André Amado

Leonardo Padura coleciona prêmios, destaca André Amado na Política Democrática Online

 Em artigo publicado na revista da FAP, embaixador aposentado analisa trabalho de jornalista cubano

Cleomar Almeida, assessor de comunicação da FAP

Leonardo Padura é um escritor e jornalista cubano que coleciona prêmios literários, só lhe faltando o Nobel, e ganha espaço na análise do embaixador aposentado André Amado, em artigo produzido para a 16ª edição da revista Política Democrática Online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em Brasília. Padura ganhou projeção internacional com o lançamento de O homem que amava os cachorros (2008) e Hereges (2013). Como autor, centrou seus romances policiais na figura do tenente do departamento de polícia, Mario Conde.

» Acesse aqui a 16ª edição da revista Política Democrática Online!

“Em O homem que amava os cachorrosPadura fabula a vida e morte de Leon Trotski, a partir de conversas entre um aspirante a escritor e um homem que costumava levar seus dois galgos a passear na praia em Havana’, afirma Amado, que é diretor da revista Política Democrática Online. “Em Hereges, o gancho é a viagem de um navio que transportava judeus evadidos do nazismo, em busca desesperada de acolhimento no porto que fosse, às vésperas da Segunda Guerra”, acrescenta.

Na obra de 2008, de acordo com o artigo publicado na revista, o talento e arte do escritor cubano logram transformar a história em ficção, e a ficção em história. “A trajetória de Trotski destaca grandeza e traições, em meio a enfrentamentos abertos, primeiro, com Lenine pela fundação do regime bolchevique, e, depois, com Stalin, que tudo faria para eliminar talvez seu último virtual competidor pelo poder no Kremlim, objetivo que, por fim, logra êxito”, escreve Amado, em um trecho.

Segundo o autor do artigo, o livro de Padura cobre também a visão idealista de Trotski do movimento comunista, suas relações com líderes revolucionários, que teriam sorte igualmente trágica, seu exílio pela Europa e México, e até suas experiências amorosas, incluindo seu romance com Frida Kahlo.

“Em Hereges, a pretexto de acompanhar a sorte dos judeus por alguns destinos forçados na Europa, Padura traça a influência marcante deles, em particular na Holanda, não resistindo a tornar Rembrandt um personagem natural da trama, tanto mais porque era dele a tela, que desapareceria por décadas”, destaca o diretor da revista Política Democrática Online.

Leia mais:

» Poder espiritual ganha força com sincretismo religioso em Brasília

» Coronavírus: Como epidemia pode afetar crescimento econômico da China e do Brasil?

» Brasil precisa avançar na construção de sistema nacional de educação, diz Ricardo Henriques

» Bolsonaro apoia plano de Trump que favorece Israel em meio à guerra, diz José Vicente Pimentel

» Protesto contra o Congresso? Confira editorial da revista Política Democrática online

» Educação, recuo da indústria e poder religioso são destaques da Política Democrática Online de fevereiro

» Acesse aqui todas as edições da revista Política Democrática online


Política Democrática || André Amado: Leonardo Padura, um escritor recomendado

Obras do escritor e jornalista cubano Leonardo Padura, ganhador de diversos prêmios literários mundo afora, são leituras imperdíveis, recomenda André Amado

Leonardo Padura é um escritor e jornalista cubano que coleciona prêmios literários, só lhe faltando o Nobel. Ganhou projeção internacional com o lançamento de O homem que amava os cachorros (2008) e Hereges (2013). Como autor de romances policiais, centrou suas histórias na figura do tenente do departamento de polícia, Mario Conde.

Em O homem que amava os cachorros, Padura fabula a vida e morte de Leon Trotski, a partir de conversas entre um aspirante a escritor e um homem que costumava levar seus dois galgos a passear na praia em Havana. Em Hereges, o gancho é a viagem de um navio que transportava judeus evadidos do nazismo, em busca desesperada de acolhimento no porto que fosse, às vésperas da Segunda Guerra.

Na obra de 2008, o talento e arte do escritor cubano logram transformar a história em ficção, e a ficção em história. A trajetória de Trotski destaca grandeza e traições em meio a enfrentamentos abertos, primeiro com Lenine, pela fundação do regime bolchevique e, depois, com Stalin, que tudo faria para eliminar talvez seu último virtual competidor pelo poder no Kremlin, objetivo que, por fim, logra êxito. O livro cobre também a visão idealista de Trotski do movimento comunista, suas relações com líderes revolucionários, que teriam sorte igualmente trágica, seu exílio pela Europa e México, e até suas experiências amorosas, incluindo seu romance com Frida Kahlo.

Em Hereges, a pretexto de acompanhar a sorte dos judeus por alguns destinos forçados na Europa, Padura traça a influência marcante deles, em particular na Holanda, não resistindo a tornar Rembrandt um personagem natural da trama, tanto mais porque era dele a tela que desapareceria por décadas.

São leituras imperdíveis, de que muito aprendi e desfrutei. Mas, como leitor confesso de histórias de detetive, interessei-me desde cedo pelos textos de Padura no gênero. Não foi uma digressão irresponsável. Em Hereges, por exemplo, não fosse a assistência de Mario Conde, o neto de um passageiro do maldado navio não teria podido avançar na investigação do paradeiro de “O rosto de Cristo”, do pintor flamengo.

Mais do isso, no entanto, foi nos romances policiais que Padura afiou sua técnica, de um lado, de marcar a distância entre a realidade e a invenção do discurso com traços leves e, de outro, de desenhar com vista embaçada as sombras e as luzes da narrativa.

Assim é que o escritor não se contenta em apenas homenagear alguns de seus ilustres antecessores, como Dashiell Hammett, Raymond Chandler e Michael Connelly, ao caracterizar seu detetive com um solteirão empedernido, um solitário convicto, um tanto depressivo. Conde é tudo isso, mas os contornos do personagem ganham flexibilidade e complexidade.

Por que é solteirão? Teve, como muitos de seus colegas, aventura matrimonial desastrosa e concluiu preferir a companhia de prostitutas, isto é, mulheres que não pecam, apenas apreendem com a vida a sobreviver, aperfeiçoando maneiras de agradar os homens, mais para afirmar sua autonomia, sua independência, selecionando parceiros efêmeros e rotativos. A grande decepção de Conde foi descobrir que Karina o dispensara porque não era prostituta, mas casada e, pior: optava pelo marido, vale dizer um parceiro permanente[1].

