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Luiz Carlos Azedo: “Já ganhou” preocupa Lula

Devido ao peso do Estado e à máquina do governo, petista avalia que Bolsonaro ainda não estaria fora da disputa

Luiz Carlos Azedo / Nas Entrelinhas / Correio Braziliense

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Brasília para conversar com todo mundo, ou melhor, “com quem queira conversar com ele”, destaca o deputado Carlos Zaratinni (PT-SP), que ontem participou da conversa do líder petista com as bancadas de deputados e senadores da legenda. Acompanhado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Lula também se encontrou com os governadores do PT no Nordeste: Camilo Santana (Ceará), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte), Rui Costa (Bahia) e Wellington Dias (Piauí). Também estiveram na reunião a vice-governadora do Sergipe, Eliane Aquino, e o senador Jaques Wagner (PT-BA).

Domingo à noite, Lula teve um encontro com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), acompanhado do senador Humberto Costa (PT-PE), em mais um passo para consolidar a aliança com o PSB, cujas negociações estão muito adiantadas. Esqueçam o apoio dos caciques do MDB ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Amanhã, Lula jantará na casa do ex-senador Eunício de Oliveira (CE) com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o ex-presidente José Sarney, os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), e os ex-senadores Edison Lobão (MDB-MA) e Romero Jucá (MDB-RR).

Na conversa de ontem com os parlamentares petistas, Lula traçou a linha de suas conversas. Primeiro, não existe “já ganhou”. Devido ao peso do Estado e à capacidade de influência política da máquina do governo, avalia que o presidente Jair Bolsonaro ainda não estaria fora da disputa — pode se recuperar e se reeleger. Obviamente, o petista faz essa avaliação olhando para o final do seu primeiro mandato, quando teve dificuldades para se reeleger em razão dos escândalos do mensalão e dos dólares na cueca de um petista, às vésperas do primeiro turno. Em 2006, teve que disputar o segundo turno com o tucano Geraldo Alckmin.

Segundo, Lula não vai reinventar a roda. Pretende apresentar propostas baseadas nas realizações de seu governo, que lhe garantiram alta aprovação no final do segundo mandato, que agora pretende resgatar. A desconstrução das políticas públicas por Bolsonaro, de certa forma, facilita a comparação entre os dois governos, ainda mais num cenário com alta da inflação, fome e desemprego.

Terceiro, nada de radicalização. Lula orientou as bancadas petistas a não embarcarem no discurso de ódio e focar a narrativa na questão social, no aumento das desigualdades e injustiças sociais. Sua intenção é apresentar um programa eleitoral com propostas para melhorar a vida do povo, não entrar na polarização ideológica. Por isso mesmo, não contem com o PT para o impeachment de Bolsonaro.

Adversário ideal

O jantar com os velhos aliados do MDB foi encomendado pelo próprio Lula, durante encontro com Eunício Oliveira, no Ceará. Não existe um assunto específico, mas a conversa a entre esses velhos políticos gira sempre em torno de um assunto: a conquista e/ou manutenção do poder. Com um pé no governo e outro na oposição, as bancadas do MDB derivam para o ex-presidente, principalmente no Norte e Nordeste, embora a senadora Simone Tebet (MS) seja pré-candidata a presidente da República e o presidente da legenda, Baleia Rossi (SP), tenha uma aliança forte com os tucanos em São Paulo, tão robusta que a legenda herdou a Prefeitura da capital com a morte do ex-prefeito Bruno Covas.

No momento, o maior temor de Lula é o surgimento de uma candidatura de terceira via que possa deslocar Bolsonaro do segundo turno, caso o governo continue derretendo. Por seu turno, o presidente só não considera Lula o adversário ideal porque o petista é favorito nas pesquisas e ameaça ser eleito já no primeiro turno. Entretanto, Bolsonaro ainda aposta no antipetismo para ganhar as eleições. Todas as pesquisas mostram que ele também teria dificuldades de se reeleger numa disputa de segundo turno com outros candidatos.

