semana de arte moderna

Especial: Pedro da Luz analisa a arquitetura na Semana de 22

Professor da Universidade Federal Fluminense explica as lições do modernismo para a arquitetura contemporânea

João Rodrigues, da equipe da FAP

A Semana de Arte Moderna, que completa 100 anos em 2022, teve entre os seus marcos a influência para a arquitetura brasileira. O movimento pregava a expressão do nacional de forma autônoma e independente dos ideais europeus. Apesar da pouca importância da arquitetura na Semana, a transformação do modo de entender a arte marcou a nossa arquitetura e segue presente até os dias de hoje.

Para analisar a importância da arquitetura na Semana de 22, conversamos com o professor Pedro da Luz Moreira, docente e vice-coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. Em 2015, Pedro da Luz assumiu a presidência do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), departamento do Rio de Janeiro, tendo sido reeleito no ano de 2017 para o triênio até 2019. É pesquisador da influência da Semana de 22 na arquitetura brasileira.


Ouça o podcast!




O episódio conta com áudios extraídos do Youtube do canal Toda Matéria, canção de Guiomar Novaes - Chopin: Ballade in F minor, opus 52, n°4, História da Arquitetura com Bruno Perenha e depoimentos de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer para o documentário Arquitetura Moderna no Brasil, realizado pelo IAB e Fundação Bienal de São Paulo, em 1985.


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O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras, em diversas plataformas de streaming como Spotify, Youtube, Google Podcasts, Ancora, RadioPublic e Pocket Casts. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues. A edição-executiva é de Renato Ferraz.




O livro, que relata a infância, a adolescência, a vida adulta e a velhice de João Miramar, é composto por 163 fragmentos, os quais são escritos em diversos estilos: missivas, poemas, citações, diálogos, fórmulas-padrão, impressões, relatos de viagem, cartões-postais, entre outros.



A sequência dos fatos não é direta, como na prosa tradicional à qual se contrapõe o livro, mas subliminar, que trespassa os diversos fragmentos, mesmo os que não se referem diretamente à história pessoal do protagonista.

“O romance colocou em prática a criação literária. Ela representa uma narrativa de vanguarda, toda fragmentada, ilustra o que seria na época a ambição de compor uma narrativa livre de fórmulas e de tradição literária discursiva que existia no Brasil até então. Uma tentativa realmente de mostrar a prática do que seria a nova proposta de criação literária”, analisa Margarida.

A escritora observa que poucas pessoas conseguem ler a obra. “O caráter muito fragmentário é difícil, é composta de pequenos fragmentos. Os capítulos tem extensão de um parágrafo. Usa versos e palavreados incomuns na língua até hoje”, acentua ela, que também é tradutora.

Margarida Patriota
Margarida tem a expressiva marca de 28 livros publicados, entre eles o juvenil Uma voz do outro mundo, agraciado com o Prêmio João de Barro em 2006, e o romance Enquanto aurora, que levou o Prêmio Ganymedes José de Literatura Juvenil da União Brasileira dos Escritores (UBE) em 2011.

Em 2003, recebeu também o prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) por sua tradução, para a FTD, de O Fantasma da Ópera. Sua vasta obra reúne ficção, ensaios, romances, contos e narrativas para o público juvenil com expressivas vendas para o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE).

Ciclo de Debates sobre Centenário da Semana de Arte Moderna
Evento online da série | Modernismocinemaliteratura e arquitetura.
Data: 29/7/2021
Transmissão: a partir das 17 horas
Onde: Portal e redes sociais (Youtube e Facebook) da Fundação Astrojildo Pereira e página da Biblioteca Salomão Malina no Facebook.
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira

O homem de Sputnik se mantém como comédia histórica há 62 anos

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O homem de Sputnik se mantém como comédia histórica há 62 anos

Premiado, o filme O homem do Sputnik, do diretor Carlos Manga, lançado em 1959, será debatido nesta quinta-feira (22/7) em mais um evento do ciclo de webinars da Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em pré-celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna, marcado para o ano que vem. A transmissão será realizada, a partir das 17 horas, no portal da entidade e redes sociais (Facebook e Youtube).


Assista!

https://youtu.be/lRZFkL7goSo


Em novembro de 2015, o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Foi listado por Jeanne Santos, do Cinema em Cena, como “clássico nacional”.

