Livro inédito de jovens de periferia escancara a vida em favelas

Arte: FAP
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Editada pela FAP, obra reúne textos de poetas e poetisas do grupo artístico-cultural Slam-DéF e será colocada à venda na internet, em 14 de julho, dia de seu lançamento, a partir das 19h

Cleomar Almeida, coordenador de publicações da FAP

Drogas, violência, amor, racismo, sexismo, humor, lirismo, feminismo e outras experiências vividas na pele foram transformadas em poesias e registradas em livro inédito produzido por jovens de periferia do Distrito Federal. Em cada verso, escancaram os olhos para a realidade e, muitas vezes, ressignificam a dor, transformando-a em gritos de resistência. Libertam suas verdades.



Confira o vídeo!



Produzidas por 14 jovens e reunidas por eles próprios no livro “Slam-DéF: palavra em liberdade” (152 páginas), as 43 poesias entregam ao público a vida em palavras. Normalmente, eles se encontram em batalhas de poesias, na segunda quinta-feira de cada mês, realizada pelo grupo com nome igual ao do título da obra, na Biblioteca Salomão Malina, em Brasília.

Editado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), o livro será colocado à venda na internet, em 14 de julho, dia de seu lançamento, que será realizado, a partir das 19 horas, em evento on-line da Biblioteca Salomão Malina, localizada em Brasília. Todos os autores confirmaram participação no encontro virtual.

Inclusão
“O slam também é um evento que acolhe novos artistas da palavra”, afirma o professor Will Júnio, criador e produtor do Slam-DéF. Ele também é o organizador da obra “A competição de poesia falada e performance cresce entre jovens de todas as classes sociais. Trata-se de uma competição destinada a incentivar e dar espaço a poetas e poetisas que não o tiveram e não o têm”, ressalta.

Em suas poesias, os slammers, como são chamados poetas e poetisas que participam de cada slam, deixam em evidência suas singularidades, que, reunidas na obra, dão riqueza à pluralidade de ideias, pensamentos e visões de mundo.


Leia também: Jovens da periferia impulsionam movimentos culturais no DF


“Cada slammer tem sua característica, sua maneira de transmitir a informação, e, em um espaço democrático e inclusivo, todos são vistos como iguais”, ressalta o organizador. Ele explica que o movimento teve início na década de 1980, em Chicago, com o poeta Marc Kelly Smit, criador do Uptown Poetry Slam.



Crescimento
O gênero urbano chicagoense espalhou-se por todos os continentes, conforme explica o organizador. Ao Brasil, chegou em 2008, por meio da poeta Roberta Estrela D’Alva. Ela criou a Zona Autônoma da Palavra (ZAP!). Desde então, o gênero vem crescendo pelo país. Com dinâmica completamente diferente dos saraus, o slam é uma competição com regras e caráter eliminatório.

No Distrito Federal, a primeira batalha de poesia do Slam-DéF foi realizada, na noite do dia 3 de março de 2015, no Raízes Bar. “Aquela noite, em Brasília, foi especial. Foi mágica. Foi uma noite de poesia. Uma noite de epifania”, lembra Will Júnio. Segundo ele, o movimento tem ganhado adesão de mais jovens de periferias e de regiões nobres.

“O poeta é cientista da sua época. Ele observa tudo para transformar o todo em poesia. Tudo o que o incomoda, que o alegra, que o fortalece, que o deprime, que o faz bem ou mal é transformado em um linhar de léxicos que obtém diversas formas: narrativas de amor, de perspectivas intrínsecas, de reflexões, de protestos, de humor. Não há um ritmo, não há regras para recitar. O eu lírico é livre”, destaca o organizador da obra.Poetas e poetisas

A seguir, conheça cada autor a partir de suas auto descrições:

Aqualtune: poeta, atriz, dramaturga e estudante de Artes Cênicas na Universidade de Brasília (UnB). Começou suas atividades artísticas no Espaço Semente, como integrante da Semente Cia. de Teatro e organizadora, junto ao poeta Banzo, do Sarau Semeando Arte, em que declamou e desenvolveu suas poesias. Integrante do Núcleo de Pesquisa Preta (NPP), do Espaço Semente, ela evidencia, por meio do Teatro Comunitário desenvolvido junto à Cia. de Teatro e de suas poesias, o protagonismo periférico e preto necessário à arte.

Araian Poeta: nome artístico de Naiara de Jesus Barbosa. Nasceu em Ceilândia, Distrito Federal. Descobriu seu talento para escrever, em sala de aula, com a professora de português Andréa Alves, aos 16 anos de idade. Desde então, escrever é seu porto seguro. Suas inspirações vêm de todo o universo: ela observa pessoas, momentos, sentimentos e descreve, no papel, tudo o que vê, ouve e sente. A poesia é a salvadora desta escritora e artista, todos os dias.

Fabi Souza: nascida no Gama (DF), no dia 2 de outubro de 1998, é artista atuante do Distrito Federal. Iniciou sua carreira em março de 2019, com a poesia marginal. Ela está sempre presente nos eventos culturais de periferias, com poesias que retratam o cotidiano social, por ser mulher negra e periférica.

John: nome artístico de Jonathan Gomes de Arruda, nascido no dia 26 de fevereiro de 2002, no Gama (DF). Cantor e compositor, seu primeiro contato com o Hip Hop foi em 2014 por meio de um amigo. Após isso, tornou-se amante da cultura.

Lari Martinez: produtora cultural, mestre de cerimônias e poetisa. Participa das Batalhas de MC’s, desde 2017, e dos Slams, desde 2019. Conquistou títulos no Distrito Federal e em São Paulo. Seus versos marcantes abordam a presença feminina no hip hop como a “resistência dentro de um movimento de resistência” e buscam incentivar a ascensão feminina, tanto na poesia como no freestyle.

