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Folha de S. Paulo: Eleição na Câmara vai definir apoio de empresários a Bolsonaro

Estratégia de vacinação é uma das críticas dos acionistas das principais empresas brasileiras

Bruna Narcizo, Folha de S. Paulo

A eleição da Câmara dos Deputados vai definir quais serão os rumos políticos que os empresários que estão descontentes com a gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) irão escolher.

O presidente tem recebido duras críticas, inclusive de apoiadores, pela demora na aprovação da agenda de reformas econômicas.

O descontentamento foi agravado pelas decisões tomadas pelo governo federal com relação às medidas feitas para mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus e, sobretudo, na condução da compra das vacinas.

Na avaliação deles, no entanto, caso a eleição, que ocorre no dia 1º de fevereiro, seja vencida pelo deputado Arthur Lira (PP-AL) —candidato do Planalto e favorito ao pleito—, a agenda econômica proposta pelo ministro Paulo Guedes (Economia) terá mais chance de avançar.

A vitória de Lira e a aprovação das medidas acalmariam os ânimos do empresariado brasileiro. Apesar das crescentes críticas a Bolsonaro, muitos seguem apoiando as propostas econômicas de Guedes.

Na hipótese de vitória do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), candidato que tem o apoio do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do PT, os empresários enxergam que a agenda teria mais dificuldades de ser aprovada, o que poderia tornar o apoio ao presidente insustentável.

Folha conversou com grandes empresários que são acionistas das principais empresas da indústria, do entretenimento, dos serviços e do varejo, muitos com a condição de que seus nomes fossem mantidos em sigilo, e nenhum deles acha que um eventual impeachment está posto na mesa.

E que um cenário como o que ocorreu com Dilma Rousseff (PT), que sofreu debandada da classe empresarial após a vitória de Eduardo Cunha (MDB-RJ) para o comando da Câmara —em oposição ao governo da petista—, é um panorama ainda distante. Dilma sofreu impeachment em 2016.

Neste momento, nenhum dos empresários com os quais a reportagem conversou, mesmo aqueles que desde o início não são simpáticos ao governo, apoia um pedido de impeachment. Dizem até que o impedimento não pode ser usado como artifício para destituir presidentes que não estejam fazendo o que a população espera.

Porém, tudo vai depender do andamento das reformas, que, na visão dos empresários, serão fundamentais para a recuperação e o aquecimento do ambiente econômico, que está em uma situação muito delicada em razão da crise deflagrada após a pandemia.

Não tenho decepção nenhuma com o Bolsonaro. Nem eu nem meus amigos. Se ele conseguir um presidente da Câmara decente, vai conseguir aprovar as reformas ou parte delasJoão Carlos Camargo

Dono da Alpha FM

Camargo costuma reunir em sua casa candidatos e políticos e recebeu o apresentador Luciano Huck para um jantar com outros 20 empresários em novembro do ano passado.

O empresário afirma ainda que Maia não deu andamento adequado às reformas que já foram apresentadas.

Ainda assim, além do ambiente econômico, também vai pesar na avaliação dos empresários a condução na vacinação da população contra a Covid-19.

Existe uma preocupação quase unânime com a demora nas medidas tomadas pelo governo sobre esse tema —muitos já reclamaram publicamente.

É o caso de Horácio Lafer Piva, da Klabin. Segundo ele, o governo colhe o que planta.

“Não se muda em dias as bobagens que se vem fazendo por meses, seja na negação, incompreensão ou desorganização. Um espetáculo burlesco se não fosse tão triste. Os empresários estão de mangas arregaçadas, muita gente ajudando, uma rara unanimidade quanto à necessidade de envolvimento, mas a importância do poder público é fundamental.”

Piva afirma que parte do trabalho dos empresários tem sido convencer o governo quanto ao sentido de urgência. “Os números falam por si.”