A comédia narra as peripécias de um homem simples que pensa que o satélite russo Sputnik 1 caiu no galinheiro de um sítio. A notícia se espalha e ele é perseguido por espiões de todos os tipos até que a verdade vem à tona.

Na época, o estreante Jô Soares, ainda como “Joe” Soares, fez o papel de um espião americano no Brasil. A inclusão desse espião fez com que o diretor Carlos Manga perdesse uma bolsa de estágio nos EUA. O filme teria sido visto por 15 milhões de espectadores.

O enredo é marcado por um casal de caipiras comerciantes de ovos, Anastácio e Cleci, que são surpreendidos por um estrondo em seu galinheiro. Ele encontra entre suas galinhas um globo metálico. No dia seguinte, ela lê no jornal sobre o acidente com o satélite russo Sputnik e reconhece na fotografia um objeto semelhante ao que caiu em seu quintal.

Anastácio, então, leva o globo à casa de penhores e mostra-o para a funcionária Dorinha. Ela liga para o jornal onde trabalha seu namorado, Nelson, e lhe conta o fato. Alberto, jornalista inescrupuloso, ouve a conversa entre o casal e conta a novidade ao chefe do jornal.

Nelson vai ao encontro de Anastácio e pede a ele que esconda o objeto. Anastácio coloca-o dentro do poço. A notícia de que o Sputnik caiu no Brasil vira primeira página dos jornais.


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Anastácio e Clecy se transformam em celebridades. Hospedam-se no Copacabana Palace, onde recebem propostas de grupos de russos, americanos e franceses que tentam seduzir Anastácio, apresentando-lhe a cantora francesa Bebe.

Os interesses desmedidos dos estrangeiros pelo satélite levam os dois à loucura. Anastácio é raptado pelos franceses e Nelson pelos americanos. Fogem e voltam para a casa de Anastácio. Russos, americanos e franceses os seguem, disputando o valioso troféu, que ninguém sabe onde está.

Anastácio revela o local onde o Sputnik se encontra e todos se alvoroçam. Não encontram nada no poço. Ao passar pelo local, o sacristão diz que pegou o Sputnik e transformou-o em pára-raios para a igreja. Os agentes estrangeiros partem decepcionados e Anastécio Cleci voltam para casa, mas se deparam com o verdadeiro Sputnik que acabara de cair no galinheiro. (Com informações públicas)

Ciclo de Debates sobre Centenário da Semana de Arte Moderna
10º evento online da série | Modernismo, cinema, literatura e arquitetura.
Webinário sobre o filme O homem do Sputnik, direção de Carlos Manga
Dia:
 22/7/2021
Transmissão: a partir das 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira


Filme Ganga Bruta teve pioneirismo, mas foi alvo de críticas

Cleomar Almeida, coordenador de Publicações da FAP

Marcado pela desenvoltura e autenticidade na predileção de seu diretor Humberto Mauro por temas brasileiros, o filme Ganga Bruta permanece como o primeiro longa nacional a usar conscientemente proposições da psicanálise, como símbolos fálicos. À época, o cineasta fez chacotas da crítica e foi chamado de Freud de Cascadura, em alusão ao bairro suburbano carioca.


Assista!

https://youtu.be/00g8zTHxt4g

Na quinta-feira (8/6), o filme será analisado no oitavo evento online do ciclo de debates em pré-celebração à Semana de Arte Moderna, que ocorreu de 13 a 17 de fevereiro de 1922 e segue como marco artístico-cultural brasileiro. O webinário será realizado pela Biblioteca Salomão Malina, mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), ambas em Brasília, a partir das 17 horas.

Considerado um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos em votação da Abraccine em 2016, Ganga Bruta é a história de um jovem que, na noite do casamento, ao saber que foi enganado pela noiva, mata-a, alucinado. Absolvido, vai a uma pequena cidade, para serviços de construção. Lá encontra outra linda mulher, mas Sônia é noiva de Décio.

O jovem apaixona-se por ela, bebe para esquecer e a bebida lhe dá uma covarde força. Agora, o desespero é de Décio, ao saber que perdeu Sônia. E ele procura o outro, para um desforço a fim de que reste apenas um para o amor de Sônia, como observa texto da especialista Alice Gonzaga.

