Diário do Poder

Roberto Freire: Ultraje a Nelson Mandela

“Free Mandela” foi uma palavra-de-ordem que correu o mundo.

O significado era duplo: liberdade para o líder sul-africano e ao mesmo tempo “libertemos Mandela”, um imperativo de consciência.

Lula – com a concordância de muitos lulopetistas – anda se comparando ao ex-presidente da unificada África do Sul.

Seus apoiadores mais empedernidos lançaram a campanha “Lula livre”, mirada no que aconteceu ao ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1993.

Mandela foi preso pela intolerância do apatheid; Lula é só um preso comum, por corrupção.

Mandela foi encarcerado em decorrência de sua luta contra o apartheid na África do Sul. Lula, por chefiar a corrupção sistêmica nos governos lulopetistas e por dela se beneficiar pessoalmente, segundo o entendimento da 13ª Vara Federal de Curitiba e do Tribunal Federal Regional da 4ª Região, de Porto Alegre. E não cabem mais recursos no mérito do julgamento, mas apenas na ritualística do processo do Triplex do Guarujá.

Mandela liderou o Congresso Nacional Africano – CNA – na época da segregação racial e da supremacia branca na África do Sul. Lutou pela universalização dos direitos civis em seu país.

Os crimes pelos quais Lula começou a cumprir pena aconteceram quando o Brasil vivia o Estado Democrático de Direito, no maior período da história do Brasil sob o império da democracia.

Mandela, encarcerado, manteve a luta contra o apartheid por 27 anos e comandou a transição para uma democracia, em que foi vitoriosa a bandeira “um homem, um voto”.

Lula tenta politizar sua condição de preso comum, como se sua liderança popular e realizações de seus governos lhe outorgassem passaporte para a impunidade.

Os crimes de que Mandela foi acusado – pleitear a igualdade jurídica entre todos os habitantes de seu país – o fizeram tornar-se uma personalidade mundial, reconhecida em todas as latitudes, como um herói da luta pelos direitos humanos.

Os crimes de que Lula é acusado foram, são e serão crimes em qualquer quadrante do Planeta. Não há um só país que aceite a corrupção como sistema de construção de alianças políticas e de obtenção de vantagens pessoais. Não há país que, em sua legislação, autorize chefes de governo a liderar o saque a recursos públicos e a beneficiar-se pessoalmente dessas ações.

Mandela teve a grandeza de unir os cidadãos e cidadãs de seu país em uma democracia imperfeita como qualquer outra, mas destituída da segregação e separações em decorrência da cor da pele e das características físicas das pessoas.

Não restou a Mandela qualquer revisão de seus objetivos de vida. Quanto mais se joga luz sobre seu passado, mais esse ser humano especial merece a consideração de todos.

Quanto mais se joga luz sobre a vida de Lula, a política e mesmo a pessoal, mais se evidenciam os indícios e provas de sua participação – e obtenção de benesses pessoais – na apropriação privada dos recursos públicos, pelo seu partido, por muitos do seu entorno e pelo próprio, nos mecanismos de corrupção sem precedentes na história de nosso país e, provavelmente, do mundo.

Mandela agora faz parte da história e tem um legado político e pessoal admirável, ontem, hoje e no futuro.

O mesmo não pode se dizer do sr. Luís Inácio Lula da Silva, que passará muitos anos de sua vida nas malhas da justiça criminal comum. Seu horizonte é de, no máximo, colaborar com a Justiça e reconhecer seus erros, para obter alguma complacência.

Comparar Nelson Mandela a Lula é um acinte à memória do líder sul-africano e, em decorrência, à honra de todos os lutadores pelos direitos humanos e demais causas sociais e humanitárias.

Nenhum humanista, nenhum democrata, pode aceitar impassível tamanha estultice. (Diário do Poder – 30/07/2018)


Roberto Freire: Romper a inércia

Na quinta-feira passada, 28 de junho de 2018, houve um ato em São Paulo, no Teatro Eva Herz, pela unidade das forças democráticas e reformistas. Foi representativo.

Havia lideranças de todos os quadrantes do campo democrático e republicano, além de representantes das candidaturas de Geraldo Alckmin, Marina Silva e Álvaro Dias.

Alguns citaram o quadro das pesquisas eleitorais, que desde janeiro está praticamente inalterado.

Relativizo as pesquisas. Perguntar a eleitores em quem votariam para presidente, fora do período eleitoral propriamente dito, sem que as candidaturas a governador, senador, deputados federais e estaduais estejam estabelecidas de fato e de direito, sem o alinhamento dos prefeitos e vereadores Brasil adentro, sem que as diversas organizações e entidades da sociedade civil tenham se definido, sem propaganda eleitoral, sem que as pré-candidaturas possam se mostrar plenas nas redes sociais, só pode colher resultados de baixa serventia para a definição de rumos.

O que efetivamente as pesquisas têm mostrado é que a grande maioria do eleitorado está sem candidato.

E mais, praticamente todas as pesquisas mostram que há uma rejeição aos extremos.

O que os levantamentos indicam também, à farta, preocupante, é uma negação e rejeição generalizada à política e aos políticos.

Nesse sentido, todos os candidatos e candidatas do campo democrático e republicano têm chances eleitorais aproximadas, se o que hoje é apontado vier a valer em 7 de outubro próximo, o que eu duvido, baseado em minhas quase seis décadas de vida política.

