Brexit

Monica De Bolle: Guerra de atrito

Em um embate público — como uma guerra ou uma barganha política —, há sempre uma terceira parte envolvida que influencia o toma lá dá cá indiretamente

Em 2016, a polarização crescente pariu o Brexit e a vitória de Donald Trump. Em 2019, o nacionalismo deturpado responsável pela composição genética desses dois eventos transformou-se naquilo que estrategistas militares, matemáticos e economistas chamam de guerra de atrito. Dito de modo simples, a guerra de atrito é a tentativa de ganhar uma batalha — seja na esfera política, no âmbito da negociação privada, ou no campo militar — exaurindo o oponente por meio de um período prolongado de perda de recursos. Na esfera política, os recursos perdidos são o capital político e o apoio do eleitorado; nas negociações privadas, os recursos perdidos são geralmente financeiros; no campo militar, os recursos perdidos são armamentos e soldados. Sai “vitorioso” da guerra de atrito o lado que possui mais recursos ou que tem mais capacidade de aguentar as perdas prolongadas, contínuas e exageradas. Não é difícil construir cenários em que o lado “vitorioso” acaba amargando perdas maiores do que os ganhos de ter vencido a guerra.

Para entender o Brexit e a birra de Trump pelo muro que fechou partes do governo americano, é útil formular estrutura simples para reflexão. Em uma barganha privada, onde as partes envolvidas tentam obter concessões umas das outras, impasses são geralmente resolvidos com perdas e ganhos racionalmente distribuídos.

Em um embate público — como uma guerra ou uma barganha política —, há sempre uma terceira parte envolvida que influencia o toma lá dá cá indiretamente.

Esse terceiro participante é a população, ou o eleitorado. Considerando apenas o embate político, quando o eleitorado está mais alinhado ao centro ideológico, a batalha entre extremos acaba envolvendo concessões de ambas as partes, o que quebra eventuais impasses de forma mais rápida. Para os que conhecem a literatura técnica sobre o assunto, esse resultado é uma espécie de corolário do teorema do eleitor mediano — o teorema afirma que, se o eleitor mediano for representativo das posições ideológicas da população, prevalecerão medidas e agendas políticas mais ao centro. O centro é o local que abriga as concessões capazes de quebrar impasses.

Contudo, quando aumenta a polarização do eleitorado, o teorema do eleitor mediano vai para o espaço. Além disso, quando os eleitores e observadores da barganha política estão entrincheirados nos extremos ideológicos, eles tenderão a endurecer as posições daqueles que negociam diretamente, aumentando as chances de uma guerra de atrito. Sob essa espécie de formalização teórica meio simplória, é possível entender tanto as causas do Brexit e do shutdown americano quanto entender por que os impasses dos dois lados do oceano devem não só perdurar, mas acabar gerando perdas muito maiores do que se poderia conceber para todas as partes envolvidas direta e indiretamente.

Theresa May perdeu o voto sobre seu plano para o Brexit após dois anos de intensas negociações com os parceiros europeus porque os defensores e opositores da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) não querem ceder milímetro para o outro lado. Como o plano de May necessita de inevitáveis concessões, foi veementemente rechaçado pelos engalfinhados na guerra de atrito, o que não isenta a primeira ministra de críticas a sua atuação. No embate entre a UE e a Grã-Bretanha, parece que a ilha tem mais a perder do que o continente, o que aumenta a chance de que em 29 de março, prazo estabelecido para o Brexit, o Reino Unido saia da UE desunido e sem acordo — o pior cenário para todos.

Algo semelhante ocorre aqui nos EUA. Trump esperneou e disse que sem financiamento para o muro não apoiará qualquer medida legislativa para reabrir o governo. Por outro lado, o Partido Democrata, que hoje lidera a Câmara, afirmou que o muro como medida de segurança para a fronteira não faz sentido e que portanto não dará a Trump nenhum tostão a mais do que já fora oferecido. Fortalecidos pelos eleitores de ambos os lados, estão dadas as condições para a guerra de atrito. Como acaba, ninguém sabe. Não é fácil saber qual o lado mais fraco nessa história. Contudo, é certo que o impasse prolongado seguirá uma espécie de princípio de Hemingway: os custos serão lineares e graduais e, subitamente, exponenciais e abruptos. Não é impensável que a economia americana em final de ciclo de expansão acabe sendo duramente atingida, levando consigo o resto do mundo. Araújos à parte, da última vez que conferi, o Brasil ainda fazia parte do resto do mundo.

*Monica De Bolle é diretora de estudos latino-americanos e mercados emergentes da Johns Hopkins University e pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics


Matias Spektor: Duas direitas disputam futuro da democracia brasileira

Diversidade tende a ser disciplinada por uma clivagem fundamental

O campo da direita uniu forças para derrotar o petismo, mas a aliança nunca foi óbvia ou natural. Para acontecer, ela demandou que várias facções se resignassem ao peso eleitoral de Jair Bolsonaro.

