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Ricardo Noblat: Temer e Lula sequestraram as próximas eleições

Abstenção, voto nulo ou em branco, um fenômeno em gestação

Michel Temer e Luiz Inácio Lula da Silva sequestraram as eleições de outubro próximo. Temer, pelo péssimo governo que faz. Lula, por ter sido condenado, preso e estar impedido de ser candidato. É o que mostra a mais recente pesquisa de opinião e de intenção de votos do Instituto Datafolha.

A grave dos caminhoneiros, a lenta recuperação da economia e as denúncias de corrupção que pesam contra ele promoveram Temer à condição de o mais impopular presidente da República desde o fim da ditadura militar de 64 em 1985. Simplesmente 82% dos brasileiros consideram seu governo ruim ou péssimo.

Sem Lula candidato, mais de um terço dos eleitores se dizem sem opção. Nesse caso, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) lidera com 19% das intenções de voto, seguido de perto por Marina Silva (REDE) com 15%, Ciro Gomes (PDT) com 11% e Geraldo Alckmin (PSDB) com 7%.

A impopularidade de Temer respinga no grau de confiança dos brasileiros nas instituições. Em abril último, 43% afirmaram confiar muito nos militares. Agora, 37%. Não confiam nos partidos políticos 68%, no Congresso 67%, na presidência 64%, no Supremo Tribunal Federal 39% e na imprensa 37%.

Mais de 40% dos eleitores de Lula dizem que não sabem em quem votar. Quando testados, Fernando Haddad e Jaques Wagner que poderão substituir Lula como candidato do PT alcançam apenas 1% das intenções de voto. Continua recorde o percentual dos que pretendem anular o voto ou não votar.

A abstenção, o voto nulo ou em branco, têm tudo para configurar um fenômeno nas próximas eleições. Deram forte sinal disso nas eleições municipais de 2016. Repetiram nas eleições extraordinárias para os governos do Amazonas e do Tocantins e para a prefeitura de algumas cidades.

Compreensível. O sistema político brasileiro apodreceu pelas razões conhecidas – corrupção, distanciamento crescente das aspirações populares e incapacidade de oferecer soluções para os principais problemas do país. E, pior: resiste a mudanças. Teima em sobreviver na contramão da História.


Ruy Fabiano: Os extremos que se tocam

A quem interessam essas pautas, que podem sintonizar com a fragilidade emocional da população?

A paralisação dos caminhoneiros não é um fato isolado que sacode um ambiente de normalidade institucional. É, ao contrário, a gota d’água que faz transbordar um copo já há muito cheio.

Não apenas a política de preços de combustíveis – que, desde junho passado, já produziu 121 reajustes no custo do diesel – vai mal. Tudo no país vai mal: educação, saúde e, sobretudo, segurança.

Esse desconcerto geral, em meio a um quadro social que contabiliza mais de 14 milhões de desempregados e mais de 61 mil homicídios anuais, convive há quatro anos com o noticiário da Lava Jato, que tem levado elite e baixo clero da política ao banco dos réus.

A decomposição do establishment institucional inclui o presidente da república, seus principais ministros e a cúpula do Judiciário. Há dias, o STF concedeu habeas corpus e repôs em circulação onze criminosos do narcotráfico, ligados à cúpula do PCC.

Daí a solidariedade imediata da sociedade aos caminhoneiros, ela própria atingida pelas consequências do movimento, com crise de abastecimento e de mobilidade urbana, que propiciou ao país sentir, por alguns dias, o que os venezuelanos vêm sentindo há alguns anos.

O (justo) motivo da paralisação – a insuportável política de ajuste de preços dos combustíveis – deu margem ao contágio político, pondo em cena toda uma agenda, que inclui pedidos de renúncia do presidente da república e de intervenção militar.

A quem interessam essas pautas, que podem sintonizar com a fragilidade emocional da população? Aos dois extremos do espectro político – esquerda e direita. O PT tem dito que, sem Lula, eleição é fraude. Como Lula não será candidato (mesmo solto, há a Lei da Ficha Limpa), o partido investe no quanto pior melhor.

Não tem candidato e não quer eleição.

