Evandro Milet: Para evitar o cancelamento, lideranças analógicas precisam se digitalizar

Os cursos de liderança no mercado, em geral, não estão captando as mudanças que acontecem de maneira muito rápida nas exigências dos cidadãos, na tecnologia e nas suas consequências nos costumes e comportamentos na sociedade.
Foto: Reprodução/Google
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Os cursos de liderança no mercado, em geral, não estão captando as mudanças que acontecem de maneira muito rápida nas exigências dos cidadãos, na tecnologia e nas suas consequências nos costumes e comportamentos na sociedade.

Líderes devem construir uma visão inspiradora. Como fazer isso se estão defasados no mundo digital e fora de sintonia com o mundo da diversidade, da desigualdade e da sustentabilidade, ítens cada vez mais presentes no interesse das novas gerações? Como passar para dentro da empresa uma visão e um propósito sem perceber as sutilezas das mudanças exponenciais que exigem uma transformação digital?

Nas décadas de 1980/1990 o tema “qualidade” dominou as discussões sobre gestão, assim como o tema “inovação” ocupou a preocupação dos gestores nas duas primeiras décadas deste século. Isso se refletiu até nas preocupações da governança corporativa e as recomendações dos perfis de conselheiros passaram a considerar a importância de mesclar as competências tradicionais em finanças e controle com aquelas associadas à inovação. 

A terceira década deste século ampliou, com força, a importância do mundo digital no amplo tema da inovação, turbinada por uma pandemia que antecipou em alguns anos as demandas dos consumidores confinados.
Mas a tecnologia digital não traz somente novos equipamentos e software. Traz também novos comportamentos e permite coisas impossíveis anteriormente. Jeff Bezos, da Amazon sinalizou isso: “Comerciantes nunca tiveram a oportunidade de entender seus consumidores de forma individualizada. O comércio eletrônico possibilita isso.”

Nas fábricas a tecnologia permite a customização em massa, isto é, produtos individualizados produzidos em série. As redes sociais criaram uma nova maneira de comunicação. Os clientes foram para lá em massa, obrigando as empresas a correr atrás com algoritmos sofisticados que buscam não só chegar neles, mas produzir engajamento. No mundo anterior, um atendimento mal feito gerava algumas reclamações, hoje pode quebrar uma empresa pela velocidade de transmissão.

As facilidades para desenvolvimento de software fizeram explodir o mundo das startups com suas ameaças disruptivas. As plataformas que aproximam fornecedores de clientes moldaram um novo comportamento onde as pessoas não precisam mais ter as coisas, podem simplesmente usá-las. A internet provocou uma tendência à desintermediação, colocando fornecedores primários em contato direto com clientes.

São tantas tecnologias, com tantas implicações na sociedade e no mercado, em uma velocidade tão grande, que os ciclos tradicionais de planejamento estratégico são implodidos. A alternativa de gestão vem das startups com experimentação rápida, métodos ágeis, squads. 

Enfim, são alterações dramáticas, permanentes e fluidas na forma de lidar com clientes, com colaboradores e com concorrentes que tornam a função do líder espinhosa se ele não acompanhar esse tumulto digital em detalhes. 
Se não bastasse isso, as mudanças de costumes pressionam por diversidade de raça, gênero e idade, sustentabilidade, ações contra a desigualdade, direitos humanos, relacionamento com a comunidade e ética nos negócios.

A sigla ESG (meio ambiente, social e governança) foi adotada no mundo pelas empresas mais conscientes. Um escorregão nas atitudes provoca o cancelamento(para usar uma expressão da moda) da empresa pelo público e consequentemente do líder junto à empresa. Liderança não é mais o que já foi. São novos tempos, novas exigências. Digitalizem-se e diversifiquem-se.

*Evandro Milet é consultor e palestrante em Inovação e Estratégia

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