80 anos

Podcast homenageia 80 anos do poeta Capinan

Artista baiano sempre defendeu a democracia e a justiça social em sua carreira

O poeta, escritor e compositor baiano José Carlos Capinan completou 80 anos, com grandes contribuições para a cultura brasileira. Médico, publicitário e jornalista, fez parcerias com Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Roberto Mendes, Paulinho da Viola, Geraldo Azevedo e João Bosco, entre outros.

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Para homenagear esse importante artista brasileiro, o terceiro episódio do podcast da Rádio FAP debate temas como a história da música popular brasileira, tropicalismo, cultura afro-brasileira, direitos autorais e o cenário da pandemia no Brasil. O programa conta com áudios dos canais Vevo e BeAreYou, no Youtube, além de participações especiais da ativista social Raquel Dias e do músico Armandinho.

O Rádio FAP é publicado semanalmente, às sextas-feiras. O programa tem a produção e apresentação do jornalista João Rodrigues. A edição-executiva é de Renato Ferraz, gerente de Comunicação da FAP.


'Esta direita é atrasada demais', diz José Carlos Capinan

Pelos seus 80 anos, escritor recebeu homenagem on-line da FAP e lembrou trajetória iniciada em Centro de Cultura Popular da UNE

Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP

Sem sair de casa, na Bahia, há mais de um ano, em razão da pandemia da Covid-19, o poeta, escritor e compositor baiano José Carlos Capinan, de 80 anos, classificou o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como “um desastre”, que, segundo ele, provoca “atraso muito grande” para o país e risco de “levar todos ao abismo”.

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Na quarta-feira (7/4), Capinan lembrou sua história de uso das palavras para mover a cultura, a poesia, a música e a literatura brasileiras, durante homenagem on-line da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), vinculada ao Cidadania, pelos 80 anos do compositor, completados em fevereiro. O poeta lamentou a falta de um política nacional de enfrentamento à pandemia, sem citar nominalmente Jair Bolsonaro.

A homenagem ao escritor ocorreu poucas horas depois de o presidente descartar lockdown nacional contra a Covid, na mesma data em que o país registrou 3.829 mortes por complicações da doença e um dia após bater o recorde de 4.195 óbitos em apenas 24 horas.

Músicas contra obscurantismo

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, ressaltou a importância de seu contemporâneo como poeta e compositor. “Você escreveu, na nossa juventude, muito daquilo que a gente pensou e protestou, com músicas importantes que nos ajudaram a lutar contra a ditadura e regimes como este, obscurantista, sempre apontando muito bem para o futuro”, acentuou.

Foto: Agência Câmara

Na homenagem com transmissão ao vivo pelo site e redes sociais da FAP, o diretor-geral da entidade, sociólogo Caetano Araújo, cumprimentou Capinan, chamando-o de “extraordinário militante da cultura e da política”.

Defensor da democracia e justiça social, Capinan já escreveu músicas para cantores nacionalmente conhecidos, como Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Jards Macalé, Paulinho da Viola, Geraldo Azevedo, João Bosco e Roberto Mendes.

Sem citar Bolsonaro, o compositor não escondeu sua decepção com o governo brasileiro. “Não acredito que a gente possa viver, de forma definitiva, qualquer desastre como este que a gente está vivendo. Na verdade, nunca pensei, nunca acreditei em um retrocesso tão grande. O Brasil já viveu coisas muito mais à frente disso que está aí. É um atraso muito grande”, disse.

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Abismo

O poeta disse que, normalmente, a esquerda é acusada de ter visões e comportamentos muito ultrapassados, mas, segundo ele, “esta direita é atrasada demais”. “É uma direita que não tem como sobreviver, realmente levará todos ao abismo. A dificuldade que enfrentamentos é o inesperado: esta doença, coisa terrível”, afirmou.

Por outro lado, o poeta agradeceu aos cientistas por lutarem na árdua guerra contra a Covid, que já matou mais de 341 mil pessoas no país. “Ao mesmo tempo, temos a ciência respondendo a tudo isso”, disse. “Felizmente, temos uma ciência fantástica respondendo a essa loucura”, reforçou.

Apesar da hecatombe da pandemia, Capinan mantém vivo o seu otimismo. “Creio que essas coisas que a gente atravessa na história, esse túnel, têm uma saída, vão ter uma saída”, salientou ele.

Em sua avaliação, o modelo econômico que sustenta desigualdade e exclusão tem se mostrado cada vez mais insustentável. “Não sei se interessa ao capitalismo essa forma horrorosa que hoje atravessamos. Temos um capitalismo já desenvolvido, melhor pensado e executado, e essas trevas, provavelmente, não serão definitivas em momento algum”, ponderou.

Gilberto Gil, Capinan, Zezé Motta. Casa do Rio Vermelho, Salvador da Bahia, 1986. Foto: Arlete Soares

Militante do PCB

A homenagem também serviu para compositor reencontrar, mesmo que virtualmente, amigos dos anos 1960, quando frequentou o Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE). Ele também foi militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), que evoluiu para o Partido Popular Socialista (PPS) e ganhou nova identidade com o Cidadania.

“Foi exatamente o Centro Popular de Cultura que me deu instrumentos para meu trabalho”, contou o poeta. “Foi no CPC o primeiro encontro com o pessoal do Partidão. Apesar de Salvador ser politizada pelos estudantes, havia uma histórica família comunista, dos Santanas, do qual Tom Zé era originário. Aristeu Nogueira me catequizou para o partido”, disse.