Com o governo empossado, a disputa entre esses grupos voltará à superfície. Mas, desta vez, toda a diversidade da direita brasileira tende a ser disciplinada por uma clivagem fundamental.

De um lado, a direita formada na esteira da globalização. Trata-se de um grupo de talho liberal. Em política, seu compromisso maior é com o constitucionalismo, o Estado de Direito e a garantia de liberdades individuais e das minorias.

Na economia, essa turma vê no mercado e na abertura ao mundo os melhores mecanismos para lutar contra os grupos de interesse que inviabilizam o controle do gasto público.

Em relações internacionais, esse grupo advoga por instituições globais com peso suficiente para contrapor a força centrífuga dos nacionalismos. Para esse pessoal, o nacionalismo é usado por grupos que lutam para manter o Brasil arcaico como escudo de proteção de privilégios.

Do outro lado, está a direita conservadora. Hoje democrática, ela prega eleições livres e competitivas e dá provas de que pode ganhá-las com folga. Seu compromisso maior é com os ideais de nação, família tradicional e fé cristã. Ela rejeita o multiculturalismo, a normalização da família não-tradicional e a laicidade —marcas distintivas da direita liberal.

Em política exterior, a direita conservadora rechaça organizações internacionais por vê-las como títeres de uma elite global comprometida consigo mesma, ao arrepio das maiorias eleitorais de cada país soberano. Para esse pessoal, o nacionalismo é condição necessária para um mundo mais estável, justo e afluente.

A direita conservadora brasileira não é nova, é claro. Só que sua posição durante o longo condomínio tucano-petista foi periférica. Agora, ela volta com a autoconfiança de quem sabe ser parte de uma onda transnacional, da mão de Donald Trump (Estados Unidos), Viktor Orbán (Hungria) e Bibi Netanyahu (Israel).

Se a direita liberal é cosmopolita e tecnicista, a conservadora é nacionalista e populista. Nos últimos 30 anos, ambas provaram ter capacidade de ganhar no voto. Também foram capazes de costurar uma aliança entre si. Mas seus propósitos são irreconciliáveis.

Sua batalha agora é sentida na arena institucional do novo governo. Economia e Justiça por um lado. Educação, Relações Exteriores e Direitos Humanos por outro.

O fiel da balança será o establishment militar, onde há liberais e conservadores.

O resultado desse embate definirá o futuro da direita e da democracia brasileira, que poderá ser liberal ou não.


Bruno Boghossian: O abismo da política e o perigo dos governos zumbis

Trump e 'brexit' servem de alerta sobre os entraves às plataformas de campanha

O Reino Unido tem uma líder morta-viva, segundo a oposição. Theresa May continua no cargo de primeira-ministra, mas sofreu uma derrota humilhante em sua articulação para tirar o país da União Europeia. “Não há dúvida de que este é um governo zumbi”, disse Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista.

O impasse a que chegaram os britânicos e a paralisia provocada nos EUA pelo conflito sobre a construção do muro na fronteira com o México são exemplos práticos de choques de expectativas políticas.

May se tornou primeira-ministra depois da surpreendente votação a favor do “brexit”. Donald Trump ganhou tração entre os americanos com seu discurso anti-imigração. Os dois tomaram impulso nas urnas e tentaram um salto, mas havia um abismo entre a plataforma eleitoral e as medidas concretas.

Parecia decidido que o Reino Unido daria uma guinada em 2016, quando 51,9% dos eleitores decidiram que o país deveria deixar o bloco europeu. May assumiu o poder para implantar o processo de saída, mas não conseguiu entregar o produto.

Após dois anos de derrotas e embates com o Parlamento, a população se frustrou. Atualmente, 59% dos britânicos dizem que preferem ficar na UE, segundo pesquisa do YouGov.

Resultados eleitorais podem dar a governantes vitoriosos uma sensação prazerosa de onipotência, mas o duro trabalho de negociação e o próprio sistema de contrapesos da política costumam quebrar o encanto.

Trump emergiu da eleição como um líder improvável, mas popular. Agora, enfrenta a maior paralisia de serviços públicos da história dos EUA devido à recusa do Congresso em dar aval a uma de suas mais emblemáticas promessas de campanha: a construção do muro de US$ 5,7 bilhões entre o país e o México.

A vitória de Jair Bolsonaro foi comparada aos triunfos do “brexit” e de Trump, já que o brasileiro também explorou a plataforma de rejeição ao establishment para se eleger. Britânicos e americanos mostram que é preciso enfrentar o mundo da política.


Clóvis Rossi: 'Brexit' é exemplo de quando o populismo machuca

Não há versão da saída da UE que aumente a prosperidade britânica

A Organização Mundial da Saúde bem que poderia promover uma campanha mundial de anúncios do tipo daqueles que aparecem nos maços de cigarro, para avisar que o populismo nacionalista faz mal à saúde. Faz mal à saúde mental, econômica, financeira, política, psíquica.

