Não tem como dar zebra

Recente trabalho de Luiz Carlos Prestes Filho remete ao tradicional e brasileiríssimo jogo do bicho
Imagem: Reprodução/Youtube
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Ivan Alves Filho, historiador

O Jogo do Bicho, tão brasileiro quanto o samba, é hoje uma prática centenária entre nós. E uma prática social que, no plano da música de concerto, ainda não havia recebido nenhuma atenção por parte dos nossos compositores.
O recente trabalho de Luiz Carlos Prestes Filho vem questionar esse estado de coisas, com a gana de quem faz uma fezinha, eu diria até.
O Jogo do Bicho tem tudo que ver com a História do Brasil e do Rio de Janeiro. Nasceu em 1892, em Vila Isabel, que se tornaria o chão mítico de Sinhô e Noel Rosa. Isso, quatro anos depois da Abolição, três da Proclamação República e apenas um ano após a promulgação da Constituição republicana. Um período de turbulências, logo se vê. Uma turbulência como que inscrita no DNA do Jogo do Bicho. Afinal, ele surgiu como resposta, também, à crise econômica que afetava então o país, em particular as atividades comerciais. Os tempos exigiam novas atitudes. E foi para salvar o Jardim Zoológico da bancarrota que o Barão de Drummond inventou o jogo, revertendo a renda das apostas em benefício da entidade.
Logo cedo a cidade adotou e usou o bicho. E até hoje é assim.


Voltando ao trabalho musical do Luiz Carlos Prestes Filho, eu diria que esse é o pano de fundo de sua obra. A sensibilidade musical brasileira, os sons que se afirmavam naquele período, e que vão da polca à marcha e desta ao samba, estão muito bem representados aqui. Isso, para não aludirmos ao próprio Carnaval, indissociável do Jogo do Bicho.
Vale a pena ouvir essa Fantasia Musical Jogo do Bicho. Não tem como dar zebra.

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