Na hipótese de uma intervenção militar, os políticos presos da esquerda poderiam reivindicar, com maior fundamentação, o rótulo de presos políticos. Teriam de volta uma narrativa vitimista em que são especialistas. Já à direita, teme-se fraude eleitoral pela não obediência do TSE à lei do voto impresso, aprovada há três anos.

De fato, é inconcebível que a Justiça, incumbida de aplicar a lei, a desafie. Na quarta-feira, 23, o senador Edson Lobão (MDB-MA) recusou-se a pautar, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a votação do decreto legislativo do senador Lasier Martins, que obriga o cumprimento pelo TSE da lei do voto impresso.

Com isso, forneceu combustível à parcela da direita que não crê na honestidade das eleições, nem mesmo com voto impresso. Ainda que Bolsonaro seja eleito, sustenta que não terá meios de faxinar o país, aparelhado pela esquerda. Não terá governabilidade.

Defende, nesses termos, a intervenção militar como única saída para consertar o país e regenerar as instituições. Os dois extremos acabam coincidindo, por razões distintas e objetivos diversos, num ponto: a necessidade de uma ruptura institucional.

Faltou apenas combinar com os militares. Eles, embora não confiem nas urnas eleitorais e constatem o ambiente de devastação política, não querem intervir. Sabem o custo político que isso terá.

Preferem, apesar de todos os pesares, apostar nas eleições, apoiando Bolsonaro e os mais de 70 militares da reserva que se candidatarão em outubro, ao Congresso e a governos estaduais.

O general Hamilton Mourão, ícone dos intervencionistas, mas ele próprio ainda avesso à intervenção, informa que os técnicos do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército estão avaliando as urnas eletrônicas. E avisa: “Se eles derem sinal verde, tudo bem. Se não, vamos criar caso”. Não explicou como isso será.
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Ruy Fabiano é jornalista

https://veja.abril.com.br/blog/noblat/os-extremos-que-se-tocam/


Ricardo Noblat: O PT está à caça de Obama

O partido sonha com uma declaração dele a favor de Lula

Empenhada em fazer repercutir internacionalmente a prisão de Lula, a direção nacional do PT está à procura de interlocutores que possam convencer o ex-presidente Barack Obama a fazer algum pronunciamento a respeito. A essa altura, qualquer coisa que ele diga a favor de Lula estaria de bom tamanho para o partido.

Em abril de 2009, ao encontrar Lula durante um almoço em Londres por ocasião da reunião de líderes do G20 (grupo de países desenvolvidos e em desenvolvimento), Obama apontou para ele e disse: “É o cara”. Depois acrescentou: “É o político mais popular do mundo”. E, por fim, sorrindo, admitiu: “É porque ele é boa pinta”.

O PT distribuiu, ontem, uma nota assinada por François Hollande, ex-presidente francês, Massimo D’ Alema e Romano Prodi, ex-presidentes do Conselho de ministros da Itália, Elio Di Rupo, ex-primeiro-ministro da Bélgica, e José Luis Zapatero, ex-primeiro-ministro da Espanha, onde eles pedem para que Lula possa ser candidato às próximas eleições.

“A prisão apressada do presidente Lula, incansável arquiteto da redução das desigualdades no Brasil, defensor dos pobres de seu país, só pode despertar nossa emoção”, diz a nota. “A luta legítima e necessária contra a corrupção não pode justificar uma operação que questiona os princípios da democracia e o direito dos povos de eleger os seus governantes.”

Extrair uma declaração de Obama não será tarefa fácil para o PT. O próprio Lula, em conversa recente com o ex-presidente do Equador Rafael Correa, contou que se deu melhor com o republicano George W. Bush, presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009, do que com o democrata Obama que o sucedeu até 2017.

“Na relação com o Brasil, o Bush e a Condoleezza [Rice, secretária de Estado americana à época] foram muito mais democráticos que o Obama e a Hillary Clinton [primeira chefe da diplomacia americana do democrata]”, afirmou Lula. Que aproveitou para criticar o presidente Donald Trump: “Penso que os Estados Unidos mereciam alguém melhor”.


