El País: O Brasil de Bolsonaro, segundo cinco famílias

O presidente acaba de entrar no terceiro mês de Governo. O EL PAÍS entrevistou, em cinco cidades, vários de seus eleitores e uma família que não o apoia para saber o que pensam de seus primeiros passos no Governo e sua expectativa para o futuro sob o mandatário.
Foto: Tania Meinerz/El País
Foto: Tania Meinerz/El País

O presidente acaba de entrar no terceiro mês de Governo. O EL PAÍS entrevistou, em cinco cidades, vários de seus eleitores e uma família que não o apoia para saber o que pensam de seus primeiros passos no Governo e sua expectativa para o futuro sob o mandatário

Por Joana Oliveira, Naiara Galarraga Gortázar, Afonso Benites, Liege Albuquerque e Naira Hofmeister, do El País

Há muitas décadas o Brasil não tinha um presidente como ele. Ultradireitista, militar da reserva, nostálgico da ditadura, linguarudo, abertamente homofóbico, racista e misógino. Mas também fazia anos que um chefe de Estado não gerava tanto entusiasmo (e tantos temores) no país. Jair Messias Bolsonaro completou dois meses no cargo, incluindo os 17 dias em que esteve hospitalizado, com uma aprovação pessoal de 57% e uma avaliação positiva do Governo de 39%, números que empalidecem em comparação com os 83% do Governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua despedida, mas que representam um aumento de otimismo depois do desencanto e do ceticismo que marcaram o período anterior.

Para sondar o Brasil de Bolsonaro, o EL PAÍS viajou a cinco cidades(Salvador, São Paulo, Manaus, Porto Alegre e Brasília), onde entrevistou famílias que encarnam os quatro pilares de seu programa de Governo (segurança, valores, economia e combate à corrupção) e uma quinta que representa o eleitorado que não votou nele nas eleições —Bolsonaro foi eleito com 55% dos votos contra 45% do adversário, Fernando Haddad (PT).

Salvador

Governo Jair Bolsonaro
O casal Rita Paim e Sérgio Pretto, de Salvador. RENATO ALBAN

SEGURANÇA | FAMÍLIA PAIM-PRETTO

Rita Paim, 52 anos; Sérgio Pretto, 60 anos.
Residência
: Salvador.
Prioridades: “Primeiro tem que colocar ordem e depois buscar o progresso. Isso é o mais importante para o Brasil agora”

Quando a Rita de Cássia Paim, representante farmacêutica de 52 anos, escutou pela primeira vez Jair Bolsonaro falar sobre segurança pública durante a campanha eleitoral, lembrou-se imediatamente do assalto à mão armada que sofreu na porta de sua casa, em Salvador. “Levaram meu carro, levaram tudo. Foi uma experiência horrível. Por isso votei no presidente: pensando em segurança”, conta, em seu apartamento de um bairro de classe média-alta de Salvador, a poucos metros da orla da capital baiana.

Em 2017, o Brasil bateu um novo recorde de mortes violentas, com 63.880 homicídios (sete por hora), e houve um aumento também no número de estupros (60.000). A Bahia é um dos Estados mais perigosos: detém o recorde de mortes violentas de jovens entre 15 e 29 anos, segundo o último Atlas da Violência. Somente em Salvador, com 2,6 milhões de habitantes, houve 80 latrocínios (roubo com morte) —um aumento de 27%— e cerca de 2.000 assaltos a ônibus, segundo as autoridades.

Rita e o namorado, o designer gráfico Sérgio Pretto, de 60 anos, fazem parte da minoria soteropolitana que votou em Bolsonaro no ano passado. Em Salvador, o então candidato do PSL perdeu em todos os colégios eleitorais e obteve apenas 31% dos votos válidos, contra 68% do candidato petista, Fernando Haddad. O agora presidente obteve seus melhores resultados nos bairros mais nobres da cidade, entre eles, a Pituba (onde vive o casal), e onde a crescente violência preocupa os moradores. “Somos nós que vivemos presos. Os comerciantes estão atrás de grades, nós trancados dentro de casa, temos medo de sair. Meu filho tem um comércio e vive assustado, deixa de abrir a loja no carnaval por medo do aumento de assaltos”, lamenta Sérgio, em uma sala com um grande oratório barroco, onde tem destaque a figura de um Cristo crucificado.