A palavra ganga significa rotineiramente impureza, mas, no jargão dos garimpeiros das Minas Gerais, é a cobertura áspera, bruta e feia que envolve a pepita de ouro ou diamante. A ganga enganaria o observador desatento.

O filme utiliza, entre outras locações, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a Fábrica de Cimentos Portland, então em construção, e atualmente localizada no município de São Gonçalo-RJ. Na época, a atriz Dea Selva tinha 14 anos quando foi selecionada para viver a protagonista feminina, e os vestidos usados por ela exploram motivos modernistas e art-déco.

Ator protagonista, Durval Bellini era remador do Flamengo e participou das Olimpíadas de Los Angeles em 1932, interrompendo as filmagens. Na condição de Polícia Especial, conforme observa a especialista, foi o carcereiro de Luis Carlos Prestes, após sua prisão em 1935.

Confira os eventos já realizados – Pré-celebração Semana de Arte Moderna

https://youtu.be/zBO3ux0daws

“O afamado diretor de fotografia Edgar Brasil faz uma ponta na cena do bar, e o produtor Adhemar Gonzaga faz uma participação na cena do açude. Em algumas cenas, o ator Durval Bellini, de tão forte que era, carrega o câmera nos ombros”, afirma Alice.

Inicialmente, Humberto Mauro comandou um dos mais importantes ciclos regionais cinematográficos do país, o de Cataguases, assinando cinco filmes: “Valadião, o Cratera”; “Na Primavera da Vida”; “Thesouro Perdido”; “Brasa Dormida” e “Sangue Mineiro”.

Logo depois, iniciou o ciclo carioca, com inúmeras produções, entre elas, as aqui analisadas, “Lábios sem Beijo” e “Ganga Bruta” e, por fim, seguimos com o estudo do último longa-metragem produzido por Humberto Mauro no retorno para casa, em Volta Grande.SERVIÇO

Ciclo de Debates sobre Centenário da Semana de Arte Moderna
8º evento online da série | Modernismocinemaliteratura e arquitetura.
Webinar| O modernismo no cinema brasileiro: Ganga Bruta, de Humberto Mauro
Dia: 8/7/2021
Transmissão: a partir das 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira

Observação: Para solicitar participação diretamente do debate online, envie solicitação para o WhatsApp oficial da Biblioteca Salomão Malina – (61) 98401-5561. (Clique no número para abrir o WhatsApp Web).Leia também:

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Filme premiado de Arnaldo Jabor retrata modernismo no cinema brasileiro


Qual interface do modernismo com cinema brasileiro? Veja explicação

Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP

Os grandes movimentos modernos do século 20, como o Tropicalismo, Concretismo e a Vanguarda Paulista, inspirados nas ideias da Semana de Arte Moderna de 1922, tiveram profunda interface com o cinema. A avaliação é do doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) Ciro Inácio Marcondes.

No artigo “A aventura modernista do cinema brasileiro”, que publicou na revista mensal Política Democrática online de junho (32ª edição), ele também observa a importância da Semana de Arte Moderna de 1922, que completará 100 anos em fevereiro do próximo ano. A publicação é produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em Brasília.

Veja a versão flip da 32ª edição da Política Democrática Online: junho de 2021

“Isso suscita diversas questões quanto ao desempenho e dispersão do nosso modernismo (e da nossa cultura moderna em geral) no contexto brasileiro, um século depois”, escreve, no artigo publicado na revista da FAP. Ele também é crítico de cinema e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB).

Em seu artigo, ele levanta uma pergunta que chama de “intrigante”. “Por que o cinema, forma de arte então nascente e signo para o trator de linguagem e expressão da modernidade em diversos países, não foi contemplado pelos artistas do hoje mítico evento paulistano?”, questiona, no texto.

Em seguida, ele lembra que, ainda em 1924, reformulando seu primeiro manifesto, Oswald de Andrade publicaria, no poema “Falação”, o que parece uma síntese das ambições que visionaria o cinema moderno brasileiro, décadas depois: “O Carnaval, O Sertão e a Favela, Pau-Brasil, Bárbaro e nosso”.

