Ricardo Noblat: Cala boca já morreu, Bolsonaro!

Presidente ameaçou encher jornalista de porrada.
Foto: Alan Santos/PR
Foto: Alan Santos/PR

Presidente ameaçou encher jornalista de porrada

E a festa marcada para esta manhã no Palácio do Planalto que celebraria o sucesso do governo Bolsonaro no combate ao Covid-19? Seria aberta à imprensa. Continuará sendo? Está mantida? E se um jornalista resolver perguntar ao presidente porquê Fabrício Queiroz e sua mulher Márcia Aguiar depositaram 89 mil reais na conta de Michelle, a primeira-dama?

Alguns poucos bolsonaristas de raiz exultaram com a reação de Bolsonaro à pergunta de um repórter feita quando ele saía, ontem, de mais uma visita dominical à Catedral de Brasília. Sempre que sabe há aglomeração de turistas à porta da catedral, Bolsonaro vai até lá a pretexto de rezar. É mais uma oportunidade para tirar fotos com apoiadores, abraçar criancinhas e distribuir sorrisos.

Tudo teria saído como previsto não fosse a pergunta que o deixou furioso: “Presidente, porquê Queiroz depositou 89 mil reais na conta de dona Michelle?” A pergunta era mais do que pertinente. No final de 2018, quando o Ministério Público Federal do Rio revelou que Queiroz depositara 24 mil reais na conta de Michelle, Bolsonaro espontaneamente correu a explicar-se.

Jurou que o dinheiro era o pagamento de uma dívida contraída por Queiroz com ele. Lembrou que os dois eram amigos há mais de 30 anos e que não era a primeira vez que emprestara dinheiro a Queiroz. Semanas depois, sem que ninguém lhe perguntasse, corrigiu-se. A dívida não era de 24 mil, mas de 40 mil. Mas não adiantou se ela foi paga integralmente.

Num primeiro momento, a pergunta do repórter ficou sem resposta. Enquanto caminhava, Bolsonaro comentou com os seguranças que o cercavam que ainda daria uma porrada “na boca daquele cara”. Como o repórter repetiu a pergunta, finalmente encarou-o e disse: “Minha vontade é encher sua boca de porrada”. Em seguida, pressionado pelos seguranças, foi para casa.

“Ele voltou! Ele voltou!”, transbordavam de felicidade apressados bolsonaristas nas redes sociais antes de serem sufocados por milhares de mensagens em sentido contrário que se limitavam a reproduzir a pergunta do repórter. Não teve mais para nada. A hashtag Queiroz reinou soberana durante pelo menos 8 horas como o assunto mais comentado do Twitter no Brasil.

Por que tamanho espanto diante da ameaça do presidente de encher a boca de um jornalista com porrada? Até começar a fingir ser o que não é, Bolsonaro defendeu a tortura, o torturador Brilhante Ustra, lamentou que a ditadura não tivesse matado um número maior de presos políticos e quase foi condenado por dito que só não estuprava uma deputada porque ela era feia.

Bolsonaro reconciliou-se, afinal, com ele mesmo. Deve estar se sentindo muito melhor, mais leve, mais à vontade para frustração dos que imaginavam tê-lo convertido em um presidente normal. Tirou um peso insuportável nas costas. Se quiser, vai retomar o hábito de mandar jornalista calar a boca, provocar a Justiça, hostilizar o Congresso e bater no Centrão.

Êpa! Chega de exagero. Ameaçar encher a boca de jornalista com porrada não é motivo para abertura de processo de impeachment, concluiu o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Provocar a Justiça não seria recomendável, pois dela dependem as investigações sobre seus filhos. Tampouco bater no Centrão do qual depende hoje para aprovar projetos no Congresso.

É hora de Bolsonaro dar mais força a Paulo Guedes, o ministro da Economia. Se fizer isso, todos os pecados lhe serão perdoados pelos que de fato mandam no país. Vida que segue até a próxima recaída.

O governo nada em dinheiro quando é para atender aos militares

Gasto polêmico
O Ministério da Defesa já empenhou 145,3 milhões de reais para a compra de um microssatélite que fará o monitoramento da devastação da Amazônia, segundo o jornal GLOBO.

Tudo estaria certo, tudo muito bem, não fosse por um fato: o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, órgão do governo, tem um microssatélite tão ou mais moderno e já faz esse serviço.

O custo do microssatélite para que os militares possam chamar de seu é 48 vezes maior do que a verba prevista no Orçamento deste ano para projetos de monitoramento da área e risco de incêndios.

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