O Estado de S. Paulo: ‘Eleição de Bolsonaro ou volta do PT seriam tragédias’, diz Elena Landau

Recém empossada como presidente nacional do movimento Livres, que defende a pauta da liberdade na economia e nos costumes, a economista afirma que encara o atual cenário político com 'apreensão'.
Foto: Agência Brasil
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Recém empossada como presidente nacional do movimento Livres, que defende a pauta da liberdade na economia e nos costumes, a economista afirma que encara o atual cenário político com ‘apreensão’

Por Paulo Beraldo, de O Estado de S.Paulo

A economista e advogada Elena Landau, recém-empossada como presidente nacional do movimento suprapartidário Livres, de orientação liberal, afirmou em entrevista ao Estado que a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) ou a volta do PT seriam “duas tragédias para o País”. Landau, que foi uma das principais economistas do PSDB por 25 anos e se desligou do partido em 2017, assumiu a liderança do movimento em 21 de agosto e disse que encara o atual cenário político com “apreensão”. Ela também criticou o populismo das campanhas nas eleições 2018.

Nos anos 1990, Landau colaborou com o Programa Nacional de Desestatização e, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde atuou de 1994 a 1996. Em agosto de 2017, Landau endereçou uma carta ao PSDB, escrita em conjunto com os economistas Edmar Bacha, Gustavo Franco e Luiz Roberto Cunha, anunciando o desligamento da sigla. A carta dizia que o PSDB deixou “vazio o centro político ético de que o País tanto precisa” porque foi “incapaz de se dissociar de um governo manchado pela corrupção”.

Entre as propostas, o Livres defende a criação de “bancadas da liberdade” ao redor do País, com a defesa de temas como a igualdade de oportunidades, a redução do tamanho do Estado, mais eficiência na máquina pública e a desburocratização da economia. O grupo se define como liberal “por completo”, tanto em temas econômicos quanto nos costumes.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O movimento Livres tem interesse de se tornar um partido no futuro?
No momento, descartamos a ideia de ser um partido. Existe uma enorme barreira à entrada do novo na política. Começar do zero é muito caro. Nossos associados não têm o perfil de construir um partido. Para montar um partido é preciso dezenas de milhões de reais.  A lei eleitoral é feita para se retroalimentar. Quem tem mais bancada ganha mais dinheiro, quem tem mais dinheiro ganha mais tempo de TV e por aí vai. Hoje, a gente acredita que é até melhor ser um movimento suprapartidário. Muitos potenciais apoiadores têm nos procurado porque isso dá mais liberdade. Mas isso não significa que o Livres abriu mão da ideia de atuação política. Temos a intenção de, ao longo do tempo e começando por essa eleição, termos ‘bancadas da liberdade’ ao redor do Brasil.

O que seriam bancadas da liberdade?
Se o Congresso tem a bancada da bala, a bancada do boi, queremos ter também as bancadas da liberdade, que defendem o combate à burocracia, que propõem um Estado eficiente, mais próximo da população, com igualdade de oportunidades e facilidades para os empreendedores de todas as rendas.  E também defendemos a liberdade nos costumes, uma pauta mais progressista, com liberdade de expressão, casamento homoafetivo e legalização da maconha. Deixamos de usar a palavra liberal porque ela ficou distorcida, já que muitos candidatos conservadores que não têm nada de liberal usam essa palavra. O Livres trabalha para dar ao cidadão a possibilidade de ser dono de seu destino.

Quais as metas do Livres para as eleições 2018?
Estamos com muita expectativa. Temos cerca de 40 candidatos em todos os níveis de governo. Temos muita capilaridade e nosso foco serão nos deputados estaduais. Mas, para 2020, quando estivermos mais consolidados, com grupos estruturados de governança, de política pública, com um conselho acadêmico, teremos mais força.

Após o processo eleitoral, quais os planos?
Vamos fazer uma série de eventos com os associados, conselheiros, debates e dar mais visibilidade (ao Livres). Nossa ideia é acompanhar a votação de projetos que sejam compatíveis com a agenda da liberdade. Vamos municiar parlamentares com análises de projetos, idas ao Congresso, participação nas assembleias e debater projetos que tenham a ver com o que defendemos. Não é só um grupo conceitual, teremos uma participação concreta.

De onde vem a cor roxa do movimento Livres?
Em geral, as pessoas dizem que a pauta progressista está na esquerda, simbolizada pela cor vermelha. E tem um grupo de pessoas com ideias liberais na economia que são representadas pela cor azul.

Como a sra. avalia o atual quadro político brasileiro?
Encaro com muita apreensão porque vejo nos dois candidatos que lideram as pesquisas (Lula e Bolsonaro) a gravidade da situação fiscal. A volta do PT ou a eleição de Bolsonaro seriam duas tragédias. O Centro tem que se unir porque, caso contrário, vai acabar empurrando os extremismos para o segundo turno.

Depois de termos passado por Mensalão, Petrolão, pela recessão, achei que seria diferente, mas começou a campanha e virou populismo de novo. Ninguém quer ouvir quem fala a verdade. Aí surgem ideias mirabolantes como resolver a dívida pública vendendo todas as estatais.

Vem o Ciro Gomes (PDT) com a proposta de tirar todo mundo do SPC, mas alguém vai ter que pagar essa conta. São ideias falsas que dão errado. Se puxar de um lado, falta do outro.

Depois, o PT vem com essa história de campanha de uma pessoa claramente inelegível aparecendo nas pesquisas. Isso confunde os eleitores.

O Fernando Haddad, que era considerado moderado, está falando as coisas mais impensáveis para se legitimar dentro do próprio partido. Então, eu estou muito pessimista.
Ao mesmo tempo, a sra. costuma defender uma agenda positiva da política…

Não adianta entrar na política com desprezo pela política, com esse discurso do “renova tudo, falando que nenhum político presta”, cheio de ataques a adversários. Nem todo parlamentar é ruim e não precisa renovar tudo porque também tem muita gente boa no Congresso e na política. Defendemos uma agenda mais pragmática.

 

 

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