade sua representação, não podemos ceder à retórica fácil que já começa a aparecer aqui e acolá, e que nasce quer do emocionalismo romântico, quer do maximalismo de setores que raramente defenderam a democracia.
Foto: Yuri Salvador | UNE
Foto: Yuri Salvador | UNE

Após a comoção que gerou o bárbaro assassinato de Marielle Franco, uma brava brasileira, uma democrata eleita na cidade do Rio de Janeiro, com mais de 40 mil votos e que exercia com dignidade sua representação, não podemos ceder à retórica fácil que já começa a aparecer aqui e acolá, e que nasce quer do emocionalismo romântico, quer do maximalismo de setores que raramente defenderam a democracia. Ultrapassarmos o impacto dos acontecimentos e passarmos da esfera do humano para a esfera específica da política, neste caso, exige-se um cuidado redobrado e uma mirada com amplitude suficiente para não permanecermos ao nível da sua superficialidade.

A direita que apoia Bolsonaro – que se registre – se manifestou como era esperado: de forma boçal, acusando em nível baixíssimo a vereadora, a mulher e a líder popular. Quando não fez isso, manteve o silêncio do seu representante maior, jogando nuvens de dúvida a respeito de suas relações mais perversas com a instituição policial ou com setores do crime organizado no Rio de Janeiro.

A esquerda democrática se manifestou em consonância com o conjunto da cidadania, lamentando profundamente a violência que se abateu contra a vereadora do PSOL, pedido apuração imediata e justiça. Da mesma forma, diversas personalidades que emprestam sua respeitabilidade à opinião pública, às mídias e às redes sociais.

Infelizmente não foi o caso de uma esquerda maximalista, que visa escapar do ostracismo em que foi colocada pelo eleitorado brasileiros. Essa esquerda atua de maneira paradoxal: ao invés de valorizar a República e suas instituições, incide mais ainda no confronto e no seu próprio isolamento, iludindo-se com a consternação de milhões que foram às ruas contra a escalada da violência política. Alguns articulistas viram nas manifestações de ontem uma espécie de renascimento das mobilizações de rua que marcaram o país em 2013.

O fato é que na vigília pelo assassinato de Marielle ultrapassaram os pedidos por justiça aqueles apupos típicos do oportunismo dessa esquerda, outra vez com as consignas “Fora Temer” e “Fim da PM”. Além disso, ao invés de conquistar apoios de setores diferentes, como antes, como sempre, vaiaram os representantes das instituições políticas. Trata-se de uma esquerda desorientada: ao invés de angariar apoios e promover a unidade, os afasta; justo nessa hora em que um dos seus é golpeado de forma fatal.

O lamentável, portanto, é que essa esquerda continua no mesmo lugar, em nada mudou. Ilude-se com a fabulação, oportunisticamente, imaginando que é chegada a sua hora. Pior, não honra a sua brava representante: chama para a briga aqueles que, democraticamente, se colocaram contra essa barbárie.

Que descanse em paz, Marielle, a despeito dos seus antigos parceiros, que não fazem jus ao seu legado de grande batalhadora democrática, representando os mais pobres e humildes. Nós continuaremos aqui, resistindo em nome da democracia e de uma sociedade mais justa, buscando o apoio de todos aqueles que querem o mesmo.

 

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