Vinicius Mota: Maré fascista faz 100 anos

No romance 'M', Mussolini conta como ergueu sua catedral de violência.
Foto: AP Photo
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No romance ‘M’, Mussolini conta como ergueu sua catedral de violênciaNa Itália após a Primeira Guerra, a vitória sobre o império austríaco pesa como um fardo. Veteranos do conflito das trincheiras vagam pelo país sem perspectiva de coisa nenhuma.

Entre eles estão os “arditi”, jovens que nas batalhas se especializaram em penetrar as linhas do inimigo e assassinar sentinelas a golpes de punhal, a arma que, entre os dentes de um crânio, estampa as suas camisas escuras.

Gabriele D’Annunzio, gigante da poesia italiana, aviador e herói de guerra, arrebata os desnorteados. Em 1919 comanda uma ação tresloucada e toma o território do Fiume, hoje na Croácia.

Em Milão, em março daquele ano, o militante enxotado do Partido Socialista Benito Mussolini agrega renegados nos Fasci di Combattimento, cuja estreia nas urnas é um fiasco.

Na alcova, a magnata Margherita Sarfatti ensina bons modos e o gosto pelas artes ao amante Benito. Apresenta-o a D’Annunzio, que insiste para que os fascistas apoiem a resistência utópica do Fiume e ainda mais: uma marcha sobre Roma.

Depois das greves de 1920, empresários financiam e a política coonesta as expedições punitivas de fascistas contra socialistas. A pequena-burguesia engrossa os fasci, e a maré muda.

A governança da Itália apodrece, e em dois anos Mussolini dá o blefe com a ideia roubada a D’Annunzio. Uma multidão de maltrapilhos mal armados se desloca rumo à capital em meio a tempestades. O rei se recusa a decretar o estado de sítio que poderia esmagar em poucas horas aquela boçalidade.

Em “M” (ed. Intrínseca), o soberbo romance de Antonio Scurati agora traduzido no Brasil, Mussolini e seu círculo de escroques contam como transformaram a violência numa catedral.

M, O FILHO DO SÉCULO

  • Preço R$ 79,90 (816 págs.)
  • Autor Antonio Scurati
  • Editora Intrínseca
  • Tradução Marcello Lino

*Vinicius Mota é Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

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