O que fazer agora? Precisamos sair do discurso genérico da unidade, para a prática da unidade.

Sugeri, em Brasília, quando do lançamento do Manifesto “Por um polo democrático e reformista”, que os presidentes dos partidos ali presentes se reunissem, para dar sequência.

Proponho um pacto. O pacto é a proclamação aos quatro ventos do desejo de um rumo unitário, com a escolha clara dos adversários, o bolsonarismo e o lulopetismo.

O pacto é, todos sentados à mesa, estabelecermos critérios objetivos para o afunilamento das candidaturas desse campo.

Pesquisas valem algo? Valem, sim, sobretudo aquelas que peçam indicações de candidaturas e de rejeição, espontaneamente declaradas. Valem as pesquisas que façam os eleitores apresentarem características dos candidatos em quem votam ou votarão.

Palanques também valem. E muito. A capilaridade da campanha, nos quase seis mil municípios brasileiros, pode se revelar mandatória.

Coligações também contam para o tempo radiotelevisivo, para recursos e para o alargamento das possibilidades de votações. Alguém duvida?

O pacto também deverá conter o desejo publicamente manifesto dos pré-candidatos de se oferecerem como o polo da unidade, mas que também estejam dispostos a se incorporar na pré-campanha que vier a se manifestar como a de maior alcance e perspectiva de vitória, já no primeiro turno, segundo os critérios mutuamente acordados.

O pacto também deve visar o dia seguinte às eleições de outubro. Precisamos dar posse, em 1º de janeiro, a um governo que tenha condições de pacificar o país e recolocá-lo nos trilhos, em comunhão com o novo Congresso eleito.

Sobre a mesa, falo claramente, defendo que cheguemos a pontos essenciais, mínimos, basilares, em torno da democracia, da república e do social.

Estamos praticamente a cem dias para o pleito de outubro. Nossa meta de curto prazo é a conquista segura de um lugar no segundo turno para a candidatura mais viável do polo democrático e reformista.

Temos de romper a inércia e jogar unitariamente o campo democrático, republicano, reformista e da justiça social no lugar onde ele será imbatível, nas ruas. O quanto antes.


Roberto Freire: A desnecessidade do voto impresso

Recebo questionamentos sobre a lisura das urnas eletrônicas, que seriam sanados com o voto impresso.

As suspeitas partem de duas origens.

Algumas pessoas percebem o erro em que incorriam, após os devidos esclarecimentos.

Outros têm dolo.

Após o voto ser depositado na urna, reza nossa Constituição, ele não pode ser identificado, para nenhum propósito.

Essa interpretação acaba de ser confirmada, acertadamente, pelo Supremo Tribunal Federal.

Para que as diversas fases da votação, transmissão, apuração e proclamação dos resultados fossem fraudadas, seria necessário um monumental esquema, que abrangesse todos os juízes do Tribunal Superior Eleitoral, todos os juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais, todos os funcionários públicos envolvidos no sistema eleitoral, todos os peritos técnicos indicados pelos partidos para fiscalizar os mecanismos eletrônicos, enfim, todas as instituições envolvidas antes, durante e depois das eleições.

Enviamos dados altamente sigilosos do nosso imposto de renda por processos eletrônicos; toda a movimentação financeira do país, estatal e privada, dá-se no mundo digital; as pessoas adquirem bens e serviços por cartão de crédito e débito ou por boletos, eletronicamente pagos; todas as peças dos processos que tramitam no STF – e nos tribunais superiores e em tribunais de outras instâncias – estão no mundo digital, com as devidas assinaturas eletrônicas.

Ora, se todo esse mundo digital impera e ninguém reclama, põe sob suspeição ou se rebela contra ele, qual a razão da desconfiança justamente das urnas eletrônicas?

Uns chegam a dizer que elas não são auditáveis.

Não há computador que não possa ser auditável.

Os peritos técnicos das polícias brasileiras conseguem desvendar mecanismos de extrema complexidade, nas apreensões que fazem nas entranhas da corrupção, quando recolhem computadores e dispositivos eletrônicos. De onde se pode deduzir que não teriam capacitação para auditar urnas eletrônicas?

Se fraudes existissem, os principais prejudicados, os partidos e candidatos, seriam os primeiros a gritar.

Não há um único inquérito, de partido ou de candidatos, que questione os resultados de eleições acontecidas em qualquer nível, desde meados dos anos noventa, quando o processo informatizado foi instalado.

O que se quer questionar não é o voto eletrônico, mas sim todo o processo eleitoral e, por tabela, nossas instituições.

Se o resultado apurado das eleições não for o pretendido por certo candidato e certos grupos, estaria dado o pretexto para tentativas de minar a legitimidade das eleições e de instituições democráticas. Estariam abertas as portas a aventuras golpistas.

O Brasil é país dos mais avançados no mundo, não tenhamos complexo de vira-latas, em processos eleitorais, no que toca à votação, transmissão, apuração e proclamação dos resultados.

Países de nível mais avançado de desenvolvimento adotam processos eletrônicos similares e outros, manuais, os mais diversos.

Tais escolhas têm a ver com os usos e costumes, com as tradições e com suas legislações.

Nos Estados Unidos, por exemplo, há estados com urnas eletrônicas e outros com processos completamente manuais. A legislação eleitoral é diversa, estado a estado. Em muitos lugares, votam-se leis e se fazem consultas, acopladas às eleições propriamente ditas. Não seria possível, naquele país, um processo eleitoral com urnas eletrônicas unificadas nacionalmente.

