operação formosa

Desfile vazio de Bolsonaro aumenta pressão sobre comandante do Exército

Sugerido pelo chefe da Marinha Brasileira, evento só cristaliza atoleiro em que militares se colocaram

Igor Gielow / Folha de S. Paulo

O desfile militar desenhado pelo governo federal para intimidar o Congresso Nacional no dia em que deverá ser derrubada a ideia de adoção de voto impresso aumentou a pressão por adesão política do Exército a Jair Bolsonaro.

Com o apoio mais explícito dado pelo comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, autor da ideia do desfile, e o já conhecido bolsonarismo do chefe da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr., a posição do general Paulo Sérgio Oliveira ficou mais delicada.

Diferentemente de seus pares, ele tem resistido até aqui a demonstrações públicas de identificação com Bolsonaro. Assim como seu antecessor, Edson Leal Pujol, é visto pelos subordinados como alguém refratário às intenções golpistas do chefe.


DESFILE MILITAR - OPERAÇÃO FORMOSA 2021


Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
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Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
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Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
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Cabe lembrar que a crise militar de abril, que levou à destituição do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, e dos três chefes de Força começou pela resistência de Pujol em aderir à visão de "meu Exército" de Bolsonaro na crítica às medidas de distanciamento social na pandemia adotadas por estados.

O desconforto vinha desde 2020, quando o então comandante adotou uma posição antagônica em relação a Bolsonaro. Quase foi substituído por Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), defendeu publicamente um cordão sanitário entre o serviço ativo e a política e acabou caindo no ano seguinte.

Paulo Sérgio assumiu por critérios de antiguidade e tem tentado se manter mais distante do Planalto. Nesta manhã de terça (10), estava na rampa do palácio ao lado de Bolsonaro e do chefe direto, o ministro da Defesa que sucedeu a Azevedo, general Walter Braga Netto.

Segundo dois generais da cúpula militar, ele esteve a contragosto, mas sem opção de dizer não aos superiores. Seria uma situação análoga ao vexame que teve de engolir ao ter de perdoar o general Eduardo Pazuello por ter ido a um ato político de Bolsonaro.

A ser verdadeira essa leitura, sua cabeça está tão a prêmio quanto a de Pujol, que em março se recusara a posicionar blindados do Exército a pedido de Bolsonaro na praça dos Três Poderes, numa demonstração semelhante para pressionar o Supremo Tribunal Federal que tanto desagrada ao presidente.

Se não for fiel à realidade, ressalta um outro oficial, a situação é ainda mais complexa institucionalmente e demonstra que Braga Netto dobrou os comandantes a seu bolsonarismo, alvo de crescentes críticas entre oficiais.

Se Baptista Jr. já havia concedido uma polêmica entrevista apoiando a nota de Braga Netto ameaçando a CPI da Covid, Garnier foi o autor da sugestão de que os equipamentos da Operação Formosa fossem exibidos em Brasília.

A ideia foi comprada por Braga Netto e apresentada a Bolsonaro. Segundo relato de oficiais da Marinha, o "timing" da apresentação foi decidido pela dupla, o que naturalmente o ministro nega.

Seja como for, na hipótese remota de tudo ser uma "coincidência trágica", para usar as palavras do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), bastaria cancelar a fanfarra para encerrar a pantomima golpista. Bolsonaro não o fez, evidentemente.

É um padrão.

Neste ano, além de sonhar com tanques e blindados estacionados no coração do poder, também partiu do presidente a ideia de fazer um rasante "acidental", aspas obrigatórias, com o novo caça da Força Aérea, o sueco Saab Gripen.

O intuito era quebrar vidraças do Supremo, "acidentalmente". Noves fora o fato de que as janelas do próprio Planalto acabariam afetadas, a ideia foi arquivada por absurda. O relato, feito à Folha por um integrante do governo, também foi publicado pelos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.


BOLSONARO - OPERAÇÃO FORMOSA 2021


Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
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Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
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Ao tentar encerrar de vez a tensa clivagem entre a ala militar do governo, composta principalmente, mas não só, por oficiais-generais da reserva, do serviço ativo, Bolsonaro e Braga Netto procuram colocar de pé um espantalho de reação militar à crise do Planalto.

Assim como na condução do centrão para o centro da administração, contudo, a ideia de mostrar força acaba substituída automaticamente pela de exibir desespero ante uma situação de governabilidade agônica.

