Míriam Leitão: Volatilidade prevista

Estava escrito nas estrelas que este ano seria o da volatilidade cambial, por ser ano eleitoral, e estarem em disputa projetos políticos diferentes entre si, mas todos mal formulados. Além disso, houve um alinhamento de planetas provocado pelo fator Trump. Ele adota medidas econômicas e faz ameaças políticas que podem levar à alta dos juros nos EUA. Isso afeta a cotação do dólar, que ontem caiu, após subir por cinco pregões.
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Estava escrito nas estrelas que este ano seria o da volatilidade cambial, por ser ano eleitoral, e estarem em disputa projetos políticos diferentes entre si, mas todos mal formulados. Além disso, houve um alinhamento de planetas provocado pelo fator Trump. Ele adota medidas econômicas e faz ameaças políticas que podem levar à alta dos juros nos EUA. Isso afeta a cotação do dólar, que ontem caiu, após subir por cinco pregões.

Não é surpresa, portanto, esse período de variações do dólar, e a volta ao patamar mais elevado desde 2016. Se essa vai ser a eleição com a maior taxa de incerteza que o país já teve desde a redemocratização, seria estranho se não houvesse volatilidade. Mas há um detalhe importante: a incerteza é maior, mas as condições concretas do Brasil, na área cambial, são melhores do que em qualquer outro tempo de estresse político.

O Banco Central tem os instrumentos para evitar exageros de cotação. Por definição, no câmbio de livre flutuação, o BC não tem que defender um valor específico para a moeda, mas ele pode atuar para evitar excessos que desorganizem. Nunca antes houve tantas reservas cambiais, US$ 380 bilhões, e isso é meio caminho andado. O outro meio caminho também temos: o Banco Central, desde a chegada de Ilan Goldfajn, reduziu muito a exposição ao dólar futuro, resgatando os contratos de swaps. Pode agora voltar a oferecê-los. O déficit em transações correntes, que estava em 4,5% do PIB em meados de 2015, está agora em 0,38% do PIB, ou seja, praticamente em equilíbrio. Ontem saíram dados mostrando superávit em março e o BC avisou que haverá novo resultado positivo em abril. A balança comercial tem gerado saldos recordes. E a inflação, há nove meses abaixo do piso da meta, tem espaço suficiente para acomodar qualquer choque provocado por alta do dólar.

E que bom que a economia criou todas essas reservas e amortecedores porque a tendência será continuar o sobe e desce da moeda, a partir das muitas dúvidas que cercam essa campanha. Os projetos dos possíveis postulantes não foram sequer formulados. O mercado, que gosta de divisões simples de campo de pensamento, acha que há dois cenários, o da eleição de um candidato populista, em que iria tudo para o vinagre, e outro de vitória de um candidato reformista, que salvaria a pátria.

Tudo é bem mais confuso do que a vã filosofia dos cenários de mercado. Há, na disputa eleitoral, posições extremadas, sem qualquer substância concreta. São radicais sem causa.

Há candidatos que se definem apenas por oposição ao outro, mas não dizem o que defendem e como vão enfrentar os muitos impasses brasileiros. Há os que já estiveram no poder, mas se comportam como noviços puros, sem qualquer relação com os erros passados, e prometendo mudar tudo. Há outros que se transmutam para o ideário de conveniência, mas que têm toda uma vida com atos e palavras no sentido oposto ao que dizem agora defender.

Então, mais do que ter dois cenários opostos — o bom e o ruim — o que se tem é a opacidade de todos os cenários, o que eleva muito a incerteza. A cada volta da pesquisa de opinião, ou da opinião expressa por um dos contendores vistos como competitivos, o dólar pode subir ou descer. Como se tudo isso não bastasse, o Brasil tem uma Justiça cujo poder supremo é idiossincrático, inesperado, conflituoso. A uma decisão de turma tudo pode mudar repentinamente, como ocorreu esta semana.

As decisões do presidente americano incluem um ingrediente de instabilidade para o valor de todas as moedas. É por isso que, desde a quarta-feira da semana passada, o dólar subiu em relação a moedas de todo o mundo, com o real acumulando perdas de 2,74%, uma das maiores no período, informa a corretora Mirae. A cotação tem subido porque o governo Trump está expandindo o déficit orçamentário e reduzindo impostos para aquecer o consumo num momento de baixo desemprego. E está elevando as barreiras ao comércio. Isso aumenta os temores de inflação e de alta dos juros. As ameaças ao acordo com o Irã estimulam a alta do petróleo que, também por outros motivos, está ocorrendo. Esse cenário internacional fortalece a tendência de volatilidade que já estava dada por ser um ano de eleição e com cenários de muita imprevisibilidade.

(COM MARCELO LOUREIRO)

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