O QUE QUEREM OS EMPRESÁRIOS

  • Redução do Custo Brasil Esse custo é o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas do país. Entre outros, pedem segurança jurídica, crédito e juros baixos
  • Reforma administrativaTrata do funcionalismo público. A proposta foi enviada pelo governo à Câmara dos Deputados em setembro do ano passado, mas segue sem previsão de análise
  • Autonomia do Banco Central Projeto de lei já foi aprovado pelo Senado em novembro e está na Câmara. Prevê mandato para o presidente e diretores da instituição, novas regras para suas demissões e também apresenta novas atribuições para a autoridade monetária
  • Concessões e privatizaçõesO atual governo esta há dois anos no poder sem vender estatais. Há uma série de concessões previstas para 2021
  • Pacto FederativoA PEC do Pacto Federativo, texto criado pela equipe de Paulo Guedes para cortar despesas e abrir espaço para outros gastos, já sofreu críticas do presidente Bolsonaro e está pendente de análise no Legislativo
  • Redução da dívida públicaNo Brasil ela superou 90% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020 e já há projeções indicando que chegará a 100% do PIB
  • Respeito ao teto de gastosO teto é visto pelo mercado como âncora fiscal do país. Há pressão no Congresso para que ele seja flexibilizado
  • Combate à Covid-19Os empresários cobram imunização coletiva imediata. O Brasil, porém, segue atrás de outros países na vacinação da população e enfrenta dificuldades na importação de vacinas e insumos​

O descontentamento também atingiu entidades que representam setores nacionais. Tanto é que dois manifestos endereçados ao governo federal foram publicados na semana passada.

Na terça-feira (19), 22 entidades publicaram um anúncio intitulado “Prioridade para Todos os Brasileiros”. Nele, entidades como a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) e a Associação Comercial de São Paulo pedem prioridade no ajuste fiscal e respeito ao teto de gastos.

Na segunda-feira (18), a Coalizão Indústria, que reúne 14 entidades industriais do Brasil, lançou um manifesto pedindo a aprovação de reformas que ajudem na redução do chamado custo Brasil.

Foram os membros da Coalizão que, em maio de 2020, andaram ao lado de Bolsonaro e ministros do governo até o Supremo Tribunal Federal para apelar pela redução de medidas restritivas impostas no início da pandemia.

Um dos membros da Coalizão é José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), que também participou da caminhada com o presidente em maio.

“A perspectiva era que 2021 seria um ano melhor. Mas estamos começando com muitas dívidas e com o atraso da vacinação. O governo de São Paulo até fez um trabalho correto, mas não é suficiente para o Brasil todo”, diz Roriz.

A vacinação tem sido uma das principais preocupações dos empresários. Já há até grandes grupos dispostos a doar vacinas para o SUS (Sistema Único de Saúde).

Uma proposta nesse sentido foi feita em uma reunião com membros do governo federal organizada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) no dia 13 deste mês.

Na ocasião, a proposta foi recusada pelo governo, mas a Folha apurou que já existem empresas se movimentando nesse sentido.

Segundo pessoas envolvidas nas negociações, há dois tipos de proposta: a das empresas que querem comprar vacinas e doar a totalidade para o SUS e a das que querem comprar para vacinar seus funcionários e doar uma outra parte.

Há ao menos um grande banco entre as empresas que estão verificando a possibilidade de compra de imunizantes.

As negociações, no entanto, ainda estão em um estágio muito prematuro.

Existe uma urgência entre os empresários com relação à imunização de seus funcionários. A maior parte da força de trabalho reúne pessoas com idade entre 20 e 50 anos —grupos etários que não são prioritários para receber a vacina contra o coronavírus.


Adriana Fernandes: Por que se calam?

Na elite do nosso empresariado, não tem dia D nem hora H. É S, de silêncio

Desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro e apoiadores, sempre quando confrontados sobre a negação da realidade da covid-19, saem com o discurso de que “economia é vida” e que o Brasil precisa voltar à normalidade mesmo diante de um cenário de contaminação e mortes.

Em maio, no pico inicial da doença, Bolsonaro atravessou a Praça dos Três Poderes na direção do Supremo Tribunal Federal acompanhado de um grupo de empresários para fazer pressão para que as medidas restritivas nos Estados fossem amenizadas.

Os empresários que estavam junto com o presidente naquele dia pregavam a volta dos negócios o mais rápido possível e a flexibilização do lockdown nas cidades porque, na visão deles, comprometia a recuperação econômica. A pandemia continuou e estímulos bilionários do governo federal garantiram os negócios (não houve, porém, a contrapartida de um planejamento sério para a boa prática de distanciamento social). A atividade econômica começou a se recuperar.

