O que aconteceu com o Brasil?

Como compreender historicamente – no sentido  de Lucien Febvre – as eleições de 2018? O que aconteceu com o Brasil?
Reprodução: Blitzdigital

Por Marco Antonio Villa*

Não será tarefa fácil para o pesquisador quando se debruçar sobre o Brasil de 2022 como objeto de estudo. O historiador poderá contar com fontes primárias e secundárias, com arquivos pessoais e com depoimentos, se assim o desejar, de atores – protagonistas ou não – da conjuntura política. Apesar disso, não creio que conseguirá obter respostas imediatamente. Pode ser que o tempo, o desenrolar da nossa história seja um aliado. Pode ser. Contudo, a complexidade do momento histórico vai levar o pesquisador para alguns temas de difícil explicação. 

Como compreender historicamente – no sentido  de Lucien Febvre – as eleições de 2018? O que aconteceu com o Brasil? E, mais concretamente, o que aconteceu conosco? Que País era aquele que elegeu um incapaz para a Presidência da República? No primeiro turno foram apresentados diversos candidatos que tinham história, programa e compromisso com a democracia. Mas o eleitor desconsiderou. Qual a razão? Foi só um voto de protesto ou algo mais?

E a formação do Congresso Nacional? A renovação, especialmente do Senado, foi significativa, a maior dos tempos recentes. Isso mudou alguma coisa? No triângulo de ferro da política nacional, São Paulo. Minas Gerais e Rio de Janeiro, foram eleitos de forma surpreendente – meia dúzia de senadores. Em outros estados acabaram sufragados pelo voto popular neófitos na política regional. 

Como explicar as derrotas das lideranças tradicionais? Depois de mais de três anos e meio de mandato presidencial, Jair Bolsonaro conseguiu sobreviver a maior tragédia sanitária da história nacional, desprezou a ciência, todas as recomendações dos especialistas em saúde pública e, mesmo assim, está muito bem-posicionado nas pesquisas de intenção de voto e, provavelmente, irá ao segundo turno. Teve êxitos econômicos que poderiam compensar o desastre da pandemia? Não. Edificou políticas sociais de longo prazo e, assim, fortaleceu o apoio das classes populares? Não. Foi um defensor da democracia como valor fundamental para enfrentar os grandes dilemas nacionais? Também não.

O Brasil, hoje, é quase como um daqueles problemas matemáticos que permanecem séculos para serem decifrados. Lembrando de Ortega y Gasset, é um País invertebrado. E que vive um dia após o outro sem que haja uma reflexão sobre o passado mais recente, o que aconteceu neste último quadriênio, ao menos. Por quê? O que aconteceu com o vibrante Brasil? Para onde foi a brava gente brasileira?

Publicado originalmente no blog Horizontes democráticos

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