Há pelo menos meia dúzia de exemplos que podem ser mencionados, mas fico no mais espetacular do momento, que é a saída do Reino Unido da União Europeia.

O triunfo do “brexit” no plebiscito de 2016 foi atiçado por uma coleção de falsidades sobre as vantagens de deixar a comunidade de países europeus. Mexeram com os instintos nacionalistas.

Sempre achei que o exercício do direito de votar teria um efeito pedagógico. Quanto mais o cidadão vota, mais consciente ele fica e, portanto, faz escolhas mais sensatas. Aí, veio o “brexit” e, em seguida, a eleição de Trump e destruíram minha ingênua convicção.

Dois dos países que praticam o esporte democrático há mais tempo conseguiram cometer absurdos impensáveis.

No caso do Reino Unido, breve repasso aos males que esse ataque populista/nacionalista está provocando: na área política, a rejeição ao plano da primeira-ministra Theresa May para deixar a UE de maneira mais ou menos suave representou “uma monumental humilhação, um chocante repúdio de tudo o que a primeira-ministra trabalhou para alcançar e um completo colapso de sua estratégia”, como escreveu no Financial Times o colunista Robert Shrimsley.

Quando a chefe de governo sofre tal colapso, é óbvio que a política fica ferida de morte. Ainda assim, May sobreviveu a um voto de desconfiança, o que só faz aumentar o desarranjo generalizado.

Pior: não há saída sem traumas. Sair sem acordo “causaria turbulência para a economia, criaria barreiras para a cooperação em segurança [com os parceiros europeus] e prejudicaria a vida cotidiana das pessoas”. Quem o diz é a própria Theresa May (no discurso em que tentou infrutiferamente convencer o Parlamento a aprovar a sua proposta de saída).

Mesmo uma ruptura nos termos combinados entre May e a UE causaria perda de 3,9% na renda nacional no longo prazo, comparada com a permanência no bloco. Ou, como resume Philip Hammond, o responsável pelo Tesouro: não há versão da saída da UE que aumente a prosperidade britânica.

Resta a versão que é cada vez mais mencionada: um segundo plebiscito. Seria uma traição à democracia, ao rejeitar um resultado decidido pela maioria do eleitorado (maioria rasa, é verdade, mas maioria)?

O ex-primeiro-ministro John Major (aquele que substituiu a icônica Margaret Thatcher) acha que não: em artigo para o Sunday Times, Major lembra, primeiro, que apenas 37% dos britânicos votaram pela saída. Os restantes ou queriam ficar ou nem apareceram para votar.

Logo, não houve uma maioria que justificasse o salto no vazio.

Para Major, seria “moralmente condenável” a saída sem acordo: “O custo para nosso bem-estar nacional seria pesado e de longa duração. Pular de um penhasco nunca é um final feliz”.

Jonathan Freeland, no Guardian, vai mais ou menos na mesma linha ao dizer que o Parlamento britânico está “dando o espetáculo de um país perdido e à deriva”. O pior é que há outros países em que o populismo nacionalista pode levar à beira do penhasco. Preciso dizer quais?


Luiz Carlos Mendonça de Barros: A globalização sob ataque

A eleição inesperada de Donald Trump reforçou a percepção de que vivemos um forte sentimento de questionamento das condições econômicas e sociais criadas pelo fenômeno da globalização. Uma das causas mais importantes do inesperado sucesso de Trump foi o apoio que sua mensagem de volta a um passado glorioso para a América obteve na sociedade. Ora, volta ao passado glorioso implica naturalmente reconhecer que por trás do voto de protesto exercitado por 40% dos americanos está o repúdio ao fenômeno da globalização econômica e tudo que ela representa para uma parcela importante da classe trabalhadora, que vem se marginalizando, na última década principalmente.

Esta conclusão sobre o sucesso de Trump na última eleição ainda representa uma posição minoritária entre os analistas, mas faz todo o sentido para mim. Por isto é preciso aprofundar a reflexão sobre este fenômeno pois, se ele de fato ocorreu, estamos diante de um evento da maior importância para o futuro da economia mundial. Afinal, todo o arranjo institucional nas relações comerciais, entre países e blocos de países, tem como objetivo fortalecer e intensificar sua integração econômica. Ora, se uma parcela importante da população – com força suficiente para eleger um presidente da República – se posiciona contra este movimento então temos um grande problema pela frente.

Se a vitória de Trump foi uma grande surpresa para os mercados financeiros e analistas políticos, podemos dizer que já havia evidências de que este movimento antiglobalização vinha ganhando força na população das economias mais avançadas. O fortalecimento do populismo de direita dos últimos anos na Europa já apresentava traços concretos da revolta de uma classe operária que se marginalizava na proporção que parcela importante da produção industrial se movia, depois da queda do Muro de Berlim, para os países comunistas do Leste.