Ricardo Noblat: O PT esqueceu Dilma

Quem afundou o partido não foi ela sozinha

Que a mídia, batizada pelo PT de golpista, esquecesse a deposição de Dilma para só lembrar-se dos dois anos de governo Temer completados ontem, até se compreenderia. Não por golpista, mas porque a mídia vive do que interessa ao distinto público. E Dilma já não interessa.

Mas o PT… Logo o PT que desfrutou o que pode e o que não deveria ter desfrutado enquanto Dilma governou por quase seis anos… PT ingrato!

Fosse verdade o que ele começou a dizer quando Dilma ainda não havia perdido o cargo, teria providenciado uma homenagem para ela, vítima de um “golpe” que sequer foi concluído com a prisão de Lula. Como golpe não houve e Dilma virou um estorvo, o PT preferiu esquecer a data.

À falta de José Dirceu e de Antônio Palocci cujas cabeças já haviam rolado, determinado a não abrir espaço a quem lhe fizesse sombra, Lula escolheu Dilma para sucedê-lo em 2010. Era mulher. Nenhuma até então, salvo a Princesa Isabel, havia governado o país. Tinha fama de boa gestora.

Mulher, boa gestora, nada disso importava de fato a Lula. Ele queria um presidente que obedecesse às suas ordens. Dilma serviria apenas de ponte para Lula atravessar os oito anos anteriores de governo em direção aos próximos oito. Deu errado porque Dilma quis ficar mais quatro anos.

Lula e o PT, por cegueira, oportunismo e falta de piedade, apontam Dilma como a principal culpada por suas desditas. Anteontem, Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, que já cumpriu pena como mensaleiro, foi pranteado pelo PT porque em breve será preso outra vez. Ninguém pranteia Dilma.

Não foi ela sozinha que afundou o PT, embora tenha colaborado ativamente para isso. O PT afundou graças a Lula e aos seus ambiciosos companheiros que se embriagaram pelo poder e não queriam mais largá-lo. Preso em Curitiba, Lula tenta, hoje, arrastar o PT para sua cela.


Ricardo Noblat: Ernesto Geisel, de general bonzinho a assassino consciente

Memorando da CIA revela o que o Exército sempre escondeu

A História havia sido benevolente até agora com o general Ernesto Geisel, o quarto presidente da ditadura militar que governou o país entre 15 de março de 1974 e 14 de março de 1979. Sabia-se que ele fora conivente com a tortura, o assassinato e o desaparecimento de corpos de presos políticos.

Mas graças a ele a tigrada foi pouco a pouco sendo posta sob freio curto, e afinal teve início o processo de abertura política lenta e gradual conduzido por Geisel que culminaria com a eleição em janeiro de 1985 do primeiro presidente civil e o restabelecimento da democracia eclipsada há 21 anos.

Um memorando do ex-diretor da CIA William Egan Colby em 11 de abril de 1974 endereçado ao então Secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger deixa claro que Geisel foi muito mais do que apenas tolerante com os crimes cometidos por seus colegas de farda. Ele sabia e autorizou muitos deles.

Descoberto pelo pesquisador de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas Matias Spektor entre documentos recentemente liberados para publicação pelo governo americano, o memorando descreve um encontro em 30 de março de 1974 entre Geisel e um grupo de generais.

Estavam presentes Milton Tavares de Souza, chefe de saída do Centro de Inteligência do Exército, e Confúcio Danton de Paula Avelino, chefe de chegada. E mais o general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), que mais tarde seria escolhido por Geisel para sucedê-lo.

A reunião serviu para que Tavares de Souza informasse a Geisel sobre a execução sumária de 104 pessoas feita pelo Centro de Inteligência do Exército até ali. E para que Figueiredo recomendasse a manutenção de tal política. Geisel pediu alguns dias para pensar. Depois deu seu aval, mas com uma ressalva.

Doravante, sempre que se prendesse algum opositor do regime que devesse ser eliminado, Figueiredo deveria ser consultado a respeito. Seria dele a última palavra, segundo contou Colby em seu memorando. A sede do Centro de Informações do Exército funcionava no Rio. Mudou-se com Geisel para Brasília.