“É verdade que nosso cinema, apesar de desprezado pela primeira intelligentsia modernista – ainda que seus recursos de montagem aparecessem na poesia de Oswald, Manuel Bandeira e Menotti Del Picchia – não deixou de absorver influência da própria estética do cinema de vanguarda internacional”, observa.

O autor do artigo cita como exemplos os filmes mudos São Paulo Sinfonia da Metrópole (Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny, 1929) e Limite (Mário Peixoto, 1931), que, segundo ele, dialogaram com o expressionismo, o impressionismo, o construtivismo, o cubismo e o dadaísmo. “Essas vanguardas transitavam com forte confluência entre artes na Europa – e o cinema era peça central delas”, diz.

Confira todos os autores da 32ª edição da revista Política Democrática Online

Para ler a íntegra do artigo “Limite chega aos 90 anos, atual e surpreendente”, basta acessar a versão flip da revista mensal da FAP.

Essa e outras discussões estão presentes no ciclo de debates “O modernismo no cinema brasileiro”, realizado de forma on-line, todas às quintas-feiras, quinzenalmente, até o aniversário da Semana de Arte Moderna, pela FAP, com a participação de Marcondes, do cineasta Vladimir Carvalho e de outros convidados.

Os internautas também podem conferir entrevista exclusiva do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e reportagem especial sobre profissionais em campo de guerra nos hospitais, diante de novas variantes do coronavírus. A publicação mensal da FAP também tem artigos sobre políticas nacional e externa, economia, meio ambiente e cinema.

Além do diretor-geral da FAP, Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista.

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Filme “Limite” é marco do cinema brasileiro e mundial, avalia jornalista

Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP

Obra de vanguarda plástica e narrativa realizada por Mário Peixoto, aos 22 anos, o filme “Limite” é um produto raro, marco do cinema brasileiro e mundial, na avaliação do jornalista e crítico de cinema Henrique Brandão. “Uma contribuição artística extraordinária”, diz ele, em artigo que publicou na revista Política Democrática online de junho (32ª edição).

Com o título “Limite chega aos 90 anos, atual e surpreendente”, o artigo foi publicado na revista mensal produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), em Brasília. Todos os conteúdos podem ser a acessados, gratuitamente, na versão flip, no portal da entidade.

Veja a versão flip da 32ª edição da Política Democrática Online: junho de 2021

“Neste ano será comemorado 90 anos do lançamento do filme Limite, considerado por muitos críticos e pesquisadores o melhor filme brasileiro de todos os tempos”, afirma o jornalista, ressaltando a qualidade da obra cinematográfica.

De acordo com ele, para além das listas, quase sempre reducionistas, Limite é um filme raro no panorama do cinema brasileiro. “Tanto por sua forma ousada, que depois desses anos todos continua a surpreender a quem o assiste, como por sua trajetória, cheia de contratempos”, analisa.

O artigo publicado na revista mensal aponta que as peculiaridades começam pelo autor, Mário Peixoto (1908-1992). Filho de família abastada (era descendente de Joaquim José de Souza Breves, maior produtor de café do Império, grande traficante de escravos e dono de vastas terras no Sul fluminense), ainda jovem foi estudar na Inglaterra.

“Na Europa, provavelmente tomou contato com o cinema e as vanguardas europeias. Limite foi seu primeiro e único filme, realizado aos 22 anos”, afirma Brandão. Ele lembra que a inspiração para a fita, segundo depoimento do próprio Mário, veio ao acaso, em uma banca de jornal enquanto caminhava por Paris.

Na avaliação do crítico de cinema, “o filme começa e termina exatamente com a mesma epifania que teve na banca de jornais da capital francesa”. “Limite não é de fácil degustação. Sua narrativa não é linear, sua história não é muito clara”, afirma.

Os personagens, conforme registra o artigo publicado na Política Democrática online de junho, sequer têm nome. “São intitulados, nos letreiros de abertura, como a mulher número um, o homem número um e a mulher número dois. Os três encontram-se em um barco à deriva. Cada qual conta sua história, em flashback”, conta.

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Para ler a íntegra do artigo “Limite chega aos 90 anos, atual e surpreendente”, basta acessar a versão flip da revista mensal da FAP.