Do ponto de vista militar, há nuances neste baile promovido por Bolsonaro. Na semana passada, como a Folha revelou, o mesmo Baptista Jr. procurou o decano do Supremo, Gilmar Mendes, para negar qualquer intenção golpista por parte dos fardados.

Por outro lado, a pauta do voto impresso sempre teve apoio majoritário entre oficiais superiores e generais, o que facilitou a atração exercida por Bolsonaro. A ideia de intervir contra medidas de contenção do coronavírus, por exemplo, nunca pegou entre esses militares.

Ao longo das últimas semanas, a reportagem tem ouvido de diversos integrantes da cúpula das três Forças a mesma narrativa, acrescida de críticas ao presidente e ao ministro, feitas sempre sob reserva.

Lembrados de que em 1964 o empurrão final do golpe foi dado por um general de três, e não quatro estrelas, eles descartam o paralelo histórico: não há hoje o contexto da Guerra Fria ou o apoio de parte expressiva da sociedade civil a qualquer intuito autoritário.

Se isso é fato, a imagem vazia de blindados de uma Marinha a serviço do presidente brasileiro em pleno 2021, que ao fim só garantirão a derrota política de Bolsonaro na Câmara, apenas ajuda a consolidar a situação na qual os militares se colocaram ao apoiar um indisciplinado capitão reformado do Exército.

Com ou sem Bolsonaro no Planalto, e a dificuldade de comunicação com um eventual novo governo de Lula já insinua isso, o estrago institucional está feito.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/08/desfile-vazio-de-bolsonaro-aumenta-pressao-sobre-comandante-do-exercito.shtml


O Estado de S. Paulo: Entenda a Operação Formosa

Inédito, evento desta vez vai incluir militares das três Forças no dia em que Câmara vota PEC do voto impresso

Felipe Frazão, Marcelo Godoy e Roberto Godoy, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro acompanha da rampa do Palácio do Planalto, na manhã desta terça-feira, 10, o desfile de um comboio de veículos militares blindados que vai passar pelos arredores do Congresso Nacionalno dia em que a Câmara dos Deputados incluiu na pauta de votação a PEC do voto impresso. O evento inédito faz parte da Operação Formosa, da Marinha, que acontece todos os anos, desde 1988, mas que desta vez vai incluir homens do Exército e da Aeronáutica. Será a primeira vez que os blindados vindos do Rio passarão por Brasília e serão recebido por um presidente da República.

O principal objetivo da operação Formosa é treinar militares da Força de Fuzileiros da Esquadra, sediada no Rio. Apesar da pandemia, a operação será maior do que nos anos anteriores. Em 2019, foram 1,9 mil militares, em 2018, 1,6 mil. Em 2020, porém, apenas 500 militares participaram.

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O custo total da operação não foi informado pela Defesa, tampouco pela Marinha. Há despesas diversas, como pagamento de diárias, alimentação, deslocamento de equipamentos e construção de estruturas de apoio ao treinamento. O adestramento ocorre no Campo de Instrução de Formosa, em Goiás. A área de cerrado pertence ao Exército e é cedida à Marinha por ser a única do País em que é possível realizar esse treinamento com uso de munição real.

O treinamento reunirá pela primeira vez militares das três forças. Serão 100 do Exército, que já participou antes da operação, e 30 da Aeronáutica. Os fuzileiros fazem simulações de guerra, com aviões, paraquedistas, helicópteros, blindados, anfíbios, bateria antiaérea, detonação de explosivos, descontaminação por agentes químicos, nucleares, biológicos e bacteriológicos. Também treinam salvamentos.

No passado, militares de Forças Armadas estrangeiras já participaram como dos Estados Unidos, Portugal, Paraguai, Equador, Chile, Namíbia e Uruguai.

Por causa do tamanho do efetivo empregado e da quantidade e variedade de equipamentos testados – serão cerca de 150 – os preparativos levam cerca de dois meses, com deslocamento do Rio, a 1,4 mil quilômetros.