Sem um planejamento nacional para a segunda onda e a vacinação em massa, o Brasil jogou todo o esforço no lixo no “curto-prazismo”. Os brasileiros assistem assombrados o colapso do sistema de saúde de Manaus e o risco de uma crise nacional de falta de oxigênio.

Assim como a saúde está colapsando, será muito difícil a economia não escapar desse mesmo destino. O País não pode seguir também o negacionismo econômico. Muito tempo foi perdido esperando as eleições municipais. 

Já sabemos que os políticos querem esperar as eleições da Câmara e Senado e só pensam em emendas, cargos... O que farão para impedir que o colapso do Amazonas chegue às cidades dos seus Estados, enquanto negociam votos na eleição do Congresso?

Sabemos também que o governo federal quer esperar a vitória dos seus dois candidatos (deputado Arthur Lira e senador Rodrigo Pacheco) para agir com as medidas econômicas. 

Desde o dia de 15 de dezembro, quando o Estadão manchetou que a equipe econômica estudava a antecipação do 13.º para aposentados e pensionistas do INSS e do pagamento do abono salarial (uma espécie de 14.º salário a trabalhadores que ganham até dois mínimos), assistimos variações sobre os mesmos temas, além de liberação de FGTS e suspensão de impostos. Nada de concreto. 

Já as grandes lideranças empresariais, os representantes das grandes confederações, CEOs de grandes conglomerados, banqueiros se encolheram. Não há nenhuma mobilização empresarial para evitar o pior. No máximo, doações que servem para aparecer bem na fita, de preferência no Jornal Nacional

Acham mesmo que tem como dar certo para a economia continuar aguardando para ver no que dá sem uma ação rápida. A retomada não vai continuar do mesmo jeito. Depois, sem dúvida alguma, serão pródigos em bater na porta do governo para pedir subsídios, redução de impostos, Refis generosos e socorro financeiro da viúva. 

Nos mais de 20 anos de cobertura econômica em Brasília, esta colunista já viu de tudo em matéria de pressão empresarial. Na última semana, a mais sofrida da pandemia até aqui, na agenda oficial do ministro Paulo Guedes não houve sequer uma reunião com empresários. 

O que teve mesmo foi um encontro virtual realizado do outro lado da Esplanada, no Ministério da Saúde, com 28 empresários ligados à Fiesp sobre a campanha nacional de vacinação contra a covid-19. O Ministério da Economia não estava lá. Foram falar da importância da vacina para a retomada, mas não se viu nenhuma declaração contundente depois do encontro.

Reportagem do Estadão mostrou que os Ministérios da Saúde, Comunicações e Casa Civil foram taxativos: a vacinação ficará a cargo do governo, que garantiu ter imunizantes para toda a população. Ouviram, segundo relatos, que o governo já tem cerca de 500 milhões de doses contratadas. Como acreditar se nem dois milhões de vacinas da Índia estão garantidos? As poucas falas empresariais sobre o encontro foram todas de bastidores. 

Por que se calam aqueles que costumam ser tão barulhentos? Na elite do nosso empresariado, não tem dia D nem hora H. É S, de silêncio.


Folha de S. Paulo: Empresários recuam em onda de apoio a Bolsonaro para não se expor

Discrição busca evitar impacto negativo nos negócios e falas que prejudiquem vitória

Joana Cunha, da Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A despeito do relativo consenso do empresariado em torno da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência, empresários que vinham se expondo publicamente ao lado do capitão reformado nos últimos meses agora decidem adotar posição mais discreta.

Meyer Nigri, acionista da construtora Tecnisa, Flávio Rocha, da rede de moda Riachuelo, Sebastião Bomfim, da varejista esportiva Centauro, e Salim Mattar, da locadora Localiza, são alguns dos que passaram a lidar com o tema com cautela, apesar de terem acenado a Bolsonaro durante a campanha em diferentes graus de entusiasmo.

O recuo é apenas formal, não significa que decidiram anular ou guinar seus votos para Fernando Haddad, até porque um dos principais fatores que os aglutina com Bolsonaro é o temor de que o PT, se eleito, possa derrubar a reforma trabalhista.

Trata-se agora de uma discrição, muito parecida com o que levou a equipe de campanha de Bolsonaro a rejeitar a participação em debates e cercear as falas do assessor econômico Paulo Guedes e do vice Hamilton Mourão.

