Mariliz Pereira Jorge

Mariliz Pereira Jorge: E a oposição?

O que ela tem feito fora do seu mundinho de apoiadores apaixonados?

Não custa perguntar, e a oposição? Ela segue forte nas redes sociais, denuncia os mandos e desmandos do desgoverno Bolsonaro, critica ações e a falta delas. É repúdio daqui, ação dali, reunião de emergência acolá. Um sucesso danado entre os seguidores. Mas o que tem feito a oposição fora do seu mundinho maravilhoso de apoiadores apaixonados? Nada.

E quando faz, faz isto aqui. Nesta quarta (26), o PT convocou protestos "pela democracia e pelos direitos do povo", para os dias 8, 14 e 18 de março. Já no começo, a nota diz que o novo ataque de Bolsonaro às instituições é mais uma etapa da escalada que passou pelo golpe do impeachment e pela prisão de Lula. Com esse discurso quem vai às ruas, além de petistas?

Essa oposição não entendeu que enquanto faz festinha em suas bolhas, o sectarismo bolsonarista planeja, articula, nada de braçada no populismo que a massa de ensandecidos defende e alardeia. Bolsonaro se alimenta da bajulação nas redes sociais, mas é do tipo que se impressiona com o clamor das ruas. E são seus apoiadores os únicos que têm se organizado e feito barulho.

Não está na hora de quem defende democracia e instituições gritar mais alto? Para isso, a oposição deveria eleger essas como pautas únicas se quiser mesmo mobilizar uma multidão que dê a resposta que Bolsonaro, e seu flerte indecente com um autogolpe, precisa receber.

Com raras exceções, não há quase ninguém acenando em direção ao outro. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), tem sido voz solitária a defender a construção de uma frente ampla "para vencer o obscurantismo", em entrevistas e conversas com FHC, Lula e Luciano Huck.

Na falta de um único nome com força para ser a figura central de oposição ao governo, é urgente que haja diálogo e união de todos, do centro-direita à esquerda. Antes que seja tarde, não custa perguntar, cadê a oposição? Tem alguém aí?


Mariliz Pereira Jorge: Não há opção

É impossível não reportar o espetáculo grotesco a que somos expostos

Por que jornalistas se prestam a aguentar insultos diários de Jair Bolsonaro na porta do Palácio da Alvorada? Por que os jornais reproduzem ofensas, falas criminosas e dão espaço ao discurso de ódio protagonizado pelo presidente contra imprensa, adversários políticos, entidades internacionais, líderes estrangeiros, Greta e DiCaprio?

Tenho lido e ouvido esse questionamento com frequência. Por que não restringimos a cobertura às notícias que envolvem a administração? Porque é dever do jornalismo se opor ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, e o trabalho envolve o desconforto de lidar com um sujeito asqueroso feito nosso atual mandatário.

Aguentar as grosserias de Bolsonaro sem que haja réplica, o que transformaria suas saídas diárias numa baixaria ainda pior, mostra a competência dos profissionais que têm a dura missão de cobrir o presidente.

Mas não é só isso, é necessário que se registrem falas, gestos, atitudes e detalhes da personalidade que contarão a história de um país por meio do raio-x do seu representante maior. Um governo não é feito apenas dos números da economia, das vitórias e das derrotas na educação, na saúde e no desenvolvimento.

Em décadas, os brasileiros talvez não saibam os dados sobre desemprego, preço do dólar ou da gasolina, quantas crianças estavam fora da escola ou a quantidade de miseráveis na fila do Bolsa Família. Mas saberão que tivemos um presidente misógino, racista, homofóbico, que não respeita instituições, despreza o jogo da democracia e flerta descaradamente com um autogolpe.

Muito antes de as redes sociais darem espaço a qualquer baboseira que uma pessoa pense, Millôr já dizia, "não se amplia a voz dos imbecis". Difícil discordar, mas o mundo está cheio deles em posições estratégicas. Infelizmente, não é uma opção deixar de reportar o espetáculo grotesco de falta de educação, de empatia e de humanidade a que somos expostos todos os dias.


Mariliz Pereira Jorge: Mais ódio no gabinete do ódio

Perto de Galeazzo, Weintraub parece um coroinha

A gestão Bolsonaro parece ter decidido dobrar a meta de gente asquerosa entre seus contratados. Só isso explica a possível nomeação do publicitário Luiz Galeazzo para cuidar da área digital do governo. Perto dele Abraham Weintraub parece um coroinha.

Galeazzo é figura conhecida nas redes sociais. Bolsonarista radical, faz piadas grotescas, insulta mulheres, dispara críticas raivosas contra o STF, compartilha fake news, diz que gente de esquerda não merece ser tratada como "pessoas" e, baixaria das baixarias, postou foto da vereadora assassinada Marielle Franco com a legenda "morri kkkkk".

Como sabemos, toda canalhice em favor desse governo será recompensada. Na semana passada, Galeazzo foi convidado pelo encrencado Fabio Wajngarten, da Secom, e sua nomeação aguarda aprovação do Gabinete de Segurança Institucional, que analisa, por exemplo, seus antecedentes criminais. O comportamento abjeto de Galeazzo nas redes parece não ter importância nessa vistoria.

Quando a notícia vazou nesta quarta (5), o publicitário precisou adiantar a recomendação que recebeu de deletar sua presença virtual para assumir o cargo, justamente pelo conteúdo ofensivo que poderia ser usado contra ele e o governo. No Twitter, onde ainda mantinha uma conta, ele teve outros perfis banidos por causa de seus posts agressivos.

É um tipo desse, alinhado com o de outros integrantes do que é chamado de Gabinete do Ódio, que vai cuidar da área digital, que envolve toda a presença do governo nas mídias sociais e também a publicidade nessas plataformas.

A encomenda de Wajngarten é que Galeazzo tenha um comportamento diferente do seu habitual e que dê uma roupagem mais profissional à comunicação do governo. Pensando bem, até que faz algum sentido, a Secom contrata uma pessoa que precisa fazer de conta que é decente para divulgar uma gestão que também só faz de conta que não é ordinária.