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Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,entenda-a-operacao-formosa,70003805886


Luiz Carlos Azedo: Tanqueata na Esplanada

A solenidade militar corrobora supostas ameaças feitas por Braga Netto, de não se realizarem as eleições caso o voto impresso não seja aprovado

A Câmara deve votar, hoje, o relatório do deputado Raul Henry (MDB-PE) que rejeita a proposta de emenda à Constituição (PEC) 135/2019, que propõe a adoção do voto impresso, de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF). Estima-se que a proposta tenha mais de 320 votos contrários, contra menos de 100 a favor, quando precisaria de, no mínimo, 308 votos para ser aprovada. Caso se confirme o placar, será uma derrota acachapante do presidente Jair Bolsonaro, expondo seu isolamento político e a fragilidade da base parlamentar bolsonarista. Trocando em miúdos, o voto impresso só contaria com o apoio dos deputados de extrema-direita. A votação será a constatação de que o governo Bolsonaro não tem como sobreviver sem o apoio do Centrão, que ficará com a faca e o queijo na mão na Esplanada.

Esse será o resultado, também, de um gesto equivocado de Bolsonaro, com apoio do ministro da Defesa, general Braga Netto, empenhado em constranger os comandantes militares a fazerem demonstrações de alinhamento político com o presidente da República. Nesta manhã, está programada uma cerimônia militar na Praça dos Três Poderes, na qual o presidente da República será convidado a participar de exercícios militares da Marinha no campo de manobras da Operação Formosa (GO), a cerca de 50 quilômetros de Brasília. Tanques, carros anfíbios, lançadores de foguetes e obuseiros da Marinha, que estão sendo deslocados do Rio de janeiro para Goiás, desfilarão pela Esplanada dos Ministérios e estacionarão defronte ao Palácio do Planalto, ou seja, na Praças dos Três Poderes, ao lado do Congresso e em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Para gregos e baianos, soa como uma intimidação.

Entretanto, trata-se de um exercício realizado periodicamente, para adestramento dos fuzileiros navais da Esquadra, que simulam operações de combate com emprego de munição real e apoio do Exército e da Aeronáutica. Desta vez, porém, o deslocamento dos veículos e da tropas do Rio de Janeiro para Goiás foi. transformado numa espécie de “tanqueata”, para demonstração de apoio político aos propósitos golpistas do presidente da República, justo no dia em que a Câmara deve rejeitar a proposta de voto impresso. Bolsonaro não faz outra coisa que não seja pôr em suspeita a lisura das eleições com urna eletrônica. Tenta intimidar o Congresso, para restabelecer o voto impresso, com a ameaça de não permitir a realização das eleições. Consegue ofuscar até as propostas do próprio governo que visam criar uma agenda positiva.

A solenidade militar corrobora supostas ameaças feitas por Braga Netto, de não se realizarem as eleições caso o voto impresso não seja aprovado; na real, é mais um constrangimento para as Forças Armadas, indispondo-as com o Congresso, numa hora em que já se discute limitar a presença de militares da ativa na administração pública. A repercussão no Congresso é péssima; na sociedade, também, porque nos remete às quarteladas do século passado.

Ordem unida
Também nos lembra uma velha piada dos estertores do Estado Novo, logo após a volta da Força Expedicionária Brasileira (FEB) dos campos de batalha da Itália, onde lutaram contra o Exército alemão. O general Góes Monteiro, chefe militar da Revolução de 1930 e ministro da Guerra no Estado Novo, às vésperas de destituir Getúlio Vargas, era um dos alvos preferidos da oposição. Fora simpatizante do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), no período em que Vargas vacilava entre se aliar ao nazifascismo ou entrar na II Guerra Mundial ao lado dos Estados Unidos e do Reino Unido. Em visita à Alemanha, Monteiro ficou impressionado com a disciplina das Wehrmacht, ao ver um sargento alemão se atirar da janela do terceiro andar, após receber ordens expressas de seu comandante, estatelando-se no pátio do quartel. No Japão, se impressionou mais ainda, ao visitar um porta-aviões e assistir uma cerimônia de seppuku, suicídio ritual na qual um camicase dedicou a vida ao Imperador e à vitória do Japão.