O livro “A Ditadura derrotada”, do jornalista Elio Gaspari, está repleto de fatos que incriminam Geisel e os chefes militares da época com a tortura e o assassinato de presos. Faltava talvez o carimbo oficial de algum organismo de informação ou de espionagem. Não falta mais. A CIA assinou embaixo.

A tortura e o assassinato de opositores do regime foi política de Estado enquanto durou a ditadura militar de 64. Tais práticas são consideradas crimes contra a humanidade, segundo tratados internacionais assinados pelo Brasil. Por serem assim, simplesmente não estão cobertas por anistia alguma.

Países da América Latina, mas não só, que passaram por ditaduras muito mais atrozes julgaram e condenaram os responsáveis por elas. A Argentina é um exemplo. Aqui se fez de conta que a violação dos direitos humanos foi obra de subalternos enlouquecidos e fora de controle. Não foi.


Hubert Alquéres: A revolução da alegria

O maio parisiense abalou os alicerces e valores da sociedade patriarcal, sisuda e machista 

Sob o signo de aquários, um vento libertário varreu o planeta e fez de 1968 um ano ímpar na história. O maio parisiense, com sua revolução geracional, abalou os alicerces e valores da sociedade patriarcal, sisuda e machista.

Em Paris estudantes erguiam barricadas. Nos EUA queimavam em praça pública a convocação para a Guerra do Vietnã. No Brasil caminhavam contra o vento na passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro. E no México eram massacrados na Plaza de Las Três Culturas, em Tiateloico. Os ventos que sopraram em 1968 até hoje estão por aí. O mundo não voltou a ser o mesmo após o maio parisiense, em matéria de valores e costumes.

A Revolução da Alegria, como é chamado o maio parisiense, teve início no dia 2 daquele mês, na universidade de Nanterre, onde estudava Daniel Cohn Bendit, que viria a ser sua principal liderança. Rapidamente adquiriu densidade, com adesão dos trabalhadores à revolta estudantil.

O austero Partido Comunista de George Marchais foi surpreendido pela irreverência dos estudantes e no início foi contrário à revolta, mas no dia 13 de maio aderiu e sua central convocou uma greve geral. No auge do movimento paredista Paris ficou sem transportes públicos e outros serviços. Seis milhões de grevistas ocuparam 300 fábricas.

Parecia a concretização da propalada aliança “operária-estudantil” tão sonhada pelo intelectual trotskista Alain Krivine, um dos gurus da revolta estudantil.

Durante um mês a França esteve paralisada, mas Charles De Gaulle reagiu com a convocação de eleições para junho. A partir daí o maio francês virou história. É possível revisitá-la por meio do twitter “Veja 1968 Agora”, de Ricardo Noblat, onde estão registrados fatos memoráveis daqueles dias.

A juventude não confiava em ninguém com mais de 30 anos, com raríssimas exceções. O conflito era de gerações: “Professores, sois tão velhos quanto a vossa cultura, o vosso modernismo nada mais é que a modernização da polícia, a cultura está em migalhas”.

Não se visava uma tomada física do poder, mas sim a “imaginação no poder”.

E imaginação é o que não faltou. A começar pelas frases pichadas nos muros da cidade. Diziam os estudantes: “A Revolução tem de ser feita nos homens, não nas coisas”, “Sejam realistas, exijam o impossível”, “É proibido proibir”, “O sonho é realidade”, “Destruam as engrenagens”.

“O que queremos é que as ideias voltem a ser perigosas”, dizia o escritor Guy Debord. Crítico aos blocos ocidental e soviético, Debord deu embasamento teórico à revolta estudantil, apesar de ser um “velho” de 37 anos.

A Revolução da Alegria foi de tudo um pouco. Revolução gerencial, cultural, sexual, de valores e costumes. Derrubou tabus, mas guardou dentro de si uma enorme contradição: ao mesmo tempo em que se pretendia libertária, foi influenciada pelo trotskismo, o maoísmo e o guevarismo, correntes de pensamento totalitário.

Os estudantes glamourizavam a Revolução Cultural chinesa, como símbolo do poder jovem, enquanto na China os guardas vermelhos empapavam-se de sangue, torturando e assinando milhões de pessoas, sob o mando do “grande timoneiro” Mao Tsé-Tung. E o Che Guevara venerado nas barricas parisienses era o mesmo que levou homossexuais e dissidentes para as masmorras cubanas.

