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O sol se põe em um parque eólico na Alemanha | © Unsplash/Karsten Würth

Eletricidade com energia limpa precisa dobrar até 2030 para limitar aquecimento global

ONU News*

O mundo deve dobrar a oferta de eletricidade gerada de fontes de energia limpa nos próximos oito anos para limitar o aumento da temperatura global. Já os investimentos nesse sentido precisam triplicar para colocar o mundo no caminho de emissão líquida zero até 2050.

As recomendações proveem de agências internacionais. Se isso não acontecer, o risco é que as mudanças climáticas, o clima mais extremo e o estresse hídrico prejudiquem a segurança energética e até o fornecimento de energia renovável em nível global.

Resiliência da infraestrutura energética

A Organização Meteorológica Mundial, OMM, coordenou a análise que defende a relevância do acesso a informações e serviços confiáveis sobre tempo, água e clima para reforçar a resiliência da infraestrutura energética e atender a demanda que cresce 30% na última década.

Para o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, o setor energético gera cerca de três quartos das emissões globais de gases de efeito estufa. A transição para formas limpas, como solar, eólica e hidrelétrica e melhorar a eficiência energética é essencial para prosperar no século 21.

O chefe da agência lembra que alcançar a neutralidade de carbono líquido até 2050 é um objetivo que só pode ser alcançado se for duplicado o fornecimento de eletricidade de baixa emissão nos próximos oito anos.

O tempo e a mudança do clima são os desafios do que requer uma transformação completa do sistema energético global.

Alavanca estratégica

O relatório anual Estado dos Serviços de Clima cita oportunidades para redes de energia verde para ajudar a combater as mudanças climáticas, melhorar a qualidade do ar, conservar os recursos hídricos, proteger o meio ambiente, criar empregos e proteger o futuro coletivo.

Estima-se que até 2050, as necessidades globais de eletricidade aumentarão ao longo dos anos, sendo a eletrificação uma alavanca estratégica para atingir as metas de neutralidade de carbono que requerem energia renovável, com destaque para a solar.

Para os países africanos é enfatizada a oportunidade de se aproveitar o potencial inexplorado e porque a região é um dos principais intervenientes do mercado. O continente que abriga 60% dos melhores recursos solares do mundo, tem apenas 1% da capacidade fotovoltaica instalada.

Comentando o relatório contando com apoio de 26 organizações, o secretário-geral da ONU pediu que mais seja feito. António Guterres ressalta que uma ação climática ousada pode gerar US$ 26 trilhões em benefícios econômicos até 2030.

Adaptação climática

No entanto, cita o baixo investimento em energia renovável, especialmente nos países em desenvolvimento e pouca atenção dada à importância do clima serviços de energia para apoiar tanto a adaptação climática quanto as decisões sobre como reduzir os gases de efeito estufa.

A análise destaca que a mudança climática afeta diretamente o fornecimento de combustível, a produção de energia, bem como a resiliência física da infraestrutura energética atual e futura.

Ondas de calor e secas já estão pressionando a geração de energia existente, tornando ainda mais importante reduzir as emissões de combustíveis fósseis. Tudo diante do impacto de eventos climáticos, hídricos e climáticos extremos agora mais frequentes e intensos.

Em janeiro, quedas maciças de energia após uma onda recorde de calor em Buenos Aires, Argentina, afetaram cerca de 700 mil pessoas.

Usinas

Entes, em novembro de 2020, a chuva gelada revestiu as linhas de energia no Extremo Oriente da Rússia e centenas de milhares de casas ficaram sem eletricidade por vários dias.

Em 2020, 87% da eletricidade global gerada por sistemas térmicos, nucleares e hidrelétricos dependia diretamente da disponibilidade de água.

O relatório destaca ainda que um terço das usinas termoelétricas que dependem da disponibilidade de água doce para resfriamento está em áreas de alto estresse hídrico. O mesmo ocorre em 15% das usinas nucleares existentes, uma parcela que deverá aumentar para 25% nos próximos 20 anos.

Texto publicado originalmente no portal da ONU News.


Temperatura pode subir 3°C se meta do clima não for ampliada

Quando foi fechado o Acordo de Paris, que prevê conter o aquecimento do planeta a uma temperatura bem abaixo de 2°C, com esforços para limitar em 1,5°C até o fim do século, já se sabia que os compromissos dos países naquele sentido não seriam suficientes para alcançar a meta. Agora, uma análise científica sobre esses compromissos não deixa dúvidas. Se apenas os planos nacionais forem adotados, o aumento médio da temperatura pode ser de 2,6°C a 3,1°C até 2100 - na comparação com o período pré-Revolução Industrial.

É o que mostra estudo publicado nesta quinta-feira, 30, na revista Nature por uma equipe de dez cientistas de diferentes países, incluindo o Brasil. Números semelhantes já haviam sido propostos por pelo menos dez outras análises feitas logo depois que as chamadas INDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) - conjunto de compromissos que cada país disse ser capaz de adotar como contribuição ao esforço global de redução das emissões de gases de efeito estufa - foram apresentadas pelos governos.

O novo estudo considerou as chances de cada uma dessas projeções. E chegou à conclusão que, mesmo se todos os compromissos forem cumpridos, há 50% de probabilidade de se ficar na faixa de 2,6°C a 3,1°C.

Atualização

"O que nosso estudo reforça é que é preciso definir ações mais ambiciosas o quanto antes. Não vai dar para gastar o período de 2020 (quando o Acordo de Paris começa a valer) a 2030 (prazo da maioria das INDCs) para ter ações mais ambiciosas depois", afirma o pesquisador Roberto Schaeffer, professor de Planejamento Energético do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da UFRJ.

Quando o Acordo de Paris foi fechado, os países já tinham noção disso e, por isso, concordaram que INDCs sejam revistas a cada cinco anos, com valores sempre readequados para cima, nunca para baixo. "Mas não vamos poder esperar o fim do período da INDC para começar a correr atrás", alerta.

Ele afirma que para fechar a conta para menos de 2°C ou para 1,5°C em geral se considera a necessidade de adoção de tecnologias que ainda não estão firmadas, como de sequestro e captura de carbono (CCS ou BioCCS, que conta com biomassa). "Se dependemos disso, então está na hora de fazer isso começar a existir. Para ficar em 1,5°C seria necessário, logo depois de 2050, ter emissões negativas. Isso só vamos ter com BioCCS. Está na hora de acelerar tudo, incluindo o que não existe", defende o pesquisador que participou da análise. "O estudo é para chamar atenção. O pessoal saiu de Paris em clima de lua de mel, felizes por terem um acordo. E isso foi um excelente começo, mas tem de ir além. Ainda dá tempo", diz.

Schaeffer faz ainda um alerta para o Brasil. "A INDC brasileira foi ambiciosa em outro cenário macroeconômico. Agora em crise, existe uma chance de o Brasil cumprir suas metas não por méritos próprios, mas porque a economia afundou. Nesse cenário, as emissões caem naturalmente porque o consumo de energia cai. Aí corre o risco de não fazer as ações necessárias, como ter mais energia eólica e menos térmica. Se fizer térmica achando que o jogo está ganho, fica mais difícil se desvencilhar disso mais para frente."


Por Giovana Girardi - O Estao de S. Paulo

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.