Ambos votaram no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante anos, até ele ser eleito, acreditando que “ele iria salvar o mundo”. Hoje, dizem-se decepcionados com o “desastre que foram os Governos Lula” e evitam até mesmo mencionar o nome do ex-presidente e do Partido dos Trabalhadores. Bolsonaro ganhou a confiança e admiração deles com suas propostas como a redução da maioridade penal (de 18 para 16 anos) e promessas de endurecimento das penas para criminosos. O casal, entretanto, ridiculariza o uso do termomito.“O cara tinha umas tiradas meio de doido, quando dizia que ‘tem que matar mesmo’, mas hoje ele expressa melhor essas ideias”, avalia Sérgio.

Ele e sua companheira celebraram a assinatura do decreto que facilita o posse de armas —a Bahia é o Estado com o maior número de mortes por arma de fogo (5.450, em 2016), de acordo com o Atlas da Violência—. “Bolsonaro está certo, porque o pessoal já tem arma, agora só vai legalizar isso. Você estará munido para defender-se”, diz Rita, que não se considera “capacitada” para ter uma arma de fogo. “As pessoas que são contra até falam que a violência contra a mulher aumentaria, mas as mulheres que são espancadas, que são vítimas de feminicídio, infelizmente continuarão morrendo com ou sem uma lei de posse de armas. É uma questão cultural, de educação da sociedade”, acrescenta o designer.

O casal também avalia positivamente o projeto de lei anticrime apresentado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro (o primeiro juiz a condenar Lula por corrupção), que altera 14 legislações e endurece o combate à corrupção, ao crime organizado e a crimes praticados com violência.

E discordam dos opositores que, em defesa dos direitos humanos, discordam do presidente. “Esse negócio de ser bonzinho não dá certo. Direitos humanos para marginal? Bolsonaro está extremamente correto quando diz que vai ter tolerância zero e que os policiais poderão agir”, diz Rita. “Os direitos humanos são uma coisa que não sei para quê existe, sinceramente”, acrescenta Sérgio.

São Paulo

O pastor evangélico Marcelo Galdino com seu filho Levy em São Paulo.
O pastor evangélico Marcelo Galdino com seu filho Levy em São Paulo. LELA BELTRÃO

VALORES | FAMÍLIA GALDINO

Marcelo Galdino, 34 anos; Liliana Galdino.
Residência: São Paulo.
Prioridades: Que o Governo “desideologize as escolas”

O pastor evangélico Marcelo Galdino Júnior logo soube que Bolsonaro era seu candidato. Gostou dos valores que ele defendia, de seu discurso e suas promessas.

Galdino, de 34 anos, e sua mulher, Liliana, tinham vinte e poucos anos quando começaram a formar uma família que hoje inclui três filhos. Para eles, é prioridade que o novo Executivo se concentre na educação. E que, como dizem os bolsonaristas, “desideologize as escolas”, explica ele no templo da Igreja Assembleia de Deus, em um bairro no sul de São Paulo, onde lidera 100 mil paroquianos. E isso significa que a escola dê a Giovanna (12 anos), Marcelo Levy (4 anos) e o bebê Pedro (18 meses) educação básica, mas não os eduque em valores. Esse capítulo da formação tem de permanecer em casa. E se forem falar sobre sexualidade na escola, que falem sobre biologia, não de ideologia, ele diz. “Nós educamos nossos filhos em valores cristãos. Se outras famílias querem educar os seus em outros, tudo bem, mas que façam isso em casa”, enfatiza.

Este pastor explica assim qual é a primeira coisa que se espera do Governo de Bolsonaro em matéria de valores: “acabar com a ideologia implementadas pelo Governo anterior, que pretendia ocultar da mente de nossos filhos o que está na Constituição, que diz que a família é a união de um homem, uma mulher e seus filhos”. Assim consta no artigo 226.3 da Lei Fundamental, mas há seis anos o Poder Judiciário legalizou as uniões gays. É precisamente por causa de decisões como essa que incomoda a Galdino que “o Supremo Tribunal legisle” sem que o Congresso se pronuncie. Ele argumenta que, se o Estado quer falar sobre “a questão de gênero” ou famílias com duas mães ou dois pais, deve fazer isso na universidade, “onde os alunos já têm discernimento”, não com crianças como seu pequeno Marcelo Levy.

Galdino e seus fiéis encarnam o voto evangélico no Brasil, a pujança de uma comunidade que não para de alcançar novos patamares de poder social e político. Eles apoiaram Bolsonaro em massa até colocar os valores, a moral, no topo da agenda política. Se em 1991 representavam 9% dos brasileiros, duas décadas depois já eram 20%, segundo o último censo.

