humberto mauro

Filme Ganga Bruta teve pioneirismo, mas foi alvo de críticas

Cleomar Almeida, coordenador de Publicações da FAP

Marcado pela desenvoltura e autenticidade na predileção de seu diretor Humberto Mauro por temas brasileiros, o filme Ganga Bruta permanece como o primeiro longa nacional a usar conscientemente proposições da psicanálise, como símbolos fálicos. À época, o cineasta fez chacotas da crítica e foi chamado de Freud de Cascadura, em alusão ao bairro suburbano carioca.


Assista!

https://youtu.be/00g8zTHxt4g

Na quinta-feira (8/6), o filme será analisado no oitavo evento online do ciclo de debates em pré-celebração à Semana de Arte Moderna, que ocorreu de 13 a 17 de fevereiro de 1922 e segue como marco artístico-cultural brasileiro. O webinário será realizado pela Biblioteca Salomão Malina, mantida pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), ambas em Brasília, a partir das 17 horas.

Considerado um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos em votação da Abraccine em 2016, Ganga Bruta é a história de um jovem que, na noite do casamento, ao saber que foi enganado pela noiva, mata-a, alucinado. Absolvido, vai a uma pequena cidade, para serviços de construção. Lá encontra outra linda mulher, mas Sônia é noiva de Décio.

O jovem apaixona-se por ela, bebe para esquecer e a bebida lhe dá uma covarde força. Agora, o desespero é de Décio, ao saber que perdeu Sônia. E ele procura o outro, para um desforço a fim de que reste apenas um para o amor de Sônia, como observa texto da especialista Alice Gonzaga.

A palavra ganga significa rotineiramente impureza, mas, no jargão dos garimpeiros das Minas Gerais, é a cobertura áspera, bruta e feia que envolve a pepita de ouro ou diamante. A ganga enganaria o observador desatento.

O filme utiliza, entre outras locações, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a Fábrica de Cimentos Portland, então em construção, e atualmente localizada no município de São Gonçalo-RJ. Na época, a atriz Dea Selva tinha 14 anos quando foi selecionada para viver a protagonista feminina, e os vestidos usados por ela exploram motivos modernistas e art-déco.

Ator protagonista, Durval Bellini era remador do Flamengo e participou das Olimpíadas de Los Angeles em 1932, interrompendo as filmagens. Na condição de Polícia Especial, conforme observa a especialista, foi o carcereiro de Luis Carlos Prestes, após sua prisão em 1935.

Confira os eventos já realizados – Pré-celebração Semana de Arte Moderna

https://youtu.be/zBO3ux0daws

“O afamado diretor de fotografia Edgar Brasil faz uma ponta na cena do bar, e o produtor Adhemar Gonzaga faz uma participação na cena do açude. Em algumas cenas, o ator Durval Bellini, de tão forte que era, carrega o câmera nos ombros”, afirma Alice.

Inicialmente, Humberto Mauro comandou um dos mais importantes ciclos regionais cinematográficos do país, o de Cataguases, assinando cinco filmes: “Valadião, o Cratera”; “Na Primavera da Vida”; “Thesouro Perdido”; “Brasa Dormida” e “Sangue Mineiro”.

Logo depois, iniciou o ciclo carioca, com inúmeras produções, entre elas, as aqui analisadas, “Lábios sem Beijo” e “Ganga Bruta” e, por fim, seguimos com o estudo do último longa-metragem produzido por Humberto Mauro no retorno para casa, em Volta Grande.SERVIÇO

Ciclo de Debates sobre Centenário da Semana de Arte Moderna
8º evento online da série | Modernismocinemaliteratura e arquitetura.
Webinar| O modernismo no cinema brasileiro: Ganga Bruta, de Humberto Mauro
Dia: 8/7/2021
Transmissão: a partir das 17h
Onde: Perfil da Biblioteca Salomão Malina no Facebook e no portal da FAP e redes sociais (Facebook e Youtube) da entidade
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo Pereira

Observação: Para solicitar participação diretamente do debate online, envie solicitação para o WhatsApp oficial da Biblioteca Salomão Malina – (61) 98401-5561. (Clique no número para abrir o WhatsApp Web).Leia também:

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‘Humberto Mauro é o mais nacionalista de todos os cineastas’, diz Henrique Brandão

Em artigo publicado na revista Política Democrática Online de agosto, jornalista analisa importância de cineasta

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

Pioneiro do cinema, Humberto Mauro é considerado o mais nacionalista de todos os cineastas brasileiros, na avaliação do jornalista Henrique Brandão, em artigo que publicou na revista Política Democrática Online de agosto. “Humberto foi o primeiro a registrar o Brasil profundo de maneira sincera e realizou 11 longas-metragens e 357 curtas e médias”, diz o autor.  A publicação é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília. Todas as edições dela podem ser acessadas, gratuitamente, no site da entidade.

Clique aqui e acesse a revista Política Democrática Online de agosto!

“As novas gerações interessadas em cinema talvez não tenham ouvido falar de Humberto Mauro”, diz Brandão. “Não sei se suas obras são estudadas nas faculdades. Se o são, ótimo, pois o cineasta tem lugar de destaque na história do cinema brasileiro, não só pelo legado, mas também, principalmente, pela sua maneira original de filmar”, observa o autor.

Humberto Mauro (1897-1983) é um dos pioneiros do cinema brasileiro. Tem vasta obra. Trabalhou no Ince (Instituto Nacional do Cinema Educativo), órgão subordinado ao MEC (Ministério da Educação), a convite do antropólogo Edgard Roquette-Pinto. “Infelizmente, parte desse imenso acervo se perdeu por problemas de conservação, mas é possível ter acesso a 80 deles, que estão espalhados entre o acervo da Cinemateca Brasileira e o CTAV (Centro Técnico Audiovisual da Funarte)”, escreve Brandão.

O jornalista conta que seu primeiro contato com filmes de Humberto Mauro ocorreu com o curta “A Velha a Fiar” (1967), pequena obra-prima de realização, cheia de humor e brasilidade. “Dos longas, só conheço fragmentos, dos quais destaco trechos de ‘O Descobrimento do Brasil’ (1937), com trilha sonora de Villa-Lobos”, afirma.

Brandão diz que continua difícil ver os filmes de Humberto Mauro. Como parte da comemoração dos 65 anos da Cinemateca do MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), o jornalista assistiu aos filmes do cineasta na plataforma Vimeo (programação completa em www.vimeo.com/mamrio) ao documentário “Humberto Mauro”.

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