Míriam Leitão: Perdas humanas e custo econômico

O Brasil chega a 150 mil mortes na pandemia combinando o pior dos cenários: elevado custo econômico e um número assustador de perdas humanas.
Foto: Alex Pazuello/Semcom
Foto: Alex Pazuello/Semcom

Por Alvaro Gribel (interino)

O Brasil chega a 150 mil mortes na pandemia combinando o pior dos cenários: elevado custo econômico e um número assustador de perdas humanas. Na média de mortes por milhão, o país é o pior entre as 10 maiores populações. Ultrapassou os Estados Unidos. Na economia, também não há o que comemorar. O custo fiscal foi mais elevado porque o governo não soube fazer o que era mais barato: comunicar de forma eficiente e orientar a população. Vários estudos têm comprovado que há uma relação direta entre a redução das mortes e a recuperação do consumo.

O FMI divulgou um relatório importante na última semana confirmando que os países que melhor controlaram o vírus estão tendo maiores ganhos econômicos. Se a perda no curto prazo foi mais forte, pelas políticas de isolamento social, no médio prazo isso está sendo compensado pela volta da confiança. O Fundo lembra que há o isolamento orientado pelo governo e o isolamento voluntário, quando as famílias ficam trancadas em casa pelo medo do vírus. De um jeito ou de outro o isolamento acontece, e é melhor que seja de forma organizada. Isso quer dizer que nunca houve trade off entre saúde e economia, as duas coisas sempre andaram juntas, de forma complementar.

Aqui no Brasil, o Itaú Unibanco chegou à mesma conclusão fazendo um cruzamento de dados de consumo, auxílio emergencial e número de mortes. Se é verdade que a ajuda financeira está tendo efeito positivo sobre o PIB, o banco descobriu que muitos municípios que controlaram a pandemia já recuperaram o nível pré-crise, ainda que as suas populações tenham recebido menos dinheiro do governo.

“O consumo de municípios com menor repasse e menor mortalidade está acima do consumo daqueles com maior repasse e maior mortalidade”, disse o departamento econômico do banco, para depois concluir: “Os resultados evidenciam que a recuperação da economia e o controle da pandemia são indissociáveis.”
Quem lê o estudo do FMI percebe que o governo brasileiro continua se deixando levar pelos acontecimentos. Como ainda não há certeza de quando haverá vacina, o que vai determinar a recuperação no ano que vem será a capacidade de a população se sentir segura e de o maior número de setores trabalhar remotamente. É crucial que as populações mais vulneráveis tenham acesso à internet de alta velocidade para trabalhar à distância. O mesmo vale para o uso de máscaras, as testagens em massa e as estratégias de rastreamento. Pouco disso — para não dizer nada — foi feito pelo governo federal. Por isso as estatísticas mostram gastos exorbitantes, uma crise fiscal sem precedentes, e um número inadmissível de perdas de vidas de brasileiros.

Fuga de estrangeiros

A crise fiscal e a pandemia ainda sem data para acabar têm pesado sobre a bolsa, que há dois meses vem andando de lado. Pelo gráfico, extraído de uma apresentação do presidente do Banco Central, percebe-se uma fuga em massa de capital estrangeiro da B3. Enquanto o investidor pessoa física entrou com R$ 33,7 bi até setembro, e o investidor institucional, com mais R$ 56,8 bi, o estrangeiro retirou R$ 87,5 bilhões de papéis de empresas brasileiras.

Fundos parados

Se o Brasil precisa de investimentos em tecnologia da informação, há cerca de R$ 100 bilhões parados em três fundos do setor, segundo Vivien Suruagy, presidente da Feninfra (Federação da Indústria de Infraestrutura de Redes e Telecomunicações). Ela explica que esse dinheiro do Fust, Funttel e Fistel não foi usado durante a pandemia e ainda encareceu o serviço na forma de encargos. “Somente 8% do que foi recolhido até hoje foi investido no setor. Foi tudo para a conta do governo”, explica. Ela teme os efeitos da reoneração da folha, que pode levar a demissões em massa no setor de telecom e provocar um apagão do serviço a partir de janeiro.

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