Allan dos Santos

Mariliz Pereira Jorge: Fogo no parquinho

Bolsonaro pode até mover mundos, fundos, Polícia Federal e Abin para proteger os filhos, mas não fará o mesmo por quem acha que se sacrifica por ele

Nem impeachment nem renúncia. O que pode encrencar Jair Bolsonaro são seus “aliados”. A bomba armada da vez é o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que passou a tarde desta terça (22) fazendo cobranças ao presidente, marcando seus filhos em tuítes. Chamou Carluxo de covarde e reclamou que ele e a ministra Damares Alves tinham deixado de segui-lo nas redes. Parece um esquete, mas é a cafonalha que orbita o Palácio do Planalto.

Escrevi a primeira vez sobre a capacidade de autodestruição deste governo em outubro de 2019, quando o deputado Delegado Valdir disse que iria “implodir” o presidente e o chamou de “vagabundo”. A deputada Joice Hasselmann acusava a prole de Jair de ser mentora do esquema de disseminação de fake news.

Teve Bebianno, Santos Cruz, Mandetta e, claro, Sérgio Moro e as acusações da interferência de Bolsonaro na Polícia Federal e nos serviços de inteligência. Allan dos Santos cobra do presidente atitude sobre a prisão do também blogueiro Oswaldo Eustáquio, que, assim como ele, é acusado de envolvimento em atos antidemocráticos e produção de notícias falsas. Mundo pequeno: os mesmos inquéritos em que são investigados Carluxo e Eduardo.

A lavagem de roupa suja em público é uma mistura de jardim de infância com manicômio, mas percebe-se o intuito de Allan dos Santos de mostrar intimidade ao mesmo tempo em que constrange o presidente. O que esse tipo de gente não enxerga, talvez cega por vaidade e destempero, é que o bolsonarismo não é um projeto político, é um projeto familiar.

Jair pode até mover mundos, fundos, a Polícia Federal e a Abin para proteger os filhotes, mas não vai fazer a mesma coisa por um bando de Zé Ninguém que acha que se sacrifica por ele. Resta saber o que os Zés enrolados com a polícia farão quando descobrirem que estão sós. Se engolirão sua insignificância ou cobrarão a conta pela lealdade.