Ao voltar para o Brasil, Góes Monteiro não teve dúvidas. Madrugou no Palácio do Catete, sede do governo, no antigo Distrito Federal (Rio de Janeiro), e mandou tocar a alvorada às 5h. A Guarda Presidencial saiu dos alojamentos assustada, sem entender o que estava acontecendo, com os dragões desalinhados, rabo de cavalo do capacete para a frente, coturnos desamarrados, túnicas fora da calça, remelas nos olhos… O general aproximou-se do sargento Tião, velho conhecido, que liderava o pelotão. Em alto e bom som, deu a voz de comando: “Dragões, sentido!” A tropa se endireitou. “Esquerda, volver!”. A tropa perfilou. “Apresentar armas!”. Tião ficou cara a cara com o general, com quem tinha até certa intimidade, e sentiu o bafo carregado de uísque. Não se conteve: “Senhor, bêbado a uma hora dessa?”.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-tanqueata-na-esplanada/

Tanques na Esplanada: Forte representação política e histórica

No dia em que a Câmara votará em plenário a PEC do voto impresso, um comboio de blindados militares passará pelo Congresso e seguirá para a Praça dos Três Poderes. Iniciativa inédita é vista no Legislativo como uma tentativa de intimidação

Sarah Teófilo e Renato Souza / Correio Braziliense

No dia em que a Câmara votará a proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso — amplamente defendido pelo governo —, um comboio de blindados militares passará pelo Congresso a caminho do Palácio do Planalto. As tropas integram a Operação Formosa, realizada todos os anos pela Marinha, mas que nunca incluiu a Praça dos Três Poderes no trajeto até a cidade goiana.

Outro fato inédito é a participação do Exército e da Aeronáutica, além de a coordenação ficar sob a responsabilidade do Ministério da Defesa. A decisão é vista como uma tentativa de intimidação do Parlamento e provocou críticas de congressistas e ações na Justiça.

No anúncio sobre a passagem pela Esplanada dos Ministérios, a Marinha justificou que a intenção é entregar convite ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Defesa, Braga Netto, para participarem da cerimônia de abertura do evento no Entorno do DF, marcada para o próximo dia 16.


DESFILE MILITAR - OPERAÇÃO FORMOSA 2021


Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
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Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
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Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
Desfile militar na Esplanada - Operação Formosa. Foto: Pedro França/Agência Senado
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No Judiciário e no Congresso, a ação é vista como uma tentativa de pressionar os deputados, tendo em vista o cenário de forte rejeição à PEC. Prevendo derrota na Câmara, o governo estaria fazendo uma demonstração de suposta lealdade política das Forças Armadas à escalada autoritária de Bolsonaro.

Com 2.500 militares envolvidos na Operação Formosa, os blindados partiram do Rio de Janeiro, e a expectativa é de que o comboio chegue ao centro de Brasília por volta das 8h. A ação causou surpresa até mesmo a integrantes do alto escalão do Exército, que dizem não terem sido informados com antecedência do evento. Fontes militares consultadas pelo Correio, sob a condição de anonimato, afirmam que a ordem para seguir até o Planalto, passando em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso, partiu do Ministério da Defesa.

Ameaça
A presença de blindados no centro do poder é mais um capítulo em torno de polêmicas provocadas pelo alinhamento de militares com o governo. As imagens da Esplanada com tanques devem ter forte representação política e histórica. A cena é incomum e preocupa o Legislativo.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) chamou o desfile de intimidação e disse que se trata de ação inconstitucional. “Tanques na rua, exatamente no dia da votação da PEC do voto impresso, passou do simbolismo à intimidação real, clara, indevida, inconstitucional. Se acontecer, só cabe à Câmara dos Deputados rejeitar a PEC, em resposta clara e objetiva de que vivemos numa democracia e que assim permaneceremos”, declarou.

Já o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) vê ensaio de golpe. “Colocar tanques na rua não é demonstração de força e, sim, de covardia. Os tanques não são seus, pertencem à nação. Quer tentar golpe, senhor Jair Bolsonaro? É o crime que falta para lhe colocarmos na cadeia”, frisou.

Por sua vez, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) questionou os gastos de verba pública envolvidos no desfile, que foi avisado com um dia de antecedência. “Pedi à Justiça que impeça o gasto de recursos públicos em uma exibição vazia de poderio militar. As Forças Armadas, instituições de Estado, não precisam disso. Os brasileiros, sofrendo com as consequências da pandemia, também não. O Brasil não é um brinquedo na mão de lunáticos”, destacou pelas redes sociais.