A poucos dias da previsível vitória, com a liderança disparada do candidato nas pesquisas eleitorais, o que se quer evitar são declarações despreparadas que possam atrapalhar o candidato, como ocorreu antes do primeiro turno, quando vazou, de uma palestra de Guedes, que a CPMF, o antigo imposto do cheque, estava em análise.

Qualquer "escorregão ou palavra mal colocada" na reta final pode prejudicar, disse um dos empresários sob condição de anonimato.

Mas há outras razões.

Alguns afirmam que se precipitaram ao vir a público desde o início da campanha manifestando apoio a Bolsonaro sem medir as consequências, afirma outro peso pesado do empresariado brasileiro.

A falta de clareza nas propostas e o desafino de Bolsonaro em questões caras ao setor produtivo, como Previdência e privatizações, já alimentam o receio de que aliar o nome, com muita assertividade, ao do candidato pode gerar cobranças em caso de eventuais fracassos de um futuro governo.

Outras motivações para a discrição atual variam desde uma preocupação com a segurança da família até o receio de perder vendas diante da violenta polarização no país.

Sebastião Bomfim, que declarou voto em Bolsonaro e recebeu em troca um vídeo de agradecimento gravado pelo próprio candidato, passou a evitar o assunto.

Procurado pela Folha, não quis se manifestar e enviou nota em nome da Centauro, dizendo que a rede "não apoia nenhum candidato".

O comunicado distancia a Centauro das declarações de Bolsonaro consideradas homofóbicas: "A empresa abraça a diversidade e valoriza a liberdade de pensamento".

A rede recebeu ameaças de boicote nas redes sociais após Bomfim declarar seu voto.

Rocha, que em agosto participou de evento ao lado do candidato e chegou a ser cortejado com a hipótese de um ministério, calou-se. Procurado por meio de sua assessoria de imprensa na quinta-feira (18), não quis confirmar ou negar apoio ao candidato.

Nigri, da Tecnisa, foi um dos primeiros apoiadores explícitos. Em entrevista à revista piauí, declarou apoio e ainda disse que vários judeus simpatizavam com Bolsonaro.

Seu movimento de recuo começou em fevereiro, depois que a fala foi malvista por parte da comunidade judaica.

Procurado pela Folha na quinta-feira (18) para comentar o assunto, Nigri retirou formalmente o endosso por meio de nota, afirmando que "não apoia nenhum candidato".

Outro entusiasta da candidatura bolsonarista, Mattar chegou a defender o voto útil em Bolsonaro para que a vitória tivesse vindo já no primeiro turno. Nesta semana, não se manifestou.

Olegário Araújo, pesquisador do FGVcev (Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getulio Vargas), diz que a polarização da sociedade pode se refletir no comportamento do consumidor.

"Tem de preservar os clientes, e o empresário não quer desgaste. A economia já não vai bem, as margens das empresas estão apertadas, as promoções não estão fazendo efeito. Imagine colocar ingrediente político?", diz Araújo.

No caso da Riachuelo, que vende roupas femininas, a ligação de Rocha a Bolsonaro poderia ser mal interpretada por parte das consumidoras que rejeitam o presidenciável.

O catarinense Luciano Hang, das lojas de departamento Havan, um dos maiores apoiadores de Bolsonaro no setor privado, lamenta ser um dos poucos que "não têm medo de dizer o que pensa".

O envolvimento de Hang nesta campanha é mais incisivo. Ele foi multado em R$ 10 mil pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em agosto por ter contratado serviço de impulsionamento de publicações no Facebook para expandir o alcance de vídeos favoráveis a Bolsonaro.

Reportagem da Folha desta quinta mostrou que a Havan é uma das empresas que compram pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp, prática ilegal de doação de campanha.

Na outra ponta do espectro político, a chef Helena Rizzo, do restaurante Maní, publicou, na véspera do primeiro turno, foto de apoio ao #EleNão, que repudia Bolsonaro.

Enfurecidos, clientes convocaram boicote ao restaurante, o que levou a chef a pedir desculpas.