O único país a enfrentar esta questão com sucesso foi Alemanha, com a combinação de uma reforma trabalhista corajosa e a concentração de sua atividade industrial no segmento de maior valor agregado de produção. Os demais países, principalmente França, Reino Unido e Itália, ficaram imobilizados e passaram a sofrer de forma intensa a desindustrialização por perda de competitividade.

Mais recentemente, com a vitória do Brexit no plebiscito no Reino Unido, o vigor dos movimentos nacionalistas contra a globalização ficou evidente para todos. O “Divided” entre as regiões que mais sofrem com a desindustrialização e as que vivem o lado positivo da globalização deixou marcas claras nas estatísticas eleitorais. Londres de um lado, com mais de 70% de repúdio ao Brexit, em choque com a população das antigas regiões industriais clamando pela volta da antiga Inglaterra industrial do passado. Mesmo o sentimento anti-imigração nestas regiões tem uma motivação econômica, pois as massas de pessoas que sofrem com a fragilidade do emprego e da renda pessoal associam – de forma equivocada – aos trabalhadores de fora do país parcela importante de seu sofrimento.

As primeiras reações dos analistas sobre qual será o desenho operacional do governo Trump têm seguido o mesmo padrão de situações históricas semelhantes a esta, ou seja, racionalizar o comportamento do novo presidente no exercício de seu mandato. Segundo estes, as forças representativas do Partido Republicano, inclusive a parcela formada pelas grandes empresas multinacionais americanas, funcionarão como um poder moderador suficientemente forte para transformar o leão vigoroso que foi eleito em um presidente razoável e tradicional.

Com isto a parte de sua agenda mais revolucionária, inclusive em relação à globalização, seria domada e transformada em medidas mais conservadoras em relação ao status quo. O Nafta seria submetido a uma operação plástica de fachada, mas as regras da busca racional de custos de produção mais reduzidos, em países emergentes como o México e Europa do Leste, serão mantidas.

Particularmente não penso que o governo Trump se desenvolverá desta forma. Nós, brasileiros, conhecemos bem o caso de Lula, que se enquadra com perfeição no perfil de um líder populista e que pode ser usado como uma referência interessante para olharmos para Trump. Lula nos ensinou que os líderes populistas são sempre superficiais em suas análises, pois precisam de conceitos simples para ganhar apoio de seus seguidores. Como contrapartida, a maioria de suas ações não passa pelo crivo de uma análise profunda de consistência no tempo para avaliar os efeitos de longo prazo de suas decisões, sobre a economia principalmente.

Outra característica comum é que, ao longo do tempo, os líderes populistas sempre acabam por agir de acordo com suas ideias básicas de campanha. Pode acontecer que, nos momentos iniciais de seu governo, ocorra um período de acomodação em função da reação dos mercados e das lideranças políticas tradicionais. Este papel coube ao ministro Palocci nos primeiros anos de Lula e algo semelhante deve ocorrer agora com o governo Trump.

Mas ao longo de seu mandato, principalmente quando o apoio popular inicial se esgotar, o líder populista volta sempre à sua agenda até o amargo fim. Não me parece que com Trump vá ser diferente, o que me faz muito pessimista com seu governo. (Valor Econômico – 21/11/2016)

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas.


Fonte: pps.org.br


Luiz Werneck Vianna*: Retomar o moderno, retomar a modernização

Não sairemos desta barafunda infernal com os apertados nós que nos atam ao passado

O denso nevoeiro que até há pouco tempo embaçava a linha do horizonte e nos interditava prever o dia de amanhã começa a desanuviar. Passada a borrasca já se podem contar os perdidos e os salvados, mesmo que os mais estropiados dentre esses não devam esperar uma sobrevida sem sobressaltos. A Olimpíada está conosco e espanta os maus presságios com a festa de confraternização entre povos, que traz consigo o espírito de concórdia de que tanto estamos precisados.

O processo eleitoral se anuncia – esse santo remédio de eficácia comprovada em nossas crises políticas –, e com ele o retorno da política, da discussão sobre que rumos devem ser empreendidos na administração de nossas cidades, que valores e princípios queremos para nortear nossa vida em comum, hora da persuasão de eleitores e de alianças entre os afins. E, quando couber, até entre contrários, do que a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados consistiu num auspicioso primeiro sinal.

Velhos timoneiros de volta a seus postos de comando entoam o velho lema de que navegar é preciso e, lentamente, ainda com destino incerto, tateia-se em busca de uma saída desta barafunda infernal em que fomos envolvidos. Não sairemos dela, contudo, enquanto estivermos prisioneiros dos apertados nós que nos atam ao passado.

