Nelson de Sá: China toma lugar dos EUA na América Latina, alertam ‘think tanks’

Washington deveria enviar assistência humanitária, como Pequim, não 'destroieres da Marinha', diz artigo no NYT.
Foto: Tia Dufour /White House
Foto: Tia Dufour /White House

Washington deveria enviar assistência humanitária, como Pequim, não ‘destroieres da Marinha’, diz artigo no NYT

Na chamada do New York Times, “Gracias China!!!”. Artigo de representantes de dois “think tanks” do establishment de política externa, Council on Foreign Relations e Inter-American Dialogue, destaca que Argentina e México agradecem Pequim pelo apoio contra a Covid-19 –e até “Jair Bolsonaro minimiza sua retórica”, embora mais para manter a venda de soja.

Enquanto isso, Donald Trump “anuncia aumento de ativos militares no Caribe e costa do Pacífico”, quando, “em vez de destroieres da Marinha, os EUA deveriam prestar assistência humanitária a nossos vizinhos”, como faz a China. Em suma, no subtítulo, “Liderança dos EUA na América Latina é questionada e Pequim se posiciona para ficar com o manto”.

O consultor americano Ian Bremmer, da Eurasia, voltada para risco geopolítico, falou na mesma linha ao podcast do âncora da NBC Chuck Todd. Relatou que a cadeia de suprimentos da China já está em 70% e atinge “funcionamento total” em maio. “Ou seja, enquanto os americanos ainda estiverem parados, os chineses estarão prontos para ser a fábrica do mundo de novo.”

Por toda parte, conclui ele, “os cidadãos começam a dizer: ‘Por que estamos seguindo os EUA?’. Você vê isso no Sudeste Asiático, na África, na Europa e até na América do Sul”.

POLÍTICA INDUSTRIAL LÁ
Também no NYT, o senador republicano Marco Rubio propõe “uma abrangente política industrial pró-americana”, depois de “décadas priorizando ganhos financeiros sobre a produção de bens físicos”.

O modelo –e concorrente– é a China, onde “o Partido Comunista apoiou as empresas no desenvolvimento do capital produtivo de longo prazo”. Em suma: “Por que não tivemos máscaras e ventiladores? Porque são ações que não maximizam retorno financeiro” em Wall Street.

CHINA AVISOU
Reportagem do Financial Times sobre a “guerra de mídia social” de Eduardo Bolsonaro e Abraham Weintraub com a China ouve, de “autoridade de comércio” brasileira: “O pior é que isso pode plantar uma semente de desconfiança, criar uma imagem negativa do Brasil como fornecedor de produtos à China”.

E de “diplomata sênior” brasileiro: “Já danificou as relações. Os chineses já sinalizaram que, se continuarem, os danos podem ser mais tangíveis. Essas mensagens já foram enviadas”.

COLAPSO
Com mais de um mês em quarentena e o “colapso” de hospitais e crematórios em Lima, sites peruanos noticiam que a “Polícia bloqueia rodovia enquanto pessoas tentam fugir” da capital (imagem acima).

Na manchete do El Comercio, o país passou de 17 mil casos, o segundo na América Latina, e “Lima reporta mais mortos que todo o Chile”, o terceiro. O ministro peruano da Saúde declarou: “Queremos evitar o que se viu em Guayaquil”, corpos nas ruas.

Washington Post e o site chinês NetEase já acenderam o sinal vermelho sobre o Peru, com o segundo destacando o temor da América do Sul de se tornar “o próximo campo de batalha” da pandemia.

Nelson de Sá é jornalista, cobre mídia e política na Folha desde a eleição de 1989.

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