O templo de Galdino impressiona mesmo vazio. Pode abrigar até 2.700 pessoas. O pastor explica que este distrito de Santo Amaro é de comerciantes, “o que chamamos de classe B, mas pessoas de classes C e D vêm até aqui”, porque a igreja está estrategicamente localizada ao lado da estrada, em um ponto de fácil acesso para muitos lugares da metrópole.

Este líder evangélico (e muitos outros como ele) encontrou na Internet um púlpito para falar sobre política a quem quiser ouvir (incluindo seus fiéis), sem infringir a lei. Galdino dedicou nada menos que 17 transmissões ao vivo de sua página no Facebook (que tem mais de 10 mil seguidores) a Bolsonaro e suas propostas eleitorais. Foram 17 porque esse era o número da candidatura do ex-capitão, que cresceu como candidato na rede social.

“Eu realmente gostei que no início deste Governo o ministro da Educação tenha anunciado que voltarão a dar português, matemática …”. Mas, agora, esses assuntos não são ensinados? “Sim, são, mas as escolas reforçaram o ensino da ideologia”, insiste.

O pastor não tem urgência em mudar as leis que amparam o casamento homossexual ou o aborto (permitido em três casos). É tradicional, mas não fundamentalista. “Sou contra o aborto. Acredito que a lei atual já serve muito bem à sociedade”, explica. Acha que seria bom que a norma fosse abolida, mas, para ele, é mais urgente no momento estimular a economia e combater o crime.

Galdino enfatiza que ele e sua mulher ensinam os filhos “que devemos respeitar todo mundo, seja qual for sua opção sexual, se são ricos ou pobres, se são negros … somos todos iguais”. O respeito pelos outros e à lei vigente são inegociáveis para ele. Também não se incomoda que Bolsonaro seja católico. Está animado que ele tenha transformado famílias como a sua em uma bandeira da mudança.

Porto Alegre

A família Prado Neves em sua casa, em Porto Alegre.
A família Prado Neves em sua casa, em Porto Alegre. TANIA MEINERZ

ECONOMIA | FAMÍLIA PRADO NEVES

Ereni (57), Gessian (29) e Anriel (24 anos)
Residência: Porto Alegre
Prioridades: Crescimento econômico e estabilidade de emprego para a família. Só a matriarca tem um emprego com carteira assinada na família

A família Prado Neves vive na periferia de Porto Alegre. “É a última travessa da Rua 9 de Junho antes de ela virar chão batido”, explica Anriel, 24 anos, referindo-se a uma das poucas vias que cortam a comunidade de cima a baixo. Partilham do mesmo otimismo com o que a maioria dos brasileiros encaram o início do Governo que acaba de começar, segundo as pesquisas. O que os Prado Neves realmente querem é que a economia brasileira cresça nos próximos anos. Esse é o grande desafio do novo presidente e os últimos dados foram piores que o esperado.  A economia brasileira cresceu 1,1% em 2018 em relação ao ano anterior, e a pífia expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano anterior não refletem o otimismo do mercado e do setor privado com o presidente.

A matriarca, Ereni, é a única com contrato de trabalho registrado. Cuidadosa de idosos, lembra que já atendeu pacientes com bolsa de colostomia, como a que o presidente utilizava o final de janeiro, e se comove pensando que o presidente manteve a rotina de trabalho mesmo com essa limitação. “Não é fácil”, assegura. Seu filho, Anriel, dirige Uber. E sua filha, Gessian, 29 anos, foi mãe pela terceira vez e ainda não voltou a trabalhar. Somando os salários dos três, incluindo a ajuda social que Gessian recebe pelo Bolsa Família, este lar de seis pessoas se mantém com uma média de 3.000 ao mês.

Gessian espera sua filha Lara, de 10 meses, completar um ano, a idade mínima exigida pelas creches municipais de Morro da Cruz, para buscar emprego.“Se eu for pagar uma creche privada são 800 reais, vale mais a pena ficar em casa com ela”, diz. Ainda assim, está animada. Acha que a era Bolsonaro será positiva para encontrar uma colocação. Gessian tem experiência como vendedora no comércio local e em uma loja de departamentos, mas não faz questão de voltar para essa área. Pensa em fazer um curso que lhe abra portas em outro segmento com demanda, talvez técnica em enfermagem ou outra profissão na área da saúde, seguindo os passos de dona Ereni. E também espera que seu filho mais velho, Gabriel (14 anos), consiga começar a trabalhar pelo programa Jovem Aprendiz.

