Ricardo Noblat: Bispo dá chega pra lá no general

Dois passos à frente e eventualmente um atrás, ensinou Máo Tsé-Tung, histórico líder comunista da China que hoje ainda se diz comunista, embora que disso só preserve o governo totalitário.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Sarna para se coçar

Dois passos à frente e eventualmente um atrás, ensinou Máo Tsé-Tung, histórico líder comunista da China que hoje ainda se diz comunista, embora que disso só preserve o governo totalitário.

O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República, de comunista não tem nada, muito pelo contrário, mas com Mao aprendeu alguma coisa.

Deu dois passos à frente ao admitir ao jornal O Estado de S. Paulo que o “clero progressista” da Igreja Católica era uma ameaça ao governo que tudo faria para barrar suas ações na Amazônia.

Deu um passo atrás ao negar, ontem, que o governo monitore padres, bispos e até cardeais convocados pelo Papa Francisco para debater em Roma os problemas daquela região.

“Ninguém está espionando a Igreja”, afirmou o general. Mas voltou a repetir: “Quem cuida da Amazônia brasileira é o Brasil, não tem que ter palpite de ONG estrangeira, de chefe de Estado estrangeiro”.

O recuo nada sutil do general tem a ver com o suave, mas certeiro chega pra lá que levou do secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner.

“É um evento, uma celebração da Igreja para a Igreja”, disse o bispo sobre o Sínodo da Amazônia, marcado para outubro próximo. Noutras palavras: o governo não deve se meter com isso.

O medo de Heleno, que reflete o medo dos seus ex-colegas de farda e do presidente Jair Bolsonaro, é que o sínodo acabe servindo de palco para críticas às ideias pouco ou nada ambientais do governo.

A tese do general de que a Amazônia é “um problema interno” do Brasil não resiste a um supro. A pressão para que a Igreja suavize sua retórica em defesa do meio ambiente não dará em nada.

São tantos os desafios que o governo Bolsonaro tem pela frente que não deveria querer arranjar mais um.

Mourão, o bombeiro

O colaborador desprezado
Os admiradores recentes do general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, o vem como o contraponto do presidente Jair Bolsonaro, sempre disposto a corrigi-lo ou a antagonizá-lo.

Os devotos de Bolsonaro, e gente do tipo os filhos dele e o que se diz filósofo Olavo de Carvalho, enxergam Mourão como uma grave ameaça à República da Nova Política. Um conspirador nato.

Há outra maneira de ver Mourão: uma vez despido da farda de general de quatro estrelas quando foi para a reserva, à falta de outra, ele vestiu a de bombeiro, sempre disponível para apagar incêndios.

Se visto assim, Mourão tem feito mais bem do que mal a Bolsonaro, ao seu governo e à tropa improvisada de última hora que ascendeu ao poder na ausência de coisa melhor.

Mourão ajuda mais o capitão do que atrapalha. E não é retribuído. Bolsonaro pouco o consulta. Os dois mal se falam. E os garotos do capitão não lhe dão sossego.
Ontem, Mourão sacou do seu extintor de incêndios – desta vez para salvar o ministro do Meio Ambiente de grossa e merecida pancadaria por ter atacado o ex-seringueiro Chico Mendes. Disse:

– O Chico Mendes faz parte da defesa do Brasil na defesa do meio ambiente. É história. Assim como outros vultos passaram por nossa história.

Fosse menos presa dos garotos, e menos inseguro do que verdadeiramente parece, Bolsonaro poderia ter em Mourão um parceiro não só confiável, mas útil para a condução do governo.

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