Lado triste da alegria revolucionária, que ainda perdura na cabeça de muitos.

* Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo


Ricardo Noblat: Por que não haverá frente de esquerda para a sucessão de Temer

Cada um por si e o eleitor por quem quiser

Somente Lula, hoje condenado, encarcerado e impedido de se candidatar, seria capaz de liderar uma frente de partidos de esquerda para concorrer às eleições presidenciais de outubro próximo.

E como o PT não renunciará ao lançamento de candidato próprio à vaga de Michel Temer, não haverá frente. Outros partidos de esquerda terão seus próprios candidatos. Já os têm. Simples assim. E assim será.

Em nova carta do cárcere, divulgada ontem, Lula reafirmou que é candidato porque é inocente. E que não deixará de ser candidato. Tem razões de sobra para proceder assim até a véspera da eleição.

Se desde já abençoasse outro nome do PT, correria o risco de ser esquecido em Curitiba. A força de sua benção se diluiria até o início da campanha. E, com outras palavras, estaria admitindo ser culpado.

Lula entende que é vital para a sobrevivência do PT que o partido dispute as eleições com um candidato para chamar de seu. Outros partidos, não, preferem apostar na eleição de deputados federais.

No caso deles, ter candidato a presidente custaria muito caro. Melhor gastar o dinheiro do Fundo Partidário com a eleição para o Congresso. No caso do PT, um candidato a presidente puxará a eleição de parlamentares.

Por que o PT é de fato um partido, goste-se dele ou não. Tem militância. É organizado em todo o país. Tem discurso. E resultados positivos a mostrar dos seus quase 14 anos de governo.

Seu capital eleitoral, com Lula ou sem ele, é maior do que o capital dos demais partidos de esquerda. Por que então contentar-se em indicar um vice para Ciro Gomes, por exemplo, ou para qualquer outro?

Sem frente de esquerda, portanto. Só haverá frente no segundo turno.


Roberto Freire: Crédulos e oportunistas

Impressiona o número de pessoas intelectualizadas, vividas, que se recusam a enxergar a realidade, a corrupção sistêmica lulopetista

A mais recente denúncia da Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, sobre a propina de 40 milhões de dólares paga a Lula e seu entorno, no caso da ampliação da linha de crédito do BNDES para Angola, desmonta narrativas do lulopetismo.

Dessa feita não se pode alegar que se trata dos juízes Sérgio Moro ou Marcelo Bretas, ou do ativismo de algum membro do Ministério Público Federal do Paraná ou de qualquer estado brasileiro.

Impressiona o número de pessoas intelectualizadas, vividas, que se recusam a enxergar a realidade, a corrupção sistêmica engendrada por uma organização criminosa e profissional, como disse, no STF, o decano da Corte, ministro Celso de Mello.

Muitas pessoas, nas hostes lulopetistas, são tomadas por um fanatismo em defesa não de ideias ou ideais, mas na alegada inocência de Lula, transformado em divindade, visceralmente incapaz dos humanos atos do erro e da busca de vantagens indevidas para si e para os seus.

A credulidade é um fenômeno típico do culto à personalidade e do primarismo na política. Já aconteceu com Stalin, Hitler, Mao Tsé-tung e que também ocorre na dinastia hereditária que ainda reina na Coreia do Norte.

Na América Latina, temos em Peron e Chaves os mais lídimos exemplos. Muitos querem elevar Lula a essa categoria, de ícones populistas. O Brasil é mais complexo, nem Getúlio Vargas obteve este status.

Há também outro tipo de gente. São os oportunistas, aqueles que têm interesses contrariados e afetados pela derrocada do lulopetismo.

Falo dos milhares de contratados para cargos de confiança, nos diversos níveis da federação, sem qualificação, apenas para aparelhar a máquina governamental.

Refiro-me a parte expressiva da burocracia sindical que vê minguarem as generosas verbas anteriormente arrecadas pela máquina governamental, postas à disposição, sem qualquer controle.