O que a matriarca da família Prado Neves quer para este ano é que a reforma da previdência —prioritária para o Governo controlar os gastos públicos— não atrapalhe seus planos de aposentadoria. Somando o tempo de juventude em que trabalhou na lavoura, plantando milho, soja e aipim, conseguiria se aposentar dentro de dois anos. “Vi que agora querem que as mulheres trabalhem até os 62, eu pretendo me aposentar com 57, mas acho que não vai dar problema para mim. Vai mudar mesmo para quem está começando”.

Anriel, o caçula de dona Ereni, foi um dos mais ativos defensores da candidatura de Bolsonaro em seu bairro na capital gaúcha. Contrariando as orientações da Uber de não mencionar suas preferências políticas aos passageiros, colocou um adesivo com a cara do agora presidente na traseira do seu automóvel —o que lhe rendeu algumas avaliações ruins por parte dos passageiros. Influenciada pela vitória do capitão reformado, o preço do dólar baixou desde as eleições. E isso é importante para Ariel, porque agora ele pode sonhar em comprar um kit multimídia para o carro e porque, supõe Anriel, isso pode ajudar a diminuir o custo de vida da família. “Com o diesel mais barato, a pessoa consegue fazer uma comida decente, porque tudo no Brasil é a base de caminhão”.

Já não usa mais o adesivo no carro. O episódio da facada, que feriu o agora presidente gravemente, e a animosidade eleitoral o motivou Anriel a silenciar os gruposde WhatsApp pró-Bolsonaro.“A gente vê que não está em um país normal”, lamenta. Apesar das polêmicas e as suspeitas de corrupção envolvendo pessoas ligadas ao Governo, Anriel se mantém confiante. “Ele mesmo avisou que o começo seria ruim, duro, que poderia até piorar a situação, porque a dificuldade era muito grande”, justifica.

Brasília

Adalcyr Luiz da Silva em Brasília.
Adalcyr Luiz da Silva em Brasília. CADU GOMES

CORRUPÇÃO | ADALCYR LUIZ DA SILVA

Adalcyr Luiz da Silva (54), dentista e professor
Residência: Brasília
Prioridades: reformular o sistema político corrompido pela corrupção

Há quase quatro anos o ortodontista e professor universitário Adalcyr Luiz da Silva Júnior, de 54 anos, morador de Brasília, só liga a TV para assistir Netflix ou alguns poucos jogos de futebol. Antes, via pelo menos três telejornais diários. Agora, sua principal fonte de informação é a internet, além, é claro, as mensagens que chegam diariamente pelo WhatsApp – muitas das quais ele desconfia. Eleitor convicto do presidente, Adalcyr Júnior escolheu votar no capitão reformado principalmente por acreditar que estava no momento de alterar o sistema político que julgava estar corroído pela corrupção. “A maneira que eu encontrei de mudar esse mecanismo foi escolhendo um novo candidato. E, necessariamente, o candidato que estava mais distante do PT, que era o Governo então vigente, era o Bolsonaro”.

E o que ele espera do homem que, há pouco mais de dois meses despacha com sua caneta BIC no Palácio do Planalto? “O que eu quero de um presidente é que ele não tenha rabo preso. Eu não tenho presidente de estimação. Não tenho político de estimação”. Para os próximos anos, Adalcyr diz esperar uma melhora no combate à corrupção devido às propostas do presidente para a área. Mas ainda é um tanto cético. Afinal, na sua avaliação, a corrupção não acaba do dia para a noite, já que está arraigada na sociedade brasileira, sacudida pela Operação Lava Jato, que afetou vários partidos e empresas. Segundo a Transparência Internacional, a sociedade brasileira tem uma das piores percepções em relação à corrupção no país: ocupa a posição 105 entre 180 países, o pior resultado em anos.

“A corrupção no Brasil é um processo que está em todas as instituições. Não é só no Governo. No meu meio, mesmo, alguns colegas recebem um incentivo para poder estar indicando um determinado produto ou determinado medicamento. Isso não deixa de ser uma corrupção, porque você está tentando enganar as pessoas para que isso seja algo vantajoso”, disse. E resumiu: “Eu não acho que vá mudar, em quatro anos, toda uma cultura que já existe. Eu avalio que é um processo lento”.