Tal como a Paris de Allen Poe, a Londres de Conan Doyle e a Los Angeles de Chandler, Havana é o cenário insubstituível das histórias policiais de Padura. Só que Havana é uma metáfora de Cuba, e, considerando o sistema político vigente, nenhuma palavra é dita sobre as mazelas da ditadura, menos ainda sobre os Estados Unidos, cuja política de bloqueio econômico e comercial há anos vem asfixiando o desenvolvimento cubano. A única menção à política externa do país – e, ainda assim, muito indireta – envolve Magro, amigo de infância de Conde, um cadeirante por conta de ferimento a bala na guerra em Angola.

Cuba é apresentada por Padura como sua amante, cujas paisagens, elas, sim, contarão a decadência da sociedade, a degradação da paisagem urbana, as privações e a passividade indolente da população. Para compensar o silêncio político, é loquaz quanto a seus templos de devoção: a boêmia, os bares, os amigos, os lupanares, a música, o beisebol, a geografia.

Por isso, explora com carinho capítulos de seu dia a dia. Um prato delicioso é capaz de recuperar o prazer de Conde de viver, sobretudo se for “comida de pobre”, um ragoût, na boa tradição da bouilabaissecassouletpaella, feijoada. Um velório não é fonte de morbidez: “O vento soprava do sul, transportando vapores de flores murchas e de óleo diesel queimado, eflúvios de mortes recentes e de mortes distantes, quando os carros e os ônibus paravam na alameda principal do cemitério” (op. cit., p. 196). Um suspeito numa investigação, de apelido Russo, se presta a uma referência cultural: “O cabelo louro, quase branco, corria em cascatas suaves sobre uma cabeça perfeitamente redonda e o rosto avermelhado de bebida de vodca. Com uma jaqueta de gola alta teria passado por Aliosha Karamazov” (op. cit., p. 152).

Padura diverte-se, também, em atribuir a personagens secundários a divulgação de episódios mais comprometedores da vida em Cuba. O comentário sai da boca de Magro: “Você não sabia que, quando foram pintar o pré, roubaram metade da tinta e, por isso, não deu para pintar as salas de dentro? Não lembra que ganhávamos todos os prêmios... na colheita de cana porque tínhamos um pistolão na usina de açúcar que nos atribuía arrobas que não eram nossas?” (op. cit., p. 126).

Ventos de Quaresma é tão rico em estética e tratamento literário que me esqueci de dizer que a trama do livro envolve a investigação de um crime de morte, indignante – uma jovem professora muito popular na escola. Desenrola-se como manda a figurino, com a marcha lenta do inquérito, a identificação do suspeito e a prisão do responsável. Mas o que fica no pós-leitura é o feitiço da narrativa e construções de Leonardo Padura.

 

[1] As referências a passagens de livros de Padura será sempre a Ventos de Quaresma (Companhia da Letras, 2008).


Como evitar neutralização da Lava Jato? André Amado explica em artigo na Política Democrática online

Diretor da revista produzida pela FAP cita precedente italiano como alerta ao caso brasileiro

Cleomar Almeida, da Ascom/FAP

O diretor da revista Política Democrática online, André Amado, compara as operações Mãos Limpas, na Itália, e Lava Jato, no Brasil, e destaca que o precedente italiano serve de alerta para impedir a “neutralização” da campanha anticorrupção ocorrida em nosso país. A revista é produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), sediada em Brasília e vinculada ao Cidadania.

» Acesse aqui a 13ª edição da revista Política Democrática online

O público pode acessar todos os conteúdos da revista, de forma gratuita, no site da FAP. Em três anos, a operação Mãos Limpas investigou 4.500 pessoas, enquanto a Lava Jato focou em 300 investigadas, no mesmo período. “A classe política italiana foi quem reagiu no sentido de promover uma série de alterações legislativas, que, pouco a pouco, neutralizaram o sucesso dos efeitos das investigações”, cita um trecho do artigo.

Em sua análise exclusiva para a revista Política Democrática online, André Amado diz que setores influentes da política italiana desmobilizaram, paulatinamente, a campanha anticorrupção. Em seu artigo, ele traça uma linha histórica de repercussão da operação:

Em 1993, editou-se decreto que descriminalizava o financiamento ilícito dos partidos. O que era crime deixou de sê-lo, reintroduzia-se o sigilo nas investigações.

Em 1994, editou-se outro decreto que proibia a prisão preventiva para crimes contra a administração pública e o sistema financeiro (Na ocasião, 2.764 pessoas que estavam presas por crimes dessa natureza foram colocadas em liberdade, das quais 350 delas eram da Operação Mãos Limpas).

Em 1995, reformou-se a prisão cautelar e suspendeu-se o processo por delito de falso testemunho, que havia sido uma conquista de Antonio Di Pietro, conquista que lograra permitir prisão em flagrante de falso testemunho e outros crimes de máfia.

Em 1997, atenuou-se o crime de abuso de officcio, crime de prevaricação que foi muito usado para criminalizar as condutas na Itália. Acrescentaram mais um elemento para caracterização do delito, e, com isso também reduziram a pena, proibiram a prisão preventiva, por tabela – com a diminuição da pena, não cabia mais a prisão preventiva. Não permitiram a adoção de provas obtidas mediante intercepção de comunicação telefônica. Diminuíram o prazo prescricional, que é o tempo que o estado tem para punir, que era de 15 anos caiu para 7 anos e meio, com o que muitos crimes prescreveram.

Em 1988-99, novas leis ampliaram a possibilidade de colaboração, porque os processos estavam encerrando já nessa época. Alguns réus condenados não tinham feito acordo de colaboração, e a lei italiana não permitia que o acordo fosse fechado depois da condenação. Então para salvar estes que foram condenados, eles mudaram as leis. Eram leis de encomenda para ajustar as situações.

Em 2001, fizeram o reingresso, repatriação de dinheiro italiano escondido no exterior.

Em 2005, criaram uma lei para punir abusos de juízes e promotores, que persigam fins diversos daqueles de justiça. Era a lei italiana de abuso de autoridade.