Tenho de citar as inúmeras entidades com as quais os governos lulopetistas foram, no mínimo, fartamente generosos.

Há, também, gente do mundo da cultura e das artes, frequentadores assíduos de cerimônias palacianas e de listas de apoiamento, pessoas particularmente beneficiadas na repartição de incentivos oriundos de renúncias fiscais.

Os crédulos e oportunistas vivem dias cada vez mais difíceis. Além da denúncia recente da Procuradora Geral da República, há 5 processos em andamento. Não se vislumbra indicativo de que esse seja o número final.

Novas delações premiadas de figurões do lulopetismo e da máquina criminosa trarão à baila, tudo indica, partes volumosas do rombo causado ao país.

Para os crédulos, será mais do mesmo. Parte deles se fechará ainda mais em guetos fanatizados.

Oportunistas, enquanto interessar, manterão suas narrativas sobre a inocência do pai dos despossuídos, mas, ao sentir as novas direções dos ventos, saltarão do naufrágio lulopetista, sem rubor nas faces.

Não sem percalços e ziguezagues, avanços e recuos, o Brasil avança para se tornar de fato uma república democrática e contemporânea, a despeito e mesmo contra toda sorte de lulopetistas que se agarram à roda da história para puxá-la para trás, sem sucesso.


Maria Helena RR de Sousa: Noam Chomsky falou, mas nada disse…

O professor pensa que Lula está preso pela virtude de suas reformas

Um respeitado linguista, filósofo, professor celebrado e reverenciado no âmbito universitário norteamericano como “pai da linguistica moderna”, resolveu atuar também como brazialinista para isso se valendo de suas relações com políticos brasileiros. Se fosse um jovem professor, suas palavras não teriam peso algum, mas ele está com 89 anos, é Professor Emérito do MIT e foi o criador da chamada Hierarquia de Chomsky.

(Hierarquia de Chomsky é a classificação de gramáticas formais descrita em 1959 pelo linguista Noam Chomsky. Esta classificação possui 4 níveis, sendo que os dois últimos níveis (os níveis 2 e 3) são amplamente utilizados na descrição de linguagem de programação e na implementação de interpretadores e compiladores. Wikipedia.)

Além de seus trabalhos sobre linguística, Chomsky ficou bastante conhecido por suas posições políticas: é esquerdista e crítico acerbo da política externa dos EUA. Ele se identifica como socialista libertário. Há quem o considere um “anarcocomunista” ou “anarcosindicalista”.

Parabéns, Dr. Chomsky. Bela carreira, a sua. Mas… e nós com isso?

Pois é, nada.

Mas como ele resolveu tomar as dores do Lula numa entrevista dada neste início de maio ao jornal Folha de São Paulo, publicada sob o título “Lula é alvo de ataque da elite, mas esquerda precisa fazer autocrítica”, resolvi que posso pedir ao professor que procure melhor se informar que ele verá que se enganou em dois pontos essenciais. Lula, segundo o próprio ex-presidente, nunca foi de esquerda; Lula governou por dois mandatos sob o beneplácito das elites brasileiras.

O professor pensa que Lula está preso pela virtude de suas reformas, pelo apoio que deu à massa da população que antes dele era reprimida: “O fato de “essa gente” ter voz na determinação dos rumos do governo, em vez de ficar em seu lugar na base da pirâmide social, é ainda mais intolerável para as classes dominantes. O objetivo mais imediato é impedir Lula de se candidatar em uma eleição que ele certamente venceria, de acordo com pesquisas recentes”, disse Chomsky.

O professor, nessa mesma entrevista, afirma que o PT se corrompeu e que precisa fazer uma autocrítica para voltar a ser o que foi quando de sua fundação. Como ele resolve esse enigma? Ou bem Lula, presidente e “dono” do partido corrompido, foi vítima das elites; ou bem Lula e seu partido resolveram se corromper para pertencer à elite. Das duas, uma.

Quem será que municia Noam Chomsky com informações tão fora da realidade?

* Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. www.facebook.com/mhrrs


Ruy Fabiano: A corrupção revolucionária do PT

Corrupção, de fato, sempre houve em toda parte, mas a do PT atingiu níveis tais que quebrou as finanças do país.

