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Orlando Thomé: “Fiz que fui, não fui, acabei fondo”

A frase do título é de Nunes, ex-jogador do Flamengo, dita numa entrevista para explicar como tinha conseguido fazer um gol. Lembrei-me dela acompanhando o desenrolar dos acontecimentos relacionados ao presidente nos últimos dias. Vamos aos mais relevantes.

Dia 15 – A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), Supremo Tribunal Federal (STF) autoriza e Polícia Federal (PF) cumpre mandado de prisão contra Sara Giromini e outras 5 pessoas no âmbito do inquérito que apura organização e financiamento de atos antidemocráticos.

Dia 16 – A pedido da PGR, STF autoriza PF a cumprir 21 mandados de busca e apreensão em seis unidades da Federação; STF determina quebra de sigilo bancário de 11 parlamentares bolsonaristas.

Dia 17 – Fábio Faria, deputado federal (PSD/RN) ligado ao Centrão, é empossado no Ministério das Comunicações em solenidade prestigiada por representantes dos Três Poderes.

Dia 18 – Fabrício Queiroz é preso em Atibaia na propriedade do advogado Frederick Wassef; Ministério da Educação (MEC) publica portaria extinguindo a política de cotas em cursos de pós-graduação nas universidades federais; ministro da Educação envia à Casa Civil lista de nomes para o Conselho Nacional de Educação (CNE); Abraham Weintraub anuncia em vídeo a saída do MEC.

Dia 19 – Os ministros da Justiça, da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Secretaria-Geral da Presidência da República viajam a São Paulo para uma reunião com o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Dia 20 – A exoneração de Abraham Weintraub é publicada no Diário Oficial; o irmão do ex-ministro informa pelo Twitter que ele já está nos Estados Unidos.

Dia 22 – Senador Flávio Bolsonaro anuncia que o advogado Frederick Wassef deixa sua defesa no inquérito da rachadinha.

Dia 23 – Publicado decreto do presidente no Diário Oficial da União retificando a data de exoneração do ministro da Educação; MEC revoga portaria que acabava com incentivo a cotas em cursos de pós-graduação; ala militar do governo sinaliza ao presidente que pretende vetar nomes indicados pelo ex-ministro Abraham Weintraub para o CNE; presidente recebe o secretário de Educação do Paraná, cotado para assumir o MEC.

UFA!! Quanta coisa em tão pouco tempo! Diante desses fatos, o futuro do governo Bolsonaro tem sido objeto de dezenas de análises publicadas na mídia, além de ter acentuado a guerra nas redes sociais, em que, de um lado, grupos oposicionistas aparecem entusiasmados com a possibilidade de impeachment ou da cassação da chapa pelo TSE e, de outro, grupos apoiadores fazem a defesa intransigente do presidente e atacam o STF e o Congresso Nacional. E o que fará Bolsonaro? Quais serão seus próximos passos?

Não custa lembrar que, desde o início do mandato presidencial, há uma guerra, ora surda, ora barulhenta, entre dois grupos: os chamados olavistas e a ala militar. A recente e conturbada demissão de Weintraub significou derrota do primeiro grupo. Mais ainda, a revogação de suas últimas decisões no cargo, ao lado da sinalização quanto ao perfil de quem vai sucedê-lo na pasta revelam inflexão importante.

Não que o presidente tenha abandonado seu viés ideológico, mas a prisão do Queiroz pode ter aberto uma janela de oportunidade para que os militares, no governo e nas Forças Armadas, possam empurrá-lo em direção a uma freada de arrumação, seguida de uma limpeza.

Para ajudar a entender tais movimentos, recorro ao professor brasileiro David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), um estudioso sobre o funcionamento da rede bolsonarista no WhatsApp. Para ele, o bolsonarismo é um movimento social e político que se apoia em diversas correntes de pensamento, às vezes complementares, às vezes antagônicas, permitindo ao presidente justificar uma militância em prol do patriotismo, dos bons costumes, dos valores familiares, da lei e da ordem e da caçada à esquerda, servindo de base para a estratégia de criação do inimigo, em que quem se oponha a ele é tratado como antinação, anticristão e comunista. De fato, digo eu, esse grupo tem sido a garantia para sua resiliente aprovação na faixa de 25%-30% e, por isso, ele não pode prescindir desse apoio.

Assim, arrisco afirmar que Bolsonaro continuará a fazer seus movimentos para colocar em prática as mudanças políticas supracitadas, notadamente a aliança com o Centrão, a pacificação da relação com o STF e o acordo com a alta oficialidade das Forças Armadas, ao mesmo tempo que manterá o discurso ideológico radicalizado, em sintonia com as redes.

Se adotar essa estratégia, similar à folclórica declaração do ex-jogador Nunes, terá grande chance de manter o mandato, evitando o impeachment e a cassação da chapa. E, se a economia ajudar, chegará competitivo às eleições de 2022.

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