Em 2005, diminuíram prazos prescricionais por uma lei que ficou conhecida como Salva Corrota, salva corruptos. A prescrição voltou a cair pela metade. Cem mil processos prescreveram então na Itália. E, no ano seguinte, 135 mil.

Em 2006, proibiram o ministério público de recorrer de decisões de absolvição. A lei era tão escancaradamente inconstitucional, que a corte italiana considerou inconstitucional.

Em 2007, foi a vez da lei da mordaça, proibição de noticiar intercepções de comunicação telefônica, reforma judiciaria que hierarquizou o ministério público e italiano, tirando da autonomia inclusive de alguns membros do ministério público italiano.

Em 2009, nova lei de repatriação de bens que suspende por 6 meses, renovável por mais 6 meses, ao sabor da vontade do réu – e Berlusconi, era primeiro-ministro à época e potencial réu - o tramite dos processos. O réu tem o poder de suspender o processo.

Em 2012, altera-se a lei anticorrupção que resulta em diminuição do prazo prescricional que beneficia várias autoridades.

Em 2014, despenaliza-se o crime de sonegação.

 

Leia mais:

» “Sem negros, não há Brasil”, diz Ivan Alves Filho à nova edição da Política Democrática online

» Por que a manifestação no Chile? Alberto Aggio responde à Política Democrática online

» ‘Patrão manda passar motosserra na Amazônia’, diz garimpeiro de Serra Pelada

» ‘Óleo nas praias brasileiras mostra incapacidade do governo’, diz Anivaldo Miranda à Política Democrática

» Constituição deve nortear reformas no Brasil, diz Gilvan Cavalcanti de Melo à Política Democrática online

» ‘Tinha escravos nos Palmares’, diz Antonio Risério à revista Política Democrática online

» ‘Sinais da economia brasileira são alentadores’, afirma Sérgio C. Buarque na nova edição da Política Democrática online

» Nova edição da Política Democrática online analisa desastre do petróleo no litoral brasileiro


Revista Política Democrática || André Amado: Mãos Limpas e Lava Jato

André Amado destaca, em artigo, o cotejo entre as operações Mãos Limpas, na Itália, e Lava Jato, no Brasil, e mostra que o precedente italiano serve de alerta para impedir a “neutralização” da campanha anticorrupção ocorrida em nosso país  

O seminário internacional organizado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) em São Paulo, em junho de 2017[1] reservou sessão especial ao cotejo entre as operações Mãos Limpas, na Itália, e Lava Jato, no Brasil. Elidindo abordagens político-partidárias ou ideológicas, o procurador paranaense Ricardo Chemim [2] assegurou a atualidade das informações e reflexões que desenvolveu, há cerca de dois anos e meio.

Disse, então:

Não procede a impressão de que a operação Mãos Limpas tenha sido um fracasso. No intervalo de três anos, investigou 4.500 pessoas, contra as 300 investigadas pela Lava Jato em igual período de tempo.

A classe política italiana foi quem reagiu, no sentido de promover uma série de alterações legislativas que, pouco a pouco, neutralizaram o sucesso dos efeitos das investigações.

O dinheiro suspeito provinha, em parte, da Internacional de Hidrocarbonetos, a Petrobras italiana e, em parte, de grandes empreiteiras em superfaturamento de obras públicas, recursos que se transformavam em propina.

O discurso dos acusados de envolvimento nas negociatas acusava os investigadores de motivação política. O ex-primeiro-ministro Bettino Craxi, um dos alvos das investigações, assinou carta na Tunísia, onde se refugiara da Justiça italiana, em que defendia a tese de que se tratava de um “golpe pós-moderno, que, aliás ainda está em curso. Não é somente o trabalho da seita de juízes, de seus apoiadores midiáticos e políticos internos e internacionais; o golpe pós-moderno agrediu, em seu caminho, os valores democráticos, os direitos dos cidadãos, princípios constitucionais que foram ao fundo do poço”.

Com argumentos desse tipo, setores influentes da política italiana desmobilizaram, paulatinamente, a campanha anticorrupção:

– Em 1993, editou-se decreto que descriminalizava o financiamento ilícito dos partidos. O que era crime deixou de sê-lo; reintroduzia-se o sigilo nas investigações;

– Em 1994, editou-se outro decreto que proibia a prisão preventiva para crimes contra a administração pública e o sistema financeiro (na ocasião, 2.764 pessoas, que estavam presas por crimes dessa natureza, foram colocadas em liberdade, das quais 350 delas presas pela Operação Mãos Limpas);

– Em 1995, reformou-se a prisão cautelar e suspendeu-se o processo por delito de falso testemunho, que havia sido uma conquista de Antonio Di Pietro, conquista que lograra permitir prisão em flagrante de falso testemunho e outros crimes de máfia;

– Em 1997, atenuou-se o crime de abuso d’ufficio, prevaricação, que foi muito usado para criminalizar as condutas na Itália. Acrescentou-se mais um elemento para caracterização do delito. E, com isso também reduziu-se a pena; proibiu-se a prisão preventiva, por tabela (com a diminuição da pena, não cabia mais a prisão preventiva). Não foi mais permitida a adoção de provas obtidas mediante intercepção de comunicação telefônica. Diminuiu-se o prazo prescricional, que é o tempo que o Estado tem para punir. Era de 15 anos e caiu para 7,5 anos, com o que muitos crimes prescreveram;

– Em 1998/9, novas leis ampliaram a possibilidade de colaboração, porque os processos estavam encerrando já nessa época. Alguns réus condenados não tinham feito acordo de colaboração, e a lei italiana não permitia que o acordo fosse fechado depois da condenação. Então, para salvar estes que foram condenados, mudaram-se as leis. Eram leis de encomenda para ajustar as situações;

– Em 2001, foi aprovado o reingresso, repatriação de dinheiro italiano escondido no exterior;

– Em 2005, foi criada lei para punir abusos de juízes e promotores, que perseguissem fins diversos daqueles de Justiça. Era a versão italiana de abuso de autoridade;

– Em 2005, foram reduzidos os prazos prescricionais por uma lei que ficou conhecida como Salva corrota, salva corruptos. A prescrição voltou a cair pela metade. Cem mil processos prescreveriam na Itália. E, no ano seguinte, 135 mil;

– Em 2006, o Ministério Público foi proibido de recorrer de decisões de absolvição. A lei era tão escancaradamente inconstitucional, que a Suprema Corte italiana assim a considerou;

– Em 2007, foi a vez da Lei da Mordaça, proibição de noticiar intercepções de comunicação telefônica, reforma judiciária que hierarquizou o Ministério Público italiano, inclusive tirando a autonomia de alguns de seus membros;

– Em 2009, nova Lei de Repatriação de Bens, que suspendeu por seis meses, renováveis por mais seis meses, ao sabor da vontade do réu – e Silvio Berlusconi, era primeiro-ministro à época e potencial réu. O réu tem o poder de suspender o processo.