A militância petista, não mais podendo ocultar a conduta criminosa e predadora do partido, em quatro governos sucessivos, busca diluí-la no quadro geral da corrupção histórica do país.

O PT teria feito apenas o que todos fizeram, não merecendo o destaque que lhe é dado, de recordista mundial na categoria.

O destaque, no entanto, é indiscutível – e mede-se em números. Corrupção, de fato, sempre houve em toda parte, mas a do PT atingiu níveis tais que quebrou as finanças do país.

Desdobrou-se, basicamente, em duas frentes: numa, a convencional, enriquecia os seus agentes; noutra, sem precedentes, financiava uma revolução, que, no limite, poria fim à própria nação, em nome de outra, denominada Pátria Grande.

Uma nação ideologicamente forjada, a partir de manobras de cúpula, sem que as respectivas populações dos países que a integrariam – América do Sul e Caribe – fossem jamais consultadas ou sequer informadas. Um dia amanheceriam em outro país.

A instância de planejamento estratégico e de execução de tal maracutaia era o Foro de São Paulo, criado em 1990, por Lula e Fidel Castro. Reunia partidos e entidades de esquerda do continente, nela incluídas organizações criminosas, ligadas ao narcotráfico, como as Farc (Colômbia) e o MIR (chileno). PCC e Comando Vermelho não lhe eram (e não lhe são) indiferentes, para dizer o mínimo.

O PT só chegaria ao poder federal doze anos depois, com Lula, mas, nesse período, amealhou gradualmente prefeituras e governos estaduais, que, em alguma medida, passaram a servir àquele projeto.

Uma vez na Presidência da República, o PT impôs-lhe um up grade, financiando-o por completo. Pôs a máquina governista a serviço da causa, depenando, entre outras estatais, Petrobrás, Eletrobrás, Caixa Econômica, Banco do Brasil e, sobretudo, BNDES.

Os desvios, somados, ultrapassam a casa dos trilhões. O TCU examina empréstimos irregulares ao exterior, pelo BNDES, em torno de R$ 1,3 trilhão. Nenhum deles cumpriu o imperativo constitucional de ser submetido à aprovação do Congresso.

Ao contrário, receberam tarja de ultrassecreto no BNDES, que captava esses recursos, não disponíveis em seus cofres, no mercado, pagando juros de 14,5% e cobrando do destinatário juros de 4%. A diferença, como de hábito, ficou por conta do contribuinte brasileiro.

Mesmo com essas facilidades, o país não se livrou do pior: o calote. Venezuela e Equador já avisaram que não irão pagar a conta, o que resultou em aumento da dívida interna nacional.

Além dos países do continente, a manobra beneficiou ditaduras africanas, contempladas com obras de infraestrutura empreendidas pelas empreiteiras nacionais que figuram no Petrolão (Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão etc.), tendo Lula como lobista.

O resultado é a presente recessão, com mais de 14 milhões de desempregados e orçamento deficitário em mais de R$ 130 bilhões pelo terceiro ano consecutivo.

O PT quer pendurar essa conta no governo Temer que, no entanto, por mais que se esforçasse, não teria tempo de construir tal desastre. Aécio, Temer, Geddel, Eduardo Cunha são os corruptos convencionais, cuja escala é mensurável. Lula, José Dirceu et caterva são os corruptos revolucionários, sem limites e sem pátria.

* Ruy Fabiano é jornalista


Ricardo Noblat: Temer e Alckmin, tudo a ver

Em gestação, o pacto Pindamonhangaba-Baixada Santista

Depois que se reuniu em São Paulo, na semana passada, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a qualquer momento o presidente Michel Temer deverá fazer o mesmo com o ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à sua sucessão.

Por mais que negue ter desistido de se candidatar à reeleição, Temer parece convencido que o melhor que tem a fazer é tentar costurar uma aliança entre o PMDB e o PSDB para evitar a fragmentação da centro-direita nas eleições de outubro. Só assim não perderá relevância.

Pode estar nascendo o pacto Pindamonhangaba (Alckmin)-Baixada Santista (Temer), para desgosto de Rodrigo Maia (DEM) e Henrique Meirelles (PMDB). Se o pacto sair, a candidatura de Alckmin ganhará robustez e tempo suficiente de propaganda no rádio e na televisão.