Mano Dáblio: nome artístico de William de Souza Tomaz, inquieto, que arquiteta versos e se aventura na poesia. Artista brasiliense, de 33 anos, poeta, ator, intérprete e ritmizador de seus versos, iniciou seu trabalho em 2000, no orfanato em que morou há 10 anos. Passou parte da infância na periferia de Santo Antônio do Descoberto (GO). Foi no Guará que sua mãe o deixou para o destino do abrigo, e, ao se tornar adulto, retornou à Brasília, em busca de lugar para recomeçar uma nova etapa da sua vida.

Mayk Silveira: é poeta, cantor, compositor e vocalista da Banda Kizumba. Filho de cearense, nasceu no Gama (DF) e foi criado em Valparaíso de Goiás (GO). Desde pequeno, se mostrava artista. Começou a cantar, influenciado por seu irmão mais velho, e a compor, aos 14 anos, quando começou a participar de várias batalhas e slams de MC. Logo depois, passou a estudar Letras na Universidade de Brasília (UnB), além de manter como principal trabalho a banda Kizumba. Seu maior sonho é um dia conhecer todo o Brasil e, até, quem sabe, levar um pouco do Brasil para o mundo.

Nega Lu: moradora da periferia de Santa Maria (DF), é assistente social, desenvolve e consolida projetos de inclusão e empoderamento literário para a população preta e pobre. Após perpassar por diferentes culturas, foi na do Hip Hop que mais se identificou, pois diz que a escrita marginal retrata, de forma específica e plural, como é ser uma mulher preta e Lgbtqi+ no Brasil. Hoje, desenvolve-se também como MC, poetisa, escritora e grafiteira. Suas poesias são políticas, feministas e antirracistas. A gratidão é por proporcionar leitura e conteúdo libertário.

Rasta: cria do gueto, morador de favela, diz não ter estudado porque não quis, escolha infeliz. Hoje lê vários livros, pois deles, diz, é aprendiz, de traficante a cracudo, observando o mundo de cima do papelão, nessa vida onde ninguém acerta, de cracudo a poeta.

Rebeca: nome artístico de Rebeca de Assis, de 17 anos, moradora do Recanto das Emas (DF), lugar onde diz ter se descoberto apaixonada pela poesia em todas as suas formas. Começou escrevendo apenas seus sentimentos e hoje continua escrevendo sobre eles, só que com um pouquinho mais de conhecimento vindo do projeto Recanto Poético, que a ensinou bastante sobre poesia também. Participou do projeto Batucadeiros, que a ensinou a se sentir artista. Seu objetivo é que todos conheçam suas ideias e transmitam paz e amor.

Sanduba: nome artístico de Sanduba Sandoval, de 30 anos, casado, rapper, fotógrafo, missionário, produtor cultural, morador de Valparaíso de Goiás (GO) há mais de 20 anos. Trabalha com a cultura do hip hop em seu município, por meio das batalhas de MC’s e movimentos de arte e cultura em geral. Sua inclusão no Rap foi dentro da Igreja, em 2009, quando começou com um grupo chamado “Adomblack” (Adorando com a Música Black). Depois disso, vieram várias músicas. O lançamento do clip “Eu sou do Rap”, em 2011, teve uma boa aceitação junto ao público evangélico e também ao secular. Lançou seu primeiro CD, com 15 faixas, chamado Sou o que Soul, com composições próprias e um estilo bem diferente do padrão Rap, tendo Samba, hip hop, Soul e Pop, tudo sempre com ritmo e poesia, em 2014.

Velho Banzo: é, primeiramente, macumbeiro-preto-mermo, como ele mesmo se apresenta em suas redes sociais, “artivista” residente no Distrito Federal, filho de dona Waldirene, cronista das ruas e das vivências. Faz de sua arte um espaço de luta contra o racismo religioso, racismo institucional e a violência que atinge os corpos periféricos. Suas inspirações são sua ancestralidade, Racionais MC´s, Emicida, Criolo, MV Bill, Facção Central e todos poetas marginais que encontrou. Algumas de suas poesias no livro o levaram ao Slam-BR 2019 (Campeonato Brasileiro de Poesia Falada).

Victória Dias: tem 21 anos e mora no Paranoá (DF). É preta e artista de periferia. Militante dos direitos humanos, sempre observando a existência e resistência das vidas LGBTQI+ e vidas negras. Aos poucos, diz estar se descobrindo artista e explanando sua habilidade na cidade, em eventos culturais, slams e afins. Faz parte da organização do evento Poesianoá e integra coletivos, como o Noiz Por Noiz e o Noá! Diz sentir-se lisonjeada a participar da edição do livro, pois, segundo ela, “ter uma escrita sendo propagada assim não tem preço”.

Will Júnio: nome artístico de Wildson Júnio Ferreira dos Santos, de 30 anos, morador no município de Novo Gama (GO). É professor de Língua Portuguesa, organizador e apresentador do SlaM-DéF, artista, compositor e poeta. Trabalha com a cultura desde 2012. Já foi representante do DF no Slam-BR e da FLUPP, em 2015, assim como jurado do Duelo Nacional de MC’s, em 2017, em Belo Horizonte.SERVIÇO

Lançamento virtual de livro
Título: Slam-DéF: palavra em liberdade
Data: 14/7/2021
Horário: a partir das 19h
Onde: Portal e redes sociais (Facebook e Youtube) da Fundação Astrojildo Pereira
Realização: Biblioteca Salomão Malina e Fundação Astrojildo
Observação: Para saber mais detalhes do lançamento online, envie solicitação para o WhatsApp oficial da Biblioteca Salomão Malina – (61) 98401-5561. (Clique no número para abrir o WhatsApp Web).

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