O mundo mudou e nós mudamos com ele, e não há caminho fácil pela frente neste século 21 que resiste em começar, como neste episódio regressivo do Brexit, com a maré montante da direita e a ressurgência dos temas da xenofobia, do nacionalismo autárquico e a candidatura presidencial de Donald Trump nos EUA no surrado estilo populista de um Mussolini, inventário de horrores que nos vem do que houve de pior no século passado.

Para o começo do alívio desses nós torna-se necessário reafirmar a velha lição de que somos parte do Ocidente, um outro Ocidente, na caracterização de José Guilherme Merquior em belo ensaio esquecido (Revista Presença, n.º 15, 1988), e de que não devemos cultivar ressentimentos em razão do nosso atraso porque seríamos, de fato, “uma modificação e uma modulação original e vasta da cultura ocidental”. Uma das marcas da nossa originalidade residiria no fato de não termos compartilhado com os europeus o etos da antimodernidade quando a História moderna foi vista como um pesadelo por muitos dos seus intelectuais. Ao contrário, segundo Merquior, o modernismo brasileiro foi percebido em chave otimista, longe da Kulturpessimismus europeia, como um “modernismo da modernização”, tal como presente em Mario de Andrade e confirmada com a ascensão de Juscelino Kubitschek – da prefeitura de Belo Horizonte com a obra da Pampulha à Presidência da República com a criação de Brasília –, quando as agendas do moderno e da modernização caminharam juntas.

O golpe militar interrompeu esse processo benfazejo. Com o novo regime a modernização apartou-se do moderno, que passou a ser reprimido com a intensificação da tutela estatal sobre os sindicatos, com o abafamento das tendências que se vinham acumulando em favor da auto-organização da vida social e com as severas limitações impostas à criação cultural e artística no País, cujos altos preços ainda pagamos. A democratização do País, consolidada com a Carta de 88, concedeu alento ao moderno, mas, a essa altura sem o embalo dos trilhos que antes percorria, ele não teria como se reencontrar com a modernização em razão da pesada herança de desacertos econômicos deixada pelo regime militar.

Sanear a economia foi obra do Plano Real e caberia ao governo do PT levar à frente a agenda do moderno presente nas suas lutas de fundação, respaldadas por importantes intelectuais críticos da modernização autoritária com que se tinha imposto o capitalismo no País, como, entre tantos, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro e Florestan Fernandes. Partido com origem na moderna sociedade civil brasileira, ao se tornar governo, de modo surpreendente e sem apresentar suas razões, o PT logo se converteu em partido de Estado.

Essa conversão coincidiu com a adoção da obra do marxista italiano Antonio Gramsci – desde os anos 1960, influente em círculos da esquerda – como referência por alguns dos seus quadros dirigentes, embora numa versão antípoda das suas concepções originais, ironicamente caracterizada pelo sociólogo Francisco de Oliveira como hegemonia às avessas. Ao invés de os partidos e movimentos sociais dos seres subalternos buscarem a conquista da hegemonia na sociedade civil em nome de suas concepções políticas e ético-morais, credenciando-se assim ao exercício de papéis dirigentes, pela prática levada a efeito pelas lideranças do PT caberia ao Estado (às avessas) instituí-la por cima.

Nessa reviravolta, mais do que abdicar da agenda do moderno, que pressupõe a autonomia dos seres sociais e de suas organizações, o PT alinhou-se sem alarde à tradição da modernização pelo alto que nos vinha da era Vargas, reanimada pelo ciclo do regime militar, em especial sob o governo Geisel, com as escoras do tipo de presidencialismo de coalizão bastarda que praticava e de suas políticas de cooptação dos movimentos sociais.

Sob a presidência de Dilma Rousseff, menos por sua imperícia nas coisas da política, mais pela exaustão da modelagem herdada do seu antecessor, tanto a agenda do moderno se rebelou contra ela – como se constatou nas manifestações massivas de junho de 2013 em favor da autonomia do social – como se lhe escapou das mãos a da modernização com a economia do País parando de crescer.

Estamos não num fim de caminho, mas no da sua retomada. Se o direito ao moderno não pode mais ser arrebatado da animosa sociedade brasileira de hoje, temos também um compromisso inarredável com a modernização que faz parte do nosso DNA.


*Luiz Werneck Vianna: *SOCIÓLOGO, PUC-RIO

Fonte: estadao.com.br


Cristovam Buarque: Assassinato do futuro

Na mesma semana do plebiscito que tirou o Reino Unido da União Europeia, conhecido como Brexit, uma pesquisa feita pelo professor Júlio Jacobo Waiselfisz, coordenador do Programa de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), mostrou que no Brasil são assassinadas 29 crianças por dia, mais de dez mil por ano. Estes dois fatos representam o desprezo pelo futuro.