O questionamento mais famoso em relação à sistemas de votação se deu justamente nos Estados Unidos, na Flórida, nas eleições de 2000, entre George Bush e Al Gore. E lá a votação era 100% manual, em papel.

O Brasil têm, a nosso favor, uma legislação eleitoral unificada, válida para todas as eleições, em todos os níveis.

Tem também a competência técnica das universidades, da indústria e do funcionalismo público federal, no caso particular das urnas eletrônicas e de todo o processo envolvido.

Nisso, desculpem-me os possuidores do complexo de vira-latas, somos estado da arte.

Os que questionam o processo eleitoral totalmente eletrônico não se batem exatamente contra ele. Bater-se-iam mesmo se fosse manual. Inventariam um pretexto qualquer.

Os que questionam o processo eleitoral informatizado não têm a menor possibilidade de sucesso no retorno a um passado que vulnerabilizava a vontade do eleitor nas urnas.

Nesse terreno, nossa democracia não deve em nada a nenhuma outra do Planeta. E não regredirá.


Roberto Freire: A Copa pode virar

Em 1950, no Maracanã com 200 mil pessoas, o Uruguai derrotou o sonho brasileiro de sermos campeões mundiais de futebol.

Foi uma comoção nacional. Havia gente chorando pelas ruas.

Oito anos depois, na Suécia, os canarinhos de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Vavá e daquele menino de 17 anos, Pelé, encantaram o mundo e trouxeram a Taça.

Vivíamos os anos JK, da construção de Brasília, da instalação da indústria automotiva, dos primórdios da Bossa Nova, da MPB e do Cinema Nacional voltado para as coisas do Brasil.

“A taça do mundo é nossa… com brasileiro… não há quem possa” cantava a nação, quando o escrete vitorioso desfilava, junto com multidões, pelas ruas do Rio de Janeiro, então capital federal.

Vivemos atualmente uma revolta surda contra a Copa do Mundo na Rússia.

Isso se deve, em parte, pela ducha de água fria que os 7 x 1 impuseram à nossa alma futebolista. Foi um choque de realidade, como poucos. Não éramos mais o que já tínhamos sido.

Se deve, também em parte, à corrupção que esteve presente na construção de arenas da Copa de 2014 e em obras de infraestrutura urbana. Os estádios elefantes-brancos são um monumento ao acinte.

A revolta surda se deve, principalmente, à frustração que se sucedeu ao pós-impedimento de Dilma Rousseff.

O governo Temer, a solução constitucional para a retirada do lulopetismo do poder central, na figura incompetente e cúmplice da corrupção, que foi Dilma Rousseff, não conseguiu fazer uma transição sentida pela população brasileira, em direção aos reclamos nacionais. O desemprego e o aperto financeiro ainda são sentidos pelas parcelas majoritárias da população.

Reconheço que houve avanços, tanto no estancamento das sangrias generalizadas, quanto da saída da recessão.

Está, porém, à vista de todos à fragilidade do governo de transição, prisioneiro de formas muito antigas de fazer política.

Nesse sentido, a frustração vicejou entre os brasileiros e se expressou, perigosamente, no apoio sem rumo à greve/locaute dos caminhoneiros, agora progressivamente substituído pela reação às consequências do desabastecimento e da tentativa de golpe.

A seleção de Tite, caso obtenha vitórias no rumo da conquista da Copa da Rússia, pode mudar o humor nacional.

Precisamos, sim, de esperança. As eleições de 2018 estão aí, para que, das urnas, saia um governo democrático e reformista legitimado para dar seguimento à recuperação econômica, avançar no resgate à enorme dívida social e assegurar a democracia e a república.

Outubro de 2018 ainda dista longuíssimos 4 meses.

Nesse ínterim, as vitórias dos amarelos, verdes e azuis, que parecem bastante prováveis, poderão lavar nossa alma futebolista. Afinal, ainda somos o único pentacampeão mundial e seguimos sendo respeitados pelos adversários, por todos eles, em razão dos atletas de ponta que teimamos em produzir, em escala.

A seleção canarinha poderá também contribuir para a melhoria do humor nacional, para a recuperação da brasilidade, no sentido de que todos nos toleremos e nos respeitemos e tenhamos alguns valores em comum. Poderá ajudar no resgate à autoestima.

Afinal, continuamos a ser um dos maiores e mais promissores países do planeta, com um gente misturada que, só junta, poderá realizar o que é desejável seja nossa vocação enquanto país e povo.

Torço pela seleção brasileira, agora um pouco mais.


Roberto Freire: O legado a defender

O discurso dos “intervencionistas” se baseia na tentativa de apagar o fato de que houve uma ditadura militar no Brasil.

A censura, as cassações, as torturas e assassinatos não passariam de propaganda vermelha.

Os governos dos generais teriam instaurado um paraíso que foi depois destruído por uma centro-esquerda sob hegemonia dos comunistas, que, fruto da Constituinte de 88, criaram um país onde grassou a corrupção. Teria havido a consequente destruição do Éden.

Tamanha mistificação histórica – e manipulação – seria ridícula, se não houvesse quem acreditasse piamente nela. E se não houvesse as centrais de sua difusão, em particular nas redes sociais e nas novas mídias, em particular o Whatsup.

