O Estado de S. Paulo: ‘Nós não trocamos a população pelo Centrão’, diz Marina Silva

Candidata rebateu críticas de que seu eventual governo não teria viabilidade por ela não ter conseguido realizar alianças com partidos de expressão.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag Brasil

Candidata rebateu críticas de que seu eventual governo não teria viabilidade por ela não ter conseguido realizar alianças com partidos de expressão

Por Mariana Haubert e Marianna Holanda, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Em um longo discurso, com recados para seus principais oponentes, a candidata à Presidência da República pela Rede nas eleições 2018, Marina Silva, se apresentou como o “projeto mais preparado” para “unir o Brasil”. Ela falou a militantes do seu partido na convenção que oficializou sua candidatura neste sábado, 4, em Brasília.

“O povo brasileiro não vai ser substituído por ‘Centrões’ de direita e esquerda. No centro está o povo brasileiro”, disse, arrancando aplausos e gritos de “Brasil para frente, Marina presidente”. Em uma fala de quase 50 minutos, Marina afirmou não ser a dona da verdade e destacou ter o compromisso necessário para governar o Brasil em um momento crítico tanto econômica quanto socialmente.

A candidata rebateu as críticas feitas por adversários de que seu eventual governo não teria viabilidade por ela não ter conseguido realizar alianças com partidos de expressão no Congresso Nacional. A Rede se uniu ao PV, uma sigla com pouca representatividade no País, que tem uma capilaridade bastante limitada.

“Estão dizendo que não temos viabilidade mesmo quando as pesquisas nos colocam de forma favorável. É porque não substituímos a população pelo Centrão, é porque não trocamos o futuro dos brasileiros por tempo de televisão”, disse.

Marina fez referência direta ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que agregou os partidos do chamado Centrão (DEM, PP, PR, PSD e Solidariedade) à sua campanha. Para ela, esse tipo de negociação é puramente fisiológica. Além disso, destacou sua aliança com o PV como uma “junção programática”.

Em contrapartida, ela destacou sua aliança com o PV como uma junção programática. “Eu sempre disse que meu vice deveria ter um perfil complementar. É um encontro programático, não é por conveniência, não é por televisão, não é por dinheiro para pagar marqueteiro para enganar os brasileiros como vimos na eleição passada. É uma aliança para ajudar a transformar o Brasil”, disse.

Marina afirmou ainda que as eleições de 2014 foram uma “guerra sem parâmetros e sem ética” em que ela foi atacada em todas as frentes. Ela relembrou a morte de Eduardo Campos, que era candidato à Presidência pelo PSB e Marina era sua vice, e a proibição do registro da Rede Sustentabilidade a tempo da disputa das eleições.

Propostas. Ao falar das propostas que pretende apresentar, Marina defendeu a realização de duas principais reformas: a política e a tributária, além da revisão da reforma trabalhista feita pelo presidente Michel Temer. Ela também prometeu não tentar a reeleição e disse que proporá um mandato de cinco anos a partir de 2022. “Nosso projeto é para um governo de transição. Não queremos um projeto de 20 anos até porque acho que foi aí que muita gente se perdeu. Vamos ficar quatro anos”, disse.

Candidato à vice-presidente na chapa, Eduardo Jorge (PV) destacou a agenda ambientalista comum às duas siglas. “O Brasil não cumpre sua responsabilidade em relação ao meio ambiente”, disse. “Temos que saber que o movimento ambientalista veio para reformar completamente a vida forjada pelo capitalismo e pelo socialismo. Tem revolução maior que essa?”, completou.

Ele defendeu ainda um maior diálogo com o setor agropecuário para que o Brasil tenha “uma alimentação segura, saudável e, de preferência, vegetariana e vegana”. “Não é só pela nossa saúde, mas pela saúde do planeta”, disse.

Ficha Limpa. Durante a convenção, apoiadores da candidata da Rede a apresentaram como a candidata Ficha Limpa que não é investigada pela Lava Jato e única capaz de combater a corrupção e renovar a política no Brasil.

“A militância do PV e da Rede vão com a cabeça erguida para rua, porque aqui não tem ninguém na Lava Jato, não tem nenhum bandido. É um novo País que está emergindo, Brasil de cara limpa, que vê a diversidade”, afirmou Pedro Ivo Batista, porta-voz da Rede.

“Fizeram a Lava Jato, agora vamos pedir à população que faça o Lava Voto”, endossou o deputado distrital Chico Leite, candidato da Rede no Distrito Federal ao Senado.

Neste ano, a narrativa da campanha de Marina continua apostando no desgaste da política tradicional, agora mais latente que há quatro anos. O discurso de terceira via é reeditado para uma polarização não mais apenas entre PT e PSDB, mais que também envolve a extrema direita e a extrema esquerda. Esse movimento bipolar é encabeçado por Jair Bolsonaro (PSL) e pelo candidato do PT.

Durante a convenção, militantes da Rede usaram camisetas justamente com os dizeres “esquerda” e “direita” riscados e a frase “para frente” em destaque. Em seu discurso, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) seguiu o tom dos demais correligionários e disse que “a corrupção é a pior forma de apropriação das coisas pela elite”. “É a terrível herança da casta aristocrática brasileira”, disse.

O evento também foi marcado por apresentações musicais e uma performance de dança que atraiu a candidata para o meio do palco. O pastor Levi Araújo foi o primeiro a falar. Ele defendeu o Estado laico e disse que não se pode misturar Bíblia com Constituição. Durante a convenção, o ator Marcos Palmeira pediu aos militantes por diversas vezes para que não esquecessem de fazer doações para a campanha.

Nas últimas pesquisas de intenção de voto, Marina oscila entre a segunda e a terceira posição, dependendo do cenário avaliado, com ou sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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