O Brexit é uma preferência pelo passado; a morte de crianças é nossa Braxit, um assassinato de portadores do nosso futuro. Há décadas, o Brasil faz sua Braxit, sem plebiscito, discretamente, por decisões ou missões silenciosas de seus políticos.

Raras decisões de um povo geraram tantos debates quanto o chamado Brexit. Talvez sejam necessárias décadas para termos pleno conhecimento das consequências desta decisão: ética, o fechamento daquele país aos imigrantes que buscam abrigo contra a pobreza e as guerras em seus países; econômica, perda de investimento e vantagens comerciais; política, isolamento de uma população de 65 milhões de habitantes diante de uma comunidade de 510 milhões; cultural, pela perda da oxigenação promovida pela convivência entre povos; histórica, isolamento em um tempo de inevitável marcha a integração e globalização.

Mas já é possível dizer que foi uma opção da maioria dos britânicos pelo passado. O perfil etário dos eleitores demonstra: 63% com mais de 60 anos votaram pela saída; 73% com menos de 30 anos votaram pela permanência. O futuro queria permanecer; o passado, sair.

A surpresa do voto dos britânicos não surpreende o Brasil. Há décadas, optamos por sair do futuro, preferindo ficar presos ao passado. Nossos investimentos, nossas estruturas não têm preferência pelo futuro, são usados sobretudo para pagar erros e dívidas do passado. Gastamos R$ 500 bilhões por ano com a Previdência e R$ 300 bilhões com a Educação. A maioria dos aposentados ainda recebe menos do que o necessário para atender todas as suas necessidades, mesmo assim, considerando o valor per capita, o passado recebe quase duas vezes mais do que recebe o futuro.

Em 2013, o setor público brasileiro fez um sacrifício fiscal de R$ 2 bilhões somente para promover a venda de automóveis; e de R$ 1,6 bilhões com incentivos fiscais para inovação tecnológica nas empresas. Em 2015, pagamos R$ 502 bilhões de juros por dívidas financeiras contraídas no passado e investimos apenas R$ 68,5 bilhões na construção de infraestrutura econômica no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Gastamos mais com o passado do que com o futuro.

No dia seguinte ao Brexit, os eleitores do Reino Unido iniciaram o movimento por um Brain, uma reunificação com a União Europeia, mas o Brasil continua sem ao menos perceber nossa clara opção por fugir do futuro, nem se propondo a incorporar-se ao futuro: nosso Brain. Para tanto, são necessárias diversas reformas, mas sobretudo cuidar da educação das crianças. Nosso Brain quer dizer cuidar do cérebro de cada criança. (O Globo – 09/07/2016)


Fonte: www.pps.org.br


Brexit: Para Vacca, “crise europeia pode impulsionar novo pacto social na Itália”

Para o presidente do Instituto Gramsci, Giuseppe Vacca, a crise aberta com a vitória do Brexit não fornece motivos para um aumento da depressão, mas sim para um relançamento do projeto constitutivo do Partido Democrático italiano e a ação dos governos democráticos. A situação não é rósea para a esquerda na Itália e na Europa e provavelmente em nenhuma parte do mundo. «Estamos há dez anos diante da necessidade de confrontar a grande depressão, que não é somente uma questão de política econômica, mas também um problema de déficit das instituições política supranacionais”, diz ele. “Foram dez anos de crise que ampliaram o mal-estar, a exclusão e também a desconfiança e a rebelião no que diz respeito à Europa. A Inglaterra é um caso em si, certamente, mas com as devidas distinções o problema está presente em todos os países europeus”.

Muitos dizem que a única estrada para salvar a UE consistiria em relançar o “sonho europeu”, o ideal federalista, a Europa dos pais fundadores. Concorda com esse ponto de vista?

Nunca me ocupei muito com sonhos, a não ser nos quatro anos em que fiz uma ótima terapia psicanalítica. O federalismo é uma retórica como outra qualquer. A narrativa correspondente a uma construção ainda mais aprofundada e mais eficaz de uma soberania supranacional é um problema aberto. Se for útil empregar a retórica federalista, que se faça isso. O ponto decisivo é fazer com que ela corresponda a alguma coisa.

O que se deve, na Itália, buscar em termos de correspondência?

Na Itália, país em que não obstante tudo o impulso anti-europeísta é menos forte, abre-se a possibilidade de que se desenvolva o que houve de melhor nas ações governamentais dos últimos dois anos, precisamente porque a precipitação da crise da EU fornece mais oxigênio à inspiração europeísta do PD, algo que está em seu DNA graças às culturas políticas que o constituíram. Estamos tentando fazer isso há dois anos: é preciso fazê-lo com mais decisão, até porque a Itália não se confronta somente com as tendências desagregadoras que sacodem todos os países da Europa, mas também com problemas que são exclusivamente seus. Problemas de nation building e State building típicos da “história longa” dos italianos.

Como enfrentar isso, concretamente?