Na Alemanha dos anos 30, os nazistas, Adolf Hitler à frente, conseguiram, em um país que aparentemente era possuidor de cultura política, ganhar os corações e as mentes da maioria da população para a culpabilidade dos judeus, dos comunistas, dos ciganos e dos homossexuais, e dos políticos em geral, por todas as mazelas do planeta.

Apresentavam, como solução para que a Alemanha fosse o Paraíso na Terra, o fim da democracia liberal, a ditadura do iluminado por Deus, ao lado da supremacia racial dos arianos.

Os intervencionistas atualizaram pouco o discurso nazifascista.

É a política como um todo as culpada até pela imprevisibilidade da estação das chuvas. Todos os políticos, propagam os intervencionistas, são corruptos. A política, como um todo, é nada mais nada menos do que a busca dos interesses mais escusos.

Os “técnicos”, leia-se, os militares, seriam a salvação da lavoura. Tudo o mais pertenceria ao reino satânico do caos.

Tal discurso seria mera sandice se não fosse assumido por muitas pessoas, de diferentes regiões do país, de diferentes extratos sociais e de escolaridade diversa.

Parte dessa “aceitação” de valores tão xucros e primitivos se deve à incultura nacional.

Ainda somos um país de baixa escolaridade média, que lê pouco, com um nível de informação política que deixa muito a desejar, até se formos comparados a vizinhos latino-americanos.

Parte também se deve à reação ao lulopetismo, useiro e vezeiro na visão totalitária de que só havia um lado, o do bem, do progresso, da virtude, em que se perfilavam os seguidores de Lula e Dilma, contra todos os que não comungassem com o que pensavam, com seus propósitos e com o que faziam. Vive-se uma reação em contrário.

Outra parte, temos de ter a coragem de dizer, deve-se à criminalização da política, promovida por gente que se arvora arauta da integridade, da civilidade e porta-voz do bem, acima dos conflitos.

Precisamos cortar o mal pela raiz. Intervencionismo é crime.

Há uma Constituição em vigor, amparada no funcionamento de instituições democráticas, dela decorrentes.

Os militares profissionalizaram-se ao longo das últimas décadas e assumiram plenamente suas funções constitucionais.

Os setores saudosistas da ditadura, dentre os fardados, existem como existem na sociedade em geral, mas são claramente minoritários e representam um pensamento marginal nas Forças Armadas, sem expressão na hierarquia.

Temos mazelas enormes em nosso país, mas podemos nos orgulhar, a nossa geração, de ter como grande legado a plena vigência das liberdades, há exatos 33 anos.

Os nossos problemas, por maiores e mais graves que sejam, só se resolvem no leito da democracia e da república, o único que permite a pluralidade de pensamento, a diversidade em todos os planos, a alternância de poder e a consequente liberdade para a busca da redução das desigualdades.

Essa é a compreensão que os intervencionistas querem destruir, a qualquer custo.

Não podemos subestimar o pensamento reacionário, antidemocrático.

A Alemanha dos anos 30 deve nos servir como exemplo de que a subestimação da besta-fera nazifascista foi o melhor caldo de cultura para que ela prosperasse.

Há também o ensinamento sobre a divisão dos defensores da democracia. Os comunistas, sob a orientação de Stálin, elegeram a socialdemocracia como inimiga, deixando que as hostes nazistas frutificassem, soltas.

Aos democratas de todos os quadrantes cabe-nos a tarefa de defender, com a veemência necessária, o legado da luta contra a ditadura militar, luta que, afinal, resultou no império das liberdades democráticas e das garantias individuais, um bem inestimável que temos de transmitir para nossos filhos e netos.


Roberto Freire: Em defesa da ordem democrática

O governo negociou e atendeu às reivindicações dos grevistas dos transportes.

Não houve a contrapartida necessária, por parte dos manifestantes, com a volta dos caminhões às rodovias e estradas e a retomada do abastecimento.

Desnudou-se o caráter do movimento grevista.

Na primeira nota do movimento, reivindicava-se, como primeiro item, o voto impresso nas eleições de 2018.

Tal reivindicação nada tem a ver com a natureza das questões envolvidas nos transportes, mas sim, com a plataforma de determinado candidato de ultradireita, em nada interessado nas reivindicações específicas dos caminhoneiros e mesmo de empresas do setor.

Ontem, governo e grevistas chegaram a um acordo, cujo mérito não é escopo deste artigo discutir agora.

Já durante a negociação, determinada liderança ausentou-se, alegando desconfiança no governo.

Exigia garantias de que o Congresso aprovaria a eliminação de determinado imposto. Ou seja, queria o Congresso, Senado e Câmara ajoelhados diante do que se proclamou representar.

Restou demonstrado que há interesses turvos, que não querem negociar, apenas almejam desestabilizar a democracia.

Não cabe tergiversar com quem coloca em risco à democracia e nossas liberdades.

Só democrata desavisado imagina que do desabastecimento generalizado, que uma greve como essa provoca, as instituições do Estado de Direito se sustentam e se fortalecem.

Nunca é demais lembrar da tragédia chilena com a deposição de Allende e instauração da ditadura de Pinochet. Tudo começou com uma greve de caminhoneiros.

O governo federal acaba de tomar as medidas acertadas para restabelecer ordem e defender a população, sempre a maior vítima de qualquer desabastecimento. E mais com a determinação de respeitar o acordo estabelecido com o comando do movimento grevista.