Em 1964, no primeiro ano da ditadura militar, fugiu de Salvador para a casa do pai, no interior de São Paulo. Tinha 12 irmãos. “Era uma coisa muito interessante porque meu pai sentava na cabeceira da mesa e, uma vez, ele, sempre sensível, disse: ‘os comunistas querem mudar o mundo, mas, na hora em que o bicho pega, correm para casa’”, lembrou.

O compositor nasceu, em 1941, em arraial de Três Rios (BA), mas foi registrado na vizinha cidade litorânea da Esplanada. Ainda muito cedo, mudou-se para o litoral Sul da Bahia.

José Carlos Capinan nos anos 1960 /Foto: Arquivo Nacional

Inspiração nas feiras

 “Na minha casa não havia biblioteca. Meu tio era telegrafista e me criou. Em Salvador, moramos defronte à Feira de Água de Meninos, que, posteriormente, em 1964, foi incendiada”, afirmou. “Acredito que não foi acidente porque era desejo, na época, de se retirar a feira do local”, disse.

Foi justamente a movimentação da cultura popular nas feiras que fez Capinan desenvolver o gosto pelas letras. “Minha relação com a poesia nasce da observação de poetas populares nas feiras e vendedores de mesinhas no Pelourinho, em Salvador”, contou ele.

As palavras cantadas pelos Camelôs na correria para vender seus produtos, lembrados por Capinan como “animadores incríveis do cotidiano”, revelaram a riqueza e a inspiração da sabedoria popular nas feiras.

“Lá aprendi as primeiras lições de poesia. Eu também era muito leitor de livro de cordel. Tinha coleção fantástica desses livros e me alimentava muito das histórias e fantasias. Era muito estimulado pela criatividade dos cordéis”, relatou.

Ao concluir a retrospectiva de seus 80 anos de vida, o compositor definiu sua trajetória como “perseverança incrível” e compartilhou com todos o desejo por um país menos injusto, menos desigual e menos excludente.

“A gente vê coisas maravilhosas no Brasil”, ressaltou, para apontar os maiores desafios. “Vencermos o racismo, o preconceito, o obscurantismo. Esses retrocessos todos vamos ter que superar, e espero estar vivo para celebrar com vocês ou com a mesa farta baiana o fim de tudo isso. Não sei o que teremos para escolher, mas escolheremos melhor do que está e do que estamos vivendo”.

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FAP realiza evento on-line com escritor e compositor José Carlos Capinan

Letrista receberá homenagem da fundação, no dia 7 de abril, às 17 horas

Cleomar Almeida, Coordenador de Publicações da FAP

O poeta, escritor e compositor José Carlos Capinan mantém a celebração de seus 80 anos, completados em 19 de fevereiro, marcando a trajetória aliada à força das palavras para mover a cultura, a poesia, a música e a literatura brasileiras. Sempre defendeu a democracia e a justiça social.

Nascido em 1941 em arraial de Três Rios (BA), mas registrado na vizinha cidade litorânea da Esplanada, Capinan ganhou notoriedade pelas letras de músicas que escreveu para compositores nacionalmente conhecidos.

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Entre eles estão Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, Jards Macalé, Paulinho da Viola, Geraldo Azevedo, João Bosco, Roberto Mendes, entre outros destacados nomes.

Por causa de sua grande contribuição para o país, Capinan, que também é jornalista, vai receber homenagem da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), em evento on-line, no dia 7 de abril (quarta-feira), a partir das 17 horas.

Com o nome “Capinan 80 anos: Vida e poesia. Uma conversa com o poeta, compositor e escritor José Carlos Capinan”, o encontro virtual será transmitido pelo site e canal da FAP no Youtube, assim como no perfil da entidade no Facebook, simultaneamente.

Resistência à ditadura militar

Mais do que qualquer descrição, a palavra resistência é a que mais bem resume Capinan. Em 1964, ano de início da ditadura militar, Capinan chegou a São Paulo (SP), a partir de Salvador (BA), onde já havia se envolvido com teatro e política estudantil.

Em meio à repressão política, colheu sua ascensão como letrista da MPB, criada e projetada a partir de 1965 em festivais. Capinan teve formação ideológica em CPCs (Centros Populares de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes) de Salvador (BA), cidade para a qual, em 1960, ele havia ido estudar direito em universidade da capital baiana. Também foi militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro).

Capinan participou, desde a década de 1960, de todos os eventos culturais mais importantes do país, do movimento tropicalista até os dias de hoje. Ele é do Conselho Editorial da Revista Política Democrática.

A seguir, veja os participantes do evento on-line em homenagem a Capinan.

George Gurgel de Oliveira: da UFBA, da cátedra da Unesco em Sustentabilidade. Conselheiro da FAP e do Museu da Cultura Afro-brasileira da Bahia.

Ivan Alves Filho: historiador, jornalista e documentarista brasileiro.

Luiz Sergio Henriques: ensaísta e tradutor

Martim Cesar Feijó: doutor em comunicação pela ECA-USP e professor de comunicação comparada na FAAP. É autor, entre outros, de O que é política cultural (1983), Formação política de Astrojildo Pereira (1985) e 1932: a guerra civil paulista (1998, em parceria com Noé Gertel).

Raquel Nascimento: Gestora pública, ativista social, gerente de suporte técnico no Projeto Awurê e conselheira da FAP.

Serviço

Capinan 80 anos: Vida e poesia. Uma conversa com o poeta, compositor e escritor José Carlos Capinan

Onde assistir:

Site da FAP: www.fundacaoastrojildo.com.br

Facebook: https://www.facebook.com/facefap

Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCg6pgx07PmKFCNLK5K1HubA