Devemos impulsionar a reconstrução dos laços sociais. Devemos ser mais corajosos e determinados em aplicar a Constituição à vida interna dos partidos. Legislar para que os sindicatos tenham uma vida democrática que lhes relegitime a representação e a ajude, que favoreça a emergência de um sindicato unitário que seja interlocutor de todas as grandes políticas econômicas e sociais do país. Quando, com razão, se lamenta a crise dos corpos intermediários, esquece-se que a crise diz respeito a todo o arco da representação de interesses. Nem sequer a Confindustria, o sindical patronal, é mais aquela que já foi um dia. Nem sequer o movimento das cooperativas, que é uma grande força, está beneficiado em sua missão tradicional, que é a de ser uma pilastra da economia social de mercado. Deste ponto de vista, a Itália é um caso particular dentro da Europa, porque enfrenta uma exigência de renovação dos fundamentos do sistema político e da sua constituição material, além da sua constituição formal, o que compõe um belo pacote de reformas que podem ser levadas a referendo.

Isso não traz consigo o risco de impulsionar um “Italexit”, uma saída da Itália da UE?

Paradoxalmente, esse risco pode ser atenuado com a abertura de uma crise aguda na Europa, diante da qual o atual partido central de governo pode se movimentar por todo o campo rumo a um novo pacto com os italianos e entre os italianos, um pacto sobre o sistema político, o sistema das organizações de interesse, a governabilidade, indo além da reforma das relações entre Estado central e Regiões. Em suma, vejo a abertura de um campo bastante amplo para uma iniciativa nacional de reconstrução, como a que está inscrita no DNA do PD.

Alguém poderia dizer que seu discurso é politicista, que o problema da esquerda está nas periferias…

Não sei se o problema está nas periferias. Mas penso que não é um acaso que aqueles que se ocupam com as periferias o façam só demagogicamente. Em condições de escassez de recursos e depois que implodiram todas as redes de proteção social – ao ponto em que hoje as únicas que funcionam são as da criminalidade organizada –, o problema é descobrir como manter unido aquilo que antes se conseguia manter unido com os instrumentos do Estado-nação democrático europeu”.


Por: Giuseppe Vacca

Entrevista realizada pelo jornalista Francesco Cundari e publicada em L’Unità.Tv, Roma, 25 de junho de 2016.

Fonte: NEAI - Núcleo de Estudos e Análises Internacionais


'Brexit': O mundo deve agradecer ao Reino Unido

Britânicos demonstraram que a política não é, ou não deveria ser, um jogo frívolo.

“Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”, disse Churchill sobre o sacrifício dos aviadores da RAF na Segunda Guerra Mundial. Podemos dizer o mesmo hoje do sacrifício que o Reino Unido fez pela humanidade.

O consenso quase total no mundo é que, ao aprovar sua saída da União Europeia no referendo de quinta-feira, os britânicos (ou, melhor dizendo, os ingleses) cometeram um erro incompreensível, demencial e de proporções épicas. Após conhecer o resultado, os rostos pálidos, os tons de voz entrecortados e inclusive as palavras assombrosamente sóbrias – não triunfais – dos dirigentes conservadores da campanha pelo Brexit deram a impressão de que eles acordaram de manhã, após uma noite de álcool e excessos, se perguntando: “Meu deus! O que fizemos?”.

Isso é ruim para o Reino Unido, mas bom para todos os outros. Os britânicos se encontram repentinamente numa crise econômica e política sem precedentes, tão gratuita como desnecessária, e pela qual só podem culpar a si mesmos. Consequentemente, a democracia parlamentar mais antiga deu ao mundo uma lição de incalculável valor, uma lição sobre como não fazer as coisas num país que aspira à prudência e à prosperidade.

O que o Reino Unido nos demonstrou é que a política não é, ou não deveria ser, um jogo frívolo; que os líderes demagogos, que para alimentar sua vaidade e sua ânsia de poder estimulam a noção de que a sabedoria das massas é a virtude máxima da democracia, devem ser ouvidos com cautela; que as decisões de Estado são todas debatíveis, mas exigem que quem as toma tenha um mínimo de responsabilidade cívica e um mínimo conhecimento de como funciona o Estado; que quando os políticos que governam ou aspiram a governar opinam sobre a economia, por exemplo, devem saber do que falam, ou pelo menos saber mais que o grosso da população.

Em resumo, aqueles que têm em mãos o poder de influir nas vidas de milhões e milhões de pessoas precisam ser especialistas. E foram justamente os especialistas que tiveram seus argumentos rechaçados pela maioria britânica, que optou por seguir as sedutoras melodias dos flautistas do Brexit, conduzindo-os, como o do Hamelin, às catacumbas do inferno.