Não cabe vacilação.

Os democratas devem dar todo apoio às medidas anunciadas pelo governo federal que, dentro da legislação do Estado de Direito Democrático, possam garantir o pleno exercício das liberdades e dos direitos da cidadania brasileira.


Rubens Bueno: O BNDES deu PT

Imagine um país com R$ 1,2 trilhão para investir em desenvolvimento. Esse é o sonho de qualquer governante compromissado com o fortalecimento da economia, com a melhoria da infraestrutura e com a geração de milhões de empregos no país. Pois foi justamente essa montanha de dinheiro que os governos do PT, capitaneados pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, tinham em suas mãos. E o que fizeram? Jogaram na lata do lixo dos campeões nacionais da corrupção.

Quem acompanha mesmo de longe o desenrolar da operação Lava Jato conhece bem que fim levaram os irmãos Batista, da JBS Friboi, Emílio e Marcelo, da construtora Odebrecht, e o empresário Eike Batista, do Grupo EBX. Financiados a juros reduzidos com o trilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), corromperam políticos, abasteceram caixas dois de campanha e remeteram recursos para o exterior sem gerar uma das principais contrapartidas que um banco de fomento tem que exigir: a geração de empregos.

A JBS Friboi fechou dezenas de frigoríficos no Brasil e direcionou grande parte de suas operações para o exterior. A fantasiosa EBX de Eike Batista faliu e deve bilhões ao BNDES e outros credores. A Odebrecht, diante dos escândalos de corrupção, está mal das pernas. E, como resultado disso, milhares de trabalhadores dessas empresas foram parar no olho da rua.

Hoje, cabe perguntar ao PT: Qual benefício, além da corrupção, trouxeram ao Brasil os “amigos do Rei” que hoje “está nú” em uma cela da Polícia Federal em Curitiba?

Se havia pelo menos a remota intenção de melhorar ao menos um pouco a vida dos brasileiros com essa política de investimentos públicos em empresas que já eram grandes, ao invés de fomentar pequenas e médias, isso não se configurou.

Se pegarmos o avanço da renda per capita brasileira veremos que entre 1994 e 2016, ela cresceu 31%, menos que a média dos países da América Latina e no Caribe, cujo índice avançou 37%. Diante dos países emergentes, onde o Brasil está incluso, a vergonha é ainda maior. Nesse grupo o aumento do PIB per capita foi de 152% no mesmo período. Já as nações desenvolvidas cresceram 42%.

Na prática, o BNDES, nas mãos do Partido dos Trabalhadores, deu prejuízos ao país. Como se diz quando um carro é inutilizado num acidente de trânsito, o BNDES deu PT. Perda Total.

* Rubens Bueno é deputado federal pelo PPS do Paraná.


Roberto Freire: Tratores e armas

Na última quarta-feira, na AgroBrasília, uma feira de negócios da agropecuária, a imprensa questionou dois pré-candidatos à Presidência, sobre o centro de suas propostas para o campo, se possível, em uma única palavra.

O candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, resumiu: armas.

Geraldo Alckmin, o candidato que pode unificar as forças democráticas, foi preciso: tratores.

O Brasil já disputa o pódio como o maior produtor de alimentos.

O agronegócio tem sido o principal responsável pela recuperação da economia, depois do desastre das gestões populistas capitaneadas por Lula e sua ungida.

Só no ano passado, o setor cresceu 13%, o que assegurou o 1% do crescimento do PIB, após quatro anos de recessão.

É o principal responsável pela queda da inflação a patamares inimagináveis há pouco. Isso significa mais comida no prato das famílias brasileiras e custos internos menores, o que aumenta a competitividade de nossos produtos lá fora.

É, o agronegócio, o principal gerador de divisas.Nossas pecuária e lavouras detêm o maior índice de produtividade do Planeta.

Ocupam, juntas, tão somente 8% do território brasileiro.

Para se ter uma idéia, as agriculturas e a pecuária da Dinamarca, Irlanda, países Baixos e Reino Unido, cultivam 74,8%, 74,7%, 66,2% e 63,9% dos respectivos territórios.

66% das nossas matas nativas estão preservadas. Não há, no sistema solar um único país já ou quase desenvolvido que ostente cifra de tal magnitude.

Para que isso aconteça, são necessários muita ciência, tecnologia e inovação para combinar crescimento da produção com preservação da natureza; muita indústria para suprir de implementos e equipamentos o setor; muita engenharia financeira para municiar crédito para a produção rural; muita infraestrutura para exportar e para levar a produção para o Brasil continental.

Não subestimo a violência rural, nem urbana. Ela se combate com a lei, com o aparelhamento das instituições estatais, enfim, com investimentos na Segurança Pública, jamais com armas nas mãos da população.

Geraldo Alckmin governou um Estado vitorioso na simbiose entre agronegócio, a indústria, a infraestrutura, a engenharia financeira e a ciência e tecnologia. Sabe do que está falando. Tem muito a mostrar.

O agronegócio é algo sério e não pode ser tratado com populismo e por populistas, seja de que quadrante for.

Nós, democratas, republicanos, cultivadores do pluralismo, da diversidade e lutadores pela justiça social, vemos o agronegócio como uma conquista do Brasil contemporâneo, que tem de ser preservado e alçado a novos patamares, com muita ciência, tecnologia e inovação com muita sustentabilidade e com muita integração com um mundo para alimentar.


