Antônio Ribeiro Granja

Símbolo de resistência à ditadura militar, Antônio Ribeiro Granja morre aos 106 anos

Presidente de honra do Cidadania estava internado em hospital na cidade de Vila Velha

O presidente de honra do Cidadania, Antônio Ribeiro Granja, morreu, na noite deste domingo (10), no Hospital Santa Mônica, onde estava internado, na cidade de Vila Velha, a 6 quilômetros de Vitória (ES). Destemido, o comunista segue vivo como um dos maiores símbolos de resistência à ditadura militar no Brasil. De acordo com o presidente do partido, Roberto Freire, o nome de Granja ficará marcado na história do país pelo seu protagonismo no fortalecimento do partido e em defesa de uma sociedade menos injusta, desigual e excludente.

https://youtu.be/OvGAu0ZI1v4

 

O Cidadania é a nova identidade do PCB (Partido Comunista Brasileiro) e do PPS (Partido Popular Socialista), que, ao longo dos anos, evoluíram com a participação de Granja para ficar cada vez mais perto dos interesses da sociedade. Na adolescência, ele saiu de Exu, onde nasceu, em Pernambuco, e seguiu para São Paulo em busca de emprego. Em 1930, aos 17 anos, teve início a sua história de militância, entrando para a Aliança Liberal.

Quatro anos depois, ele ingressou no Partido Comunista, que voltou à legalidade só após o fim da Era Vargas (1930-1945). Resistente, durante todo o regime militar, Granja permaneceu no Brasil. Não seguiu para o exílio. Ele trabalhou como pedreiro, operário e em oficina de vagões da Vale do Rio Doce, até ser eleito, em 1947, vereador de Cariacica pelo PCB. Ficou na Câmara Municipal até 1952.

O fim do mandato levou ao início de uma perseguição de 27 anos. “Só voltaram a me chamar de Antônio Ribeiro Granja com a Lei da Anistia (1979). Depois do início da ditadura, ficamos em 18 dirigentes em todo o Brasil. Onze deles foram presos e assassinados. Eu consegui ser um dos sobreviventes”, disse ele, em entrevista ao jornal Gazeta Online, em julho de 2018.

A resistência de Granja também foi destacada em no artigo Medo do Imprevisto, do jornalista e diretor-geral da FAP (Fundaçao Astrojildo Pereira), Luiz Carlos Azedo. “Foi um dos poucos dirigentes a permanecer no país durante todo o regime militar. De sandália havaiana e chapéu de palha, com as mãos calejadas pelo cabo da enxada, [Granja] circulava pelo interior do antigo Estado do Rio como um peixe na água”, escreveu o autor.

“Foi assim que reorganizou o antigo Partidão no interior fluminense e garantiu a eleição dos deputados comunistas Marcelo Cerqueira (federal) e Alves de Brito (estadual), pelo antigo MDB, nas eleições de 1978”, destacou Azedo no artigo sobre Granja. “Seu grande mérito foi se distanciar do interesse imediato, no caso, a própria sobrevivência, para compreender o processo político”, acrescentou.

Repercussão

“Eu posso dizer que é uma perda de um grande companheiro e amigo. O partido está de luto. Todos conhecemos a sua longa vida e história de dignidade e de grande luta. Ele dedicou a vida dele toda a essa luta por uma sociedade menos injusta, menos desigual e em defesa dos trabalhadores. Viveu muito e viveu consciente. Isso é importante”
Roberto Freire, presidente do Cidadania

“O Granja foi um cara muito importante na época em que o partido estava clandestino, um dos poucos dirigentes do partido que permaneceram no país e não foram presos. Ele foi um dos responsáveis pela reorganização do partido. Um homem muito importante, com longa história de militância. Organizou a primeira base do partido em Brasília antes mesmo da construção da capital federal. Teve uma vida romanesca”.
Luiz Carlos Azedo, diretor-geral da Fundação Astrojildo Pereira

“O Granja foi um homem muito importante, presidente de honra do partido e um dos caras que enfrentaram a ditadura. Quando muita gente foi exilada, ele ficou no Brasil para enfrentar a ditadura. Ficou para fazer resistência no Brasil”.
Ciro Gondim Leichsenring, diretor-financeiro da Fundação Astrojildo Pereira

Antônio Ribeiro Granja é um ícone da luta política brasileira. Granja não vacilava. Tinha clareza política de como agir. Já com mais de 100 anos de vida continuava com a sua militância política e com rara lucidez. Por ocasião das reuniões da Direção Nacional do ex-PPS em Brasília, costumávamos almoçar juntos. Num desses almoços, pedi uma dose de cachaça e o Granja me olhou fixamente e disse: “Que discriminação é essa, companheiro? Por que só uma dose, eu também aprecio uma boa cachaça”.
Roberto Percinoto, economista e presidente do Cidadania no Rio de Janeiro

“Nosso querido presidente de honra nacional do Cidadania, Antonio Ribeiro Granja, faleceu aos 106 anos. Foi um grande líder. Um dos homens mais íntegros que conheci, exemplo de retidão, honestidade e luta pelos mais necessitados. Foi um dos responsáveis pela minha filiaçao ao Cidadania. Vá em paz. Um querido líder com a certeza do dever cumprido!”.
Luciano Rezende, prefeito de Vitória (Cidadania-ES)

“Granja fez parte do núcleo de dirigentes do PCB que formulou, no sexto Congresso do partido, realizado em 1967, a estratégia vitoriosa no combate à ditadura. O ponto era derrotar o regime militar, por meio de uma ampla frente democrática, construída em torno das bandeiras da anistia, eleições diretas e eleição de uma Assembléia Nacional Constituinte.
Quando, alguns anos depois, a direção do partido resolveu deslocar uma parte dos seus membros para o exterior, Granja foi um dos que permaneceu no país. Por muito pouco não foi preso e assassinado, como muitos outros, nas quedas de 74/75. Manteve-se firme na defesa da democracia e apoiou o processo de renovação do partido que resultou na formação do Partido Popular Socialista”.
Caetano Araújo, diretor da Fundação Astrojildo Pereira

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