Os internautas também podem conferir entrevista exclusiva do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e reportagem especial sobre profissionais em campo de guerra nos hospitais, diante de novas variantes do coronavírus. A publicação mensal da FAP também tem artigos sobre políticas nacional e externa, economia, meio ambiente e cinema.

Além do diretor-geral da FAP, Caetano Araújo, o escritor Francisco Almeida e o ensaísta Luiz Sérgio Henriques compõem o conselho editorial da revista.

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RPD || Ciro Inácio Marcondes: A aventura modernista do cinema brasileiro

Em fevereiro de 2022, celebraremos redondos 100 anos da Semana de Arte Moderna de 1922, e isso suscita diversas questões quanto ao desempenho e dispersão do nosso modernismo (e da nossa cultura moderna em geral) no contexto brasileiro, um século depois. Uma pergunta emerge, intrigante: por que o cinema, forma de arte então nascente e signo para o trator de linguagem e expressão da modernidade em diversos países, não foi contemplado pelos artistas do hoje mítico evento paulistano? Afinal, ainda em 1924, reformulando seu primeiro manifesto, Oswald de Andrade publicaria, no poema “Falação”, o que parece uma síntese das ambições que visionaria o cinema moderno brasileiro, décadas depois: “O Carnaval, O Sertão e a Favela, Pau-Brasil, Bárbaro e nosso”.

É verdade que nosso cinema, apesar de desprezado pela primeira intelligentsia modernista – ainda que seus recursos de montagem aparecessem na poesia de Oswald, Manuel Bandeira e Menotti Del Picchia – não deixou de absorver influência da própria estética do cinema de vanguarda internacional, como pode ser visto nos filmes mudos São Paulo Sinfonia da Metrópole (Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny, 1929) e Limite (Mário Peixoto, 1931), que dialogaram com o expressionismo, o impressionismo, o construtivismo, o cubismo e o dadaísmo. Essas vanguardas transitavam com forte confluência entre artes na Europa – e o cinema era peça central delas.

Porém, foi nas gerações seguintes de filmes, considerando o caráter errático de nossa produção, que o cinema brasileiro conseguiu “antropofagizar” (para usar um termo modernista) melhor os desdobramentos que nossa cultura literária e visual moderna demonstraria em sucessivas manifestações. Seguindo o verso de Oswald: o “Carnaval” das chanchadas, a “Favela ” no neorrealismo brasileiro de Nelson Pereira dos Santos e Alex Viany, o “Sertão ” no Cinema Novo, o “Bárbaro e nosso” no Cinema Marginal. Como veremos, a influência dos sucessivos modernistas na literatura, na pintura, na música e na arquitetura iria além de mero conteudismo: no Tropicalismo, no Concretismo, na Vanguarda Paulista – os grandes movimentos modernos do século 20 tiveram profunda interface com o cinema.

Alguns casos, porém, foram notórios e mais diretos. Joaquim Pedro de Andrade, por exemplo, era afilhado de Manuel Bandeira, e fez um curta sobre ele (O Poeta do Castelo, 1959); uma contida, mas expressiva adaptação de Drummond (O Padre e a Moça, 1966); e uma livre biografia de Oswald (O Homem do Pau-Brasil, 1981). Seu Macunaíma (1969), porém, anárquico, iconoclástico, alegórico, tudo ao mesmo tempo, não só trouxe o texto de Mário de Andrade aos anos de chumbo, como cimentou a passagem sem rédeas ao Cinema Marginal.

Outros autores de diferentes fases do modernismo brasileiro também foram adaptados à luz do pensar específico do cinema: Walter Lima Jr. trouxe o lirismo regionalista de José Lins do Rego (Menino de Engenho, 1965); Nelson Pereira dos Santos, a aridez editorial de Graciliano Ramos (Vidas Secas, 1963); Roberto Santos, o estupor diabólico de Guimarães Rosa (A Hora e a Vez da Augusto Matraga, 1971). Já nos anos 80, Suzana Amaral adaptou, em linguagem cinematográfica derivada da nouvelle vague, o simbolismo de protesto de Clarice Lispector (A Hora da Estrela, 1985).

