RPD || Editorial: O eleitor pragmático e as tarefas da oposição

O país ingressou na reta final de uma campanha eleitoral atípica. O primeiro pleito a se realizar na vigência da proibição de coligações nas eleições proporcionais sofreu, em cheio, o impacto da pandemia.
Foto: Marcos Corrêa/PR
Foto: Marcos Corrêa/PR

O país ingressou na reta final de uma campanha eleitoral atípica. O primeiro pleito a se realizar na vigência da proibição de coligações nas eleições proporcionais sofreu, em cheio, o impacto da pandemia. Mudaram o calendário e a sistemática da votação, para aumentar a segurança de mesários, fiscais e eleitores. Mudaram também as estratégias dos candidatos, na divulgação de suas ideias e na procura do voto.

De maneira geral, a tendência seguiu o rumo da redução das atividades presenciais, do corpo a corpo com o eleitor, das reuniões nos espaços públicos e privados. A propaganda por meio do rádio e da televisão não parece, contudo, haver recuperado pelo menos parte da relevância perdida em 2018. Em contraste, a campanha por meio das redes sociais continua a prosperar.

No tocante ao movimento das intenções de voto, capturado na sequência das pesquisas divulgadas até o momento, contudo, emergem dos dados disponíveis hipóteses interessantes, todas, evidentemente, a serem objeto de verificação após o confronto com os resultados finais do pleito.

Vemos configurado de forma clara o aparente paradoxo de a popularidade do Presidente da República, ainda elevada, não render dividendos eleitorais no pleito municipal. O cenário insólito de nenhum candidato com apoio ostensivo do Presidente lograr êxito nas capitais parece próximo de se realizar. Em contraste, os prefeitos em exercício transitam com facilidade nas campanhas, seja em benefício próprio, nos casos de tentativa de reeleição, seja no posicionamento de seus candidatos na liderança das pesquisas ou, ao menos, num dos lugares do segundo turno.

Tudo indica que prevaleceu no eleitorado a tendência ao pragmatismo, à separação prudente das esferas nacional e municipal da política. O programa de transferência de renda em vigor, reconhecido como fundamental para enfrentar a crise em curso, é atribuído, corretamente ou não, a uma decisão do Presidente da República e retribuído com avaliações positivas nas pesquisas de popularidade. O combate à pandemia, por sua vez, é considerado tarefa dos prefeitos e todos aqueles com desempenho minimamente aceitável nesse quesito disparam nas pesquisas de intenção de voto. Nesse quadrado da política, o eleitor parece nortear-se pela garantia da segurança, para sua saúde e sua vida.

Nessa conjuntura, cabe às forças de oposição prosseguirem na convergência programática, no fortalecimento de um amplo leque de alianças para o segundo turno das eleições, em torno do eixo político hoje fundamental: defesa da saúde, da vida e da democracia.

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