O 'Brexit' é o sintoma mais alarmante até agora do fenômeno global “antielite”

O momento mais revelador da campanha do Brexit foi quando uma das suas principais figuras, Michael Gove, declarou: “O povo deste país está farto dos especialistas”. Gove, que foi ministro da Educação durante quatro anos no governo de David Cameron, estava respondendo às advertências do Banco da Inglaterra, de líderes sindicais, dos principais empresários britânicos, de Barack Obama e de praticamente toda a gente informada e pensante do mundo, que se expressou contra a saída britânica da UE. Ouçam seus corações e seus julgamentos, dizia Gove aos eleitores, gente que majoritariamente, como as pessoas do mundo todo, se interessa muito mais por futebol, ou por telenovelas, ou por concursos de talento, ou pelas histórias das vidas íntimas dos famosos ou, obviamente, por suas famílias e seus trabalhos do que pela política, um esporte minoritário aonde quer que se vá. Isso, que tanto custa aos ideólogos profissionais aceitar, não é nem bom nem ruim. É o que é, e o que tem para hoje.

E é o motivo pelo qual o primeiro-ministro Cameron pecou de uma irresponsabilidade histórica e de uma idiotice monumental ao delegar a decisão sobre esse tema tão complexo, entendido por uma ínfima fração da população. Se tivesse sido fiel ao princípio da democracia representativa, que os próprios britânicos patentearam no século XVIII, teria deixado a decisão nas mãos de deputados eleitos, relativamente especialistas, entre os quais mais de três quartos eram favoráveis à permanência, e que agora se encontram na surrealista circunstância de precisar obedecer ao veredicto das massas e solicitar formalmente o desligamento a Bruxelas.

Muitos comentaristas da elite e que escrevem para a elite dizem que o Brexit é o sintoma mais alarmante até agora de um fenômeno global contemporâneo “antielite”. Isso virou um chavão, repetido (por um colunista de elite do The New York Times na sexta-feira, por exemplo) à exaustão. Assim é explicada dia após dia, nos Estados Unidos, na Europa e em todas as partes, a ascensão de Donald Trump, primo-irmão dos brexiters. Se tanta gente diz isso, algo de verdade deve ter, supõe-se, mas existe uma explicação mais simples para esses fenômenos, uma à qual as elites opinativas talvez resistam, por temor de serem tachadas de elitistas: que em questões políticas e econômicas nacionais as pessoas são facilmente manipuláveis por quem tem a cínica astúcia de apelar aos seus preconceitos e sentimentos mais viscerais ou tribais, como, no caso dos ingleses, o desdém e a desconfiança ancestrais pelos desumanizados “estrangeiros”, valores incutidos desde a infância.

Com sorte, será mais difícil que os norte-americanos sucumbam a Trump ou os franceses a Le Pen

Por que os londrinos e os escoceses, diferenciando-se de quase todo o resto do Reino Unido, escutaram os especialistas, ignoraram os populistas e votaram esmagadoramente a favor da permanência na Europa? Fácil. Porque os londrinos habitam a cidade mais cosmopolita do mundo, convivem e trabalham com estrangeiros todos os dias, e veem não só que estes contribuem muito para a cidade nos aspectos econômico e social como também que são tão reconhecivelmente humanos quanto eles próprios. No caso dos escoceses, que receberam enormes quantidades de imigrantes em sua terra nos últimos anos e que, quando são pobres, são tão pobres quanto os ingleses, há uma dupla explicação. Uma, que não foram doutrinados com sentimentos xenófobos desde a tenra idade, muito pelo contrário; a outra, que o sistema educacional estatal na Escócia é, como o bem sabe o ex-ministro Michael Gove, muito superior ao inglês. Os escoceses possuem em maior abundância que os ingleses as faculdades mentais necessárias para saber distinguir entre os pregadores farsantes e os sinceros, entre as políticas que lhes convêm e as que não.

A saudável lição que o resto do mundo deve tirar do disparate em que caíram os ingleses, portanto, é estar mais alerta do que nunca ao populismo barato daqueles que pretendem chegar ao poder apelando aos seus preconceitos e ressentimentos. Com sorte, o resultado do referendo britânico e as consequências desastrosas que ele acarretará tornarão mais difícil que o eleitorado norte-americano sucumba ao flautista Trump, ou o francês a Marine Le Pen, do mesmo modo que o apocalíptico fracasso do também disparatado projeto chavista na Venezuela com sorte servirá de advertência a outros países da América Latina.

Se o mundo não aprender com estas lições, talvez chegue o dia em que teremos que rever a ideia de que a democracia é o sistema político menos ruim já inventado pela humanidade. Meu pai, que combateu na RAF de 1939 a 1945, dizia com frequência algo de que tenho me lembrado muito nos últimos dias: que o melhor sistema de governo é a autocracia moderada pelo assassinato. Sempre achei que era uma loucura, e que ele dizia isso de brincadeira. Já não tenho mais tanta certeza.


Fonte: brasil.elpais.com