Seu apoio a Bolsonaro, contudo, não é irrestrito, tampouco cego. Por exemplo, quando indagado qual nota (de 1 a 5) daria para as propostas de Bolsonaro no combate à corrupção ele foi relutante: “nota 3”. E explica a razão, dizendo que essa é uma média aritmética: “Se pegar sob o aspecto que corresponde o combate à corrupção e proposta, eu daria nota 5. Agora, quando eu vejo, situações relacionadas às atitudes de nosso presidente, principalmente no caso do [ex-ministro Gustavo] Bebianno eu daria nota 1”. Bebbiano, que foi chefe de sua campanha, foi demitido por Bolsonaro sob a suspeita de ter patrocinado um esquema de candidaturas laranjas do PSL no ano passado. A lógica de Adalcyr Júnior é que a mesma medida valeria para os filhos do presidente, caso se comprove alguma irregularidade cometida por eles.

Para a reportagem chegar ao ortodontista Adalcyr foi preciso percorrer uma espécie de périplo. Duas entrevistas antes da dele foram desmarcadas por razões semelhantes. Um dos eleitores que falaria com o EL PAÍS era um segurança de uma empresa particular que presta serviço para órgãos públicos. O outro, um gestor público da área de saúde. Ambos alegaram que seus chefes pediram para não tratarem de “assuntos espinhosos”.

O clima quase bélico das eleições do ano passado, em que o país se dividiu entre eleitores do PT e anti-petistas – ou bolsonaristas e anti-Bolsonaro – causaram um certo desconforto na família de Adalcyr. Ele, sua atual mulher, sua ex-mulher (com quem dois filhos) e seus cunhados votaram convictamente em Bolsonaro. Seus filhos, não. “Até hoje tenho uma relação um pouco estremecida com um dos meus filhos, que não concordava com a minha escolha”.

Manaus

Ana Claudia e Allan com suas filhas e a cachorrinha, em Manaus.
Ana Claudia e Allan com suas filhas e a cachorrinha, em Manaus. ALBERTO ARAÚJO

OS QUE NÃO VOTARAM | FAMÍLIA FILHO-CHAVES

Allan Kardec Filho (37 anos) e Ana Cláudia Chaves (38)
Residência: Manaus
Prioridades: Para o casal, quem conhece o passado de Jair Bolsonaro não teria votado nele. Casal não vê com otimismo o Governo

São empresários e votaram na contramão do Brasil e de Manaus, capital do Amazonas que detém 50% do eleitorado do Estado, onde vivem. Allan Kardec Filho, de 37 anos e Ana Claudia Chaves, de 38 anos, casados desde 2010, ex-vizinhos e namorados há mais de 20 anos, o casal tem origens diferentes, ele filho de empresários, ela filha de professor universitário, que convergiram num pensamento uno de esquerda. Ambos votaram em Fernando Haddad.

“Costumo dizer que Ana Claudia não é só a mulher que eu amo, é a que me salvou de um pensamento umbiguista”, diz Allan Kardec. Eles têm duas filhas: Ana Luiza, Raquel, uma cadela boxer (Greta) e seu filho Lula (em homenagem ao ex-presidente), e três gatinhos. O casal diz que não votou em Bolsonaro por considerar que qualquer pessoa que tenha estudado sua vida vida não votaria nele.

Para Ana Claudia, o discurso de Bolsonaro revela preconceitos contra as mulheres negras, algo que ela sentiu e combateu em sua vida. Toda suas expectativas em relação ao Governo são ruins. Só divergem entre eles em relação a quanto tempo irá durar. “Não vejo como esse Governo com decisões em WhatsApp e que usa Damares para distrair da reforma da Previdência possa durar mais que até o fim deste ano”, considera Ana Claudia. Já Allan Kardec acha que ele vai até o fim dos quatro anos. “A classe que o elegeu é teimosa e vai continuar apoiando seus atos, inclusive seu despreparo travestido em simplicidade tosca”.

Ex-chefe de gabinete em Brasília do então presidente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Cabral, em 2012, Ana Cláudia estava no plenário quando Jecinaldo cuspiu no então deputado Bolsonaro, quando este lhe disse que deveria “comer pasto fora [do Congresso] para manter suas origens”. “O que ninguém imaginaria àquela época é que ele pudesse ser o presidente da República um dia”, disse a empresária.

Privacy Preference Center