transexuais

Livro Cidadania LGBTI+ A criminalização da homotransfobia no Brasil é escrito pelo jornalista Rogério Godinho | Foto: FAP

Livro Cidadania LGBTI+ escancara preconceitos e destaca avanços 

João Vítor*, com edição da Coordenadora de Mídias Sociais Nívia Cerqueira

Em ordem cronológica, o livro Cidadania LGBTI+ aborda o embate no poder Legislativo que resultou na conquista da criminalização da homotransfobia no Brasil em 2019. Uma batalha que ainda não terminou, mas que mostra o quanto avançamos e precisamos ainda lutar para impedir retrocessos. O livro é escrito pelo jornalista Rogério Godinho e editado pela pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília.

Parte crucial da história do livro de 333 páginas, conforme ressalta Godinho, gira em torno do uso do preconceito como ferramenta de pânico moral. “Por entender a importância do tema e por me emocionar com a vitória de seus personagens, tenho enorme orgulho e felicidade de apresentar a vocês este livro”, destaca. Godinho afirma que a sociedade ainda vai precisar evoluir muito para eliminar o preconceito. "É um processo que envolve gerações e ainda estamos no meio dele", explica.

Apesar de ter seu nome na capa do livro, o autor considera-se interlocutor dos verdadeiros heróis desta conquista. “São pessoas que lutaram por meio de argumentos jurídicos, nos tribunais e nas colunas de opinião, no Ministério Público, nas defensorias e até nas delegacias para que isso se concretizasse”, diz.

https://www.youtube.com/watch?v=TKsWvXCZlW8

O jornalista conta que, por vezes, teve que lutar contra as lágrimas ao escrever. “ São centenas que sofrem e morrem neste Brasil a cada ano - eternamente de luto - , uma dor que não é possível colocar em números poque não cabem em uma lista”, lamenta Godinho sobre o preconceito.

O livro foi idealizado pelo psicanalista Eliseu Neto, especialista em Orientação Profissional e defensor dos direitos das pessoas LGBT.  Ele confirmou presença no lançamento da obra que acontece no dia 19/10, a partir das 19 horas, em evento online, que será transmitido nas redes sociais da FAP. “Dedico este livro a todas as pessoas que sofrem um preconceito tão arcaico”, diz Neto.  Godinho mediará o webinar, que contatará também com a participação da ativista Ananda Puchta, da advogada Maria Eduarda Aguiar; do advogado de Direitos Humanos Paulo Iotti e do diretor-executivo da organização brasileira LGBTQIA+, Toni Reis.

Um levantamento do Grupo Gay da Bahia, organização não governamental voltada para a defesa dos direitos dos homossexuais no Brasil, diz que no primeiro semestre de 2022, 135 pessoas LGBTI + foram mortas no país.

Neto analisa de que forma o preconceito pode ser erradicado. "O caminho é modificar pelo processo civilizatório, pela cultura, pela educação. A gente precisa de escolas inclusivas, escolas que ensinem a lidar com o diferente, a transformar na linguagem e a mitigar os preconceitos”, explica o psicanalista.

Cidadania LGBTI+ registra embate histórico diante de um Legislativo omisso em garantir direitos às minorias. O livro remete à luta da comunidade LGBTI+, que tanto já sofreu, mas que ainda assim não se abala e segue preparando-se para um futuro ainda incerto.

Serviço

Lançamento do livro Cidadania LGBTI+: a criminalização da homofobia no Brasil

Data: 19 de outubro

Horário: 19h

Onde ver: Perfil de Facebook e canal de Youtube da Fundação Astrojildo Pereira

Realização da FAP e do autor Rogério Godinho

*Integrante do programa de estágio da FAP sob supervisão.


