Luiz Carlos Mendonça de Barros: Uma marcha insensata chega ao fim

O Brasil, diante de uma situação grave como a que passamos, se une e apoia os governantes que lutam para superá-la.
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O Brasil, diante de uma situação grave como a que passamos, se une e apoia os governantes que lutam para superá-la

Foi uma longa, difícil, injusta para com os mais pobres, e, até agora, pouco compreendida marcha para escapar do buraco negro na economia, criado pela incompetência do PT e seus governantes. Os números deste período infame estão hoje à vista de todos e tornam uma missão difícil para o analista escolher o mais dramático deles para a sociedade.

Depois de uma difícil reflexão, fico com a explosão da dívida interna do governo entre 2015 e 2016 por ser ela a mais representativa da marcha da insensatez que tomou conta do governo Dilma desde o primeiro dia de seu mandato. E é também o indicador mais deletério para as expectativas de consumidores, empresários e investidores em relação ao futuro. Medida como percentagem do PIB, a dívida bruta do governo federal entre 2013 e 2019 pulou de pouco mais de 50% para 81% neste final de ano. Este aumento de mais de 30% representou a soma dos efeitos do aumento do volume de gastos do Tesouro Nacional e a queda de quase 7% do PIB entre 2015 e 2016.

Situações como esta, quando ocorreram na história recente das economias de mercado, antecederam colapsos econômicos de grandes proporções. Mas a sociedade brasileira – hoje podemos afirmar – não vai pagar este preço e pode, finalmente, olhar de forma construtiva para o futuro. E antes que receba críticas de estar sendo otimista demais – ou ingênuo como já fui chamado no passado -, pois precisamos ainda de um longo período de reformas para perenizar o crescimento econômico, afirmo que concordo com esta observação.

Apenas acho importante refletir isoladamente sobre a superação – como sociedade – da ameaça de insolvência por que passamos antes de tratar de uma agenda para consolidar o futuro. O Brasil mostrou uma grande maturidade ao longo destes anos terríveis por que passamos, com a crise política do governo Temer seguida de uma eleição presidencial tensa e incerta como foi a do ano passado.

Inicialmente gostaria de trazer ao leitor um sentimento pessoal que construí em mais de 50 anos de observação da nossa sociedade. O Brasil, quando diante de uma situação grave como a que passamos agora, se une e apoia os governantes que estão administrando a crise e lutando para superá-la. Vivi este sentimento de solidariedade e apoio quando a hiperinflação dos anos 80 e 90 do século passado testou os limites de nossa economia de mercado e mesmo de nosso regime democrático. A união de todos – menos a esquerda, petista ou não – em apoio à proposta da nova moeda (URV), apresentada pelo governo Fernando Henrique em 1994, nos salvou da hiperinflação aberta e permitiu que hoje estejamos novamente no grupo de economias de mercado com inflação sob controle.

Os mais jovens precisam ser lembrados deste momento importante de nossa história para entender o que está ocorrendo agora.

Mais uma vez, sentindo-se ameaçada – desta vez pelo colapso das finanças públicas – a sociedade apoiou de forma vigorosa a reforma da Previdência pública quando sentiu que ela representava a única saída para a volta da estabilidade financeira. Sinal disto é que, embora diagnosticada pelos técnicos, há mais de 30 anos, como um dos pilares de sustentação do equilíbrio fiscal, somente agora – com a crise terminal que chegamos a viver – a opinião pública deu o apoio necessário para forçar o Congresso a aprová-la.

Com a reforma da Previdência a força de uma recuperação cíclica tradicional, que já existia desde o governo Temer, começou a ganhar tração ao longo dos últimos meses. Mas a lentidão desta recuperação, principalmente na questão do desemprego, criou um ambiente de ceticismo entre os analistas e mesmo junto à sociedade. Meu otimismo sempre derivou do fato de que, em recuperações semelhantes em outras economias, o prazo entre a ruptura da bolha de consumo criada e a volta de uma normalidade econômica, sempre foi de vários anos. O exemplo mais recente deste fenômeno ocorreu nos Estados Unidos entre 2008 e 2018 quando este mesmo sentimento de desesperança dominou boa parte da sociedade. Mas quando a recuperação ganhou força nos últimos três anos uma quase euforia voltou à população americana e aos mercados.

O mesmo vem acontecendo agora no Brasil. O dia de ontem foi decisivo para que uma mudança no ânimo de todos os mercados mais sensíveis às expectativas dos agentes econômicos ocorresse, corrigindo de forma significativa seus preços. Chamou a atenção o comportamento do mercado dos CDS que precificam o chamado risco de default (calote) do país por ser ele negociado no exterior principalmente. Também a valorização do real em relação ao dólar na B3 mostra a força da mudança de humores em relação ao Brasil, depois de vários meses de pressão vendedora de nossa moeda. Interessante que a força do real ontem ocorreu no dia em que o Banco Central definiu uma nova e expressiva redução dos juros Selic.

Consolidou-se entre os analistas que o crescimento do PIB em 2020 deve chegar a 2,5% o que implica em afirmar que na virada de 2021 a economia deve estar crescendo 3% ao ano. Merecemos esta comemoração, mas agora sim temos que tratar de uma nova agenda.

*Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

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