O Globo: Ernesto Araújo evoca teoria da conspiração sobre Covid após conferência da ONU

Chanceler se refere a teoria infundada que alega que a pandemia foi baseada em um complô de elites com o objetivo de dominar as massas.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Chanceler se refere a teoria infundada que alega que a pandemia foi baseada em um complô de elites com o objetivo de dominar as massas

André Duchiade, O Globo

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, evocou nesta sexta-feira uma teoria da conspiração popular em sites de extrema direita, ao se referir à sua participação  na véspera em uma conferência da ONU sobre a pandemia de coronavírus. Ao difundir em redes sociais a sua fala na ONU, Ernesto citou “o grande recomeço” (“great reset”), teoria conspiratória infundada que alega que a pandemia originou-se em função de um complô de elites, com o objetivo de impor o seu controle econômico e social às massas.

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“A pandemia não pode ser pretexto p/ controle social totalitário violando inclusive os princípios das Nações Unidas. As liberdades fundamentais não podem ser vítima da Covid. Liberdade não é ideologia. Nada de Great Reset. Minha fala em sessão ONU s/ Covid”, escreveu no Twitter, em mensagens em português e em inglês.

Embora tenha citado a teoria da conspiração na rede social, Araújo não usou a expressão durante a conferência extraordinária da ONU, que contou com a participação de mais de 90 presidentes e primeiros-ministros com o objetivo de alcançar um compromisso global para responder à crise. No encerramento de sua participação, não obstante, o chanceler insinuou haver um complô que se aproveita da emergência sanitária para suprimir liberdades:

— Aqueles que não gostam da liberdade sempre tentam se beneficiar dos momentos de crise para pregar o cerceamento da liberdade. Não caiamos nessa armadilha. O controle social totalitário não é o remédio para nenhuma crise. Não façamos da democracia e da liberdade mais uma vítima da Covid-19 — afirmou, sem detalhar quem seriam os agentes supressores da liberdade, ou quais são suas ações.

A teoria do “grande recomeço” ganhou força no final de maio, quando o príncipe Charles e Klaus Schwab, presidente-executivo do Fórum Econômico Mundial, anunciaram planos para reunir líderes mundiais e discutir as mudanças climáticas e a reconstrução de economias prejudicadas pela pandemia. A reunião foi chamada de “Grande Recomeço”, dando início a uma onda de rumores falsos sobre um grupo de elite que manipularia a economia e a sociedade mundiais, atuando para abolir liberdades individuais e instaurar um regime totalitário. 

Em meados de novembro, um vídeo do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também usando a expressão “grande recomeço” em uma reunião das Nações Unidas em setembro, ganhou centenas de milhares de visualizações on-line. Pouco depois, comentaristas de extrema direita da internet conhecidos por difundirem desinformação começaram a usar a expressão. Paul Joseph Watson, um ex-colaborador do site de teorias da conspiração Infowars, e Steven Crowder, que falsamente afirmou que o número de mortes por coronavírus está inflado, estavam entre os propagadores da teoria. A expressão chegou aos assuntos mais comentados do Twitter.

Na videoconferência da ONU, Araújo também citou planos para avançar uma “agenda” que subtrairia poder dos Estados nacionais. Araújo não especificou quem busca adotar esta agenda, nem como:

— A Covid-19 não pode servir como pretexto para avançar agendas que extrapolam a estrutura constitucional das Nações Unidas — disse no começo de sua fala, quando atacava o multilateralismo. — O Brasil reafirma a responsabilidade primária dos governos de adotar e implementar respostas à Covid-19 específicas aos contextos nacionais. Não existe uma solução única para todos. Não devemos transferir nenhuma responsabilidade do nível nacional para o internacional.

O presidente Jair Bolsonaro escolheu não participar da conferência. Pelo protocolo, Araújo foi um dos últimos a falar, e o fez quando já anoitecia em Nova York.

Na sua fala, Araújo disse que os institutos Biomanguinhos/Fiocruz e Butantã podem, juntos, produzir entre 600 e 800 milhões de doses de vacina contra Covid-19 até junho de 2021. Não está claro qual foi a conta feita pelo ministro para alcançar estes números. Araújo também mencionou que a Fiocruz tem um acordo com Oxford e com a farmacêutica Astrazeneca para a produção de vacinas, mas omitiu o acordo entre o Butantã e o laboratório chinês SinoVac para a produção da Coronavac.

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