– Em 2012, alterou-se a Lei Anticorrupção, o que resultou em diminuição do prazo prescricional, beneficiando várias autoridades;

– Em 2014, despenalizou-se o crime de sonegação.

É ou não é impressionante a marcha da Mãos Limpas rumo ao “fracasso”, sumariada por Chemim? Será esse o destino da Lava Jato?

A sorte é que, no Brasil, abrimos mão de muitas coisas, mas jamais de otimismo. Nas Cortes superiores, no Congresso e até no Executivo, haverá de encontrar-se maneira de impedir a “neutralização” da campanha anticorrupção, em tão boa hora já iniciada no Brasil. De qualquer forma, serve de alerta o precedente italiano.

[1] http://www.fundacaoastrojildo.com.br/2015/2018/01/15/confira-integra-das-palestras-do-seminario-internacional-desafios-politicos-de-um-mundo-em-intensa-transformacao/

[2] Procurador de Justiça no Ministério Público do Paraná; professor de Direito Processual Penal do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), do Centro Universitário Franciscano (FAE), da Fundação Escola da Magistratura do Paraná (Fempar), da Escola da Magistratura do Paraná (Emap) e da Escola da Magistratura Federal no Paraná (Esmafe). Coordenador do curso de pós-graduação em Direito Penal e Processual Penal do Unicuritiba. Mestre em Direito das Relações Sociais e doutor em Direito de Estado pela UFPR. E coautor de Mãos Limpas e Lava Jato – A corrupção se olha no espelho.

 

 


Saiba qual a ousadia do escritor italiano Italo Calvino, conta André Amado

Em artigo publicado na nova edição da Política Democrática online, diretor da revista aborda perfil

Diretor da revista Política Democrática online, André Amado afirma que o escritor italiano Italo Calvino é um dos poucos autores que teve a ousadia de declarar que “a literatura (e talvez só a literatura) pode criar anticorpos que neutralizam a expansão da peste da linguagem”. A análise está em artigo publicado na nova edição da revista produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania, em Brasília.

» Acesse aqui a 12ª edição da revista Política Democrática online

Integram o conselho editorial da revista Alberto Aggio, Caetano Araújo, Francisco Almeida, Luiz Sérgio Henriques e Maria Alice Resende de Carvalho. A direção da revista é de André Amado e a edição, de Paulo Jacinto.

A seguir, leia trechos do artigo:

Já deverão ter notado que não sou crítico literário. A razão principal, por mais que me doa reconhecer, é que me faltam credenciais, o que, em bom português, quer dizer competência. Por isso, conformo-me em abrir aspas e convidar a escrever nestas páginas autores do quilate de um Flaubert, Umberto Eco, Vargas Llosa e, desta vez, Italo Calvino, um dos mais célebres escritores italianos, que teve a ousadia de declarar que “a literatura (e talvez só a literatura) pode criar anticorpos que neutralizam a expansão da peste da linguagem”.

Dá até vontade de traduzir “linguagem” por “erudição”, para mantermos a ironia típica de muitas reflexões de Calvino. Mas, se o fizéssemos, incorreríamos em imensa injustiça com outra de suas obras, Por que ler os clássicos, em que se consagra o mais profundo e íntimo conhecimento dos autores selecionados, o que, em uma palavra, se chama erudição, no bom sentido do conceito.

A lista de escritores é longuíssima, embora cada texto se concentre em transmitir o que de fato interessa em literatura. Lá estão Homero, Cyrano, Defoe, Voltaire, Stendhal, Balzac, Dickens, Flaubert, Tolstoi, Mark Twain, Henry James, Stevenson, Conrad, Hemingway e Borges. Para os que se autoproclamam iniciados no tema, encontrarão também Xenofonte, Ovídio, Ariosto, Galileu, Pasternak e Pavese. E, que me perdoem os mais letrados, mas a lista inclui ainda escritores de quem apenas ouvi falar, se tanto, como Plínio, Nezami, Cardono, Ortes, Gadda, Montale e Queneau.

É fascinante como Calvino aborda cada um. Com relação a Homero, claro, o foco está na Odisseia (mas com que ângulos inexplorados!). Defoe desfila com seu célebre Robinson Crusoe, tanto quanto Stendhal, com Cartuxa de Parma. Mas Dickens entra no livro com Our Mutual Friend; Flaubert, com Trois contes; Tolstoi, com Dois Hussardos; Stevenson, com o O pavilhão das dunas, e assim por diante. Por intermédio dessas obras, que sem dúvida não são as mais conhecidas dos escritores, Calvino supera o desafio e as transforma em peças maestras, magia que estende à produção literária dos demais integrantes de sua lista, a ponto de nos produzir certo constrangimento por nunca os termos visitado.

Leia mais:

» ‘Bacurau, muitos amaram, outros odiaram’, afirma Martin Cezar Feijó

» Garimpeiros deflagram guerra silenciosa em Serra Pelada, mostra Política Democrática online

» ‘Diálogos da Lava Jato são divulgados de maneira homeopática’, afirma Henrique Herkenhoff

» Bolsonaro está perturbado por seus próprios demônios, afirma Marco Aurélio Nogueira

» ‘Cultura deveria funcionar dentro do Ministério da Educação’, diz Caio de Carvalho

» Promessa de Bolsonaro movimenta garimpos em Serra Pelada, destaca nova edição da Política Democrática


Revista Política Democrática || André Amado: Calvino e a erudição

Para André Amado, o escritor italiano Italo Calvino teve a ousadia de declarar que “a literatura (e talvez só a literatura) pode criar anticorpos que neutralizam a expansão da peste da linguagem"

Já deverão ter notado que não sou crítico literário. A razão principal, por mais que me doa reconhecer, é que me faltam credenciais, o que, em bom português, quer dizer competência. Por isso, conformo-me em abrir aspas e convidar a escrever nestas páginas autores do quilate de um Flaubert, Umberto Eco, Vargas Llosa e, desta vez, Italo Calvino, um dos mais célebres escritores italianos, que teve a ousadia de declarar que “a literatura (e talvez só a literatura) pode criar anticorpos que neutralizam a expansão da peste da linguagem”.[1]

Dá até vontade de traduzir “linguagem” por “erudição”, para mantermos a ironia típica de muitas reflexões de Calvino. Mas, se o fizéssemos, incorreríamos em imensa injustiça com outra de suas obras, Por que ler os clássicos [2], em que se consagra o mais profundo e íntimo conhecimento dos autores selecionados, o que, em uma palavra, se chama erudição, no bom sentido do conceito.

