Lúcio Flávio Pinto: Lula e o tempo perdido

Ao se homiziar, desde ontem à noite e até agora, no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, na Grande São Paulo, Lula não apenas buscou um bunker para resistir à ordem de prisão expedida contra ele pelo juiz Sérgio Moro, levando a tensão ao máximo para dela tirar proveito político e lançar sementes para uma nova colheita, sem apreço pelo interesse público e o bem coletivo. É Lula, o supremo.
Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agencia Brasil

Ao se homiziar, desde ontem à noite e até agora, no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, na Grande São Paulo, Lula não apenas buscou um bunker para resistir à ordem de prisão expedida contra ele pelo juiz Sérgio Moro, levando a tensão ao máximo para dela tirar proveito político e lançar sementes para uma nova colheita, sem apreço pelo interesse público e o bem coletivo. É Lula, o supremo.

Parece também ter feito um astuto movimento simbólico, de volta às origens, para se banhar na água pura que já correu pela sua biografia. Para se lavar das nódoas da sujeira, materializada na sentença condenatória por crime de corrupção que o persegue.

Lulistas em geral, sejam petistas ou não, continuarão a bater na mesma tecla; de que o guia dos povos é vítima de uma conspiração das sórdidas elites. As que se tornaram conhecidas por seu novo prontuário criminal, que ele beneficiou em muito maior dosagem do que o povo humilde e trabalhador.

Povo que continua a lhe delegar poderes e credibilidade pelos benefícios realmente recebidos (que lhe foram sonegados pelas mesmas elites, sobretudo os tucanos emplumados e perfumados), mesmo sendo gorjeta em relação às centenas de bilhões de reais que foram parar nos bolsos polpudos dos condutores das “multinacionais brasileiras” gestadas pelos dois governos do PT (e que se liquefizeram sem o aditivo estatal).

A volta à origem é uma busca do tempo perdido e das oportunidades oferecidas pela história, antecipadamente condenada ao insucesso por sua irrealidade. A remissão dos oito anos de Lula, em conjunto com os seis anos de Dilma, perverteram a imagem do líder carismático, dos maiores políticos da república.

Os autos dos processos contra Lula estão recheados de provas contra a sua condução dos negócios do Estado. Quem vier a escrever uma biografia competente dele passará por esse lodaçal, no qual não há inocentes nem heróis.

Beneficiado por uma democracia dotada de todas as formalidades requeridas por esse sistema político, Lula percorreu cada uma das etapas do processo judicial, intervindo na produção de provas através de advogados famosos e competentes. Ao final do primeiro capítulo, foi condenado pelo juiz singular.

Recorreu tantas vezes quantas lhes ofereceu a lei processual, Perdeu de goleada, de 5 a 0 no STJ, depois de 3 a 0 no TRF da 4ª região. Seria tão perfeita a conspiração das elites que ele só conseguiu placar apertado no leniente STF?

Derrotado em três instâncias e ainda contando com a possibilidade de novos recursos, sacados com desprezo pela razão de recorrer, agora Lula não aceita mais as regras objetivas da justiça e adota suas próprias leis, promulgadas no seu bunker sindical. Ainda parece acreditar na possibilidade de recuperar a pureza inicial, fazendo parar o curso da história e a reescrevendo conforme seu desejo soberano.

Lula, que quase nada leu ao longo da vida, não decorou a lição de Marx aplicada à sua biografia. Já foi tragédia e drama. Agora, é farsa.

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