O Estado de S. Paulo: Eleições reforçam centro e avanço de pauta identitária

Votação mostra preferência por nomes conhecidos da política convencional e avanço de transexuais, mulheres negras, indígenas e mandatos coletivos nos Legislativos municipais

Adriana Ferraz, Ana Lourenço e Fernanda Boldrin, O Estado de S.Paulo

Dois anos após uma eleição geral marcada pelo discurso antissistema – que ajudou a eleger não apenas o presidente Jair Bolsonaro, mas consolidou um campo político associado à extrema-direita também nos Estados e no Congresso Nacional, a votação em primeiro turno das eleições municipais indicou que esse movimento se arrefeceu. Além de eleger ou levar para o segundo turno mais representantes de centro do que dos extremos, ao menos nas capitais, o resultado da votação sob o impacto da pandemia do novo coronavírus ainda revelou uma preferência por nomes conhecidos da política convencional.

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Integrantes da Bancada Feminista do PSOL que foram eleitas em mandato coletivo para a Câmara: Dafne Sena, Paula Nunes, Silvia Ferraro,  Carolina Iara e Natalia Chaves. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Segundo analistas ouvidos pelo Estadão, as urnas ainda apontam para um outro fenômeno: o crescimento da chamada política identitária nas Câmaras Municipais. Ao menos 25 transexuais e travestis foram eleitos vereadores em todas as regiões do País. Mulheres negrasindígenas e mandatos coletivos também obtiveram sucesso em 13 capitais – onde candidaturas que encamparam pautas LGBT, feministas ou antirracistas figuram entre os 10 mais votados para os Legislativos municipais.

Em Curitiba, por exemplo, a população elegeu pela primeira vez uma mulher negra como vereadora, a petista Carol Dartora. O mesmo ocorreu em Cuiabá. Já em Belo Horizonte, a professora Duda Salabert (PDT), que é trans, se tornou a parlamentar recordista de votos

“Sou professora há mais de 20 anos e também atuo em causas ambientais”, afirmou Duda, que não é adepta da polarização política. “Todos são bem-vindos: centro, direita. O que não podemos tolerar é desrespeito aos direitos humanos. Debate se constrói na diversidade.”

O cientista político Márcio Black, da Fundação Tide Setúbal, diz que a eleição de ontem mostrou uma certa inversão em relação a 2018. “A ‘nova política’ está chegando às Casas Legislativas enquanto a ‘velha política’ se converte em eleições para o Executivo. O que teremos como resultado serão Câmaras com vereadores mais progressistas em conflito com gestores ditos mais conservadores”, avaliou Black, para quem o avanço identitário revelado nas urnas pode ser atribuído a construções políticas que ocorrem no Brasil há pelo menos 15 anos.

Carol já projeta o mandato. Diz que vai lutar pela reeducação social para combater a violência contra a juventude negra em Curitiba, especialmente nas regiões periféricas. “A gente não pode mais falar sobre democracia no Brasil com 56% da população sub-representada. Isso não é democracia. A gente precisa avançar muito mais. Ser a primeira mulher negra? Ótimo, maravilhoso, mas eu espero que tenha mais futuramente.”

Para o professor Claudio Couto, cientista político da FGV, houve um retorno do eleitor à política convencional, em vez da antipolítica representada em discursos associados ao bolsonarismo, com alto grau de moralismo. “Mas não se trata exatamente de uma fuga dos extremos. Mesmo porque, entendo, que só há um extremo relevante na política brasileira, que é a extrema direita. A extrema esquerda é politicamente irrelevante, representada pelo PCO e o PSTU.”

A professora Duda Salabert, vereadora mais votada em Belo Horizonte (MG) com mais de 30 mil votos. Foto: Lucas Vila/PSOL

Reeleição

Colega de Couto na FGV, a Graziella Testa também considera que o primeiro turno das eleições deste ano marcaram uma resposta ao discurso da antipolítica de 2018. “A própria taxa de reeleição dos candidatos e o perfil dos que foram para o segundo turno, no caso do Executivo, mostra que a coisa dos outsiders e da antipolítica não está pegando mais”, disse.

Enquanto vê uma desarticulação na esquerda – que deixou partidos como PT e PDT de fora do segundo turno no Rio, por exemplo –, Graziella chama atenção para o crescimento do PSOL nas eleições. A cientista política avalia que o sucesso nas urnas de candidaturas ligadas a pautas identitárias se insere no contexto de crescimento do partido, mais ligado a esses temas. “Em municípios maiores, o PSOL teve um ganho, e é o partido que traz essa pauta de forma prioritária, mesmo no Congresso Nacional”, ressaltou.