A lista de escritores é longuíssima, embora cada texto se concentre em transmitir o que de fato interessa em literatura. Lá estão Homero, Cyrano, Defoe, Voltaire, Stendhal, Balzac, Dickens, Flaubert, Tolstoi, Mark Twain, Henry James, Stevenson, Conrad, Hemingway e Borges. Para os que se autoproclamam iniciados no tema, encontrarão também Xenofonte, Ovídio, Ariosto, Galileu, Pasternak e Pavese. E, que me perdoem os mais letrados, mas a lista inclui ainda escritores de quem apenas ouvi falar, se tanto, como Plínio, Nezami, Cardono, Ortes, Gadda, Montale e Queneau.

É fascinante como Calvino aborda cada um. Com relação a Homero, claro, o foco está na Odisseia (mas com que ângulos inexplorados!).

Defoe desfila com seu célebre Robinson Crusoe, tanto quanto Stendhal, com Cartuxa de Parma. Mas Dickens entra no livro com Our Mutual Friend; Flaubert, com Trois contes; Tolstoi, com Dois Hussardos; Stevenson, com o O pavilhão das dunas, e assim por diante. Por intermédio dessas obras, que sem dúvida não são as mais conhecidas dos escritores, Calvino supera o desafio e as transforma em peças maestras, magia que estende à produção literária dos demais integrantes de sua lista, a ponto de nos produzir certo constrangimento por nunca os termos visitado.

De alguma maneira, no entanto, a despeito da coleção das críticas finas e envolventes com que nos brinda na maior parte do livro, é na introdução de somente oito páginas que Calvino revela o sentido da pergunta estampada no título do livro e, para isso, desfia algumas propostas (na verdade, 14) de definição do que considera “clássico”, das quais destaco as seguintes:

– Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer “Estou relendo...” e nunca “estou lendo...” (p. 9);

– Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual (p. 10);

– Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer (p. 11);

– Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato se revelam novos, inesperados, inéditos (p. 12); e

- É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulhos de fundo, mas, ao mesmo tempo, não pode prescindir desse barulho de fundo (p. 15).

Calvino acrescenta comentários tópícos, ao lado dessas propostas, como, por exemplo: “o clássico não necessariamente nos ensina algo que não sabíamos; às vezes, descobrimos nele algo que sempre soubéramos..., mas desconhecíamos que ele o dissera primeiro... Esta é a surpresa que dá muita satisfação”. E, de repente, o escritor italiano se cansa de destrinchar o óbvio e encerra a introdução bem a seu estilo: “a única razão que se pode apresentar é que ler os clássicos é melhor do que não os ler”.

________________________________________
[1] Seis propuestas para el próximo milênio, Ediciones Siruela, Madrid, 9ª edición, 2010, p. 68.
[2] Perché leggere i classici (2002). Tradução de Nilson Moulin. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

 


‘Amazons e estantes virtuais vieram para ficar’, diz André Amado à Política Democrática online

Diretor da revista produzida pela FAP diz que ‘problemas começam na hora de namorar os livros’

Podemos espernear, reclamar com o bispo, xingar todo mundo, mas não tem saída: as Amazons, as Estantes Virtuais e assemelhados da vida vieram para ficar. A análise é do diretor da revista Política Democrática, André Amado, na 11ª edição da publicação produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao partido político Cidadania 23.

» Acesse aqui a 11ª edição da revista Política Democrática online

“Prosperam exatamente sobre os espaços deixados pela retirada paulatina, resignada ou indignada das livrarias, como nós as conhecemos antes da explosão da internet”, continua ele. De acordo com Amado, há vantagens, pelo menos no caso da Amazon: cada livro vem acompanhado de estrelas, de uma a cinco, que indicam a média das avaliações dos leitores. “É útil, sobretudo quando se trata de autores pouco conhecidos ou de obras menos divulgadas de escritores prolíficos”.

Os problemas, segundo o autor, começam na hora de namorar os livros. Isto é, fazer o que, em inglês, se chama browse, percorrer estante por estante da livraria, examinar as lombadas, extrair um que outro volume, ler o índice (nos livros editados em francês, o índice vem lá no final), conferir os comentários sobre a obra na contracapa e assim, perdido no tempo, sintonizar-se de corpo e alma com a sensualidade, o cheiro e o conteúdo dos livros.

“O gesto de comprar é acessório. O mero exercício do browsing já nos enriquece. Nada haverá de substituir, no entanto, a figura do livreiro, nas livrarias onde ainda se tem consciência de que ali se vendem livros, não cosméticos, sapatos ou cebolas”, escreve Amado, para continuar: “Não é provável que ele tenha lido tudo aquilo, mas dá a impressão de que sim, estando, portanto, autorizado a identificar o que vale a pena ou não levar”.

Amado prossegue: “Se você insistir em um Sidney Sheldon ou algo pelo estilo, ele faz negócio, só que o sorriso é de mercador. Se, contudo, você consultá-lo, como a um sommelier em um restaurante francês, sobre qual vinho cairá melhor com o prato escolhido, receberá, de graça e com charme, bons conselhos para suas leituras durante um bom tempo”.