Roberto Freire: Lulopetismo, um misto de Stálin e santa inquisição

Assisti “7 DIAS EM ENTEBE”, de José Padilha, o cineasta brasileiro de maior sucesso, nacional e internacionalmente, na atualidade.

Eu conhecia a história e os fatos. Tinha visto alguns documentários e lido a respeito.

Trata-se de uma obra autoral, baseada em fatos, não um documentário.

Vê-se o dedo do autor, que, evidentemente, constrói uma narrativa pessoal, da qual se pode concordar ou discordar.

Assisti o filme como cinema, não como história.

Padilha é um mestre. Na sequência final, o ataque das tropas especiais ao Aeroporto onde estavam os reféns israelenses, o confronto com a dança, fez a plateia do cinema parar de respirar.

José Padilha procedeu da mesma forma, em sua filmografia, na qual destacam-se “ÔNIBUS 174”, “TROPA DE ELITE 1”, “TROPA DE ELEITE 2” e os recentes “7 DIAS EM ENTEBE” e a série do Netflix “O MECANISMO”.

O lulopetismo, diante de “O MECANISMO”, que tem como pano de fundo a operação LAVA-JATO, reagiu de forma a revelar as entranhas de sua ideologia totalitária.

Essa corrente atacou o mérito de “O MECANISMO”, convidou ao boicote e satanizou, pessoalmente, José Padilha.

O stalinismo marcou-se por ditar as regras pelas quais toda a arte e a cultura deveriam se pautar, a elegia do coletivo, do socialismo em sua concepção soviética e do que considerava os valores do “novo homem” e na adoração do supremo líder.

Assim também procedia o nazismo, em sua louvação da superioridade da raça ariana, do elogio à infabilidade do chanceler e ao que considerava serem seus valores supremos.

Também procedem assim os fundamentalistas islâmicos e de toda sorte de religião, nas teocracias que excluem todos que não rezam pela exata cartilha do Estado e dos sumos sacerdotes.

Todas essas correntes totalitárias são, necessariamente, punitivas.

A Santa Inquisição medieval condenava à morte, à execração, às masmorras e ao desterro todos os que não seguissem exatamente os cânones do que então pensava o Vaticano.

O lulopetismo, ao atacar o mérito da obra de José Padilha, em “O MECANISMO” e buscar execrá-lo pessoalmente, revela-se ao mesmo tempo stalinista e adepto da Santa Inquisição.

Uma das maiores conquistas da Civilização é a liberdade do indivíduo frente ao Estado, ao governo, às Igrejas, às religiões, aos partidos e a toda sorte de instituições.

No plano da Cultura e das Artes, o artista, o intelectual tem de guiar-se única e exclusivamente por sua consciência, seus anseios e seus talentos.

Suas obras não podem ser dirigidas nesta ou naquela direção. Não podem ser promovidas ou boicotadas devido ao que seus autores expressam ou deixam de expressar.

Agi assim, quando Ministro da Cultura do governo Temer.

Incentivos governamentais não podiam seguir quaisquer ditames que não fossem as exigências técnicas e de capacitação dos que as pleiteavam.

Enfrentei resistências, tenho de confessar, à montante e à jusante.

Ser radicalmente democrata e republicano exige, no território das artes e da cultura o irrestrito respeito à liberdade individual de criação.

É desnecessário dizer que, se houver infrações à legislação do Estado Democrático de Direito, à posteriori existem as leis e tribunais, para que direitos de eventuais prejudicados possam ser defendidos, se for o caso.

O totalitarismo não é privativo da esquerda lulopetista.

Veja-se o caso de exposições artísticas, contra as quais setores da sociedade que se proclamam arautos das virtudes se rebelam, para que sejam fechadas em todo ou em parte.

Ambos os extremos, à esquerda e à direita, se encontram não só na rejeição à democracia e à república, mas também na censura e punição a tudo que lhes questiona e escapa a seus cânones.

O totalitarismo é necessariamente avesso à diversidade, sobretudo de pensamento.


Gaudêncio Torquato: As ondas eleitorais

O campo eleitoral costuma ser movimentado por ondas. Que circulam de cima para baixo e de baixo para cima, absorvendo climas, circunstâncias, discursos e canalizando esse conjunto de inputs na direção de potenciais perfis, principalmente candidatos a pleitos presidenciais. Em face da competitividade alcançada pela eleição deste ano, a atenção maior se volta para aqueles que pleiteiam o assento no Palácio do Planalto, razão porque figurantes estaduais, a poucos meses antes do pleito, não ganham tanta projeção quanto os protagonistas presidenciais.

As ondas ganham o empuxo do momento, empurrando para cima perfis que parecem responder às demandas imediatas da sociedade. As demandas, por sua vez, reúnem anseios, expectativas, frustrações do povo para com governantes e suas políticas, e contextos que levam em conta heranças do passado e esperanças do eleitor em relação ao futuro.

No caso do Brasil, a leitura do momento exibe um país que afundou na maior recessão econômica da história; a ascensão de um novo governante sob a decisão congressual de afastar a presidente; reformas – teto de gastos, trabalho, educação, terceirização etc- não suficientemente explicadas e entendidas pela sociedade; o maior processo de investigação da corrupção em todos os tempos, com envolvimento de altos empresários, políticos e governantes; prisão do líder mais populista do país; tentativa de um partido de tornar vítima seu líder maior e, dessa forma, retornar ao centro do poder, depois de 13 anos de comando do país; indignação social contra a classe política; volta de uma polarização do discurso que tem como lema “nós e eles”; dispersão do campo político; situação falimentar de Estados e Municípios; extrema violência que assola os quatro cantos do país; e precarização dos serviços públicos.

