Queda da inflação não é reversão de tendência, mas sinal de enfraquecimento da demanda, diz economista

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O IBGE divulgou nesta terça-feira o IPCA-15 referente ao mês de junho, a prévia da inflação oficial. O índice registrou alta de 8,98%, na comparação anual.

Os preços recuaram em relação a prévia de maio de 2016, quando registraram 9,62%. Contudo, continuam em patamar elevado, muito acima do teto da meta, de 6,5% ao ano, estipulada pelo governo.

A inflação, na comparação anual, é a maior para o mês de junho desde 2003.

A queda da inflação na prévia de junho não pode ser encarada como reversão de tendência, mas sim um sinal de demanda enfraquecida.

Vale destacar que a pesquisa Focus, realizada com economistas do mercado financeiro e divulgada toda segunda-feira pelo Banco Central aponta inflação de 5,94% ao final desse ano.

Fazendo um “backtesting” dessa pesquisa, é comprovado que os indicadores que o mercado “precifica” na tal pesquisa estão completamente fora de escopo e diferem substancialmente dos reports desses mesmos economistas dos grandes bancos para seus clientes corporativos, para os ultra-milionários e acima de tudo, divergem muito de suas verdadeiras posições (apostas) no mercado financeiro.

A inflação dificilmente fecha o ano no teto da meta – como sugere o “mercado” -, porque já acumula, até maio, 4,05%. Ou seja, seria preciso que se mantenha em patamar de 0,35% ao mês, para recuar dos atuais níveis e fechar em 6,5% ao final do ano.

A demanda menor pode levar a inflação para baixo, contudo é o cenário externo mais favorável – com maior oferta de dinheiro ao redor do mundo, devido à políticas monetárias expansionistas (taxas de juros negativas em vários países desenvolvidos) – que contribui para que a inflação ao redor do mundo situe-se a níveis historicamente muito baixos.

Contudo, comemorar a queda marginal do IPCA-15 ainda é prematuro.

Vivemos uma crise sem precedentes na história e a moeda ainda segue vulnerável.

Na minha opinião, a resistência do dólar acima de R$ 3,00 não deve aliviar as pressões inflacionárias porque somos um País voltado ao consumo interno, com indústria fraca (apenas 22,7% do PIB), onde a maioria dos produtos são importados ou produzidos aqui por multinacionais que reportam seus lucros em moeda forte: dólar, euro, yen, etc.


Fabio Berghella é economista e consultor financeiro

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