Leia mais:

» ‘Produtoras brasileiras devem se tornar independentes’, afirma Lilia Lustosa à Política Democrática online

» ‘Cresce número de adeptos a teorias sem fundamento científico’, diz Alexandre Strapasson à Política Democrática online

» ‘Quadro político mais radicalizado ameaça democracia’, alerta Vinicius Muller à Política Democrática online

» ‘Desenvolvimento é um processo complexo’, diz Sérgio C. Buarque à Política Democrática online

» Política Democrática online repercute acordo frustrado de Itaipu

» ‘Etanol é uma das maiores realizações do Brasil’, afirma Carlos Henrique Brito Cruz à Política Democrática online

» Pesquisa e inovação são destaques da nova edição de Política Democrática online


Revista Política Democrática Online || André Amado: Anima mundi

Livrarias online como a Amazon e sebos virtuais vieram para ficar, avalia André Amado em artigo para a Revista Política Democrática Online. Eles prosperaram exatamente sobre os espaços deixados pela retirada paulatina, resignada ou indignada das livrarias físicas, reais, como as conhecíamos antes da explosão da internet

Podemos espernear, reclamar com o bispo, xingar todo mundo, mas não tem saída: as Amazons, as Estantes Virtuais e assemelhados da vida vieram para ficar. Prosperam exatamente sobre os espaços deixados pela retirada paulatina, resignada ou indignada das livrarias, como nós as conhecemos antes da explosão da internet. Há vantagens, pelo menos no caso da Amazon: cada livro vem acompanhado de estrelas, de uma a cinco, que indicam a média das avaliações dos leitores. É útil, sobretudo quando se trata de autores pouco conhecidos ou de obras menos divulgadas de escritores prolíficos.

Os problemas começam na hora de namorar os livros, isto é, fazer o que, em inglês, se chama browse, percorrer estante por estante da livraria, examinar as lombadas, extrair um que outro volume, ler o índice (nos livros editados em francês, o índice vem lá no final), conferir os comentários sobre a obra na contracapa e assim, perdido no tempo, sintonizar-se de corpo e alma com a sensualidade, o cheiro e o conteúdo dos livros. O gesto de comprar é acessório. O mero exercício do browsing já nos enriquece.

Nada haverá de substituir, no entanto, a figura do livreiro, nas livrarias onde ainda se tem consciência de que ali se vendem livros, não cosméticos, sapatos ou cebolas. Não é provável que ele tenha lido tudo aquilo, mas dá a impressão de que sim, estando, portanto, autorizado a identificar o que vale a pena ou não levar. Se você insistir em um Sidney Sheldon ou algo pelo estilo, ele faz negócio, só que o sorriso é de mercador. Se, contudo, você consultá-lo, como a um sommelier em um restaurante francês, sobre qual vinho cairá melhor com o prato escolhido, receberá, de graça e com charme, bons conselhos para suas leituras durante um bom tempo.

Em agosto último, tendo chegado cedo à Livraria da Travessa, em Ipanema, para participar de uma homenagem a Luiz Alfredo Garcia-Roza, aproveitei para browse. Antonio Bento, o livreiro daquele templo, veio ajudar-me. Saí com três livros estupendos: Lições de literatura russa, de N. Nabokov, reunindo suas aulas na Universidade de Cornell e no Wellesley College; A tentação do impossível. Victor Hugo e os Misérables, obra que buscava sem êxito em Brasília; e A casa, a nostalgia e o pó, de Pascoal Farinaccio, para mim um famoso “quem”.

Centro-me neste último livro, cujo título nunca me teria levado a retirá-lo da estante. Trata-se de um ensaio crítico sobre Il Gattopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa; a adaptação cinematográfica homônima feita por Luchino Visconti; e A menina morta, de Cornélio Penna. Não ousaria perguntar quem já leu os dois romances, sendo, decerto, maior o número de pessoas que assistiram à obra de Visconti (1963), estrelada por Burt Lancaster e Claudia Cardinale.

Pois o livro de Farinaccio merece toda leitura. Como tema comum e central aos três ensaios, está o declínio das classes poderosas da segunda metade do século XIX. O ângulo, porém, a meu ver, mais interessante, é a análise que desenvolve entre as pessoas e as coisas, melhor dito, entre os personagens e os objetos que os cercam. O autor explora o conceito de “anima mundi” (animação, doação de alma às coisas), desenvolvido pelo psicólogo americano James Hillman, de quem destaco alguns aforismas:

– Há alma em todas as coisas.

– Todas as coisas exibem rostos, o mundo não é apenas uma assinatura codificada para ser decifrada em busca de significado, mas uma fisionomia para ser encarada. Como formas expressivas, as coisas falam... Se anunciam, “olhem, estamos aqui”. Nos observam independentemente do modo como as observamos, de nossas perspectivas, do que pretendemos fazer com elas e de como as utilizamos.

- A “alma” das coisas materiais é dada em sua superfície... Um objeto presta testemunho de si mesmo na imagem que oferece, e sua profundidade está na complexidade dessa imagem... À medida que a coisa ganha alma, vale dizer, vida, ela nos chama a atenção e nos atrai para si. Esse processo de “animação” das coisas é uma relação de mão dupla em que o sujeito e o objeto se iluminam reciprocamente. A alma do objeto corresponde e une-se à nossa. (O autor cita o exemplo de uma balconista que propõe uma garrafa de cor laranja porque “é mais feliz”, profundidade psíquica do objeto, decorrente da imaginação material da vendedora).

Para reforçar sua teoria, Farinaccio recorre, também, a Remo Bode, filósofo italiano, para quem:

– Cada geração é circundada por uma paisagem específica de objetos... que podem ter sido considerados em determinado período como modernos (ex.: máquina de escrever), em época posterior, uma velharia... Tornados anacrônicos, terminam em sótãos, nas cantinas, no banco de penhores, nos negócios de brechó, antiquários e depósitos. Reencontrados ou comprados, emanam um eflúvio de melancolia, flores murchas que para renascer necessitam de nossas atenções.

Como se ainda precisa de mais ilustrações, acrescenta trechos da escritora Virginia Woolf:

– O olhar recai em um vaso sobre a lareira, o vaso detona uma série de lembranças... O olho tem esta estranha propriedade: repousa apenas na beleza; como uma borboleta, busca o colorido e se delicia com o caloroso.

– A beleza atrai, chama a atenção e faz com que o observador aprecie e tome gosto pela materialidade do mundo, ele o traz então para dentro de si, i.e., inspira o mundo externo tornando-o também interno.