O fenômeno ocorreu não apenas aos centros urbanos do Sudeste. Levantamento feito pelo Estadão mostra que candidatas que encamparam pautas LGBT, feministas, antirracistas ou em defesa dos povos indígenas obtiveram vitória em todas as regiões do Brasil. Nas 13 capitais citadas, elas ficaram entre as dez mais votadas

Em Belém, por exemplo, Bia Caminha (PT) saiu das urnas como a vereadora mais jovem da história da cidade. Aos 21 anos, ela se define como feminista negra e bissexual. Cenário que se repete em Aracaju, com a trans Linda Brasil (PSOL) alcançando o maior número de votos entre os eleitos. “Essa vitória deu um sopro de esperança também para que a gente possa cada vez mais ocupar esses espaços”, disse Linda. 

Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o aumento da representatividade é resultado de um número recorde de candidaturas pelo País. Estudo da entidade mostra que foram registradas neste ano 294 postulantes, com 25 pessoas eleitas – alta de 212% em relação a 2016.


População LGBTI+ se organiza para empoderar minorias diante de ataques de Bolsonaro

Reportagem especial da revista Política Democrática online mostra que alvos de Bolsonaro não se silenciam diante de repressão de presidente

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

Integrantes da população LGBTI+ (Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, intersexos e mais) afirmam que as minorias devem se mobilizar contra as diversas formas de preconceito e violência estimuladas pelo governo de Jair Bolsonaro. Eles alertam as minorias para se unirem e se empoderarem, como mostra reportagem especial da 15ª edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira). Todos os conteúdos da revista podem ser acessados gratuitamente no site da entidade.

» Acesse aqui a 15ª edição da revista Política Democrática online

O coordenador nacional da Diversidade do Cidadania 23, Eliseu de Oliveira Neto, demonstra preocupação com o que chama de “efeito manada” do governo Bolsonaro, referindo-se à capacidade de grupos carregados de ódio e preconceito, como homofóbicos, machistas, feminicidas e racistas, contaminarem outra parcela da população. “Esses grupos se sentem empoderados, representados, e, dessa forma, acabam convencendo pelo ódio outras pessoas que estavam sem opinião formada, no ‘meio do caminho’ e que poderiam ser conscientizadas de forma pedagógica”, lamenta ele, que já foi vítima de homofobia mais de uma vez.

Assim como Eliseu, a educadora social e mulher trans Rubi Martins do Santos Correa afirma que a população de minorias precisar se unir para não se marginalizar e se oprimir diante das práticas do governo Bolsonaro. “Somos um país de pessoas resistentes. Temos gays em todos os lugares”, acentua. “Temos que empoderar a população LGBTI+ e as outras minorias para ocuparem os espaços na sociedade. O empoderamento é chave para as minorias atuarem como sujeitos de direitos e deveres. Não sei quanto tempo vai levar, mas um dia chegaremos lá”, afirma ela.

A população LGBTI+ reconhece que sempre sofreu violência e teve de se organizar em movimentos político-sociais para terem seus direitos reconhecidos. No entanto, de acordo com Rubi, Bolsonaro “legitima atos violentos contra as minorias”. “Isso dá certa autonomia para as pessoas destilarem os seus preconceitos. Elas se sentem no poder de praticar violência porque até o presidente naturaliza isso”, assevera a educadora social, que também coordena um trabalho junto à população em situação de rua e extrema vulnerabilidade no Distrito Federal.

Como também tem dificuldade de articulação no Congresso, Bolsonaro ocupa o tempo se envolvendo em polêmicas sustentadas em pauta sobre moral e costumes. “É a pauta dos conservadores”, afirma Eliseu. “Bolsonaro é um homofóbico que não tem pudor de colocar as pessoas em risco e de mentir para se manter no poder”, acrescenta ele.

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