WhatsApp Status se transforma em mural político nesta eleição

Ferramenta é usada por petistas e bolsonaristas para ampliar alcance de mensagens
Para publicar foto, vídeo ou texto no Status do WhatsApp basta acessar a aba "Status" do aplicativo, representada por um ícone circular | Foto: Reprodução/WhatsApp
Para publicar foto, vídeo ou texto no Status do WhatsApp basta acessar a aba "Status" do aplicativo, representada por um ícone circular | Foto: Reprodução/WhatsApp

Nayani Real,* UOL

WhatsApp é um dos aplicativos mais usados no Brasil, presente em 99% dos celulares, de acordo com levantamento da MobileTime de 2020. Paradoxalmente, muitos usuários desconhecem ou nunca usaram o Status do WhatsApp, ferramenta semelhante aos Stories do Instagram, com fotos, vídeos, gifs e textos que ficam visíveis durante 24 horas em um formato vertical. As publicações ficam disponíveis para todos os seus contatos.

Nesta reta final das eleições, o uso do Status passou a ser incentivado como estratégia para combater fake news ao atingir uma fatia do público que não está em redes sociais como Twitter e Instagram.

Além disso, um relatório recente do Instituto Reuters apontou que a confiança dos brasileiros em notícias via WhatsApp era de 53%, de acordo com levantamento feito em junho e julho. Isso ocorre apesar da fama da ferramenta de ser um local onde circulam desinformação e disparos em massa de mensagens falsas.

A tática de usar o Status tem bastante potencial. O Brasil possui mais de 120 milhões de usuários do WhatsApp, de acordo com dados de 2017 (o mais recente disponível). Portanto, qualquer publicação no Status pode impactar pessoas das mais distintas visões políticas. A Meta (dona do WhatsApp), no entanto, não divulga informações sobre o número de usuários do WhatsApp Status, nem o perfil desse público.

Após o primeiro turno, Letícia Cardoso, 27, começou a usar o Status com o objetivo de combater a desinformação, mas não de mudar votos.

“Quero ir contra a estratégia do medo e apresentar uma nova perspectiva”, diz. A analista de projetos busca sensibilizar seus familiares, que se identificam com a direita conservadora.

Já a bolsonarista Ariana dos Santos Santana, 36, usa o espaço para falar sobre política desde 2018, quando endossava a primeira candidatura de Jair Bolsonaro (PL) à presidência.

A auxiliar de produção em São Paulo diz que procura checar o conteúdo antes de publicar. Para ela, o PT, partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o que mais divulga fake news. Por isso ela busca conferir o conteúdo acessando o Instagram do atual presidente, de seus filhos, ou da primeira-dama. Se eles compartilharam a informação que ela tem nas mãos, Ariana se sente segura para divulgar nas suas redes.

Caso Bolsonaro seja reeleito, Ariana continuará publicando suas ações. “Ele tirou leite de pedra e fez milagre nos últimos quatro anos”, diz sobre o atual mandatário. Para ela, sua reeleição será a chance de governar o país “sem pandemia e sem guerra na Ucrânia“.

Para Ronie Oswaldo de Sá, 37, usar o Status é uma forma de transmitir o que acredita e quer para o país. Ele tem a intenção de atingir pessoas, próximas ou não, com suas publicações. “Tenho muitos contatos e participo de muitos grupos”, diz o motofretista.

Ao identificar que uma mensagem é falsa, até mesmo sobre seu candidato, Jair Bolsonaro, Ronie não compartilha. “Já fui criticado por publicar informações falsas. É essa briga entre um lado e o outro. Eu quero evitar discussão”, diz.

Ao buscar responder contatos que usavam o Status para divulgar informações e peças pró-Bolsonaro, Matheus Cherem, 34, se apropriou da estratégia. “Já que o diálogo não funciona, talvez o spam funcione”, diz.

Formado em ciências sociais e em arquitetura e urbanismo, o mineiro de Belo Horizonte optou por publicar informações que pudessem criar dúvida, como imagem que circula nas redes e sugere pontos negativos do governo Bolsonaro.

Diferente de Cherem, apesar de usar o Status para falar de política após o primeiro turno, Luis Honório Ciambelli, 43, começou a publicar por lá com o objetivo de vender xaropes para misturar com bebidas. É assim que o professor de língua portuguesa da rede municipal de Águas de Lindóia, interior de São Paulo, complementa a sua renda.

No período eleitoral ele passou a fazer oposição ao atual governo e tentar frear a difusão das desinformações entre seus conhecidos. Além de continuar falando de política, Ciambelli pretende incluir conteúdos relacionados à língua portuguesa nos seus Status.

Mesmo com posições bem marcadas nas redes sociais, outros profissionais também apostam no espaço para vender serviços e produtos.

O corretor de planos de saúde, Pedro Tavares da Silva Manhães, 29, diz que o Status do aplicativo possibilita conteúdo para seus clientes.

O fundador da Omaha Seguros, em São Paulo, publica lembretes sobre reajuste nas parcelas dos planos de saúde, explica as diferenças entre os tipos de planos, coletivos ou individuais, entre outros temas relacionados à área.

Também há quem encontre no Status um ambiente confortável para se expressar. É o caso de Adriana da Silva Perez, 48, que o usa desde setembro de 2022 para incentivar familiares e amigos a praticar atividades físicas.

Formada em educação física, a policial militar pratica corrida desde 2008 e posta mensagens motivadoras para “dar um gás” a quem precisa. Entre os motivos de gostar tanto do recurso está a possibilidade de fazer várias publicações de forma rápida. “No momento em que algo acontece você publica e pessoas próximas têm acesso. É moderno”, diz.

“Bom dia, que o seu dia seja iluminado”. É este tipo de mensagens motivadoras que Rutilene Gonçalves da Silva, 42, gosta de publicar, além de mensagens de autoconfiança que ela mesma gostaria de ler quando se sente triste. Pelo Status do aplicativo, a diarista, que mora no Capão Redondo, em São Paulo, também divide angústias, pede ajuda e cobra quem deve dinheiro.

Texto publicado originalmente no portal UOL.

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