E não foi só no campo das adaptações literárias que o modernismo prosperou no cinema brasileiro. Diálogos mais profundos, no ideário dos manifestos, na música, na pintura e na arquitetura modernas (aí já destacadas do pioneiro “ismo” dos anos 20), ocorreram no âmbito do Cinema Novo. Por exemplo, a alegoria das estruturas profundas do Brasil nos filmes de Glauber Rocha (que chegou a filmar e montar, numa mistura de Eisenstein com Paulinho da Viola, o enterro de um dos célebres pintores da Semana de 22, em Di Cavalcanti, 1977), ou nos conflitos da modernização automotiva em São Paulo S.A. (1965), de Luís Sérgio Person. A alegoria se tornaria vocabulário comum também no final dos anos 60, com filmes como Brasil Ano 2000, de Walter Lima Jr. (1969), que radicaliza a mistura de gêneros, e dos anos 70, com Bye Bye Brasil (Cacá Diegues, 1979), que pensa a nação como performance modernista.

Ainda que de maneira não evidente, o Cinema Marginal, com sua implosão dos ideários alegóricos do Cinema Novo, radicalizou o coloquialismo e as propostas de leitura de nação almejadas pelo modernismo, caminhando aí já para uma estética pós-moderna. Dali saíram Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Helena Ignez, Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci, Ozualdo Candeias, entre tantos outros, que, cada um à sua maneira, propuseram se descolar do princípio unitário do modernismo e investir num solipsismo gutural. É daí que comparece, como descendentes, uma parte desafiadora da produção contemporânea, finalmente desalinhada das propostas de 22, em filmes como Tatuagem (Hilton Lacerda, 2013), Batguano (Tavinho Teixeira, 2014), Febre (Maya Da-Rin, 2020) e, é claro, o canibalesco Bacurau (Kléber Mendonça Filho, 2019).

Seria, no entanto, injusto não lembrar do trabalho que Júlio Bressane tem feito década após década no sentido de refletir, via linguagem cinematográfica, os destinos dos projetos modernista e moderno brasileiros, em filmes de constante reinvenção, muitos deles de baixo orçamento e produção semi-independente, sempre espiando nossa tradição, mas mirando um futuro para a linguagem de diversas artes, conforme se pensou em 1922. Não à toa, ele adaptou com radicalidade, em 1996, o primeiro romance de Oswald de Andrade, Memórias Sentimentais de João Miramar, no filme Miramar. Parece testemunho daquilo que o sociólogo Paulo Prado escreveu no prefácio do primeiro livro de poesia de Oswald (Poesia Pau-Brasil), em 1925: “O manifesto que Oswald de Andrade publica encontrará nos que leem (essa ínfima minoria) escárnio, indignação e mais que tudo – incompreensão”. Porém, talvez, não tanto da parte do cinema.

Essa e outras discussões estão presentes no ciclo de debates “O modernismo no cinema brasileiro”, realizado de forma on-line , todas as quintas-feiras, quinzenalmente, até o aniversário da Semana de Arte Moderna, pela Fundação Astrojildo Pereira. Participação deste que escreve, do cineasta Vladimir Carvalho e de outros convidados.


Ciro Inácio Marcondes é doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), crítico de cinema e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB).

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de junho (32ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

Fonte:


RPD || Henrique Brandão: Limite chega aos 90 anos, atual e surpreendente

Neste ano será comemorado 90 anos do lançamento do filme Limite, considerado por muitos críticos e pesquisadores o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Para além das listas, quase sempre reducionistas, Limite é um filme raro no panorama do cinema brasileiro – tanto por sua forma ousada, que depois desses anos todos continua a surpreender a quem o assiste, como por sua trajetória, cheia de contratempos.

As peculiaridades começam pelo autor, Mário Peixoto (1908-1992). Filho de família abastada (era descendente de Joaquim José de Souza Breves, maior produtor de café do Império, grande traficante de escravos e dono de vastas terras no Sul fluminense), ainda jovem foi estudar na Inglaterra. Na Europa, provavelmente tomou contato com o cinema e as vanguardas europeias. Limite foi seu primeiro e único filme, realizado aos 22 anos.

A inspiração para a fita, segundo depoimento do próprio Mário, veio ao acaso, em uma banca de jornal enquanto caminhava por Paris: “vi em um folheto da revista “Vu” (visto) a fotografia de um rosto de mulher abraçado pelos punhos algemados de um homem. Aquilo me perseguiu. Via [na sequência] um mar de fogo e uma mulher agarrada a um pedaço de barco naufragado”. A valer o relato do autor, ele foi fiel à sua fabulação. O filme começa e termina exatamente com a mesma epifania que teve na banca de jornais da capital francesa.

