infelicidade

Saiba o por quê de infelicidade e angústia serem vistas como anomalias

Em artigo publicado na décima edição da revista Política Democrática online, especialista analisa traços da modernidade

O narciso contemporâneo não tolera as imperfeições. A infelicidade e a angústia são vistas como anomalias, sem espaço no imperativo da felicidade e da perfeição. A avaliação é do analista político Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira, em artigo publicado na décima edição da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania.

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No Ocidente, segundo o autor, a modernidade provocou nova expectativa a ser realizada no tempo. “Com o aparecimento das utopias, a busca pelo paraíso, outrora depositada em dimensão extramundana, é secularizada, animando uma série de projetos políticos coletivos que se desenvolveram ao longo dos séculos XIX e XX”, escreve ele.

Contudo, de acordo com o artigo, na esteira das catástrofes vivenciadas no século passado, essas expectativas utópicas, próprias dos primeiros tempos da modernidade, perdem força, possibilitando outras formas culturais.

“Sem o recurso das utopias e marcada por diversos traumas, nossa percepção sobre o futuro parece ter-se tornado opaca, ao que passo que a do presente se assemelha a uma repetição de si mesma ou a um momento de nostalgia, afirma.

Nesse presente contínuo, as expectativas são vividas a partir dos indivíduos ou de coletividades fragmentadas, de modo que a busca pela felicidade surge como o imperativo da realização plena de uma identidade individual. “Para atender a essa demanda, as formas de consumo também se alteraram. Distante de um consumo padronizado, as marcas e os serviços, inclusive aqueles de streaming, procuram oferecer produtos que satisfaçam a esse desejo por individu- alidade e diferença”, analisa.

Mas os prazeres abundantes proporcionados por esse consumo quase existencial não são suficientes para saciar os apetites contemporâneos. O autor cita o filósofo francês Gilles Lipovestky, segundo o qual na abundância hedonista do consumo e das possibilidades de realização da felicidade convivem com o aumento vertiginoso de doenças como depressão e síndrome de burnout.

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