BOLSONARO - OPERAÇÃO FORMOSA 2021


Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
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Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro recebe convite da Demonstração Operativa a ser realizado pela Operação Formosa 2021. Foto: Marcos Corrêa/PR
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Vieira protocolou a ação popular na Justiça Federal da 1ª Região. A deputada Tabata Amaral (sem partido-SP) também é signatária do processo. “Está claro que Bolsonaro quer intimidar o Congresso na sessão que vai decidir sobre o voto impresso. É inadmissível esse comportamento do presidente”, escreveu a parlamentar nas redes sociais.

Opinião semelhante foi expressada pela deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC). “Há homens fracos e frouxos que usam da força para mostrar poder. Bolsonaro é desses. Em baixa nas pesquisas, traz veículos de artilharia e combate, usados em treinamentos militares, para a Esplanada.

Mais uma vez, usa as instituições militares para impulsionar seu projeto anarquista de poder”, escreveu nas redes sociais. “É um necessário exercício da Marinha, mas que Bolsonaro transforma num espetáculo político, quando o traz pra Esplanada, com a clara intenção de aumentar especulações. Bolsonaro vive de especulações e sobrevive de tensões políticas.”

Após a repercussão, a Marinha emitiu nota negando pressão pelo voto impresso. “Cabe destacar que essa entrega simbólica foi planejada antes da agenda para a votação da PEC 135/2019 no plenário da Câmara dos Deputados, não possuindo relação com a mesma, ou qualquer outro ato em curso nos Poderes da República”, diz um trecho do comunicado.

Fonte: Correio Braziliense
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/08/4942746--imagens-de-tanques-na-esplanada-devem-ter-forte-representacao-politica-e-historica.html

*Título do texto original foi alterado para publicação no portal da Fundação Astrojildo Pereira (FAP)


Desfile militar dura 10 minutos e termina sem discurso de Bolsonaro

Desfile dos veículos na Esplanada dos Militares provocou reação por ocorrer em um momento de tensão institucional entre os Poderes

Ricardo Della Coletta / Folha de S. Paulo

O desfile desta terça-feira (10) em frente ao Palácio do Planalto reuniu pela manhã dezenas de veículos militares, entre blindados, tanques, caminhões e jipes.

A parada militar, realizada no dia da votação do voto impresso na Câmara dos Deputados e criticada como mais uma tentativa de politização das Forças Armadas, começou por volta de 8h30.

Nesse horário, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já estava na rampa do Palácio do Planalto, acompanhado dos comandantes das três forças. Também estavam diversos ministros, entre eles Walter Braga Netto (Defesa), Ciro Nogueira (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Anderson Torres (Justiça).

No início do desfile, que durou aproximadamente 10 minutos, um militar em traje de combate desceu de um dos veículos, subiu a rampa e entregou a Bolsonaro um convite para comparecer a exercício militar da Marinha programado para agosto.

Durante a passagem dos veículos, um grupo de apoiadores de Bolsonaro se reuniu na Praça dos Três Poderes e entoou gritos em defesa da intervenção militar. Eles gritaram "Eu Autorizo" e "142", em referência a dispositivo constitucional que bolsonaristas dizem justificar uma eventual intervenção fardada.

Um dia antes, em meio à polêmica causada pelo desfile de blindados, Bolsonaro postou em suas redes sociais um convite para que autoridades de Brasília, como os presidentes das Casas Legislativas e do Judiciário, recebam também os veículos militares.

O desfile dos veículos provocou reação por ocorrer em um momento de tensão institucional, além de ser a data prevista para que a Câmara dos Deputados vote a PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso. O presidente já assume a possibilidade de derrota.

Mesmo aliados do presidente reagiram ao evento militar. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que se trata de uma "coincidência trágica" que o desfile dos blindados aconteça no mesmo dia previsto para a votação da PEC.

Após a passagem por Brasília, os veículos militares seguem para Formosa (GO), onde será realizado um grande exercício militar, com a presença de membros não apenas da Marinha como também do Exército e da Aeronáutica.

Embora seja um exercício de adestramento tradicional da Marinha, essa seria a primeira vez que os blindados entrariam em Brasília. Além disso, eles passaram pela Praça dos Três Poderes, em um momento de grande tensão entre os poderes, em particular entre o Executivo e o Judiciário.

Fonte: Folha de S. Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/08/desfile-militar-em-dia-do-voto-impresso-dura-10-minutos-e-tem-bolsonaro-no-alto-da-rampa-do-planalto.shtml

*Título do texto original foi alterado para publicação no portal da Fundação Astrojildo Pereira (FAP)