O cinema, na época da realização de Limite, era arte recente. A chegada do trem à Estação Ciotat, dos irmãos Lumière, foi a primeira exibição pública de um filme, em 28 de dezembro de 1895, em Paris, apenas 36 anos antes do filme de Mário Peixoto ser exibido. Em 1931, quando foi lançado, numa sessão no dia 17 de maio, no cinema Capitólio, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, o que fazia sucesso com o público eram as comédias, filmes com muita movimentação ou então românticos. Tudo o que Limite não é. Além disso, desde 1929, o cinema sonoro passou a atrair cada vez mais a atenção do público, ávido por novidades.

A obra foi muito mal-recebida pela crítica e pelo público. Mário Peixoto, magoado, recolheu o filme e jurou nunca mais exibi-lo. Manteve a promessa durante anos. Até que, em 1971, Saulo Pereira de Mello (1933 -2020), fã confesso de Limite, o assistiu ainda jovem, levado pelas mãos do seu professor de Física, na Faculdade Nacional de Filosofia, Plínio Sussekind Rocha, resolveu empreender uma batalha pela recuperação dos negativos do filme, já em estado avançado de deterioração.

Ainda bem que o fez. Graças a seu empenho, hoje é possível assisti-lo em quase sua totalidade. Infelizmente, algumas partes se perderam. Nada que atrapalhe o conjunto da obra.

Limite não é de fácil degustação. Sua narrativa não é linear, sua história não é muito clara. Os personagens sequer têm nome: são intitulados, nos letreiros de abertura, como a mulher número um, o homem número um e a mulher número dois. Os três encontram-se em um barco à deriva. Cada qual conta sua história, em flashback.

Mas isso pouco importa. O foco não é a história de cada um. O que chama a atenção é a linguagem poética: o encadeamento de imagens, as rimas visuais. A montagem (a cargo do próprio Mário Peixoto) faz uso de aliterações para sublinhar a angústia dos personagens; os enquadramentos originais de vários planos, com angulações inusitadas, e a ousadia de alguns travellings (movimentos de câmera), reforçam o clima onírico do filme. Tudo isso faz de Limite um produto raro, um marco do cinema brasileiro e mundial.

Um aspecto que vale destacar é o papel central da fotografia de Edgar Brazil. Sem ela, o filme não iria longe. Quem o vê, hoje, ainda fica impressionado pelos planos-sequência e movimentos de câmera difíceis de serem feitos com a tecnologia existente na época. Mário Peixoto parece reconhecer a participação fundamental de Edgar Brazil: o nome do fotógrafo aparece nos créditos com destaque, logo na abertura.

A trajetória conturbada de Limite e de seu autor (Mário Peixoto passou o resto de sua vida recluso em uma ilha, em Angra dos Reis), acrescenta camadas de curiosidade e uma aura de mistério em torno do filme. O fracasso comercial, seu quase desaparecimento, o posterior – e justo – reconhecimento artístico, tudo isso torna a fita um produto incomum na história do cinema nacional. Para além das intempéries de sua carreira, merece ser visto pela sua contribuição artística extraordinária. Não há nada igual a Limite.

Para quem quiser ver – ou rever – o filme, vai aqui o link: https://www.youtube.com/UeEArblJiMs



Henrique Brandão
 é jornalista e crítico de cinema.

** Artigo produzido para publicação na Revista Política Democrática Online de junho (32ª edição), produzida e editada pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

*** As ideias e opiniões expressas nos artigos publicados na Revista Política Democrática Online são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões da Revista.

Fonte:


Vladimir Carvalho: 1930 - A revolução nonagenária

Não foi uma insurreição de velhinhos como pode se supor a partir do título acima, até porque os longevos daquela época não chegavam facilmente aos noventa anos de idade como ocorre em muitos casos hoje, graças aos progressos das ciências. Trata-se mesmo é do grande movimento revolucionário que mudou, de certa forma, a fisionomia política e social do país e que, em outubro próximo, completará nove décadas. Os anos de 1920 já prenunciavam, em muitos setores da comunidade brasileira, uma vontade insopitável de mudanças e foram marcados por uma inquietação e um alarido com o fim de despertar o Brasil, o gigante adormecido pela inépcia e incúria da Primeira República, já precocemente velha.