Essa é a moldura que está por trás dos agentes que se apresentam como pré-candidatos em outubro próximo à Presidência da República. Sob a influência de alguns traços do cenário, o eleitor faz suas primeiras escolhas. De um lado, um partido organizado, com militância aguerrida, que proclama todo tempo ter sido responsável pelo “melhor governo que o Brasil já teve em todos os tempos”, sem abrir ouvidos ao maior rombo do Tesouro por eles provocado no governo da presidente impichada. O “Salvador da Pátria”, mesmo preso, continua sendo elevado aos píncaros da glória, graças ao carisma que ainda detém. O que explica a margem histórica de 30% que lhe dão pesquisas de intenção de voto. De outro lado, emerge a figura que faz o papel de contraponto, um perfil de extrema direita, ex-militar que sustenta o discurso da ordem contra a bagunça, sob os lemas de “bandido bom é bandido morto”, “soldado bom é aquele que mata”.

Jair Bolsonaro, pois, é empurrado para o alto pela temperatura ambiental, enquanto Luiz Inácio está, como esteve antes, sendo impulsionado pela onda petista, muito forte mesmo contra ventos que levam o petismo para a profundeza oceânica. Será que ambos sustentariam seus índices até outubro? Lula está praticamente fora do jogo, eis que, mesmo sendo solto, deverá entrar na lama do ficha-suja. Tudo indica que será impedido pelo TSE e seu substituto não levaria seus votos. Bolsonaro representa a sociedade indignada, mas não o voto mais consciente e racional das maiores parcelas das classes médias. Terá poucos segundos de TV para fazer sua campanha.

Estamos divisando outras ondas carregando Joaquim Barbosa, Marina Silva e Ciro Gomes. Ondas revoltas. Quando o mar estiver menos agitado, será razoável supor que outros perfis poderão ascender na escada eleitoral. A decisão do eleitor muda segundo as circunstâncias. Por enquanto, os ventos do outono puxam os perfis. Aguardemos a ventania do inverno e o sopro do verão.

* Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação


Roberto Freire: Intervenção já apresenta resultados

Engana-se quem diz que a intervenção federal no Rio de Janeiro se deu às pressas, resultado de algum ímpeto presidencial para buscar reconhecimento junto à população, quando dos festejos de Momo.

Quero lembrar a vocês as declarações do Ministro Torquato Jardim, no final de outubro do ano passado, ao jornalista Josias de Souza.

Ele disse que as autoridades federais diagnosticavam que o governador Pezão não mais controlava a PM, cuja cúpula já estava associada ao crime organizado.

Falou também que as milícias cresciam celeremente sua participação no narcotráfico, em detrimento do crime organizado tradicional.

O Ministro da Justiça avaliou que a situação fluminense só começaria a mudar quando houvesse troca no comando político no Estado.

Foi uma comoção, com veementes protestos de autoridades locais e até federais, algumas das quais hoje se encontram nas malhas da Justiça.

Alguns críticos e opositores da intervenção argumentam que não houve um plano detalhado.

Como poderia haver, se toda a cadeia de comando dos órgãos e corporações responsáveis pela Segurança Pública no Rio de Janeiro estava em mãos comprometidas e detinham e manipulavam as informações necessárias a qualquer planejamento?

Diz-se, no Nordeste, que um saco fica de pé pela cabeça.

Foi necessário um ato presidencial que decretasse a intervenção na segurança pública fluminense, para que tivesse início a reversão desse quadro.

O general Braga Netto, nomeado interventor diretamente ligado à Presidência da República, iniciou a troca de comandos na Secretaria de Segurança Pública, nas cúpulas da PM e da Polícia Civil e na administração penitenciária. Houve, a partir daí acesso a informações realistas, despidas do róseo que antes era pintado, em flagrante contraste com a percepção que as sociedades fluminense e brasileira tinham do que se passava no Rio de Janeiro.

Decorrem cerca de dois meses, desde que o general Braga Netto assumiu a intervenção.
Os resultados já são sentidos, tais como as prisões inéditas na cúpula anterior da segurança pública no Estado, a nomeação de novos dirigentes e a reorganização mínima dos efetivos.

Tão somente no próprio curso dos acontecimentos poderia ter sido obtido um diagnóstico verdadeiro e ser feito um planejamento com os pés colados no chão, dotado de credibilidade.

E, não menos importante, deu-se início à reorganização das polícias e da administração penitenciária, bem como da Secretaria Estadual de Segurança Pública, com base nos servidores públicos insuspeitos de comprometimento com o crime organizado.

Ressalto algo inédito, no período, a prisão de uma centena e meia de milicianos, no começo deste mês, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro.

Nesse meio tempo e em grande parte em reação à intervenção federal, aconteceu a covarde e brutal execução da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Silva.

Decorrem pouco mais de 5 semanas do crime hediondo. As investigações correm em segredo e prosperam.

As provas materiais obtidas pelo trabalho de inteligência da Polícia Civil fluminense, com forte apoio federal, apontam na direção das milícias, informam as autoridades da intervenção.