Temer não cobrará de Alckmin que defenda seu governo impopular. Ficará satisfeito se ele não o criticar. Alckmin poderá em público manter distância de Temer, desde que pregue a continuação de reformas que ficaram pela metade e a realização de outras que nem saíram do papel.

Até 5 de agosto, fim do prazo para que os partidos lancem candidatos às eleições de outubro, Alckmin procurará se compor também com o senador Álvaro Dias (PODEMOS-PR), que sonha com a vaga de Temer. Dias represa cerca de 5 milhões de votos que poderiam ser de Alckmin.

O DEM de Maia acabará naturalmente se aliando ao candidato do PSDB por afinidade de pontos de vista e falta de candidato viável à presidência da República. E a ele se renderão finalmente outras legendas como o PP de Ciro Nogueira e o PR do ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto.

Só então o jogo começará para valer.


Murillo de Aragão: A Novidade da Vez

A pré-campanha eleitoral tem se caracterizado pelo surgimento de pré-candidatos que aparecem e desaparecem. São novidades de temporada. Alguns ficam, como Jair Bolsonaro e sua incírivel resiliência. Outros como João Dória e Luciano Huck passaram como cometas e desaparecerem no firmamento da sucessão presidencial.

A novidade da vez é Joaquim Barbosa. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal só não deve ser o candidato do PSB à Presidência da República se não quiser. Essa é a opinião de mais de uma dezena de parlamentares do partido ouvidos pela Arko Advice na última semana.

Hoje, entre os congressistas, praticamente não há vetos à sua candidatura. As resistências na legenda ao nome de Barbosa foram reduzidas sensivelmente após a divulgação de pesquisas de intenção de voto em que ele aparece bem posicionado (entre 8% e 10%, dependendo do cenário).

Os resultados incentivaram a pretensão da cúpula partidária de lançar a candidatura. Vários parlamentares veem grande potencial de crescimento futuro, a ponto de projetarem o candidato socialista já no segundo turno da eleição presidencial.

De acordo com alguns, há análises internas apontando que uma parcela significativa do eleitorado ainda não associa o nome de Barbosa à sua figura pública. Mas, ainda conforme essas análises, quando isso ocorrer e o ex-ministro assumir, de fato, a candidatura poderá deslanchar nas pesquisas.

A visão dos correligionários é de que Barbosa conjuga a imagem do homem ficha limpa, comprometido com o combate à corrupção e a seriedade na gestão pública, com a do cidadão negro de origem humilde que venceu na vida e está preocupado com as questões sociais no país.

As políticas de alianças regionais, principal argumento contrário à candidatura presidencial socialista, podem não ser ser empecilho. Há focos muitos pontuais de resistência. Em Pernambuco e na Paraíba, os governadores Paulo Câmara e Ricardo Coutinho trabalham para ter o PT em suas coligações, e uma candidatura nacional dificultaria essas costuras locais. O governador paulista Márcio França, contudo, já estaria avaliando apoiar Barbosa por entender que tal gesto poderia agregar mais a seu projeto de reeleição do que se apoiar Geraldo Alckmin (PSDB).

No entanto, apesar de o ambiente partidário ser altamente favorável, permanece a dúvida entre os socialistas sobre o futuro do projeto presidencial no PSB. Pois, além de Barbosa não ser assertivo quanto a assumir a candidatura, outras questões preocupam. Sua falta de familiaridade com o ambiente político é uma delas. Sua postura e seu temperamento, isto é, sua forma de reagir na fase mais aguda da campanha, quando ocorrerão embates com outros candidatos, são incógnitas.

Da mesma maneira, o aspecto programático da candidatura gera insegurança. Suas ideias para a economia ainda não foram tornadas públicas. A clareza de um programa econômico numa candidatura presidencial é fundamental para angariar apoio na opinião pública e nos meios de comunicação. Esse tipo de preocupação é partilhada pelos prováveis adversários, que avaliam que Barbosa é apenas uma figura simpática ao público, mas repleta de incertezas.

* Murillo de Aragão é cientista politico