– As vidas e os personagens dos donos dos lugares em que se entra por primeira vez deixaram sua atmosfera e, tão logo entramos, nos deparamos com uma onda de emoção... aqui gente discutiu, sua raiva ainda permeava o ar.

Depois dessa rica Introdução, Farinaccio dedica-se ao estudo crítico detalhado das três obras mencionadas, sempre dessa ótica inusitada do diálogo entre as pessoas e os objetos, entre as pessoas e os lugares, abordagem que, de repente, é capaz de explicar por que tanto nos sensibilizam mecanismos que reativam objetos e lugares adormecidos em nossa memória.

Obrigado, Antonio Bento. Grande leitura.


Política Democrática publica a releitura de obras sob o olhar de André Amado

Embaixador aposentado faz análise sobre obra-prima em seu mais novo artigo publicado na nona edição da revista produzida e editada pela FAP

Para uma obra-prima ser uma obra-prima, basta ser conhecida, isto é, absorver todas as interpretações que suscitou, que vão contribuir para fazer dela o que ela é. A análise é de do embaixador aposentado André Amado, que também é diretor da revista Política Democrática online, produzida e editada pela FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e na qual publicou o seu mais novo artigo.

» Acesse aqui a nona edição da revista Política Democrática online

A seguir, confira um trecho do artigo de André Amado:

"Preparando-me para escrever um livro sobre a história de detetives e a obra de Luiz Alfredo Garcia-Roza, fui obrigado a ler imensa quantidade de textos, desde romances a críticas literárias de autoria de escritores e acadêmicos de excelência. Meu déficit nessa área assim o exigia. E hoje até agradeço a dura caminhada ladeira acima. Um dos problemas de quem crê tudo saber é subtrair importância dos fundamentos e dos primeiros segredos da área de conhecimento que pretende estudar, tanto quanto a sofreguidão de só se interessar pelo que chamam de novidade, ou, pior, vanguarda.

No caso de histórias de detetive, ainda subsiste, em alguns círculos, a dúvida sobre se se trata de um gênero literário em si ou se não passa de uma leitura de entretenimento, leitura de bordo ou de sala de espera do dentista. Edgar Allan Poe, Conan Doyle, Agatha Christie, Dashiell Hammett, Raymond Chandler e tantos outros – ao lado, claro, de Luiz Alfredo Garcia-Roza, que acaba de lançar seu 12º romance policial, A última mulher –, contribuíram, cada um à sua maneira, para trazer a discussão para um terreno mais sério."

 

Leia mais:

» ‘Batman é herói da cidade aterrorizante’, diz Martin Cezar Feijó

» ‘Parada Gay de SP ganha força no país’, destaca Almira Rodrigues em artigo na Política Democrática

» Política Democrática: Arlindo Oliveira explica o que muda na Lei Eleitoral de 2020

» ‘Crime comum e organizado existe em toda parte’, afirma Henrique Herkenhoff à Política Democrática

» ‘Brasil vive momento paradigmático’, diz Alberto Aggio à revista Política Democrática

» Arte de protesto mobiliza jovens de periferia pela preservação da vida, destaca Política Democrática

» ‘Política de justiça criminal atingiu mais os desiguais’, diz Roberto Kant à Política Democrática

» Nova edição de Política Democrática destaca protagonismo de jovens da periferia do DF

 


André Amado publica artigo Porta dos Fundos na revista Política Democrática online

Confira, abaixo, trecho do artigo do embaixador aposentado e diretor da revista Política Democrática online

Cleomar Almeida

Gostava do restaurante. Não cheirava a comida e, em geral, atraía pessoas com certo charme. No almoço de hoje, sentadas a meu lado, duas moças davam o tom do ambiente. Examinavam o cardápio como se fosse a orelha de um livro ou a sinopse de um filme. Tinham interesse real no que liam e pressa nenhuma em fazer os pedidos. Só definiram as bebidas – água sem gás para uma e taça de vinho tinto para a outra – e logo retomaram a conversa que deviam ter interrompido a caminho da mesa.

» Acesse aqui a sexta edição da revista Política Democrática online

Já te disse, Odete, é perda de tempo começar a ler as obras dos grandes escritores, assim, diretamente, pela porta da frente. Você acha que pode encarar um Cervantes, um Flaubert, um Proust ou um Joyce sem ajuda? Acha que é capaz de captar a complexidade dos personagens, a teia entrelaçada do enredo, a qualidade e a novidade da narrativa apenas por sua força de vontade?

Eu também queria participar da conversa, mas se me inclinasse um centímetro a mais na direção da mesa seria decerto acusado de assédio. Contive-me e ainda ouvi. A gente sempre precisa de alguém com intimidade familiar com as obras para trazer a nossos olhos, à nossa sensibilidade, as pistas iluminadas da arte desenvolvida por aqueles gênios. Em uma palavra, não dá para enfrentar os grandes escritores pela porta de frente. Temos que descobrir primeiro quem nos conduza pela porta dos fundos desse mundo fabuloso da criação e produção literárias.

Deixa eu lhe dar um exemplo, seguia a tal de Clarinha. Há anos, queria ler a Odisseia, mas tinha medo. Foi quando um amigo me recomendou uma edição especial da Companhia das Letras. Uma introdução de um scholar americano e o prefácio do tradutor, que ganhou uma coleção de prêmios pelo trabalho, me chamavam a atenção para o que tinha de saber sobre a origem da obra, a polêmica da autoria da Odisseia, os termos da relação entre os mortais, como Homero, e os deuses e as deusas protetores ou rivais, os percursos pelos mares da Grécia, as aventuras e desventuras do herói grego em sua viagem épica de volta à casa, a efervescência em Ithaca, onde “os arrogantes pretendentes” disputam a mão de Penélope e o reencontro, enfim, com a mulher amada e a refrega com os competidores pelo amor da amada.

Só posso lhe dizer, Odete, que duvido que pudesse ter desfrutado tanto da leitura e viagens mentais que empreendi não fosse a mão amiga do scholare do tradutor na maçaneta da porta dos fundos da Odisseia.