Vale destacar o comportamento das pessoas mais próximas a Marielle Franco, como sua companheira de vida, a arquiteta Mônica Thereza Benício, a família da ex-vereadora e alguns de seus correligionários do PSOL fluminense.

Ainda bem que eles têm adotado uma postura correta em relação às apurações do atentado. Denunciam o crime como um atentado político à democracia e exigem rápida e profunda apuração, ao mesmo tempo em que colaboram com as investigações.

Tal comportamento vai na contramão da estultice de setores da esquerda, incluída a direção nacional do próprio partido da ex-vereadora, que se posiciona contra a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro e até pede sua anulação no Supremo Tribunal Federal.

O objetivo da intervenção federal é o de reorganizar e reaparelhar o aparato estatal repressivo fluminense para o combate efetivo ao crime organizado, tanto aquele oriundo do tráfico tradicional, quanto a nova praga, que se espalha, as milícias. Tendo em mente tal finalidade, há avanços inequívocos.

Um dos mais importantes efeitos da intervenção federal no Rio de Janeiro é a construção das condições políticas, materiais, metodológicas e de inteligência, para que o Ministério Extraordinário da Segurança Pública possa atuar em unidade com governos estaduais na repressão eficaz ao crime organizado, sem que necessariamente se replique a intervenção federal em outras unidades da Federação.

O caminho do enfrentamento do crime organizado, no Rio de Janeiro e no conjunto do país, é longo e passível de sérias turbulências.

Torço para que não aconteçam no Rio de Janeiro e no Brasil novos atentados, expressão tresloucada de um crime organizado que começa a ser posto em xeque.

Com honestidade intelectual, não há outra conclusão possível, senão a de que avança em eficácia a intervenção federal no Rio de Janeiro, sobre um terreno minado e muito complexo.


Roberto Freire: Lula preso. Vamos falar de futuro

Após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, neste fim de semana, condenado na Lava-Jato, não está em jogo somente o destino de um político ou de um partido.

É o quer fazer crer parte de uma militância com sua narrativa de que há uma motivação política para excluir Lula do processo eleitoral.

Assim, o lulopetismo tenta salvar a todo custo e de todas as formas – com as poucas armas que lhe restam, como a espetacularização midiática –, uma esquerda descompromissada com a democracia e sem real interesse em promover reformas no Brasil.

O que vem sendo chamado de política identitária é a identificação pessoal com um candidato, como um valor mais importante do que suas propostas, programas e coerência.

Isso resume o autoritarismo político e a obsessão do lulopetismo em vulnerabilizar, com um discurso coletivo, os indivíduos que, confusos, buscam um salvador para lhes devolver a confiança perdida.

O lulopetismo se apropriou das premissas da defesa do progresso da humanidade, dos direitos humanos e da libertação dos grilhões da pobreza, para reduzir a luta por um mundo mais justo à defesa de um indivíduo apenas.

A transferência simbólica da sede do PT para Curitiba concretiza, enfim e literalmente, a morte anunciada: o PT, está agora encarcerado em Curitiba com Lula.

Sem opções, o PT volta às suas origens, tratando as instituições vigentes e ordens judiciais sob uma lógica de assembleia de sindicato, como nos velhos tempos de São Bernardo do Campo, resultando no isolamento que escancara seu próprio ocaso, enquanto força política expressiva na vida nacional.

Não estamos mais falando de um País dividido.
Reconheço a importância histórica da prisão de Lula diante de um Brasil tão estarrecido quanto esperançoso por respostas.

Tudo indica que o próximo passo deve ser a aceleração das apurações, nos diversos processos e inquéritos em que estão atolados o ex-presidente e seu entorno, especialmente as lideranças de outras agremiações partidárias.

Avançam a aprovação de mudanças na legislação penal e o fim do foro privilegiado, tal como existe hoje, por pressão da sociedade e iniciativas do Supremo Tribunal Federal, que já produziram projetos em tramitação no Congresso (PECs).

Paradoxalmente, o impacto deste fato histórico no cenário político e nos sentimentos de toda população brasileira – emanados dos perfis das plataformas digitais em tempos de profundas transformações –, nos mostram novos caminhos.

Não se passa um País a limpo sem que se coloque o dedo na ferida. O Brasil depende fundamentalmente disso para o seu desenvolvimento em todos os aspectos. Apesar de tudo, não estamos órfãos e, pelo menos, não vimos desabar nossas aspirações pela busca de um futuro melhor.

Tudo isso me faz pensar na temática da identidade nacional.

Sobre este tema, cujas pesquisas têm sido cada vez mais recorrentes nos meios acadêmicos nacionais e internacionais, vale trazer da memória a atualidade de Mário de Andrade.

O autor do romance Macunaíma aposta numa ideia de Brasil como unidade composta de diversidades, levando em consideração a contribuição de diversos setores da sociedade.

Surge a necessidade pungente da volta de uma inteligência nacional, expressa em um projeto que reagrupe em seu seio diversas correntes conexas e que se torne o agente de progresso social que a sociedade brasileira tanto reclama.

Conclui-se que este momento é emblemático: trata-se de uma oportunidade excepcional para a emancipação e, por que não dizer, para o resgate da vida, da alegria e da vontade de mudar as coisas, de alguma esperança para a construção de um futuro melhor. Enfim, de gerar um novo olhar para o mundo, só possível em um ambiente de militância democrática e de pluralismo.