Em cotejo com outros países estávamos estagnados. Não avançáramos no terreno das ciências, a educação era uma quimera e o analfabetismo batia no teto. A economia marcava passo no sobe e desce dos preços do café, nosso principal produto de exportação no mercado internacional, obrigando-nos a constantes queimas de divisas enfraquecendo o tesouro nacional. Nas artes, salvara-se - com ressalvas - o barulho feito pela Semana de Arte Moderna.

Seguíamos no ritmo lerdo, marcado desde muito pela oligarquia dos coronéis donos de terra, em prejuízo dos pobres e de uma classe média que, nos grandes centros urbanos, começara, porém, a dar sinais de inquietação. Os primeiros a se rebelarem contra este estado de coisas foram os militares, que vinham em desacordo com o governo de Artur Bernardes. Em julho de 1922, um grupo de tenentes dominou o Forte de Copacabana e depois de desigual, mas renhido combate, foram vencidos no episódio que ficou conhecido como Os Dezoito do Forte.

Os “tenentes” se reagrupariam em 1924 em torno de Luiz Carlos Prestes e Miguel Couto com o propósito de levantar o país, pregando a revolução, na tentativa de sublevar as populações marginalizadas pelas oligarquias e contra o governo. Encetaram heroica marcha que só terminaria em 1927, cobrindo 24 mil quilômetros de norte a sul do Brasil, a qual ficou conhecida lendariamente pelo nome de Coluna Prestes, em homenagem ao seu capitão comandante.

Seu feito seria enaltecido pelo poeta Pablo Neruda, mas, na prática e em termos revolucionários, não obteve o êxito pretendido, embora tenha permanecido como marcante estímulo político no espírito da classe média urbana. Os militares, leia-se o “tenentismo”, seguiram conspirando juntamente com as lideranças de jovens políticos dos partidos burgueses em ascensão, com forte protagonismo dos gaúchos.

No início de 1929, o presidente Washington Luís lançou a candidatura do paulista Júlio Prestes, do PRP, desrespeitando o pacto tradicional da política conhecida popularmente como “café com leite”. Era a vez dos mineiros, que entraram em reboliço. Desse tremendo mal estar resultou a criação da Aliança Liberal e o lançamento de Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda, para presidente da República, tendo como vice o presidente da Paraíba, João Pessoa. As eleições de 1º de março de 1930 deram a vitória ao candidato oficial, apesar do aparente favoritismo de Vargas.

O pleito foi vastamente acusado de fraudulento, com protestos que nada alcançaram de positivo nos tribunais. Instalou-se, então, um período de insatisfação e conspiração entre as jovens lideranças e os tenentistas, que se posicionaram, mais uma vez, a favor de uma revolução. Demorou, mas justo em 26 de julho daquele ano, ocorreu para surpresa de todos o assassinato de João Pessoa perpetrado pelo advogado João Duarte Dantas, desafeto político deste. A polícia deste varejara o escritório de Dantas, confiscando e publicando cartas íntimas por ele escritas à sua noiva, Anayde Beiriz, poeta e feminista.

O clima virou e forte comoção popular sobreveio reacendendo o estopim da oposição. Juarez Távora, membro proeminente da Coluna Prestes, fechou com os gaúchos de Vargas e junto com José Américo de Almeida – secretário de estado de João Pessoa – foi à garra levantando o Norte e o Nordeste. O féretro do presidente partiu de navio do porto de Cabedelo, fazendo paradas estratégicas, com direito a discursos em várias capitais, até chegar ao Rio de Janeiro, onde multidões o levaram ao sepultamento. O resumo da tragédia virou história com imagens retumbantes dos gaúchos amarrando seus cavalos no obelisco da Cinelândia. Seguiram-se a deposição de Washington Luís e a consequente ascensão de Getúlio à presidência. Este é, em linhas gerais, o “enredo” do meu filme O Homem de Areia, realizado há quarenta atrás.

*Vladimir Carvalho, Cineasta, escritor e Professor emérito da Universidade de Brasília