 

Leia mais:

» Guilherme Mendes avalia necessidade de reforma tributária em artigo na revista Política Democrática online

» Revista Política Democrática: “Não há o que celebrar pelo 31 de março”, diz Alberto Aggio

» Política Democrática online: Como os mais pobres poderão ser atingidos pela reforma da Previdência

» Demonização da esquerda já se aproxima de uma escalada muito perigosa, avalia Davi Emerich

» Raul Jungmann é o entrevistado especial da sexta edição da Revista Política Democrática Online

» Sérgio C. Buarque analisa a crise da Previdência em artigo na Revista Política Democrática

» Política Democrática mostra reforma da Previdência como desafio para destravar governo


Política Democrática: André Amado estabelece ‘difícil diálogo com Roland Barthes’

Íntegra do artigo em primeira pessoa pode ser conferido na quinta edição da revista Política Democrática online

Cleomar Almeida

O diretor da revista Política Democrática online, André Amado, que também é embaixador aposentado e escritor, leva ao público um artigo em primeira pessoa, no qual estabelece um diálogo com o filósofo francês Roland Barthes, considerado o pop-star do pensamento parisiense dos anos 1960. Confira trechos abaixo:

Há alguns meses, comentei com um amigo – agora ex-amigo, e vocês entenderão porquê – meu projeto de fazer um doutorado em literatura. Reconheci, de antemão, imensa insegurança quanto aos fundamentos da teoria literária e pedi ajuda.

Sem hesitar, ele sugeriu-me ler, entre outros, o Mimesis, de Erich Auerbach, e um artigo de Roland Barthes, “L ́effect de réel” (“O efeito de real”). Não quis discutir, quem sou para questionar um Barthes?, mas, no meu francês, deveria ser “L ́effect de réel” e não “de”. Deixei passar. Compensava a expectativa de que, em se tratando de um artigo, seria, como de fato logo comprovei, curto.

» Acesse a íntegra do artigo na edição de fevereiro da revista Política Democrática online

Mergulhei na leitura. Não entendi coisa alguma, além de registrar a existência de um barômetro no meio da sala da sra. Aubain, cena retirada de um livro de Gustave Flaubert. Uma certeza eu tinha: a insignificância da minha conclusão ofendia a grandeza do afamado pensador francês. Decidi compartilhar a perplexidade com meu amigo. De novo sem hesitar, ele respondeu, Ora, André, se você cogita de fazer um doutorado em literatura tem de começar entendendo Roland Barthes, e desligou. Aceitei o argumento, mas, nem por isso, mantive A amizade.

Tempos depois, envolvido em preparar a projetada tese, tropeço num texto de um cholar americano, Dennis Foster1, e leio: “Roland Barthes defendeu que detalhes descritivos, como o barômetro da sra. Aubain – que resistiu a todas as tentativas de enquadramento em uma teoria de uma dada ordem de obra simbólica – não significava nada mais do que a realidade... Trata-se de um expediente comum em bons autores para distrair a atenção do leitor com pistas falsas e, bem assim, retardar a decifração do enigma central da história”.

 

Leia também:

» Política Democrática: ‘Crise ética decorre da democracia’, diz Manoel Martins Araújo

» Política Democrática online mostra relação de milícias no RJ com o caso Marielle

» ‘Voto aberto implica desautorizar competência básica do Legislativo’, analisa Arlindo Fernandes

» Brasil tem 486 terras indígenas com demarcações homologadas, afirma Márcio Santilli

» ‘País precisa de choque liberal para reformar Estado’, diz Rubens Barbosa

» Direitos negados serão foco do Sínodo para Pan-Amazônia, diz dom Roque Paloschi

» Política Democrática online destaca império das milícias sobre morte de Marielle Franco


FAP terá estande na 33° Feira do Livro de Brasília

A Fundação Astrojildo Pereira fará distribuição de livros de publicação própria, além da venda de obras de autores parceiros e sessões de autógrafos

Germano Souza Martiniano

A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) terá seu próprio estande na 33° Feira do Livro de Brasília, maior evento literário do Centro-Oeste brasileiro, que ocorrerá entre 16 e 25 de junho no Shopping Pátio Brasil. Serão mais de 100 expositores entre livrarias, editoras, distribuidoras e revistas. No estande da FAP serão distribuídos livros de publicação da própria fundação e também serão vendidos livros de autores parceiros, além de sessão de autógrafos, conforme programação abaixo.

O evento
Com a temática “Inclusão e Cidadania”, a 33° Feira do livro de Brasília busca misturar todas as culturas em um único espaço, por isso foram convidados diversos artistas, músicos, escritores, poetas, entre outras personalidades de várias partes do Brasil e até do mundo. Dentre os principais convidados estão o poeta Antônio Cicero, o antropólogo baiano Antônio Risério e o premiado escritor Cristovão Tezza. O evento também irá homenagear o cantor Belchior e o poeta Ferreira Gullar, que faleceram há pouco tempo.

Programação da sessão de autógrafos FAP:

17 de junho às 15h - “O Corpo”do diplomata brasileiro aposentado André Amado
“O Corpo” se trata de uma trama policial, que se passa em Brasília, temperada com pitadas de espionagem e de informação histórica e técnica sobre o mundo do crime e da intriga política.

19 de junho às 19h – “Poeira e Escuridão” do cineasta, conselheiro consultivo e Ministro da Cultura interino João Batista de Andrade
“Poeira e Escuridão” reproduz a desolada paisagem que existe em torno e dentro do homem. Em linguagem "cinematográfica", o dia a dia da cidade grande é estampado nos olhos-lentes e na caneta do cineasta João Batista de Andrade.

20 de junho às 19h – “Um Lugar no Mundo” (Estudos de história política latino-americana) do historiador e dirigente da FAP Alberto Aggio
“Um Lugar no Mundo”, como diz Paulo Fábio Dantas Neto, Doutor em Ciência Política pelo Iuperj, é uma obra que busca dar perspectiva cosmopolita ao que é suposto como um lugar político pródigo em particularidades, entre as quais a de ser um lugar compartilhado por diversos lugares nacionais. A ideia da América Latina, enquanto substantivo coletivo, singular e plural, não é posta em discussão, mas tomada como premissa.

 


Fontes:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/05/09/interna_diversao_arte,593771/33-feira-do-livro-de-brasilia.shtml

https://www.topleituras.com/livros/corpo-fba1/resumo

http://www.livrariacultura.com.br/p/livros/literatura-nacional/contos-e-cronicas/poeira-e-escuridao-42948943