Miriam Leitão: Fuga para o Planalto

O grande risco com o Lula não é o radicalismo. Ele nunca foi radical, tanto que, como disse em entrevista na última semana: “Esse mercado injusto que nunca me agradeceu com o tanto que ganhou.” Deveria também ter cobrado gratidão das empresas em geral, porque nos 13 anos do governo petista os benefícios para o capital foram de 3% do PIB para 4,5% ao ano, um aumento, ao PIB de 2015, de R$ 90 bilhões.

Na entrevista, em que convidou um grupo de jornalistas para um café da manhã, o ex-presidente disse: “Eu não tenho cara de radical, nem o radicalismo fica bem em mim.” De fato. Não é esse o problema. O risco Lula é institucional. Já condenado em primeira instância, réu em mais 5 processos, denunciado em outros, sua estratégia é a fuga para o Planalto, único local onde poderá escapar de todas as ações, todas as investigações, onde terá autoridade sobre a Polícia Federal, e poderá minar o poder do Ministério Público. O Brasil se transformará num país em que a impunidade será coroada se o réu chegar à Presidência da República.

Ele tem usado a candidatura como defesa nas ações a que responde na Justiça. Provavelmente calcula que quanto maiores forem suas intenções de voto mais inatingível ficará, mais poderá usar a versão de que é um perseguido político.

Contudo, a Justiça terá que decidir diante das provas e dos autos e agora a palavra está com o TRF-4. Mesmo na hipótese de ser absolvido, há outros processos contra ele. Lula se define como uma pessoa “mais conhecida que uma nota de R$ 10”, e tenta usar essa notoriedade para se blindar. Vai se aproveitar do tempo jurídico e das muitas possibilidades recursais em seu favor. “Se eles cometerem a barbaridade jurídica de me condenar tenho ‘n’ recursos para fazer, e vou continuar viajando.”

A Justiça Eleitoral tem aceitado, inexplicavelmente inerte, à campanha presidencial antes da hora. Também nada faz contra a descarada campanha de Jair Bolsonaro. Isso cria a distorção de punir quem cumpre a lei, e favorecer quem a ofende. “O mundo é dos espertos”, disse recentemente o técnico Renato Gaúcho, do Grêmio, ao ser apanhado espionando adversários com drones. A tese do técnico tem se confirmado porque as intenções de voto colocam Lula e Bolsonaro nos primeiros lugares. Pelo visto, bobo é quem cumpre a lei eleitoral.

Ao dar os primeiros toques do que seria seu programa, ele, de novo, recorre à demagogia. “Por que o povo pobre tem que pagar mais imposto de renda do que o povo rico. Por que o rentismo não paga imposto de renda sobre o que ele ganha? Por que a gente não pode começar a pensar em uma política tributária em que as pessoas mais humildes paguem menos e os mais aquinhoados paguem mais? Por que não se coloca em prática a questão do imposto sobre as grandes fortunas? Parece radicalidade, mas não é.” Faltou uma pergunta: por que em 13 anos, quatro meses e 11 dias de governo, o PT não teve tempo de fazer o que ele propõe? Fez o oposto. As deduções de imposto para os grandes grupos e setores empresariais, as transferências através de empréstimo subsidiado, a elevação da dívida pública para aumentar em meio trilhão a capacidade de o BNDES dar crédito barato para grandes empresas, como JBS, grupo X, Odebrecht e outros, foram as grandes marcas dos governos petistas na economia. O programa econômico executado por ele e sua sucessora foi regressivo. Gastou-se mais dinheiro público com os muito ricos.

Lula prepara os truques com os quais vai responder às suas incoerências. Culpou o PT pela foto que tirou com Maluf. “Quando Haddad foi candidato a prefeito em 2012 eu estava com câncer, inchado e foram me tirar de casa para uma fotografia com Maluf.”

Ele se comporta como se o país tivesse amnésia coletiva. Propôs mudar tudo através de uma Constituinte, acusando a “elite”de ter feito uma nova Constituição desde 1988. O PT governou em quase metade desse tempo. Critica a atual gestão da Petrobras como se não tivesse acontecido nas gestões petistas o maior escândalo de corrupção da história do país.

Há todos os disfarces e truques de sempre, a demagogia costumeira, mas estes não são os maiores riscos, e sim um fato de que ele tem contas a acertar com a Justiça e tenta, como defesa, a fuga para a Presidência da República.