O Globo: Carlos Marun, de aliado de Cunha a ministro

Substituto de Imbassahy na Secretaria de Governo, Marun é defensor ferrenho de Temer
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Substituto de Imbassahy na Secretaria de Governo, Marun é defensor ferrenho de Temer

Por Letícia Fernandes, Catarina Alencastro e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA — Deputado de primeiro mandato, integrante da tropa de choque do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje preso, de quem se manteve próximo mesmo após a cassação do mandato e posterior prisão, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), vice-líder do governo na Câmara, finalmente pode afirmar que foi escolhido pelo presidente Michel Temer para ser o novo ministro da Secretaria de Governo, substituindo o tucano Antonio Imbassahy. Ele deve tomar posse na próxima quinta-feira.

A proximidade com Cunha era tanta que, em 30 de dezembro do ano passado, Marun chegou a usar dinheiro público para custear parte das despesas que teve na visita que fez ao ex-presidente da Câmara na prisão. Em janeiro deste ano, O GLOBO encontrou na cota de atividade parlamentar de Marun a emissão de uma passagem aérea no trecho Curitiba-Porto Alegre e de uma diária em hotel na capital paranaense nas mesmas datas da visita. Ele esteve com Cunha no Complexo Médico Penal de Pinhais, em Curitiba, no dia 30 de dezembro de 2016. A passagem paga pela Câmara foi emitida no dia 29 de dezembro e custou R$ 327,58, pela companhia Azul.

Das fileiras de ataque de Eduardo Cunha, o deputado passou a ser um dos mais enérgicos defensores do governo Temer. Com bom trânsito entre deputados do PMDB e do centrão, grupo que nasceu sob o comando do ex-deputado preso, Marun é visto como um nome que poderá aliviar a pressão nas cobranças que partidos da base fazem a Temer, que enfrenta, agora negociações difíceis para aprovar a reforma da Previdência.

— A entrada do Marun traz votos para a Previdência. No contexto de ajudar a distribuir os cargos, Marun acrescenta sensivelmente — disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).

A demora na posse de Marun no ministério que cuida da articulação política do governo se dá porque o deputado é relator da CPI da JBS na Câmara — onde encampa a tese do Palácio do Planalto de que Temer foi alvo de uma trama do Ministério Público com a JBS para tirar o presidente do poder — e deve apresentar o relatório na próxima terça-feira, o que só o libera após esta data.

Na sexta-feira, pouco depois da queda de Imbassahy, Marun começou a receber os cumprimentos e disse que está à disposição do presidente. Em um gabinete da Câmara, o deputado contava em conversas telefônicas, sem perceber que sua voz alta era ouvida no corredor, que fora convidado por Temer.

— Parece que vou ser eu. O homem me convidou de novo! — dizia Marun no telefone, relembrando que quase assumiu o posto no final de novembro, mas teve a nomeação adiada.

Aliados da base governista disseram que ele já trabalhou, durante toda a semana, como ministro informal, ajudando no mapeamento dos votos.

— Os amigos estão aqui, ligando, mas estou trabalhando no relatório da CPI da JBS. Tenho conversado com o presidente sobre a reforma da Previdência. Estou à disposição como sempre estive do presidente, sou um homem de partido. Nos últimos dias, tenho trabalhado mais o PMDB e a sociedade — disse ele, rindo.

Marun é conhecido por seus discursos acalorados. Logo foi convocado para assumir a linha de frente da defesa do governo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), palco do primeiro round de votação da denúncia que o Ministério Público enviou à Câmara um mês após a revelação das conversas entre Temer e Joesley Batista. Marun foi uma das 17 trocas que o Planalto promoveu na CCJ para salvar o mandato de Temer.

 

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