Pollyana Gama: Hostilidade nas Redes – Para além da alfabetização funcional

Conversando com algumas pessoas que utilizam redes sociais, parece ser consenso sobre a hostilidade que tomou conta do ambiente virtual. O que se esperava sair de cena após as eleições permanece contaminando e impedindo a possibilidade de diálogos, informações produtivas.
Foto: Google
Foto: Google

Conversando com algumas pessoas que utilizam redes sociais, parece ser consenso sobre a hostilidade que tomou conta do ambiente virtual. O que se esperava sair de cena após as eleições permanece contaminando e impedindo a possibilidade de diálogos, informações produtivas.

Seja qual for o motivo, o impulso, a razão ou não, sempre me atento ao fato de ser importante refletir sobre os aspectos educacionais e até mesmo emocionais que envolvem os autores dessa hostilidade nas redes.

Um indicador a ser considerado para essa tarefa pode ser o Índice de Alfabetismo Funcional (Inaf), apurado pelo Instituto Paulo Montenegro, com nove edições ao longo dos últimos quinze anos.

De acordo com o Instituto “é considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não tem as competências necessárias para satisfazer as demandas do seu dia a dia e viabilizar o seu desenvolvimento pessoal e profissional”. Diferentemente do que ocorre com as pessoas alfabetizadas funcionalmente.

Embora tenhamos reduzido o percentual de analfabetos funcionais em nosso país – de 37% em 2005, para 29% esse ano – o Inaf aponta que de 2015 para 2018 houve acréscimo de 2%, sendo que a grande maioria dessas pessoas, utilizam as redes.

Mesmo que em termos percentuais, a diferença quanto à leitura e nível de alfabetização seja mínima entre as duas categorias, os analfabetos funcionais são os que mais compartilham informações que recebem (84%), porém são os que menos escrevem essas informações (12%). Por outro lado os funcionalmente alfabetizados são os que mais escrevem nas redes (43%).

Voltando a questão inicial – hostilidade nas redes isto é, bombardeio de notícias falsas, fake news e agressões –, vale observar que a origem disso tudo, além do nível de letramento, pode revelar as condições socioemocionais de seus autores. Consequentemente identificamos o quanto é preciso desenvolver a humanidade dessas pessoas, tanto de quem “reproduz”, quanto de quem “escreve”. É preciso não perder de vista que nos tornamos humanos quando desenvolvemos empatia isto é, a capacidade de nos colocamos no lugar do outro. Segundo a pesquisadora Anita Nowak a ação empática tem implicações positivas para o eu e a sociedade.

Afinal, onde está a responsabilidade pelo próximo ao elaborar ou simplesmente compartilhar uma mentira ou agredir, difamar alguém sem apurar os fatos?

Nesse sentido é preciso ir além da alfabetização funcional e complementa-la com a emocional.

A equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro, ao comunicar que enfatizará o uso das redes sociais durante sua gestão, precisa avaliar esse contexto. Se é que já não avaliou… Uma análise séria e comprometida com o desenvolvimento do país indicará a necessidade urgente de investimentos e gestão eficiente para melhorar a qualidade da educação brasileira e constituir – porque não? – um programa de alfabetização emocional para toda comunidade escolar.

Sonho?!

Há ainda quem desconsidere o poder dele ou até mesmo quem prefira não sonhar… Neste caso, prefiro a afirmação contundente de Lobato ao dizer que “tantos sonhos foram realizados que não temos o direito de duvidar de nenhum”. Dúvida? Pode verificar a fonte! Aliás, fontes. Não é fake! Exemplos não faltam. O que falta por vezes para muitos raivosos e agressores virtuais é a capacidade de fazer acontecer uma realidade melhor a começar por si mesmos. Diante dessa falta, fica a dica. Cada um oferece o que tem.

* Pollyana Gama, professora, escritora e Mestre em Desenvolvimento Humano

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