Em sua homenagem, o presidente estuda lançar a campanha Morre que Passa
Circula no Planalto a informação de que Nelson Teich não era a primeira opção de Jair Bolsonaro para substituir Mandetta no Ministério da Saúde. O presidente vinha negociando com uma importante aliada de seu governo: a Morte. A candidata tinha o apoio da ala militar e de uma pequena parte da população, que vem fazendo carreatas em sua defesa.
Ilustração Silvia Rodrigues publicada na ilustrada na coluna da Manuela Cantuaria, nela um presidente Bolsonaro aperta a mão da morte.
Silvia Rodrigues/Folhapress
Apesar do clima amistoso e cordial entre ambos, a Morte não pôde aceitar o convite para fazer parte do governo. A pandemia tem ocupado a maior parte de seu tempo.
Onde os outros enxergam uma crise, a Morte vê uma oportunidade, assim como Jorge Paulo Lemann, Jeff Bezos e Gabriela Pugliesi. Mas ninguém no planeta está lucrando como a ceifadora. Nem os fabricantes de álcool em gel tiveram tanta sorte nos negócios.
Talvez não durasse muito no cargo. A Morte roubaria os holofotes ainda mais do que Mandetta. Já estampa jornais no mundo inteiro, circula entre celebridades e em comunidades carentes. Seu nome está na boca do povo. É respeitada e temida como Bolsonaro gostaria de ser. Nem o torturador Brilhante Ustra é digno de tamanha admiração pelo presidente.
Auxiliares palacianos disseram que a última reunião dos dois foi realizada por videoconferência, na semana passada. O encontro entre Bolsonaro e a Morte foi marcado por uma intensa troca de elogios. Desde 2018, os dois têm formado uma dupla e tanto.
A Morte agradeceu a Bolsonaro mais uma vez pela reforma da Previdência, pela flexibilização do uso de cadeirinhas de bebê nos carros, pela liberação de agrotóxicos proibidos, pela suspensão do uso de radares nas estradas, por revogar o sistema de fiscalização de armas e facilitar sua posse, por todas as medidas contra a população indígena, pela agenda brutal de segurança pública e outros mimos que tanto beneficiam seu trabalho.
Bolsonaro também pediu conselhos para a gestão da crise atual. A Morte sempre lhe pareceu a melhor saída para essa “cuestão” do coronavírus. Um remédio até mais eficiente do que a cloroquina. Em sua homenagem, o presidente estuda lançar a campanha Morre que Passa, uma colaboração inédita entre os ministérios da Saúde e da Economia.
A rasgação de seda não parou por aí. A Morte exaltou a demissão de Mandetta e acredita que o novo ministro fará um ótimo trabalho.
Reforçou a importância de continuar combatendo o isolamento social, furando a quarentena, participando de manifestações e defendendo a reabertura do comércio.
A parceria entre o “Mito” e a Morte promete ir ainda mais longe.
*Manuela Cantuária é roteirista e escritora, faz parte da equipe do canal Porta dos Fundos