A um ano das eleições, o terceiro colocado nas pesquisas de opinião continua sendo o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, que continua às turras com os petistas. O governador paulista João Doria (PSDB) continua patinando nas pesquisas. Sua candidatura subiu no telhado, porque o governador gaúcho Eduardo Leite vem recebendo apoios internos importantes. Ninguém sabe qual será o desfecho das prévias tucanas, marcadas para novembro. Essa indefinição estimula outras pré-candidaturas, como as do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ambos do DEM, e a do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que vem se destacando na CPI da Covid.

https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/nas-entrelinhas-ja-ganhou-preocupa-lula

Tudo é incerto em 2022, porque a maioria do Brasil é de desinteressados e/ou indecisos

Não custa lembrar que Lula tem muito esqueleto no armário, e Bolsonaro coleciona desastres

Eliane Cantanhêde / O Estado de S. Paulo

O desconhecido empresário Romeu Zema virou governador de Minas, um dos três principais Estados do País, em quatro dias. Com 43% de indecisos, o eleitorado rejeitava tanto Antonio Anastasia, por representar o PSDB de Aécio Neves, quanto Fernando Pimentel, que concorria à reeleição pelo também vulnerável PT. Os indecisos descobriram Zema, do Novo, num debate na terçafeira anterior às urnas. De quarta a domingo, ele disparou de 5% para 41% e venceu a eleição.

Se Romeu Zema é ou não um bom governador, e a quantas andam sua gestão e aprovação, são outros 500, mas os tucanos usam essa história de 2018 para defender com unhas e dentes que uma “terceira via” entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula é não apenas possível como bastante provável, com muita chance de chegar ao segundo turno e vencer. Até por isso Lula corre atrás de MDB, PSD, PP e PSB.

As pesquisas de hoje cristalizaram a dianteira confortável de Lula e um quarto do eleitorado com Bolsonaro, mas, segundo os tucanos, esse cenário estático só parece irreversível para quem não tem experiência de pesquisas e eleições. “Não é (irreversível). O importante é se há ou não espaço para o sentimento essencial que uma candidatura representa. Se há, o eleitor encontra essa candidatura”, diz o ex-deputado Marcus Pestana, de Minas, um dos coordenadores das prévias de novembro do PSDB.

O governador Eduardo Leite (RS) tem o apoio de Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas, Bahia, Ceará, Alagoas, Paraíba e Amapá. O também governador João Doria (SP) tem São Paulo, Pará, DF, Tocantins e Acre. Ainda faltam 13 Estados e o que vale não é o número de diretórios, mas de eleitores. São Paulo, sozinho, tem 32% dos votos.

Para os tucanos, e não só para eles, mas para especialistas em política, terceira via é quase sinônimo de candidatura do PSDB, que venceu as eleições presidenciais em primeiro turno em 1994 e 1998 e disputou o segundo turno em todas as quatro seguintes (2002, 2006, 2010 e 2014), até ficar fora em 2018, com a polarização feroz entre o PT e Bolsonaro.

Na semana passada, enquanto o experiente senador Tasso Jereissati (CE), ex-governador e ex-presidente nacional do PSDB, desistia das prévias em favor do novato Leite, Doria jantava com Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Sérgio Moro (sem partido). Os três são vivamente a favor de um nome de centro, mas, assim como Doria está amarrado às prévias tucanas, Mandetta depende da fusão DEMPSL e a Moro interessa menos disputar a Presidência e mais resgatar o legado da Lava Jato.

Vez ou outra, pingam nomes, como o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do DEM, que está nas mãos de Gilberto Kassab, do PSD; o próprio Zema, que precisa encorpar em casa, ou seja, em Minas; João Amoêdo, que não une nem o Novo; e os senadores Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania), que ganharam muita visibilidade na CPI da Covid e têm como bandeira o combate à corrupção, mas estão mais para vices do que para cabeças de chapa.

Correndo por fora, Ciro Gomes (PDT) é bom de palanque, tem o recall de três eleições presidenciais e um marqueteiro top, João Santana, que criou o “Lulinha Paz e Amor”. Ciro, porém, não tem para onde crescer, porque atrai desconfiança. A esquerda está com Lula e a direita olha para ele e vê um esquerdista.

Não custa lembrar que Lula tem muito esqueleto no armário, Bolsonaro coleciona desastres e, tal como em 2018, em Minas, metade do eleitorado ainda está, ou completamente alheio, focado na covid, no desemprego e na inflação, ou muito desconfiado com os dois favoritos. Logo, o que há hoje são incertezas e muita água vai rolar a partir de janeiro, com a definição de nomes, partidos, estratégias e um cenário desconhecido: o pós-pandemia.

Fonte: O Estado de S. Paulo
https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,tudo-e-incerto-em-2022-porque-a-maioria-do-brasil-e-de-desinteressados-eou-indecisos,70003859832